José Maurício Guimarães
Hoje,
mais do que nunca, a maçonaria brasileira tem que ser colocada na perspectiva
correta. Os usos que certos segmentos fazem dela é que nos levam ao descrédito
pela sociedade.
Sim,
eu disse descrédito, pois infelizmente o homem comum (que
chamamos de “profano”) já não leva muito em conta o trabalho que os bons maçons
se esforçam por realizar. Todos vocês sabem disso, mas insistem (nós
insistimos) em “tampar o sol com a peneira”.
Li
recente comentário do Irmão João Guilherme Ribeiro onde ele aponta o vínculo
dos valores maçônicos aos cargos e não ao mérito. Concordo com ele, pois a
maçonaria brasileira não tem líderes. Temos DIRIGENTES legitimamente eleitos
(em sua maioria homens íntegros, honrados, honestos e retos) ‒, mas LÍDERES
(pessoas com ascendência para coordenar e cujas ações e palavras exercem
modificações sobre o comportamento de outras) ‒ isso ainda não temos.
Estamos
emaranhados num cipoal de “cargos perfeitamente dispensáveis, feitos para
enfeitar cabides de aventais” ‒ disse o Mano JG. Comendas que deveriam
enaltecer o mérito foram transformadas em souvenires que
relegam para o menoscabo aqueles velhos veteranos, história viva, exemplos
legitimamente reconhecidos que construíram as Lojas e as Potências que
sobrevivem até hoje.
“Temos
que premiar por merecimento ‒ acrescentou o Mano JG ‒ não como expedientes que
favoreçam troca de interesses...”
A
Maçonaria atuante constrói seus projetos EM LOJA assim como instrui seus
Aprendizes, Companheiros e Mestres EM LOJA. Contudo, as Lojas são relegadas às
discussões sobre a escolha do refrigerante ou da cerveja a serem servidos na
ágape, na festinha do dia das mães e no baile do fim de ano (temas que qualquer
comissão social composta por três pessoas decidiria com mais agilidade,
economia de tempo e de dinheiro).
Paralelamente
a esses desvios de finalidade e método, cresce uma legião de “professores de
maçonaria”, gente estudiosa ‒ é verdade, mas que fazem uma LEITURA PESSOAL do
que seja a Arte Real. Se por um lado essa “leitura pessoal” é válida para quem
a faz “per se”, em seu próprio âmago, ela se torna deletéria, danosa quando
proclamada em opinião indiscutível; torna-se e castradora para
os esforços íntimos dos Aprendizes, Companheiros e Mestres que buscam a
“conexão interna”. (Sýmbolon, em grego ‒ conceito formado por SYN =
junto, e BALLEIN = lançar: imagem autêntica do que seria
“lançar junto” ou conectar.) São, infelizmente, os reflexos da era da
internet, e aqui se deve ouvir o filósofo, escritor, semiólogo, linguista e
bibliófilo Umberto Eco:
“O
drama da internet é que agora os imbecis têm o mesmo direito à palavra de um
Prêmio Nobel: a internet promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade.”
Entre
os dias 21 de fevereiro e 18 de março deste ano (2018) alguém resolveu fazer a
pergunta numa pesquisa da CMI (Confederação Maçônica Interamericana). O
objetivo da pergunta era saber a opinião dos maçons sobre as perspectivas da
maçonaria brasileira para o restante deste século XXI. Noutras palavras, eles
estavam perguntando “QUE MAÇONARIA VOCÊS QUEREM PARA O FUTURO?” Na apuração
divulgou-se que “o maçom brasileiro não sabe o que é Maçonaria” (Relatório de
Pesquisa, Conclusões, 4.1, pg.23) : “... menos de 5% dos maçons brasileiros
sabem o que é Maçonaria, conforme os conceitos e definições mais utilizados no
mundo” ‒ disseram os pesquisadores.
Do
outro lado, num destemido esforço de boa-vontade e idealismo, um grupo de
dirigentes maçônicos veio a público apresentar uma reflexão para o momento
político que vivemos, clamando pela premente necessidade de a sociedade brasileira
abraçar um projeto estratégico de desenvolvimento socioeconômico com
sustentabilidade, construído em bases sólidas e democráticas.
“Data
maxima vênia” (como cortesmente se opõem nossos colegas bacharéis em Direito)
entendo que o posicionamento político da Maçonaria ‒ seja no apoio a
candidaturas ou na aprovação e aplauso endereçado a dirigentes públicos ‒ tem
que passar, necessariamente, pela consulta às bases ‒ isto é: pelo diagnóstico
da opinião da maioria do povo maçônico.
Muitos
bons projetos têm sido apresentados pelos Grão-Mestrados e que, infelizmente,
deixaram de alcançar objetivos porque mesmo muitos dos bons maçons não
abraçaram a causa; nem mesmo se esforçaram para colher uma dúzia de assinaturas
no âmbito de suas Lojas! Noutras palavras, usando uma expressão bastante chula:
“não deram a menor bola”.
Repito:
temos dirigentes, mas faltam líderes.
A
liderança é fenômeno que nasce e se consolida exatamente na participação
consciente: uma vez proposta determinada linha de ação, o projeto político
almejado e os detalhes do empreendimento (plano, delineamento, justificativa e
esquemas) precisam ser encaminhados às Lojas. A boa e centenária prática
maçônica opta em discutir e votar a proposta na ordem do dia (sacrificando,
naturalmente, as já citadas pelejas sobre pela escolha do cardápio e
refrigerante das festinhas). Uma vez aprovado o projeto almejado, a linha de
ação, opiniões e detalhes do empreendimento, o representante de cada Loja
(normalmente o Venerável Mestre) encaminhará a deliberação do seu grupo à
plenária do povo maçônico. Simples assim (onde houver vontade de trabalhar); e
complicado demais (onde predominarem as zonas de conforto).
Uma
vez que não conseguimos abandonar o vício de imitar a República no âmbito da
maçonaria, acreditamos ser o momento da criação de “conselhos da Maçonaria” ‒
compostos (por exemplo) pelo Grão-Mestre em exercício e mais dois Grão-Mestres
Passados, três maçons que tenham exercido com êxito cargos administrativos,
três que tenham liderança positiva na instituição e mais outros seis Mestres
maçons com mais de 35 anos de idade e 15 de maçonaria, eleitos pela plenária do
povo maçônico, com mandato de três anos, vedada a recondução. Claro que esse
modelo é apenas uma sugestão ‒ um sonho talvez... um produto da minha
imaginação e sem possibilidade de realizar-se; uma fantasia, utopia ou absurdo
‒ quimera, dirão alguns. Aperfeiçoem-no, então!
Para
terminar, sei que “alguém” poderá usar as citações que fiz contra mim mesmo: “uma
tolice com o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel; o menor dos ingênuos
desta aldeia pretendendo levantar-se como portador da verdade.” Mas não
estou sozinho nessas “divagações” que comigo fazem os que sonham com uma
maçonaria forte e atuante; uma maçonaria que leve paz, felicidade ou esperança
para fora das portas das Lojas; uma maçonaria com o real prestígio landmarkiano de
que devem gozar os Grão-Mestres, uma maçonaria, enfim, fundada na liderança e
na participação de todos os Obreiros.
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