Por
Vitor Manuel Adrião(*)
De
tanta tinta impressa e tantos discursos feitos sobre o Homem e a sua Obra,
Fernando Pessoa, ainda assim rareiam aqueles que compreenderam e compreendem
verdadeiramente o seu vulto, grandeza e até missão. Sobre esta, para uns ele
não seria mais que um sonhador embriagado na “mania das grandezas” na miudeza
de um “nacionalismo retrógrado”; outros têm-no como espécie de “Picasso
literário”, cuja paranóia hipocondríaca revelaria no esdrúxulo demente e
absurdo do seu pensamento afetado que as suas letras avulsas demonstram, isto
sobretudo por ter-se aproximado e convivido com “excentricidades ocultistas ou
esotéricas”, como dizem alguns demasiados preconceituosos e ignorantes que
brincam com as palavras e letras em guisa de erudição vazia por afinal de
contas nada significarem, nenhuma mais-valia humana conterem.
Fernando
Pessoa, “blagueur” sobretudo de si mesmo, com a mesma blague re-velava a
compostura discreta do que vive plena e intensamente uma disciplina interior,
esotérica. Tal Esoterismo ficou reflectido na sua vasta obra literária disposta
acima, muito acima de catalogações discursivas em dialécticas complicadas do
que afinal é simples e só. Também há que o aperceba parcialmente simpatizante
destas ou aquelas ciências ocultistas e assim pretendem-no, conforme as crenças
postuladas, militante das respectivas organizações: ou espírita ou teosofista,
ou maçom ou rosacruciano, ou isto ou aquilo… Filosofando a incongruência,
poderei dizer que ele foi tudo isso e nada disso, mas sobretudo o Iniciado Real
que como Livre-Pensador naturalmente dispunha-se além das afiliações humanas em
quaisquer sociedades esotéricas, mesmo simpatizando com os postulados
filosóficos das doutrinas de algumas delas.
Acerca
do Espiritismo, é claríssima a sua posição em Hyram[1] quanto aos seus
inconvenientes:
“Para
as entidades que comunicam: intensificação das suas paixões e desejos
inferiores pelo facto de voltarem a sua atenção para a vida terrestre, atraso
na sua evolução espiritual, e muitas vezes o doloroso despertar de lindos
sonhos em que a entidade está mergulhada. Para o médium e circunstantes: diminuição
da vitalidade, desorganização orgânica, perturbações no funcionamento do
sistema nervoso cardiovascular, nas funções psíquicas e finalmente a loucura.”
Essa
é exactamente a mesmíssima opinião de Helena Petrovna Blavatsky, fundadora da
Sociedade Teosófica em 7 de Setembro de 1875 em Nova Iorque, América do Norte.
Sobre a Teosofia, Fernando Pessoa admirava-a “pelo seu mistério e grandeza
ocultista”, porém repudiava o seu lado moralista e conservador cujo puritanismo
mostrava-se opositor de um mais amplo desenvolvimento mental, factor
psicológico imposto no seio dessa Sociedade pós-Blavatsky pelo ex-sacerdote
anglicano Charles Leadbeater.
Apesar
de em 1935 ter defendido publicamente a Maçonaria (decerto exclusivamente pela
sua vertente Tradicional e Iniciática, como o próprio revela)[2], quando foi
aprovado o projecto-lei contra as Associações Secretas da autoria do deputado
José Cabral, não deixou de escrever em Hyram: “Não sou mação nem pertenço a
qualquer outra Ordem Maçónica”. Em carta a Casais Monteiro, volta a reiterar
não pertencer a qualquer instituição esotérica[3].
De
maneira que parece cair em “saco roto” a afirmação corrente de “Fernando Pessoa
ter sido iniciado no rito inglês do Royal Arch”, pois o mais podendo dizer-se é
que compreendia o sentido secreto e iniciático da Maçonaria e da sua
importância na evolução mental e moral da Sociedade Humana, quase de certeza
sendo essa a razão de tê-la defendido magistralmente como é do conhecimento
geral.
