Por Solange Sudarskis - Tradução J. Filardo
O que se pode
ver?
Basta, portanto, passar diante de uma escola
ou colégio na hora da saída. Os jovens se atropelam, meninos e meninas
misturados, mais apressados uns que outros ao passar pela porta e se
reencontrar fora. A escola nos oferece seu fluxo da diversidade; diversidade
social, étnica, cultural e, naturalmente, de gênero (sem mistura de idade e por
uma boa razão). Depois, gradualmente formam-se grupos de fofocas, de amizade. O
movimento se organiza por grupos de afinidade, onde se observa a separação de
gênero, as meninas e meninos juntos, mas separados, formando pequenos bandos
unisex, alguns namorados, embora testemunhas de uma proximidade mista ao redor
deles, amiguinhos e amiguinhas. Com sua liberdade, a juventude se agrupa; os
clãs se formam rompendo a diversidade do interior da escola.
Os professores saem um pouco mais tarde, a
maioria são mulheres.
Vamos agora a um lugar da competição
esportiva. Oh, mas as equipes participantes são exclusivamente masculinas ou
femininas! Nada de diversidade no campo (exceto no tênis de duplas mistas). Os
espectadores são em sua maioria homens.
Aqui estão dois exemplos das muitas questões
que podem surgir sobre o tema da diversidade de gêneros.
O que precisa ser entendido por
diversidade de gênero?
Em uma sociedade, a diversidade de gênero
traz à mente imediatamente a noção de mistura com base em diferentes critérios:
gênero, nível social, cultura, etnia, religião (ou não), associação a um
compromisso político, nacionalidade …
No alvo de uma reflexão sobre este tema na
Maçonaria, nos ateremos a somente um critério controverso, que é o do gênero.
Na sociedade ocidental ainda patriarcal no
século XX, a diversidade de gênero é acima de tudo a vontade das mulheres de
penetrar lugares reservados aos homens. Concretamente, trata-se de garantir o
acesso das mulheres às mesmas oportunidades, direitos, oportunidades de
escolher, condições materiais (por exemplo, acesso igual a cuidados médicos, à
partilha de recursos econômicos, mesma participação no exercício do poder
político) que os homens, ao mesmo tempo em que se respeitam suas
especificidades.
Qual é o estado atual da diversidade
de gênero?
A diversidade se impôs apesar dela, como uma
“revolução silenciosa” em conjunto com a evolução dos costumes, sob a
influência dos movimentos feministas, que especialmente a partir da década de
1970, pedem à sociedade que olhe para as mulheres de forma diferente. A
sociedade torna-se gradualmente mista em todos os lugares de socialização e
especialmente na escola.
Com os mandamentos elaborados pelo
judaico-cristianismo, formalizando uma moral social, o homem procurou se dar,
em primeiro lugar, deveres de socialização e depois direitos imanentes e
superiores, direitos “inerente à sua pessoa, inalienáveis e sagrados”,
direitos naturais e, assim, oponíveis em todas as circunstâncias à sociedade e
ao poder, através de uma legislação que, hoje, coloca felizmente, em princípio,
a separação de poderes religiosos e judiciais, a partir de uma base
desenvolvida no século XVIII e que evolui ainda em nossos dias: a primeira
geração foi aquela dos direitos humanos civis e políticos; em seguida, a
segunda geração, a dos direitos econômicos e sociais; a terceira geração, a dos
direitos de solidariedade; a quarta geração a dos direitos globais. Hoje, os
princípios dos direitos humanos tornaram-se, na Europa, os direitos humanos
consagrados na Convenção Europeia dos Direitos do Homem e das Liberdades
Fundamentais, comumente chamada Convenção Europeia dos Direitos Humanos.
A Convenção Europeia dos Direitos Humanos
postula uma identidade de regras universais, pois elas se referem aos seres
humanos. Como uma unidade, podemos dizer que encontramos com Convenção uma
supra lei moral dos tempos modernos regendo os diferentes sistemas jurídicos
nacionais. Ao contrário de moral religiosa que quer levar o ser humano a “viver
juntos” e acima de tudo em direção a Deus, a moral dos Direitos Humanos protege
o Homem contra a sociedade, para lhe permitir viver em igualdade e dignidade.
O artigo 14 da Convenção Europeia dos
Direitos do Homem, relativo à proibição de discriminação decreta o seguinte: “O
gozo dos direitos e liberdades reconhecidos na presente Convenção deve ser
assegurado sem discriminação alguma, em razão, designadamente, de gênero, raça,
cor, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional
ou social, pertença a uma minoria nacional, riqueza, nascimento, ou qualquer
outra condição”. A igualdade entre mulheres e homens é uma visibilidade, um
empoderamento e uma participação igual das mulheres e dos homens, e em todos os
domínios da vida pública e privada. Assim, a Organização lutar contra todas as
violações das liberdades e da dignidade das mulheres e tem como objetivo acabar
com a discriminação baseada em gênero.
Em outubro de 2007, o Comité de Ministros
aprovou uma recomendação visando incentivar a adoção de medidas para a
implementação da abordagem integrada da igualdade entre mulheres e homens em
todos os níveis dos sistemas educativos dos 47 Estados membros do Conselho da
Europa.
Qual é a evolução da diversidade de
gênero nos sistemas educativos?
Não nos esqueçamos que as meninas eram
proibidas dentro de escolas de ensino médio em 1808. Não nos esqueçamos que foi
preciso esperar até 1880 para que as meninas fossem admitidas no secundário e
que a Lei Jules Ferry de 1882, que torna obrigatório o ensino para crianças de
ambos os sexos dos 6 aos 13 anos, diz que instrução primária deve incluir “para
meninos, exercícios militares; para as meninas o bordado“.
A diversidade de gênero será, então, uma das
mais importantes revoluções pedagógicas na França. No entanto, ela se fez “sem
mesmo que se prestasse atenção.”
A diversidade de gênero no ensino fez suas
primeiras aparições com as grandes escolas nacionais:
1906, a Escola de Chartes; 1912, a Escola
Normal Superior de ensino técnico de Cachan; 1917, a Escola Superior de
Eletricidade; … 1920, a Escola Central e muitas escolas de engenharia; 1945, a
Escola Nacional de Administração (embora com reservas à admissão de mulheres em
determinados cargos). Até essa data, os Institutos de Estudos Políticos (até
então reservados aos homens) abrem-se para as mulheres, assim como a
Politécnica em 1970, HEC e St. Cyr em 1975, a Academia Naval em 1992.
