Por Rui Bandeira
A construção de uma edificação é algo que envolve
muito trabalho, muito empenho, e sobretudo o domínio de técnicas precisas
transmitidas por alguém, para quem o ofício já não tenha segredos, para outro
alguém ignorante no ofício no qual se iniciou, e com um longo caminho na sua
frente rumo à perfeição.
O ofício, qualquer um, precisa não só de quem tenha
conhecimentos para nele atuar, mas também de certos utensílios essenciais à
realização das tarefas.
A tarefa do Aprendiz começa, desde logo, por ser, a
identificação desses utensílios: o que são, como se chamam, para que servem,
quando se utilizam e finalmente como se utilizam.
O Aprendiz, em regra, alguém que pensaria ter
conseguido o mais difícil, isto é, o ingresso no seio de uma comunidade
especial, porque diferente de outras, constata ter de se empenhar, pela
aprendizagem com uma entrega total, sob pena de, não merecer a confiança nele
depositada para aceder ao conhecimento.
Estes quatro parágrafos são diretamente aplicáveis
a qualquer um, a qualquer sociedade organizada, seja ela de cariz profissional,
social, filantrópico, etc.
Na antiguidade, já os Romanos legislaram no sentido
das profissões serem hereditárias, impedindo-se, desse modo, a extinção de
algumas delas. Na Idade Média as profissões organizaram-se em Corporações ou
ofícios, nos quais poucos tinham o ensejo de ingressar, tal a necessidade de
cada corporação guardar ciosamente os seus segredos, os seus conhecimentos.
Tal aconteceu com os Pedreiros franceses, os
Maçons, ou Arquitetos, responsáveis pelas construções de Catedrais.
Os seus ensinamentos só eram transmitidos a
Aprendizes, sendo estes, homens de características especiais, a quem tinham
sido reconhecidas capacidades de integrar uma comunidade tão eclética.
Essa comunidade era a Maçonaria operativa. Os
Maçons eram então autênticos edificadores, construtores ou arquitetos dos mais
belos monumentos que ainda hoje se podem admirar.
Construções sólidas, duradouras, quase intemporais,
encerrando em si um saber acumulado, só desvendado ou acessível a muito poucos.
A Maçonaria, hoje, já não é operativa, mas sim
filosófica.
O Aprendiz Maçom tem porém que percorrer o caminho
da sua iniciação, assim como percorreu o caminho que a antecedeu, enquanto
profano, livre e de bons costumes.
O templo, também conhecido por loja, é o espaço
físico onde ele e os seus demais irmãos, uns Aprendizes, como ele, outros já
Companheiros, outros ainda Mestres, se reúnem fraternalmente e em comunhão
espiritual desenvolvem os seus trabalhos.
Essa é, porventura, a catedral da comunidade
iniciática a que pertence. Aí é a fonte onde o Aprendiz saciará a sua sede de
aprendizagem. Aí será onde uma mão amiga o amparará e guiará na senda do seu
aperfeiçoamento.
Esse Templo é o lugar sacralizado orientado segundo
a discrição bíblica do Templo de Salomão. Todos os templos maçônicos são
iguais, contêm os mesmos signos visuais. Mas cada templo possui um espírito
particular que caracteriza a respectiva assembleia de maçons.
É então aqui, no nosso Templo, que estamos a coberto
da indiscrição dos profanos, onde não “chove”, e onde nos sentimos seguros na
senda da descoberta das verdades e dos mistérios da nossa congregação.
A Catedral que o Aprendiz procurará construir,
então qual é ?
Encomendas como na Idade Média já não existem. A
catedral do coletivo, o templo ou loja, essa está já construída, e a ser
aperfeiçoada com o contributo de todos os irmãos, através da sua participação.
Verdadeiramente a Catedral que o Aprendiz terá de
construir é a sua própria Catedral interior. De pedra bruta, o Aprendiz terá de
desbastar o seu potencial interior, ainda disforme, e imperfeito.
Que a sabedoria do Oriente me ilumine, ao desbastar
a minha pedra disforme, que a força não me falte, neste trabalho interior, e,
no final, que a beleza seja seu apanágio, e a minha catedral estará pronta.
Que a minha postura, perante a vida, e os outros,
seja tão reta quanto o é o esquadro; Que, enquanto Maçom, eu me mantenha
solidariamente equidistante dos homens, tal compasso cujo desenho geométrico
perfeito, simboliza, o maçom, na extremidade cujo movimento de rotação se opera
sobre si, para desenhar o círculo. Que eu seja aprumado e me mantenha ao nível
de os meus irmãos me considerarem digno de me considerar entre iguais, no seu
seio. E tal como a colher do pedreiro alisa a superfície irregular, eliminando
as suas imperfeições, assim espero, tal como ela, conseguir suprimir os meus,
muitos defeitos, aperfeiçoando, o meu caráter.
Estes signos maçónicos, o esquadro, o compasso, o
nível, o prumo a colher de pedreiro, serão os meus utensílios que comigo
transportarei para usar no meu trabalho interior, para construir a minha
Catedral Interior, na certeza que a Catedral de todos os meus irmãos será o
somatório da catedral da cada um de nós.
Sei irmãos o longo caminho a ser percorrido no
trilho da Maçonaria simbólica, constituída pelos 3 graus de Aprendiz,
Companheiro e Mestre. O fim deste trilho apenas significará o início de um
outro representado pelo Maçonaria Filosófica.
Como comunidade eclética que somos o reconhecimento
entre nós é feito com sinais e palavras próprias, para que os profanos não se
arroguem qualidades que não têm perante nós. E também para que de entre nós não
invoquemos graus aos quais não acedemos ainda.
Isso só deverá ser possível depois dos nossos
irmãos Mestres acharem que está chegada a altura. Será chegada a minha vez de
ultrapassar os meus 3 anos maçónicos de idade ?
Aceitem um Tríplice Abraço Fraterno, deste fraterno
aprendiz.
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