Por
Ir.’.José Maurício Guimarães
Dizia o Tratado de
União entre as duas Grandes Lojas rivais inglesas (1813) que a antiga e pura
Maçonaria "consiste de três graus e somente três, isto é, Aprendiz,
Companheiro e Mestre, incluindo o Sagrado Real Arco". Não se assustem: a boa e velha ilha (mais velha do
que boa) tem, e sempre teve, o hábito de promulgar axiomas matematicamente
inexatos e desconcertantes equívocos
históricos, sendo o mais recente deles o Brexit (Britain+exit),
sua involuntária saída da União Europeia. Mas.. o que se
esperar de um regime monárquico, não laico (desde que fortemente marcado pelo
anglicanismo) imperialista e colonialista?
Três graus e
somente três, mais o Real Arco: aí está uma aritmética que faria o inglês Isaac
Newton dar voltas no túmulo: três e somente três que abrangem um quarto –
ou seja– "as quatro estações do ano são os três mosqueteiros: Esaó e Jacu".
Resta dessa
clareza britânica toda a confusão e todos os preconceitos dos quais vive a
chamada "maçonaria moderna", especialmente no Brasil.
Acontece que, até
1738, parte dos candidatos à Iniciação era admitida segundo um sistema de dois
Graus, enquanto outra acompanhava um sistema de três Graus. O Grau de Mestre
surgiu somente em 1725, conferido em corpos especiais chamados "Lojas de
Mestres". Durma-se com um barulho desses!, pois em se tratando de uma
espécie de "vaticano da maçonaria", obedecer e permanecer
subserviente está acima de qualquer lógica – mesmo em se tratando de uma
"fraternidade de livres pensadores".
Dessa lógica
insular imutável surgiu o conceito de "grau lateral" ao de Mestre.
Assim desenvolveu-se a ideia de organizações maçônicas que dão prosseguimento
às instruções do Grau de Mestre Maçom, sendo as mais conhecidas o Rito Escocês
(na verdade francês) e o Rito York.
Entre nós existe
um equívoco básico ao chamarmos indistintamente "rito de
ritual"; e "ritual de rito". Parecem ser a mesma
coisa, mas não são.
Se a Maçonaria
brasileira já estivesse adaptada à compreensão correta do que distingue uma
coisa de outra, muita discussão e perda de tempo seriam evitadas. RITO é um
conjunto de cerimônias (que se praticam numa religião, numa seita etc.); RITUAL
é a forma e conteúdo objetivo de se executarem certos elos
cerimoniais. Neste caso, evitem-se os dicionários que servem mais para
confundir do que para explicar essa diferença em se tratando de Maçonaria. É
necessário irmos "além do Grau de Mestre" para entendermos essa particularidade.
Um RITO é composto
de diversos RITUAIS. Assim, o Rito Escocês Antigo e Aceito tem rituais próprios
para os Graus 4º(Mestre Secreto), 5º(Mestre Perfeito), 6º(Secretário
Íntimo), 7º(Preboste e Juiz ) etc., até o 33º(Inspetor Geral ).
Outro ramo conhecido é o Rito York, consistindo de Maçons do Arco Real, Mestre
de Marca, Past Master, Templários etc., com RITUAIS específicos, e assim por diante.
Vamos evitar os
"detalhes", pois a explicação completa demandaria um extensa
enciclopédia de "conhecimentos" históricos e maçônicos. Para o que me
proponho, entendamos apenas (para início de conversa) que há duas versões do
Real Arco – a original, americana, proveniente do Real Arco da Grande Loja dos
Antigos na Inglaterra, e a nova versão (inglesa) criada após a união de 1813.
Ambas são aquele "Grau lateral" a partir da "plenitude"
alcançada no simbolismo. Um aparente paradoxo: a versão americana é antiga,
e a inglesa é moderna.
Enquanto as duas
versões do Real Arco (ou Arco Real) não atribuíram números aos
"graus" da escada, o Rito Escocês Antigo e Aceito resolveu numerar
seus Graus a partir do primeiro deles (Mestre Secreto) como sendo o "Grau
Número 4", porque vem depois do "Grau Número 3". Para ser mais
específico e lógico, este deveria ser o primeiro Grau do sistema Rito Escocês.
A página do
"SCOTTISH RITE OF FREEMANSONRY, SUPREME COUNCIL, 33º SOUTHERN
JURISCICTION, U.S.A." [https://scottishrite.org],
geralmente conhecido como "Supremo Conselho Mãe do Mundo", (por ter
sido o primeiro Supremo Conselho do Rito Escocês da Maçonaria e cujo documento
básico é a obra de Albert Pike, "Moral e Dogma do Rito Escocês Antigo e
Aceito da Maçonaria") diz textualmente em suas "Frequently
Asked Questions":
"O Rito
Escocês é uma organização maçônica que dá prosseguimento às instruções dos três
primeiros graus aos Mestres Maçons (continues a Master Mason’s education),
consistindo dos Graus 4º ao 32º mais o Grau Honorário 33º que é concedido para
quem prestou um serviço excepcional (awarded for exceptional service)."