A introdução de diversidade de gênero nas
escolas é mais tardia e permanece tímida até a década de 1960.
A primeira escola mista é o colégio Marcellin
Berthelot de Saint-Maur, fundado em 1937. Esta escolha responde, aliás, mais a
motivações econômicas que ideológicas. Nesse meio tempo, durante o ano escolar
1958-1959, apenas 30% das escolas primárias são mistas.
A partir do final dos anos 1950, o governo
promove a generalização da educação mista. Em 1959, em particular, o ministro
da Educação nacional Jean Berthoin decide construir apenas escolas mistas. Os
colégios de ensino secundário (CES) criados pela reforma Fouchet Capelle de
1963 são mistos desde o início. De toda forma, os colégios masculinos e
colégios femininos ainda permanecem. A evolução da mentalidade é progressiva.
Os opositores à diversidade de gêneros temem a distração dos alunos e apelam à
seriedade do aprendizado escolar. Seus defensores, ao contrário, lembram a curiosidade
doentia dos estudantes, exacerbada pela separação de gêneros e sustentam que a
diversidade promove o enriquecimento intelectual mútuo e a formação de
personalidades equilibradas. As meninas, que o veem nisso um passo no sentido
da igualdade, também são muitas vezes mais dispostos a ir a escolas mistas do
que os rapazes.
Finalmente, os decretos de aplicação da lei
Haby de 28 de dezembro de 1976 tornam a diversidade de gênero obrigatória no
ensino primário e secundário. Hoje, as instituições de mesmo sexo de ensino
privado acolhem números muito pequenos de alunos.
Na França, só em 1982 o princípio igualitário
de educação mista é afirmado oficialmente: um decreto de 12 de
julho sobre a ação educativa contra os preconceitos de gênero vai além do
conceito de diversidade e visa promover uma verdadeira igualdade de
oportunidades para moças e rapazes e para eliminar qualquer discriminação
contra as mulheres. Tratando-se de textos regulamentares, o Decreto nº 90-788
de 6 de setembro de 1990 sobre a organização e funcionamento das escolas
maternais e elementares prevê, em seu artigo 6 que “as classes maternais e
elementares são mistas”.
A “diversidade de gênero” ou “mista”
raramente aparecem no texto, e estão ausentes do código de educação.
O Ministério da Juventude, de Educação
Nacional e Pesquisa, no entanto, indicou que é possível “considerar que o termo
aparece diversidade de gênero aparece nas entrelinhas em
vários textos que evocam a igualdade entre homens e mulheres “.
Diversidade de gênero é o mesmo que
igualdade?
Se a noção de igualdade não
é incompatível com a noção de diferença, então podemos
considerar que ela só está relacionada com a noção de diversidade der gênero.
Dizer que o direito à educação deve ser o mesmo para meninas e meninos não
significa que devemos colocá-los juntos ao mesmo tempo para receber aquela
educação. O próprio legislador levou em conta esta diferenciação no ponto de
usar os termos igualdade e diversidade de gênero separadamente no artigo 1,
parágrafo 6º da Lei de 4 de agosto de 2014, para igualdade real entre homens e
mulheres, que afirma que a política implementada deve assegurar a avaliação ”
de ações para garantir a igualdade profissional salarial e a diversidade de
gênero nos negócios e profissões. ”
A igualdade entre homens e mulheres
leva a fazê-los viver juntos em todas as circunstâncias da vida?
Pode-se imaginar equipes esportivas
profissionais como as de futebol ou rugby misturando homens e mulheres no
campo; quem o faria? Mesmo assim, a justaposição de gêneros, não a igualdade de
direitos e deveres, é, de fato, o debate dentro da Maçonaria, onde, no entanto,
já existem potências mistas desde o final do século XIX.
Como a diversidade de gênero apareceu
na Maçonaria?
No início do século XVIII, a educação, o
poder e a representatividade eram unicamente masculinas e ainda se duvidava
nessa época que uma mulher pudesse ter uma alma; na verdade, ela era legalmente
considerada menor de idade e, portanto, não estava livre da autoridade de seu
pai ou marido. Então, como imaginar uma mulher na Maçonaria! Nós entendemos
melhor por que, nas constituições fundadoras, a maçonaria lhes era proibida. A
Maçonaria era um reflexo da sociedade da época. A se notar que, naquela época,
não havia naturalmente judeus na Maçonaria, uma vez que estes, como as
mulheres, eram excluídos de direitos civis antes da Revolução Francesa. Nenhum
regulamento maçônico precisava especificar o que ia além disso.
Foi no final do século XIX, na França, que
aparecerá pela primeira vez uma verdadeira Maçonaria mista. De fato, até então,
as formas femininas ou mistas de maçonaria permaneciam:
·
anedóticas
(alguns poucos casos isolados, como o de Elizabeth Aldworth [i])
·
·
marginais
(Maçonaria Egípcia de Cagliostro)
·
·
sujeitas
às lojas masculinas aristocráticas (as lojas de adoção)
·
·
ou
para-maçônicas em seus ritos e práticas (a Ordem da Estrela do Oriente [ii])
·
Além do caso excepcional de Elizabeth
Aldworth (iniciada em 1712), não foi senão em 14 de janeiro de 1882 que a Loja
Maçônica ”Livres Pensadores de Pecq” confere a iniciação a uma mulher, Maria
Deraismes. Esta, mulher de letras reconhecida, jornalista comprometida era uma
oradora talentosa. O evento é importante porque é a primeira vez que uma mulher
é iniciada maçom com o ritual anteriormente reservado aos homens.
De fato, relata o jornal Le Matin de 4 de
abril de 1893, esta foi uma cerimônia em que a postulante introduzida com os
olhos descobertos no templo, viu por todas as provas, o venerável descer do
Oriente, e vir apresentar seus respeitos”. A Grande Loja Simbólica Escocesa à
qual pertencia a Loja, desagradada com esta a iniciativa, a colocou em
dormência.