A
única filiação estabelecida por Fernando Pessoa nos anos 20 do século passado
foi ao movimento mágico/rosacruciano/maçonista Golden Dawn[4], sediado em
Londres, no qual terá realizado os seus graus esotéricos para em seguida se
afastar, tanto por incompatibilidade mental como por espírito de independência.
Realmente, Pessoa não era gente de agrupamentos e multidões. Todavia,
apercebe-se a influência da doutrina da Golden Dawn na sua transposição ao
Esoterismo Português, sobretudo nos seus espantosos ensaios O Caminho da
Serpente e Iniciação, mais que nos outros afins à mesma temática[5].
Fernando
Pessoa também foi um experiente astrólogo tendo chegado a tentar estabelecer-se
como tal com o sub-heterónimo Raphael Baldaya, com consultório em Lisboa,
experiência que fracassou ao fim de pouco tempo, e pelas centenas de cartas
astrológicas que fez repara-se ter sido o primeiro a introduzir o planeta
Plutão na Astrologia[6], tema a que voltarei mais adiante.
Raphael
Baldaya, Astrólogo, anúncio feito por Fernando Pessoa
Peremptório
na negação a filiação convencional a quaisquer organizações ocultistas, com
tudo o poeta não deixava de reconhecer o grande proveito humano da fina
essência de algumas delas, caso da Teosofia como Linha Oriental e da Maçonaria,
como Linha Ocidental. Se houve alguma afiliação secreta além da esporádica à
Golden Dawn, e ele deixa transparecer que sim, só poderá ter sido a essa
secretíssima Confraternidade de Encapuçados operando no solo nacional sob o
nome praticamente desconhecido Ordem de Mariz cujos preclaros Membros, diz a
Tradição Iniciática, vinculam-se ao “Culto de Melkitsedek” (vd. Génesis, 14-18;
Salmos, 110-4; Hebreus, 7-1 a 4) e possuíam a sua sede exotérica em Coimbra e a
esotérica em Sintra. Com a mesma terá a ver o seu Tratado da Ordem do Sub-Solo,
onde “está o Governo Supremo e Secreto da Maçonaria”[7], ou seja, a Maçonaria
Universal Construtiva dos Três Mundos encravada no próprio seio da Terra,
celebrizada no Oriente como a dos Traichus-Marutas sob a chefia do próprio
Brahmatmã ou Rei do Mundo (Melkitsedek, no judaico-cristianismo), o Soberano
Universal. Estará nisso o sentido último do seu poema Emissário de um rei
desconhecido, escrito entre 1913 e 1916 como Soneto XIII – Passos da Cruz:
“Emissário de um rei desconhecido, / Eu cumpro informe instruções de além, /
[…] sinto-me altas tradições”.
O
Ocultismo também se manifesta nos heterónimos de Fernando Pessoa[8], posto por
eles os expor veladamente em “os três caminhos para o Oculto” (em carta a
Casais Monteiro) e que são “o Mágico, o Místico e Alquímico”. Nessa apreensão,
pode dispor-se o heterónimo Ricardo Reis na Via Mágica ou Física, a mesma
Karma-Marga que na Idade Média os travadores retratavam nas Cantigas de Amigo,
sendo esse o heterónimo que mais tempo durou na vida do poeta, tanto quanto a
influência da Magia. O seguinte, Álvaro de Campos, estará em conexão com o
Caminho Místico, Emocional ou Bhakti-Marga, retratado nas antigas Cantigas de
Amor, e finalmente Alberto Caeiro, o Mestre de todos, o “Outro”, afim à Via
Filosofal ou Alquímica como Realização Mental ou Espiritual, Jnana-Marga,
cantada nas Cantigas de Santa Maria. Na carta a Casais Monteiro, assim define
Fernando Pessoa o Caminho da Alquimia: “E o que se chama o caminho alquímico, o
mais difícil e o mais perfeito de todos, porque envolve uma transmutação da
própria personalidade que a prepara, sem grandes riscos, antes com defesas que
os outros não têm”.
