A disputa pelo poder implodiu a parede de
silêncio que protege a maior sociedade secreta do país. Impedido de concorrer
ao cargo máximo do Grande Oriente do Brasil (GOB), principal ramo da maçonaria
nacional, o líder da oposição, Benedito Marques Ballouk Filho, acionou a
“Justiça Profana” – termo utilizado pelos maçons para classificar pessoas e
instituições alheias à organização – para tentar se manter no páreo.
A decisão de submeter o processo eleitoral ao
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) foi anunciada
por Ballouk no último sábado (5/5), logo após o veredito da corte máxima da
irmandade, o Supremo Tribunal Federal Maçônico (STFM), retirar a chapa de
oposição da disputa.
Caberá à 17ª Vara Cível do TJDFT dissecar o
processo da organização secular, com leis civis e eleitorais próprias – sendo
que muitas delas influenciaram a organização de poderes do Estado brasileiro.
Em vídeo publicado nas redes sociais, o
candidato anuncia a busca por justiça no tribunal comum e faz críticas à atual
gestão: “Passamos hoje uma quadra difícil, os irmãos estão percebendo tantas
intervenções, tantas suspensões, tanto descontentamento…”.
Por meio de nota, a chapa da situação,
intitulada GOB para os Maçons, rebateu as declarações do líder da oposição. “Em
vídeo do candidato com registro cassado, há a afirmação que irá recorrer ao
Judiciário Profano porque acredita na Justiça Comum, mas não na maçônica; como
aceitar um líder que não acredita em seus órgãos decisórios e, em última
análise, na própria instituição maçônica como um todo. Qual a mensagem passada?
De desordem e de insubordinação às decisões da Justiça maçônica”, diz o texto.
A manutenção da impugnação da chapa de
Ballouk e a submissão do processo eleitoral ao TJDFT aumentou a tensão entre os
dois grupos. A polarização ficou evidente nas redes sociais – as mesmas do
“mundo profano”. Defensores da atual gestão publicaram vídeos no Facebook
classificando a ação de Ballouk como traição às normas da sociedade secreta. Do
outro lado, alegações de golpe e abuso de poder.
Eleições
suspensas
Em abril, a Grande Angular revelou a crise na
maior sociedade secreta do país. A troca de denúncias levou à impugnação das
duas chapas que disputavam o comando do GOB e à suspensão das eleições. A
oposição acusa a atual gestão de tentar manter o poder com o isolamento dos
líderes divergentes. Ao todo, oito grão-mestres regionais foram afastados ou
expulsos. Defensores da atual liderança, no entanto, alegam que isso se deve a
trâmites administrativos e a atuação do órgão é republicana.
A escolha do grão-mestre estava inicialmente
prevista para o dia 10 de março. Sem definição sobre a nova data para a
eleição, o antigo líder continua no posto. O servidor público aposentado do
Banco Central Marcos José da Silva detém a posição há 10 anos. Reeleito em
2013, ele está compulsoriamente fora da disputa.
O sucessor, Eurípedes Barbosa Nunes, que
ocupava o cargo de adjunto, morreu antes de ver seu nome nas urnas, no dia 3 de
abril deste ano. Ele foi substituído pelo coordenador da campanha, Múcio
Bonifácio, na chapa GOB para os Maçons.
O postulante da chapa Novo Rumo é Benedito
Marques Ballouk Filho. Derrotado nas últimas eleições, ele tenta conquistar o
cargo novamente, com o slogan “Nenhum de nós é tão bom quanto todos nós
juntos”.
A expectativa é de que 40 mil membros
participem da escolha do novo líder, em 3 mil lojas maçônicas localizadas por
todo Brasil. Apenas os maçons com o título de mestre e financeiramente
adimplentes podem votar.
Não há números atualizados de quantas pessoas
participam da sociedade secreta. Mas o grupo conta com nomes de peso na
política brasiliense e nacional, como o presidente Michel Temer (MDB), o
ex-senador Gim Argello (ex-PTB), o ex-governador José Roberto Arruda (PR) e o
deputado federal Izalci Lucas (PSDB). Os três primeiros estão afastados da
maçonaria.
Por Lilian Tahan e Gabriella Furquim
Fonte: Metropoles
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