A iniciação de Maria Deraismes poderia ter
sido apenas um episódio sem consequências. E isso só não aconteceu graças aos
esforços do Dr. Georges Martin. Após janeiro 1882, Maria Deraismes não assiste
a nenhuma reunião maçônica. No entanto, a ideia da admissão de mulheres na
Maçonaria continua a fazer o seu caminho, defendida desde muito tempo por Leon
Richer. Georges Martin, que é membro de uma oficina da Grande Loja Simbólica
Escocesa fez duas tentativas de levar esta obediência a tomar a decisão: em
1890, ele propôs que sua loja “A Jerusalém escocesa” criasse, em paralelo, uma
loja que admitisse mulheres. Em 1891 ele envia um pedido à GLSE para que cada
loja dessa obediência seja livre para se determinar; em vão. Georges Martin
decide agir de forma diferente: ele vai fundar uma loja mista independente e,
assim, a partir de 01 de junho de 1892, Maria Deraismes reúne em sua casa um
certo número de mulheres. Em 4 de março de 1893 elas tomam a decisão de criar
uma loja mista. Isto será feito em quatro etapas: em 14 de março de 1893
procede-se a iniciação de 17 mulheres; em 24 de março e 1 de abril elas são
elevadas ao 2o. e 3o. graus, em 4 de abril, a loja mista é criada. Ela assume o
título distintivo da Grande Loja Simbólica Escocesa da França do Direito
Humano; seus estatutos são arquivados em maio na prefeitura de Seine. Maria
Deraismes é sua venerável, Clemence Royer, venerável honorário e Georges
Martin, orador. O Rito Escocês Antigo e Aceito foi escolhido. A GLSE da França,
como qualquer Grande Loja, inclui apenas os três primeiros graus. Para chegar a
outros graus, ou seja, os Altos Graus, os maçons deverão procurar outra
obediência. Oficinas são criadas em Blois, Lyon, Rouen, Paris e Zurique. Em 16
de maio de 1896 os estatutos são modificados. A obediência se torna GLSE Mista.
Podia então parar por ali, comente com os três primeiros graus? Em 1899, o
irmão Decembre-Allonier confere o grau 33 a dez maçons do Direito Humano, o que
permite, em maio de 1899, constituir um Supremo Conselho. Em 1901, a GLSE Mista
deu lugar à Ordem Maçônica Mista e Internacional do Direito Humano administrada
pelo Supremo Conselho. À diversidade de gênero e o internacionalismo se
acrescenta a continuidade iniciática, pois todas as oficinas do grau 1 ao grau
33 se reúnem em um mesmo conjunto piramidal.
As mulheres, ou melhor a diversidade de
gênero penetrou na fortaleza maçônica; eles agora têm o título de irmãs.
E desde então, existem outras
potências mistas?
Será preciso esperar até fevereiro de 1973
para observar a criação de uma outra obediência mista. Três lojas do Direito
Humano, “Lucie Delong”, “Marie Bonnevial” e “Le Devoir”, seguidas por uma
centena de membros, abandonam a rue Jules Breton e fundam uma nova obediência,
a Grande Loja Mista Universal. A direção deste grupo é assumida pela Irmã
Eliane Brault e o irmão Raymond Jalu.
Em 1982, uma cisão ocorrerá na Grande Loja
Mista da França.
Mas deve-se observar que, nesse meio tempo,
duas potências estritamente femininas, a Grande Loja Feminina da França (1952)
e a Grande Loja Feminina de Memphis Mizraim (1971) são criadas.
Para fazer o que com a diversidade de
gênero?
Tentemos identificar como as potências mistas
abordam sua especificidade.
Desviando-se de sua apresentação, certas
potências mistas consideram tão natural associar homens e mulheres em lojas,
que elas não se justificam como mistas. Eles aparecem como tal, seja porque
elas se declaram, como o faz a Grande Loja Mundial de Misraim“, “é
uma Ordem (mista desde 1785)”, ou porque os seus membros são designados por
“irmãos e irmãs”.
Grande Loja Mista Universal: A diversidade de
gênero é afirmada como total. O desejo de estabelecer a igualdade entre homens e
mulheres implica para nós a escolha de um trabalho comum, e por isso nossas
Lojas são mistas.
Ordem Iniciática e Tradicional da Arte
Real:
As lojas da OITAR podem ser masculinas, femininas ou mistas. De fato, uma
grande maioria das Lojas desta potência são mistas. Todas as Lojas mistas ou
não mistas são obrigadas a receber, sem discriminação, qualquer visitante, Irmã
ou Irmão, reconhecido como maçom regular.
Grande Oriente Tradicional do
Mediterrâneo,
precisamente reconhece a iniciação feminina, em nome da dimensão universal da
Maçonaria.
Grande Loja Independente e Soberana
dos Ritos Unidos: A diversidade de gênero é uma posição de princípio,
fundada no reconhecimento da complementaridade entre homens e mulheres e,
portanto, sobre o enriquecimento mútuo que cada metade da humanidade pode, e
deve trazer à outra. “Para nós, trata-se, portanto, de valorizar a prática da
diversidade de gênero, graças à qual Irmãos e Irmãs, sem se prevalecer, mas
também sem negar os valores próprios de seu gênero, beneficiam-se do confronto
de diferenças. Por uma abordagem iniciática comum, eles afirmam assim seus
caráteres específicos, sem cair jamais em um nivelamento assexuado destinado a
apagar toda particularidade. No entanto, levando em conta o respeito à
tradição, a diversidade de gênero de nossas oficinas respeita as regras
próprias de cada rito. Assim, as Lojas colocadas sob a autoridade do Regime
Escocês Retificado são estritamente masculinas conforme exigido pela tradição
desse rito e é, obviamente, evidente o mesmo para o Rito Feminino, diz
Constante Chevillon, cujo próprio nome circunscreve bem a quem é oferecido. ”
Mistas sim, mas não demais, centrais
nucleares, sim, mas não grandes demais!
De fato, vemos aqui a relação ambígua do
princípio da diversidade com a noção de ritual.