Dessa
maneira, reunindo e alinhando potencial e patente os três princípios Corpo,
Alma e Espírito, Fernando Pessoa assume-se verdadeiro Iniciado cujos segredos
d´Arte bem soube ocultar na sua Obra. Não esqueço ainda o heterónimo António
Mora. Para Fernando Pessoa representava o super-pagão, o psíquico, a sua íntima
fase «mediúnica» ou mediadora, que melhor ficaria como adjectivo. Daí ser pouco
referido na sua Obra, tratando-se de um aspecto pessoal interiorizado que o
impulsionaria aos mistérios abscônditos do Paganismo (interpretado como ante e
além Cristianismo, ou seja, o Mistério Original), por ele temido por respeito e
admiração, e pelo desassossego íntimo causado ao levantar o Véu de Ísis, a
Sabedoria Primordial. Com tudo, assumindo a genialidade de Homem Superior
(Jivatmã), arremeda o vaticínio no seu Ultimatum por Álvaro de Campos[9]:
“Proclamo
a vinda de uma Humanidade matemática e perfeita!
“O
Super-Homem será, não o mais forte, mas o mais completo.
“O
Super-Homem será, não o mais duro, mas o mais complexo.
“O
Super-Homem será, não o mais livre, mas o mais harmonioso.
“Proclamo
isto bem alto e bem no auge, na barra do Tejo, de costas para a Europa, braços
erguidos, fitando o Atlântico e saudando abstratamente o infinito.”
Portanto,
defronte para o novo continente, para o Brasil que não é Português mas
Portugal, derradeiro repositório das esperanças da Humanidade que um dia também
será o “Super-Homem”, isto é, o Homem que, mercê do desenrolar evolucional dos
ciclos que regem a Vida Universal, se transformou em Ser Perfeito na
transformação da Vida-Energia (Jiva) em Vida-Consciência (Jivatmã). Esse
destino último do Brasil é o próprio Fernando Pessoa a apontá-lo em texto
precioso no seu espólio recolhido por Gustavo Morais:
“Em
primeiro logar, e como já o notou João de Castro Osório, Portugal não é
propriamente um paiz europeu: mais rigorosamente se lhe poderá chamar um paiz
atlântico – o paiz atlântico por excellencia. (…) Além d´isso, Portugal, neste
caso, quere dizer o Brasil tambem. Como o [V] Imperio, neste schema, é
espiritual, não ha mister que seja imposto ou construido por uma só nação: pode
se-lo por mais que uma, desde que espiritualmente sejam a mesma, que o são se
falarem a mesma lingua.”[10]
Para
arredar definitivamente qualquer imputação sócio-política à sua ideia
sinárquica de V Império da Humanidade, Fernando Pessoa adianta ainda: “Não
tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto
sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa”[11].
Fernando
Pessoa (13.6.1888 – 30.11.1935)
No
seu poema S. João, datado de 9 de Junho de 1935, publicado por Yvette Kace
Centeno[12], Fernando Pessoa dá a entender o seu estatuto iniciático: “Se és maçom,
sou mais do que maçom – eu sou templário”, condição reiterada no seu “bilhete
de identidade” escrito por ele próprio nesse mesmo ano final de sua vida,
documento que pela importância maior ao entendimento real da personalidade
esfíngica do poeta e vate, transcrevo in littera as partes consideradas
atinentes ao assunto em pauta, o de Fernando Pessoa como Ocultista.
“BILHETE
DE IDENTIDADE” DE FERNANDO PESSOA ESCRITO PELO PRÓPRIO
Ganhou
o prémio Rainha Victória de estylo inglez na Universidade do Cabo da Boa
Esperança em 1903, no exame de admissão, aos 15 anos.
IDEOLOGIA
POLÍTICA: Considera que o systema monarchico seria o mais próprio para uma
nação organicamente imperial como é Portugal. Considera, ao mesmo tempo, a
Monarchia completamente inviável em Portugal. Por isso, a haver um plebizcito
entre regimens, votaria, embora com pena, pela Republica. Conservador do estylo
inglez, isto é, liberal dentro do conservantismo, e absolutamente
anti-reaccionario.
