Um termo muito comum e
curioso, no linguajar maçônico, é o “Goteira”, servindo para identificar o
não-maçom, que se utiliza de artifícios para descobrir nossos Arcanos, ou até
mesmo para se introduzir no seio de uma Loja Maçônica, tentando se passar por
um iniciado em nossos mistérios. Desde a Antiguidade, as escolas de ofícios,
portadoras dos segredos de sua arte, resguardam-se de intrusos, que tentavam,
ilegalmente, beneficiar-se dos direitos restritos aos membros daquelas classes
organizadas.
Há relatos de que, no antigo
Egito, muito antes da Maçonaria se estabelecer em suas Lojas de Ofício, existiam
diversas outras Ordens, detentoras dos Mistérios da Construção (Medidas
Canônicas, transmitidas através da Geometria Sagrada, aos iniciados), que já se
utilizavam de sinais, toques e palavras para a identificação de seus membros, a
fim de preservar seus segredos
Tais curiosos e “vantagistas”
existem até os dias de hoje e, entre os maçons brasileiros, são tratados pela
alcunha de “Goteira”. Alguns autores mais imaginativos alegam que sua origem
remonta aos tempos em que os Maçons, a fim de se esconderem da perseguição dos
inquisitores, reuniam-se, às escondidas, em cavernas, e quando um curioso
tentava se infiltrar no grupo, era colocado embaixo da goteira de uma
estalactite, onde permanecia de castigo. É fato notório que, ainda hoje, em
nossos rituais, antes da Abertura dos Trabalhos, a primeira providência é a de
se certificar da segurança do Templo, cabendo ao Ir∴Cobr∴Ext∴
a proteção do Templo contra as indiscrições
profanas. Somente, após este ato, que se declara que o Templo está coberto. Ao
Ir∴Cobr∴Ext∴,
cabe fazer o Telhamento em todos os visitantes, que pedirem ingresso, a fim de
não permitir a entrada de intrusos, os “Goteiras”.
O termo Telhamento, quando executado pelo Ir∴Cobr∴Ext∴,
é um ato constituído
por perguntas e respostas, com a finalidade de se certificar se o visitante, de
fato, é Maçom, aferindo-se o seu grau maçônico, sendo necessário que o
visitante possua as respostas na íntegra e de memória, além do mesmo ter que
comprovar sua regularidade através de seus documentos maçônicos. Ainda, existe
muitos Irmãos que, erroneamente, utiliza-se, para esse ato, do termo
Trolhamento. O termo Trolhamento está relacionado ao ato de se utilizar da
Trolha, ferramenta do pedreiro, conhecido em diversos lugares como “colher de
pedreiro”, usada pelo Mestre, para corrigir as imperfeições da Obra executada
pelos Aprendizes e Companheiros.
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Nos países de língua inglesa,
esse Ir∴ recebe o nome de “Tyler” (Telhador), que vem de “tile”
= telha; nos países de língua francesa, o de “Tulleur”, oriundo de “tuile” =
telha; nos de língua italiana “Tegolatore”, que vem de “tegola” = telha).
Enfim, Telhamento é o ato de
cobrir uma construção com telhas, a fim de protegê-la da chuva, das goteiras.
Portanto, somente, após ser certificado quanto à segurança do Templo, ou seja,
ser declarado que “ o Templo está coberto”, é que os Trabalhos maçônicos
poderão ser abertos. Tudo isso evidencia o termo “Goteira”, porém, ainda, não
revela sua origem, de fato.
Em nossas pesquisas, estudando
os tempos da Maçonaria Operativa, deparamos com o termo “Cowan”, que era
utilizado para se distinguir o pedreiro comum, grosseiro, que não era
conhecedor dos segredos da arte de construir, reservado, apenas, aos pedreiros
formados e iniciados nos mistérios da construção. Tais pedreiros desqualificados,
recebiam bem menos que os demais e tinham que se submeter a executar trabalhos
de menor importância.