A exclusão das mulheres tornou-se uma
fraqueza, um arcaísmo, uma fixação neurótica. “Enquanto os Irmãos “três pontos”
se gabam, na esteira dos movimentos feministas dos anos 1960 e 1970, de ter
contribuído para a liberalização da contracepção e do aborto, a proporção de
mulheres nos templos não passava de 9 a 17% depois de trinta e cinco anos,
sendo 7 a 13% de maçons em lojas mistas, e de homens em lojas mistas de 3 a
menos de 8%! Isto significa que se, sob o avental, o “sexo forte” julga perturbadora
a companhia do “belo sexo”!
A diversidade de gênero cria polêmica
nas potências masculinas?
As discussões sobre o GADU, engajamento
político, segregação racial e, claro, a diversidade de gênero constituem as
principais razões de cismas sobre a regularidade maçônica.
A consideração de irmãs elas chamados
potências liberais é adquirida, eles são até mesmo recebidas nas lojas do GO
desde 1974.
Hoje, a exclusão sistemática das irmãs de
visitas a lojas masculinas liberais ainda existem com várias escalas de valor,
embora o reconhecimento das potências mistas e femininas seja admitido por um
lado e pelo outro.
O Grande Oriente da França, antes de iniciar
mulheres, tinha 30% de suas lojas que recusavam a visita de Irmãs, seja durante
suas sessões, ou para uma cerimônia como a iniciação. Mais ainda, em 2008, o GO
suspendeu 169 de seus membros por ter iniciado seis mulheres em cinco oficinas
daquela potência. O Grande Oriente optou por deixar cada Loja livre para
decidir se aceita ou não a visita de irmãs.
A GLDF – Grande Loja da França não recebe
irmãs. Eles inventaram por volta de 2010, um “ritual especial” a fim de as
receber.
A GLTSO só recebe irmãs da GLDF, mas
trabalhou e organizou por volta de 2005, sessões comuns com potências mistas ou
femininas.
A GLAMF e a GLIF não reconhecem nenhuma
obediência mista e feminina. Consequentemente, no caso delas, é inútil fingir
que visitação recíproca seria possível para as irmãs. O mesmo vale para a
Grande Loja Nacional Francesa – GLNF.
O reconhecimento das irmãs não é um objetivo
maçônico, mas uma escolha das potências.
O debate relativo à maçonaria liberal não se situa,
portanto, sobre o reconhecimento de irmãs (como ocorre com a existência de
potências mistas), mas sobre o seu direito à iniciação nas diferentes potências
que, embora reconhecendo o seu direito de ser maçons, ainda lhes proíbem esta
cerimônia.
Já em 1869, o Irmão Frédéric Desmons, pastor
e venerável da Loja de Saint Géniès de Malgoirès, na província de Gard e depois
Grão-Mestre do Grande Oriente da França manifesta a esperança de “que no
futuro, as mulheres sejam admitidas no seio das oficinas e possam participara
dos trabalhos. ” O Conselho da Ordem do Grande Oriente da França se recusa.
Lembremo-nos de passagem que é também o irmão Frédéric Desmons que fez votar
pelo Grande Oriente da França a supressão da obrigação de acreditar em Deus e
na imortalidade da alma para solicitar a iniciação maçônica.
Em 22 de janeiro de 1961, a CLIPSAS (Centro
de Ligação e Informação de Potências Maçônicas signatárias do Apelo de
Estrasburgo) foi formada por chamado do Grande Oriente da França e de outras
onze potências maçônicas soberanas que, movidas pela intransigência e exclusões
que elas consideravam abusivas de determinadas outras potências, lançaram um
apelo a toda a Maçonaria mundial, para reuni-las no respeito por sua soberania,
seus ritos e seus símbolos.
Os princípios fundamentais desse grupo de
potências diferem dos princípios básicos ingleses e dos landmarks norte-americanos, em
dois pontos essenciais: O princípio de uma fé necessária em Deus (ou similar) é
substituída pela da “liberdade absoluta de consciência.”
Mas acima de tudo, no que diz respeito os
nossos propósitos, este grupo não impede o reconhecimento de potências
femininas ou mistas.
Nestes tempos de recuperação midiática para a
Maçonaria, com semana especial sobre França Cultura, difusões e transmissões
nos principais canais de radiodifusão, cobertura de todos os principais
semanários, passeata em apoio … uma pergunta inevitavelmente volta à baila: a
proibição de iniciar mulheres no Grande Oriente da França.
O convento de 2009, que reuniu em Lyon
delegados das 1.200 lojas do GODF, pronunciou-se pela última vez a 56% contra a
diversidade de gênero nas lojas.
Esta votação foi cancelada por questões de
forma. Uma comissão de especialistas finalmente admitiu que “homens livres e
de bons costumes” designados nos estatutos da obediência na época do
Iluminismo, não deviam ser entendidos no sentido masculino do termo.
em 22 de janeiro de 2010, em um comunicado à
imprensa, o Conselho da Ordem do Grande Oriente torna oficial a mudança de
estado civil de Olivia Chaumont. Esta, regularmente iniciada em 1992 como homem
na Loja “Universidade Maçônica” torna-se após a sua trans-identidade, a
primeira mulher oficialmente membro do Grande Oriente da França desde a sua
criação. Instalada venerável sua loja, ela foi eleita delegada de sua loja,
fazendo entrar, então, a diversidade de gêneros no Convento realizado em 02 de
setembro de 2010 em Vichy [iii]. Durante esta convenção, por uma estreita
maioria de 51,5%, os membros do Grande Oriente da França (GODF) tomam a decisão
de iniciar mulheres. O passo foi dado na quinta-feira, 3 de setembro, pelos
1150 delegados das lojas do Grande Oriente.
Embora o regulamento não especifique e em
aplicação do princípio da liberdade das lojas que preside igualmente para as
visitas de irmãs, o Grande Oriente, agora deixou as lojas livres para iniciar
mulheres ou as filiar segundo as modalidades que se apliquem a todos os membros
masculinos do Grande Oriente.
Não se pode dizer que o GO se tornou misto; o
que prevaleceu é a liberdade das lojas como única solução maçônica: que
nenhuma [loja] tem a pretensão de impor às outras a sua própria escolha
iniciática, uma vez que todas [as lojas] respeitam os princípios e os estatutos
da associação que as federa. Imaginemos que por um acaso digital, uma
oficina seja predominantemente feminina e, posteriormente, se recuse a iniciar
homens, teremos em breve, lojas estritamente femininas no GO?