POSIÇÃO
RELIGIOSA: Christão gnostico, e portanto inteiramente opposto a todas as
Egrejas organizadas, e sobretudo à Egreja de Roma. Fiel, por motivos que mais
adeante estão implicitos, à Tradição Secreta do Christianismo, que tem intimas
relações com a Tradição Secreta de Israel (a Santa Kaballah) e com a essencia
oculta da Maçonaria.
POSIÇÃO
INICIATICA: Iniciado, por comunicação directa de Mestre a Discípulo, nos três
graus menores da (aparentemente extincta) Ordem Templaria de Portugal.
POSIÇÃO
PATRIOTICA: Partidario de um nacionalismo mystico, de onde seja abolida toda
infiltração catholica-romana, creando-se, se possivel for, um sebastianismo
novo, que a substitua espiritualmente, se é que no catholicismo portuguez houve
alguma vez espiritualidade. Nacionalista que se guia por este lemma: “Tudo pela
Humanidade; nada contra a Nação”.
POSIÇÃO
SOCIAL: Anti-communista e anti-socialista. O mais deduz-se do que vae dito
acima.
RESUMO
DE ESTAS ULTIMAS CONSIDERAÇÕES: Ter sempre na memoria o martyr Jacques de
Molay, Grão-Mestre dos Templários, e combater, sempre e em toda a parte, os
seus trez assassinos – a Ignorancia, o Fanatismo e a Tyrannia.
Lisboa,
30 de Março de 1935
Fernando
Pessoa
Retenho
três aspectos do posicionamento de Fernando Pessoa, um temporal, outro psíquico
e um espiritual. O primeiro tem a ver com o seu “anti-comunismo e
anti-socialismo”, certamente o sendo por o comunismo ser ateu e o socialismo
laico, nisso indo contra a sua noção de “nacionalismo místico” por que entendia
Portugal e o então Império, opondo-se que fossem os mais incapazes a governar
os mais capacitados por isso ser uma inversão dos valores naturais afins à
maior consciência alcançada, posto a força mental sobressair e dominar a força
braçal. O segundo aspecto é o da sua hostilidade aparente ao catolicismo
romano, por em seu tempo e desde há séculos andar ligado ao poder político de
maneira a mais facilmente conseguir reprimir junto do povo quaisquer inovações
criativas marginais aos limites estreitos da ortodoxia religiosa, assim
transformada em política social da Igreja até hoje dominando ou tentando
dominar através dos chamados partidos políticos de direita. Por fim, o terceiro
aspecto: a Iniciação directa de Fernando Pessoa de Mestre a Discípulo
revelou-se “através da sua janela”, isto é, da sua alma em comunicação directa
com o Plano imediato ao Físico, como seja o Astral. Tratou-se de uma Iniciação
Interna, Psicomental, onde o “Outro”, o Eu Superior, se manifestou ao extasiado
Pessoa. Razão de afirmar-se “templário” de uma “Ordem aparentemente extinta”,
que é dizer, ocultada nos Planos da Alma.
Mas
o que é realmente a Iniciação? Será uma fórmula especulativa ou “retórica
poética” adaptada a encenação ritualística de alguma espécie? Será mais que um
formalismo intelectual posto em cena com laivos parecidos a religiosidade? Sim,
o que é realmente a Iniciação?… Poderei dizer que o processo iniciático
trabalha o interior de cada um, visando transformar a Vida-Energia externa em
Vida-Consciência interna. Nisto, o Corpo físico é o suporte, a Alma a sede e o
Espírito o objectivo da Iniciação. A Mente é a ferramenta utilizada para
derrubar as barreiras da evolução: a ignorância, o egoísmo, os dogmas e apegos.