O termo “Cowan” não possui, na
língua inglesa, um significado em si, e nem encontramos uma tradução literal
para o português, por ter sido um termo utilizado, somente, entre os Maçons da
época, talvez, uma espécie de apelido maçônico, porém há quem diga que vem do
escocês arcaico. Eventualmente, os “Cowans” tentavam se infiltrar no meio dos
maçons de ofício, com o objetivo de tomar posse de seus conhecimentos e de se
beneficiar das regalias de um pedreiro livre.
Existem relatos sobre “Cowans”
que tentavam se infiltrar no seio de uma Loja Operativa, e quando descobertos,
por castigo, eram surrados e colocados na chuva, ou na beira do telhado, embaixo
de uma calha de chuva, até ficarem totalmente encharcados. Muitos afirmam que o
cargo de Cob∴ Ext∴ (Telhador), nasceu da real
necessidade de impossibilitar o acesso à Loja de tais sujeitos, e que fora
criado no séc. XVIII, devido ao crescente assédio dos “Cowans” às Lojas
Maçônicas.
Na Inglaterra, em outubro de
1730, o inglês Samuel Prichard, um traidor da Ordem, publicou em um jornal
local, a íntegra de um Ritual Maçônico. Não satisfeito, lançou o livro “Masonry
Dissected” (Maçonaria Dissecada), revelando, em detalhes, a ritualística
maçônica. Observa-se, naquele ritual publicado, um trecho com as seguintes
perguntas e respostas: “P- Aonde tem assento os Aprendizes mais novos? R- No
Norte. P- Qual é a sua função? R- Manter afastados todos os “Cowans” e os
“Eavesdroppers” (bisbilhoteiros). P- Como deve ser castigado um “Cowan” ou
“Eavesdroppers”, se apanhado? R- Deve ser colocado debaixo do beiral, em dias
de chuva, até que as goteiras a escorrer por seus ombros, saiam pelos seus
sapatos”.
Nosso Irmão Guilherme Cândido,
em sua matéria sobre o tema, reporta-nos, com base na cerimônia de instalação
do Monitor de Webb – Rito de York Americano - edição de 1865, sobre a função do
Ir∴
Cobr∴
(Tyler): “Irmão,
você foi eleito Cobr∴ desta Loja
e eu o investirei com o instrumento de seu ofício. A Espada deve ficar nas mãos
do Cobr∴ para que ele seja, efetivamente, capaz de nos proteger
da aproximação de Cowans e Eavesdroppers (bisbilhoteiros), e não permitir que
ninguém passe a não ser quem esteja, devidamente, qualificado”. Ainda,
Guilherme Cândido, com base no Ritual da Grande Loja de Nevada (EUA), assim
como na maioria das Grandes Lojas americanas, revela, na abertura dos
trabalhos, um diálogo entre o Venerável Mestre e o 2º Diácono, em que se diz em
tradução livre: “Venerável Mestre: Qual é o seu dever lá? 2° Diácono: Observar
a aproximação de “Cowans” e “Eavesdroppers”, e se certificar de que ninguém vá
ou venha, exceto aqueles que estejam, devidamente, qualificados e tenham a
permissão do Venerável Mestre”
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Fica muito evidente, portanto,
que “eavesdrop” é a água que cai em forma de gotas, que goteja, do beiral ou da
calha de um telhado, ou seja, uma goteira.
“Eavesdroper”, em sua tradução
literal significa “bisbilhoteiro”, “intrometido”, aquele que se mete em
assuntos que não são de sua alçada; sujeito de curiosidade demasiada quanto a
assuntos ou à vida de outrem. Termo que, em sua origem inglesa, indica que essa
pessoa ficava embaixo do beiral do telhado, do lado de fora da casa, para ouvir
a conversa alheia. Provavelmente, isso tenha inspirado o castigo imposto aos
“Cowans”, de ficar com a cabeça na goteira da chuva, no beiral do telhado
Os termos “Cowan” e
“Eavesdropper”, embora pouco conhecidos de muitos maçons brasileiros, são os
que mais se aproximam do termo que, hoje, utilizamo-nos para identificar aquela
pessoa curiosa sobre os Arcanos de nossa Ordem – o “Goteira”.
Com isso, concluímos, salvo
melhor juízo, derivarem desses termos sua origem, embora a prudência nos
convida a não dar por esgotado o assunto.
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