COMPARTILHAR AS RIQUEZAS, UM IDEAL MAÇÔNICO

por  Bernard Ollagnier – Tradução de José Filardo
Nas últimas semanas, a França foi colocada no centro de um pavimento de mosaico, onde a tragédia aparece ao lado da alegria, assim como o céu se divide entre tempestades e clareza.
O Estado Islâmico continua a sua obra de destruição e terror que leva um jovem de 25 anos a assassinar um casal de policiais. A cólera sindical permite aos violadores da democracia e da República violentar um hospital infantil. Milhões de franceses cantam as vitórias dos “blues”, enquanto outros preparam suas férias. Certamente, “e assim vai a vida”. Ou pelo menos assim se diz. Mas é essa uma razão para aceitar o inaceitável? Será essa uma razão para não trabalhar para construir um mundo melhor para a humanidade? O mundo em mudança desorienta a muitos. Os maçons se perguntam cada vez mais sobre quem os criou. Aqui estamos, assim, em grande agitação. Este é o momento de se manter firme sobre os valores subjacentes de humanismo para participar no desenvolvimento de novos modos econômicos e sociais. De fato, além da luta pelo respeito à liberdade de pensamento e de expressão, a questão da partilha da riqueza é essencial para construir um mundo melhor.


Muita violência vem da apropriação da riqueza por uma minoria. Esta riqueza distribuída de forma desigual entre os estados do norte e do sul, entre os chamados “emergentes” e os chamados “desenvolvidos” é, no entanto, o produto de homens e mulheres que a produzem com seu trabalho. O capitalismo aumentado das garantias sociais, sistema adotado pela Maçonaria, baseou-se na ideia de permitir à indústria proporcionar mais bens e conforto à população por meio de um financiamento de acionistas e não apenas por proprietários individuais. Este sistema parece esgotado pelos excessos do capitalismo financeiro e não mais atende às necessidades das pessoas. Mais grave, este esgotamento do capitalismo não em termos de produção, mas em termos de aceitação força milhares de pessoas a escolher ideologias extremas que afastam as bases da democracia e da República em toda a Europa e no mundo ocidental. Como corolário desta escolha, é fácil constatar o renascimento religioso não só na vida individual, como o entende o secularismo, mas mais e mais na escolha política; na França, recentemente ouvimos políticos confundir espiritualidade com religião. Se não trabalharmos por uma nova partilha da riqueza ou pela recuperação de um secularismo simples e aceito, então vamos conhecer mais e mais lágrimas e sangue.

A noção de economia do “co-” seduz, porque torna todos responsáveis, corresponsáveis, pelo menos na aparência, porque as atuais estruturas financeiras e legislativas não correspondem em nada a esse conceito. E a tentação é forte para os iniciadores do “co-” da tornarem-se rapidamente “bilionários”. Adaptar as leis e os bancos a esta nova forma de economia parece ser uma obrigação urgente. E o mesmo vale para cooperativas que encontram uma nova juventude à medida que os empresários nascidos no baby boom do pós-guerra transferem seus negócios. Mais de 700 000 empresas estão sendo transferidas a cada ano. Excelente viveiro para reviver uma nova economia.

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Estas perspectivas merecem toda a atenção dos maçons que carregam os valores da solidariedade e da partilha. Não se trata de se afastar da Maçonaria especulativa, mas convocar irmãs e irmãos para trabalhando na partilha das riquezas. É simplesmente respeitar o compromisso de trabalhar pela felicidade da humanidade. Trata-se então de colocar a Maçonaria no centro da sociedade, como o motor do seu futuro, como o que fizeram os fundadores da Maçonaria moderna e seus sucessores durante três séculos.

Um grupo de maçons trabalha há mais de um ano sobre o tema da partilha da riqueza. Algumas orientações são dadas gradativamente dia após dia, depois de ouvir diferentes personalidades e depois de muito debate dentro do grupo. Em breve, teremos a oportunidade de comunicar os resultados. A questão central da abordagem humanista da economia continua a ser a linha diretriz do trabalho realizado. Na verdade, o humano expresso em atividade social dentro da economia desde o final do século 19, exige uma abordagem mais global do próprio funcionamento da economia. Este é o lugar onde se encontra o caminho a ser explorado pelos maçons. Um caminho que centenas de economistas como o francês Eric Berr, Philippe Aghion ou Sophie Jallais, sem esquecer Bernard Maris, vítima do massacre da Charlie Hebdo, exploram na Europa e América do Norte. Grande movimento que engloba o desenvolvimento africano, a redução da pobreza na Índia ou, ainda, os novos comportamentos dos Gafa (Google Apple Facebook Amazon). Estes últimos, de uma forma muito pragmática, procuram mostrar a “nova economia” social e solidária nesse trem de alta velocidade.

Palavras que falam aos maçons de hoje, como falaram com Condorcet, Mendes-France e Gustave Mesureur. O aperfeiçoamento a serviço do humano continua incessantemente.






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