O artigo aprovado esta semana prevê que “não
se pode mais recusar quem quer que seja na obediência, por qualquer tipo de
discriminação que seja, incluindo o gênero“. Até hoje, “irmãs” podiam ser
acolhidas como visitantes, mas não podiam ser iniciadas no âmbito da principal
obediência maçônica da França, que reivindica cerca de 50.000 membros.
Podia ela filosófica e legalmente negar aos
membros de lojas de uma associação indiferente ao gênero, o direito de iniciar
as mulheres? Obviamente que não. Nós não podemos mais, em tal associação, negar
o direito a certas Lojas de receber apenas homens, desde que eles não imponham
essa “regra” em particular, a toda a obediência.
Esta decisão do Convento provocou algumas
centenas de transferências e demissões de irmãos descontentes do GO. Não
podemos nem mesmo entendê-los em uma reflexão sobre o destino das grandes
minorias nas votações que modificam seus horizontes e que não são unânimes. A
decisão democrática não é suficiente para garantir a sua legitimidade quando o
consenso é tão pouco claro, mas a sábia decisão do GO permite espaços de
iniciação em oficinas que escolhem o seu modo de funcionamento. Como se diz
“vítima” no masculino?
Além disso, de acordo com o relatório de
atividades do executivo do GODF publicado em 31 de março de 2013, a partir de
2008, a data de início das iniciações, a associação recrutou 1403 mulheres,
sendo 45,54% por meio de transferência de obediência a obediência e 54,46% por
recrutamento direto.
Com mais de 50.000 membros, a GODF é a
principal obediência maçônica na França.
Porque o GODF se afirma fortemente
progressista, com membros vindos principalmente das fileiras da esquerda, e se
afirma na vanguarda das lutas por isso é que que seu lema desde o século XIX é:
liberdade, igualdade, fraternidade, entendemos, a partir daí, que uma conquista
do feminismo encontra ali um terreno fértil para a semeadura. A abertura do GO
às mulheres, com suas 1.300 lojas irrigando todo o país, presente em cada
cidade, quase cada cantão da França, oferecendo a mais ampla variedade de ritos
(o GO é uma federação de ritos), dá certamente um verdadeiro impulso à chegada
de mulheres na maçonaria com, em especial, a abertura para mulheres vindas de
outros horizontes, além das categorias mais urbanas e qualificadas que
atualmente predominam nas obediências que as iniciam.
Esta perspectiva constitui a reflexão de
alguns membros proeminentes do Direito Humano, uma concorrência no recrutamento
de novos membros, com o medo de uma rivalidade discriminatória. O poder, tanto
financeiro quanto espiritual, de uma obediência é também devido aos seus
membros!
Quais são, ainda, as relutâncias à
diversidade?
O ”última palavra ” avançada em 1884 pelo
jornal Le Matin enfatiza … os bons costumes! “Vocês veem, especialmente nas
províncias, vinte homens e tantas mulheres reunidos em um salão, onde nenhuma
pessoa não-filiada podia ver o que se passava, era o golpe que as boas línguas
da localidade conversariam com gosto. ”
Se eles se prestam a sorrir este propósito
anuncia a satisfação, ainda hoje, que as esposas (companheiras) ou esposos
(companheiros) têm de saber que só nos encontramos entre homens e mulheres para
trabalhar à noite em loja. Afinal, sexualizar as pessoas é também sexualizar as
relações! Portanto, nada de diversidade de gênero, para maior tranquilidade
conjugal.
Não nos esqueçamos que Georges Martin,
fundador do Direito Humano, excluía as irmãs da Grande Loja Simbólica Escocesa
No. 2, porque ele não podia verificar a moralidade delas.
Esta presença do sexo oposto durante as
sessões é percebida pelos próprios membros como perturbadora. A concentração no
único trabalho em sessão pode ser desviada pelo charme que inspira a presença
do outro sexo. Esta presença por si mesma, os reduziria a uma dimensão do
preocupação e desejo, a uma espiral de luxúria incompatível com os trabalhos
filosóficos realizados em Loja.
A acreditar em Jean-Francois Remond, a
diversidade de gênero seria uma operação de apagamento, introduzindo um
discurso de ordem moral, ao final do qual se deveria abster de abordar qualquer
assimetria (e particularmente aquelas relacionadas com a diferença entre os
gêneros) como inconveniente ou negligenciável. A diversidade de gênero neste
caso seria apenas uma operação de censura politicamente correta.
O problema não é, aliás, o da emoção. Com o
devido respeito aos irmãos, aqui está o que dizem irmãs de uma obediência
feminina: obviamente, há os visitantes, mas aqueles por vezes incomodam, porque
eles são barulhentos, não respeitam as regras, intervêm completamente
equivocados e com muita segurança, por vezes no estilo gascão, bebem
excessivamente, e flertam.
Mais profundamente, se suas estruturas
administrativas cumprem as regras da lei das associações de 1901 e que ela
apela aos seus membros a participar plenamente na vida da cidade, a Maçonaria,
em sua essência se define como uma experiência, tanto íntima quanto atemporal,
mais próxima da psicanálise, das fraternidades medievais e antigas iniciações,
do que de nossos partidos e sindicatos contemporâneos.
Uma vez que o percurso Maçônico se situa no
registo do esotérico ou do ritualismo para alguns, da psicanálise ou da
pesquisa filosófica pessoal para outros, tais recusas não têm que se
justificar: todos são livres da forma de suas reflexões íntimas. Porque, sim, a
Loja faz, sem dúvida. parte do íntimo de cada um dos seus membros, o trabalho
coletivo sobre si mesmo sendo a esse preço …
Se este raciocínio pode parecer chocante, em
total contradição com as posições tomadas pelo GO fora do Templo, ela não é
menos na pura lógica maçônica, sociedade que se vê simbolicamente detentora de
experiências seculares.
