Por Osvaldo Luiz(*)
E as ações que
inspiram o amor ao próximo
Francisco, o de
Assis, tinha uma repulsa imensa pelos leprosos, nojo mesmo. Aversão pela então
doença fatal e contagiante, que apodrecia a carne dos enfermos, desfigurava
seus rostos e causava mau cheiro. Mas, como o jovem que queria vestir as mesmas
vestes e comer a mesma comida dos pobres poderia evitar os mais miseráveis de
todos?
Um encontro por
acaso, tornou-se oportunidade dele firmar sua opção por Cristo, pobre e
crucificado. Certo dia, passeando pelas campinas de Assis, Francisco desce do
cavalo e a mão ensanguentada do leproso ganha não só uma moeda, mas também um
beijo. Foi preciso um esforço sobre-humano, mas o santo diz em seu testamento:
“O Senhor me conduziu entre eles, e fiz misericórdia com eles… aquilo que me
parecia amargo se me converteu em doçura da alma e do corpo.”
Hoje, 800 anos
depois, em Assis, o Papa que escolheu se “vestir” de Francisco e “comer” com os
pobres, aponta a grande doença do nosso tempo: a indiferença; “É um vírus que
paralisa, nos torna inertes e insensíveis, um morbo (enfermidade) que afeta o
próprio centro da religiosidade produzindo um novo e tristíssimo paganismo: o
paganismo da indiferença.”
Na cidade do santo
dos pobres, para marcar os 30 anos do Encontro pela Paz, de São João Paulo II
com líderes religiosos, Papa Francisco nos “sacode” e desperta para a cruel
situação pela qual passam crianças, velhos, mulheres: “Imploram paz os nossos
irmãos e irmãs que vivem sob a ameaça dos bombardeamentos ou são forçados a
deixar a casa e emigrar para o desconhecido, despojados de tudo.”
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Francisco, em
Assis, repete e atualiza a mística do crucificado, do “amor (que) não é amado”:
“Todos eles são irmãos e irmãs do Crucificado, pequeninos do seu Reino, membros
feridos e sedentos da sua carne. Têm sede. Mas, frequentemente, é-lhes dado,
como a Jesus, o vinagre amargo da rejeição. Quem os ouve? Quem se preocupa em
responder-lhes? Deparam-se muitas vezes com o silêncio ensurdecedor da
indiferença, o egoísmo de quem se sente incomodado, a frieza de quem apaga o
seu grito de ajuda com a mesma facilidade com que muda de canal na televisão.”
A volta da doçura
do beijo, que quer espantar a barreira que nos prende em nós mesmos, na
mediocridade de nossos “castelos”. Francisco desceu de novo de seu cavalo e fez
misericórdia com os que sofrem com a guerra.
Também precisamos
“cair do cavalo” e fazer misericórdia. De quem temos mantido distância? De
moradores de rua, de dependentes químicos, de pessoas que vivem em extrema
pobreza? De Assis, diz Francisco: “Os cristãos são chamados a ser ‘árvores de
vida’, que absorvem a poluição da indiferença e restituem ao mundo o oxigênio
do amor.” Francisco ainda inspira amor.
(*) Osvaldo
Luiz Silva, jornalista, editor da Revista Canção Nova, apresentador do programa
“Café da Manhã”, pela Rádio Canção Nova, e autor do livro “Ternura de Deus”)
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