(1)
Portanto, o Rito
Escocês começa no Mestre Secreto
(chamado "Grau 4") porque continua a educação dos maçons do Grau III
ou Mestre Maçom. Todo o desenvolvimento dos três primeiros graus são RITUAIS,
isto é – constituem a base de toda a Maçonaria que é denominada KRAFT na
Inglaterra e BLUE LODGES nos Estados Unidos. Há quem chame de
"lojas azuis" o Simbolismo praticado no Brasil (Graus de Aprendiz,
Companheiro e Mestre Maçom).
Uma evidência
dessa distinção entre RITUAL e RITO é que os ingleses chamam oEmulation de
RITUAL ou trabalhos de Emulação; é um sacrilégio, punido com as
chamas do inferno, alguém dizer "rito" de Emulação.
Isto significa
também que o Rito Escocês e o Rito York são ramos da Maçonaria destinado aos
Mestres Maçons que desejam prosseguir após terem completado os graus simbólicos
(Kraft ou Blue Lodges) da Maçonaria. Donde se conclui
que não existem Aprendizes nem Companheiros em quaisquer dos ritos. Estou
citando o Escocês e o York porque são os mais conhecidos entre nós, mas há
muitos outros RITOS precedidos de seus
RITUAIS fundamentais do Grau I Aprendiz, Grau II Companheiro e Grau III Mestre
Maçom.
Pode haver quaisquer
RITUAIS no simbolismo, desde que sejam observados os seguintes princípios
básicos da Maçonaria (também chamados "Landmarks"):
1) A divisão da
Maçonaria Simbólica em três graus;
2) Os processos de
reconhecimento imutáveis;
3) A necessidade
de se congregarem os maçons em Loja governada por um Venerável Mestre e dois
Vigilantes;
4) A necessidade
de estar uma Loja coberta (protegida) enquanto reunida;
5) A existência,
no Altar, de um "Livro da Lei", (ou livro que, conforme a crença,
contenha uma Verdade revelada) – ao qual se acrescentou a superposição do
Esquadro e o Compasso.
No entanto,
"o uso do cachimbo faz a boca torta" – e de tantos equívocos,
passamos a chamar os Graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom de'RITO
isso' e 'RITO aquilo'. Na verdade são RITUAIS DO SIMBOLISMO.
Disso resultou
muita polêmica e – repito – muita perda de tempo que seria melhor utilizado em
proveitosas leituras sobre os conteúdos éticos e históricos da Maçonaria.
Exemplo pátrio
dessas polêmicas é a questão dos RITUAIS Simbólicos criados
por Mário Behring, entre 1927 e 1928, para uso das recém-criadas Grandes Lojas
no Brasil.
Não é meu
propósito entrar em superadas querelas contendas, pendengas e futricas do
passado. Mas naquele tempo, o Supremo Conselho hoje conhecido como "Supremo
Conselho do Grau 33º do Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria para a
República Federativa do Brasil", legou às Grandes Lojas não somente
suas Cartas Constitutivas,mas também RITUAIS padronizados do Simbolismo que
Mário Behring compilou e teve o cuidado de oficializar e registrar na
Biblioteca Nacional "para garantia dos direitos autorais, de acordo com
os dispositivos do Código Civil – Typographia "Delta", propriedade da
Sociedade Anonyma Astréa, Rua Dias da Cruz, 129-Rio – 1928." – um
valioso documento original, não de domínio público, mas protegido por lei (2).
Assim, os rituais
do Simbolismo levam a inscrição Rito Escocês Antigo e Aceito porque
em 1927/28 foram preparados esses rituais para que as novas Lojas pudessem
trabalhar no Simbolismo de forma unificada e sem o uso dos rituais de outra
Potência maçônica. O direito de usar esses rituais foi cedido às Grandes Lojas
pelo Supremo Conselho; e as Grandes Lojas receberam, nesse mesmo ato, suas
Cartas Constitutivas autorizando-as a funcionarem numa determinada jurisdição
sobre a qual se erige o Rito.
E mais uma vez o
uso do cachimbo e a boca torta: consagrou-se o erro de dizer que tal e tais
Lojas Simbólicas praticam o Rito tal e qual – enquanto que, na verdade, todas
praticam os RITUAIS simbólicos que lhes foram conferidos pela autoridade de
algum Corpo Superior, Supremo Capítulo ou Supremo Conselho.
O que passar disso
é elefante.
(1) What is the Scottish Rite? The
Scottish Rite is a Masonic organization that continues a Master Mason’s
education of the first three degrees. Other examples of Masonic
affiliated organizations are: The Shrine (Shriners); York Rite; Grotto; Eastern
Star, DeMolay International, Job’s Daughter’s, International Order of Rainbow
for Girls and the Tall Cedars of Lebanon. The Scottish Rite consists of
the 4°–32° and an honorary 33°, which is awarded for exceptional service. The
Scottish Rite is one of the two branches of Freemasonry in which a Master Mason
may proceed after he has completed the three degrees of Symbolic or Blue Lodge
Masonry. The Scottish Rite includes the degrees from the 4° to the 32°.
(2) Ver
meu livro "Grande Loja Maçônica de Minas Gerais – História, Fundamentos e
Formação
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