Considerando sua loja como um espaço privado,
até mesmo íntimo, vivendo sua iniciação como pertença a uma comunidade fora do
campo social, estes últimos também ativistas ou ativos em muitas associações,
vêm justamente procurar um espaço de reflexão coletiva, mas íntima que não
reproduza necessariamente a fisionomia da cidade de onde eles querem se afastar
por um momento. Um certo número de maçons do GO ainda se recusam a trabalhar em
loja com mulheres, sem que isso seja implacavelmente contra uma evolução da
obediência.
Se este argumento não responde
necessariamente pela negatividade da diversidade de gêneros na Maçonaria, ele
agrega, incontestavelmente, nova luz ao debate!
Convém, de fato, separar bem o que pertence à
ideologia da maçonaria liberal, muito progressista, e à “jornada maçônica” em
si, mais íntima e menos subordinados às regras sociais.
E é forçoso constatar que, neste contexto,
muitos desses novos maçons buscam justamente um discurso puramente masculino
(ou feminino) para esta busca interior.
Muitas mulheres maçons reivindicam ainda este
estar-entre-si que permite nas lojas exclusivamente femininas, “abordar o
Universal a partir da singularidade feminina”, para usar as palavras de muitas
delas.
E agora, imagine o desconforto de maçons,
ingressados na base de uma estrutura de gênero único, a quem é anunciado que,
doravante, eles deverão compartilhar todas as suas sessões no contexto de uma
loja mista. Suas escolhas iniciais não têm mais sentido. Por lei, eles não
podem considerar que houve quebra de contrato? Escolher uma potência, ou uma
oficina masculina (ou feminina) é uma decisão que implica uma cláusula estimado
implícita – rebus sic stantibus – (as coisas permanecendo no
estado em que se encontram).
Passar à diversidade de gênero é uma
modificação tal que, sem o consentimento dos interessados, a rescisão do
compromisso é logicamente aberta. Se a diversidade de gêneros se tornasse
imperativa em todas as lojas, não haveria lugar para acolher estes ou aqueles
que, contra esta eventualidade, desejam definitivamente continuar seu trabalho
iniciático em um ambiente protegido contra a diversidade.
A questão da “preferência” teria se tornado
questionável em nome da diversidade de gêneros? O significado de um pensamento
único seria o árbitro do “coletivo” íntimo dos membros, que ainda têm o direito
de decidir e fazer valer sua liberdade de se encontrar sob as condições que
lhes convêm.
Para muitos irmãos e irmãs, introduzir a
diversidade de gêneros em suas lojas de gênero único, não significa continuar a
Loja, expandindo-a, mas significa inventar um outro tipo de sociabilidade
maçônica a que eles (ou elas) não estão inclinados. Assim se expressa Charles
Arambourou em seu excelente artigo “Diversidade de Gêneros? – Não: liberdade
das Lojas“: “Eu exijo nos termos da lei a possibilidade para toda Potência,
ter o fato da identidade de gênero como suficientemente determinante para
escolher um único gênero. Eu o reclamo com tanta ou mais força que o que eu
chamo de uma característica determinante não estabelece a discriminação porque,
uma vez mais, as potências propõem também um tipo de sociabilidade mista “.
Os rituais só são convenientes para um
determinado gênero em particular?
A Maçonaria é mais uma comunidade pneumática
que um clube, porque ela também afirma assumir a transmissão de uma tradição
dupla: a dos maçons “francos, ou livres” e, portanto, do “mestier”, tradição
fundada sobre uma interpretação do mito de Hiram, o construtor do Templo de
Salomão, acoplado a outro relacionado com o mito fundador, a cavalaria
Templária, que formam um fundo arquetípico e paradigmático, com, neste caso,
seus ritos, seus mitos e especialmente o seu processo iniciático.
Na verdade, ela é uma das raras sociedades
iniciáticas que propõem no Ocidente uma via para vencer a morte. Este método
particular é baseado no simbolismo e raciocínio por analogia. Estes são seus
verdadeiros valores universais que a ligam ao que Jacquart chama “a
humanidade”.
Eu me coloco a questão de saber o que a
convivência de homens e mulheres pode trazer a mais para os ritos, os mitos, o
sistema iniciático. Será que falta introduzir, paralelamente, uma lenda
fundadora em que uma mulher seria a heroína? Hiram poderia ser uma mulher!
Afinal, a suposição mais curiosa sobre a identidade de Hiram já foi feita pela
misandra Céline Renooz em seu livro “A era da verdade (História do pensamento
humano, evolução moral da humanidade através das épocas e entre todos os povos)
” publicado em 1925, alegando que, de fato uma mulher, a filha do rei de Tiro
se escondia sob o nome de Hiram. Com base no texto hebraico da Bíblia marcado
pela feminização dos adjetivos que descrevem o rei Davi, Renooz considera
também curiosamente que, na verdade, ele foi uma rainha, chamada Daud, que
fundou a cidade de Jerusalém e começou a construir ali um Templo. A rainha Daud
não foi a única a fundar a instituição secreta que devia se propagar através da
Maçonaria. Ela tinha duas colaboradoras, duas Rainhas-Magas (ou mágicas), com
quem formava o tríptico sagrado que os três pontos da Ordem representaram
depois. Uma delas é Balkis, rainha da Etiópia (chamada de Rainha de Sabá), a
outra é uma rainha de Tiro, que estava escondida atrás do nome de Hiram. Esta
rainha de Tiro sendo Elissar ou Dido.
Seria preciso encontrar princesas,
cavaleiras, os “pontífices”, inspetoras, soberanas escondidas nos títulos dos
altos graus escoceses?
Tradição contra o “entrismo” feminino!
O que é a diversidade de gêneros em
uma sociedade iniciática?
Colocadas na entrada do templo maçônico as
duas colunas abrem a passagem sobre um simbolismo que não para de fazer correr
muita tinta e produzir muitas interpretações. Concebidas como macho e fêmea,
estas colunas se inscrevem naturalmente em uma reflexão sobre a diversidade de
gêneros.
A mensagem destas duas colunas é uma
advertência à presença conjunta de irmãos e irmãs em sessão? Os textos não
dizem que elas são simétricas nem semelhantes. Uma das colunas é descrita pela
sua altura, a outra pelo seu diâmetro. Estabelece-se assim uma correspondência,
uma alteridade sem identificação, daquela que é alta daquela que é larga. Isso
é afirmar a diferença, manter e deixar livre a dimensão da estranheza e do
outro lugar. Isto significa que a outro não é sempre a mesma. O outro não é de
modo algum, oposto ao seu outro. A alteridade, a presença do outro, em si mesmo
uma diversidade de gêneros, e não é indispensável ter, para isso, considerações
que se situam abaixo da cintura. As colunas são separadas, uma ao lado da
outra. Porque separadas elas traçam um limite entre duas polaridades. Cruzá-las
para entrar no Santuário, é se deixar irradiar pela magia da passagem ao meio
que realiza a síntese do princípio macho e do princípio fêmea abertos ao mundo
superior da unidade.
A diversidade de gêneros no ser se
impõe como interpretação da obra de Hiram.
Pela percepção simbólica de uma origem única
que se diferencia apenas na percepção humana, o maçom pode se apegar a ver mais
longe do que com o único olhar maniqueísta do profano, deixando de se submeter
a toda afirmação moralista ou dogmática.
O que é chamado “mental” é o mundo em
movimento, intermediário entre o corpo terreno e o espírito de natureza
universal: ele é feito de troca de nossas emoções, de nossa imaginação, de
nossos pensamentos que temos com o universo e conosco mesmos, ele é chamado
segundo as metamorfoses e as transformações. Eu sinto que Platão diz a mesma
coisa em seu Theaetetus nesta passagem onde ele mostra que a percepção que
afetam nossos cinco sentidos não pode exceder o que ela é. Ele escreveu: ”É
em suas abordagens mútuas que todas as coisas nascem do movimento sob formas de
todos os tipos, porque é impossível conceber firmemente o elemento ativo e o
elemento passivo como existindo separadamente, porque não há nenhum elemento
ativo, antes que ele seja unido ao elemento passivo … De tudo isso resulta que
nada é em si, a não ser uma coisa que se torna outra e que é preciso de tudo
retirar a palavra ser … É preciso dizer, de acordo com a natureza, que ela está
se tornando, está se fazendo, está se destruindo, está se alterando‘. O
mental flutuante do mundo sensível e dual não pode, portanto, se aproximar do
Um universal e, por isso, não podemos atingir esse nível de unidade somente
pelo mental. Esta concepção está na filosofia oriental que conclui “não é
pelo pensamento de que se atinge o Caminho“. Afinal, se a Energia é o único
caminho, e a Razão o terminal de circulação da Energia, cada um deve escolher
estar no centro das coisas ou na sua periferia.
Será a diversidade de gênero uma
androginia?
Para o alquimista, o mundo é andrógino, em
princípio, não hermafrodita, mas andrógino, de uma reunião em si mesmo e de uma
síntese de todos os opostos. Trata-se de restaurar um isomorfismo entre o
macrocosmo e o microcosmo, entre o seu e o meu. Este símbolo deve ser entendido
como um estado de plenitude. No limite, ele se substitui ao vir a ser, escapa e
toca a morte terrena das fronteiras das origens.
Pode-se tomar como exemplo dessa diversidade
absoluta de gêneros, o pleroma hebraico da árvore da vida.
Em termos extremamente simplificados pode-se
dizer: o pleroma é um símbolo que representa 10 Sephirotes dispostas numa
determinada ordem e ligadas entre si por trilhas. Estas representações da
relação da Divindade com o cosmos estão dispostas em três colunas verticais, a
da direita chamada masculina e a da esquerda feminina, e a do centro é a do
equilíbrio.
A primeira sephira, esfera de manifestação, é
colocada mais alto do que as outras no pilar do meio. Ela se une com a segunda
sephira do pilar à direita e ela própria se une sobre o mesmo plano à terceira
Sephirah no pilar esquerdo formando assim um triângulo, dito triângulo supremo.
Esta triangulação surgida do nada, da origem, é muito especial. É o começo. É
como uma frase ou ideia em germe, mas que só encontrará a realização, em uma
fase posterior: uma ideação do universo.
Kether, se traduz por coroa, a primeira
Sephirah é colocada, assim, no cume, no início da manifestação primordial. Ela
representa um tipo de cristalização primitiva daquilo que até agora não foi
manifestado e permanece incognoscível por nós.
Não existe em Kether nenhuma
forma mais exclusivamente da intenção pura, que ela pudesse ser: é uma
existência latente separada por um grau da origem, do não-ser; do Aïn-sof. Esta
sephira contém tudo o que foi, é e será. Ela é aquela-que-é. É com a existência
manifestada nos pares de opostos que esta unidade terá um sentido acessível,
mas em Kether ainda não há diferenciação alguma. Ela permanece
ela mesma nela mesma. Essas diferenciações que no-las tornam inteligíveis
somente aparecerão Chochmah e Binah, nomes da segunda e
terceira Sephiroth, tiverem emanado. Kether é a mônada
existente sem atributos notáveis, embora os contenha todos. Por isso, ela
contém as potencialidades de todas as coisas. Não podemos definir Kether, só
podemos nos referir a ela. A experiência espiritual atribuída a Kether é
chamada União com Deus: objetivo e fim de toda a experiência mística ou
alquímica. Não é surpreendente localizar aqui como virtude, aquela da
realização, da conclusão da grande obra alquímica, o retorno final. O ponto porque
ele não tem dimensão é naturalmente associado a ela como um símbolo referente.
Mas encontraremos outros títulos para ela, tais como Existência das
existências, o ponto primordial, o ponto no círculo, o macroposopo inicial, a
luz interna, Ele, a cabeça branca e seu arcanjo é Metatron.
A energia de Kether se
desdobra e este dinamismo primeiro, este ponto em movimento traça uma linha que
vai em direção à segunda sephira chochmah: a Sabedoria. Esta
expansão da força não-organizada e não compensada seria, antes, uma energia
incontrolável: o grande estímulo do Universo. Mas é impossível compreende-la
sem associa-la a Binah terceira sephira da árvore e primeira
sephira organizadora e estabilizante, Binah: a compreensão. Se os
títulos dados a Chochmah são Ab, o Pai Supremo, Tetragrammaton,
IHVH, Yod do Tetragrama (muitas vezes representada em francês ela letra J) e se
os símbolos ligados a ela são o falo, o lingam, a pedra que mantém de pé, a
torre, a vara do poder que se veste, não ficaremos surpreso ao ver e entender
em Binah (a compreensão), ima, a mãe sombria Elhoim, a
brilhante mãe fértil, o Grande Mar, Mara, raiz de Maria e reconhecê-las na
taça, o cálice, o Yoni, a roupagem exterior de dissimulação (termo Hindu e
gnóstico que designa os órgãos sexuais da mulher).
Assim, Kether é o ser puro,
todo-poderoso, mas não ativo. Quando uma atividade dela emana, o que chamamos Chochmah é
um fluxo descendente de atividade pura, que é a força dinâmica do universo e
que se estabiliza em Binah. Ele então toma forma em Binah. A
Unidade de Kether é uma mônada dando a si mesmo a ver em duas Sephiroths. Elas
formam assim a tríade Suprema. A unidade do início, em seus dois aspectos
diferenciados pode ser representado por um triângulo: Kether, Chokmah,
Binah.
O Delta de nossos templos é um triângulo
deste tipo? Sim, nós ainda diríamos que fixamos aqui a tríade supremo, mas é
também a mônada pitagórica. Nosso Delta é a consubstancialidade do Espírito
manifestado (a energia), a matéria (a forma) e do universo seu filho. Ele é
colocado no lado dos mundos superiores, quer dizer para nós no oriente. No
outro extremo, no mundo da formação, considerado inferior porque mais distante
da origem, temos o mesmo simbolismo. Sob uma outra forma, J e
B representam, na fase do mundo da dualidade, os dois aspectos diferenciados,
mas separados da unidade ideal do Delta que os contém em ideação onde eles se
ainda se encontram reunidos na perfeição andrógina. Pode-se dizer que a partir
do topo do Delta passando pelos seus pontos baixos, ligado às colunas do Templo
são traçados os pilares da árvore da vida, onde os IIr.’. e IIrmãs.’. são ao
mesmo tempo as esferas de luz e os caminhos pelos quais se atualiza a
transcendência.
É uma geografia sagrada que o iniciado terá
que remontar partindo do limiar até a coroa como um Cavaleiro para se unir à
sua Rainha. Note-se que na árvore da vida, o primeiro sephira partindo de baixo
(a última na manifestação) é chamada Reino.
É dizer e repetir que somos macho e fêmea,
como imagem da criação. É uma consubstancialidade da unidade vista em seus
aspectos diferenciados, mas é a unidade que ainda é uma questão.
Como a diversidade de gêneros é
encarada nas diferentes potências?
Grande Oriente da França (GODF): 50.000
membros, 2,6% irmãs.
Federação Francesa do Direito Humano (FFDH)
17 000 membros, 67% irmãs.
Grande Loja Mista da França (GLMF): 4.900
membros, 45% irmãs.
Grande Loja Europeia da Fraternidade
Universal (GLEFU): 2.400 membros 22,5% irmãs.
Grande Loja Mista Universal (GLMU): 1.400
membros, 52% irmãs.
Ordem Iniciática da Arte Real (OITAR): 1.200
membros, 50% irmãs.
Grande Loja de culturas e espiritualidades
(GLCS): 900 membros, 30% irmãs.
Grande Loja Simbólica da França (GLSF): 550
membros, 47% irmãs.
Grande Loja Francesa de Memphis-Mizraim
(GLFrMM): 500 membros, 25% irmãs.
Grande Loja iniciática soberana de Ritos
Unidos (GLSRU): 280 membros, 45% irmãs.
Grande Ordem Tradicional do Mediterrâneo
(GOTM): 140 membros, 33% irmãs.
Conclusão
Na França, nas palavras de Bruno Etienne, a
Maçonaria produziu duas maçonarias que convivem, volens nolens durante
três séculos, mas que parecem prestes a se chocar hoje. A primeira tem por
slogan “liberdade, igualdade, fraternidade” e pretende participar ativamente na
construção da sociedade ideal. A segunda tem por divisa “força, sabedoria,
beleza” e prefere trabalhar na construção do Templo da Humanidade a partir da
construção do templo interior através do domínio do ego.
Uma é extrovertida, progressista, mundana; a
outra é voltada para o interior, progressiva e mística. Alguns pensaram que
poderiam, sem esquizofrenia excessiva pertencer a ambas as tendências.
Na verdade, apropriando-se do monopólio da
interpretação republicana, identificando-se com a única República monista, a
Maçonaria arrisca perder a sua capacidade de orientar o neófito para a
iniciação em favor de uma inclinação nas correntes à moda do mundo secular.
A diversidade de gêneros não pode ser
inevitável, ela só pode ser, dentro de cada oficina, um consenso unânime,
anunciado claramente para que aquele que vem em direção à Maçonaria possa ter a
escolha de seu engajamento, sem o qual a palavra liberdade nada mais seria que
um chamariz.
*
* *
[i] Nascida em
1693, seu pai e seus irmãos eram maçons aristocratas, em County Cork, Irlanda.
Em 1712, quando Lord Doneraile, seu irmão, era venerável, sua loja organizava
suas sessões dentro do domicílio da família. A jovem tinha assistido a uma
sessão maçônica, graças a um buraco em uma parede em construção, em uma
biblioteca adjacente à loja. Tendo sido surpreendida, seu caso deu lugar a uma
reunião de mais de duas horas, depois da qual foi decidido oferecer-lhe a
escolha entre a iniciação e a morte. Ela aceitou a iniciação e teria
permanecido membro da loja até sua morte na idade de 95 anos
[ii] Nos EUA, um
maçom de Boston chamado Robert Morris fundou em 1850 uma ordem mista de
inspiração maçônica, chamada Ordem da Estrela do Oriente, que se abriu às
mulheres, desde que fossem filhas, viúvas, esposas, irmãs ou mães de um maçom.
Esta ordem, que ainda existe, conheceu um grande sucesso nos EUA, mas
dificilmente se desenvolveu fora dali. Ele fornece educação baseada na Bíblia e
se ocupa principalmente com atividades morais ou de caridade.
[iii] O local foi
escolhido para evocar a dissolução de sociedades secretas pelo marechal Pétain,
exatamente 70 anos atrás.
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