A transformação real ocorre na Alma pela acção do Mental, facto muito bem
representado na Mitologia Grega pela luta de Teseu contra o Minotauro. A
Iniciação Verdadeira, ensinada pelo Professor Henrique José de Souza (JHS), é
conhecida como Tríplice Iniciação e de uma forma ou de outra está presente em
todas as modalidades religiosas e espirituais, cujos aspectos em guisa de
tripeça são os seguintes:
Cada
uma das três colunas agrupa aspectos que têm entre si um relacionamento directo
para fortalecer cada uma das três bases da Iniciação: Mente – Emoção – Vontade,
afins ao Espírito – Alma – Corpo. Observa-se agora em que consistem os três
tipos de Iniciação:
INICIAÇÃO
INDIRECTA
É
a Iniciação pela própria Vida, onde o Homem recebe as cargas de sofrimento e de
felicidade geradas respectivamente pelos seus próprios erros e acertos. É a
mais sofrida, é aquela a que a Humanidade está sujeita. Todos estão se
iniciando ao longo dos ciclos de reencarnações a fim de alcançar o padrão
evolutivo final do 4.º Reino Hominal e que é conhecido na linguagem esotérica
como Jivatmã.
INICIAÇÃO
DIRECTA
É
a que se processa através de um Colégio Iniciático, onde o discípulo interpreta
os ensinamentos do mesmo segundo a sua própria capacidade. Também é chamada de
Iniciação Simbólica por causa dos símbolos que são utilizados nos seus graus e
ensinamentos ocultos. As práticas de yogas, rituais, cerimoniais, mantrans e
instrução oculta, gradualmente aumentam o grau de consciência e capacitam o
discípulo para entender a linguagem simbólica.
INICIAÇÃO
REAL
É
a que ocorre quando o discípulo decifra os símbolos, deparando-se assim com a
Verdade. A meditação constante nos símbolos iniciáticos é, portanto, a chave
que abre o Portal da Verdade, e esta é representada por um Mestre Real que lhe
dará a Iniciação Real, sempre em conformidade à evolução já alcançada pelo
discípulo no Caminho da Iniciação Verdadeira.
Essa
última terá sido a que Fernando Pessoa recebeu desde os Planos subtis da
Natureza. Iniciação verdadeira, em última e primaz análise, é a transformação
das nidhanas em skandhas! Quando se reencarna, traz-se das vidas anteriores
tendências negativas (nidhanas) e tendências ou qualidades positivas
(skandhas). Nascemos sempre com as duas tendências. Nidhanas são forças vivas
que pela força aglomerada não podem ser enfrentadas directamente, mas podem ser
paulatinamente transformadas em skandhas pelo processo iniciático.
A
Iniciação não visa despertar faculdades psicomentais e tornar o discípulo, por
exemplo, clauriaudiente, clarividente ou sensitivo. Não, em tempo algum desde
que existe a instituição dos Mistérios essa foi a finalidade. A acontecer o
despertar das faculdades psicomentais (sidhis), elas serão consequência da
evolução normal do discípulo, mas nunca anormalidades forçadas contra-Natura
que assim poderão arrojá-lo fora da normalidade do curso da Iniciação. Há até
casos, isto como exemplo, de discípulos dotados de elevada intelectualidade e
distinta moralidade que jamais tiveram quaisquer sensações ou experiências
psicomentais. Antes assim, pois é o melhor para chegar são e salvo ao fim do
Caminho, sem correr o risco de algures cair no mediunismo puro e simples,
atrofiar-se e perder o timão da sua alma… “Deixa os teus sidhis para a próxima
vida”, aconselhava o Senhor Gautama, o Buda, ou seja, “vai protelando-os”. Tudo
tem o seu momento justo para acontecer, pois em contrário é como “colher fruta
verde antes da época da colheita”.
Por
fim, no Caminho da Iniciação é importante que o discípulo observe sempre os
três princípios imorredouros:
1.º)
O Iniciado se faz, não é feito.
2.º)
O sigilo deve ser absoluto, os Iniciados se calam.
3.º)
Quando o discípulo está preparado, o Mestre aparece.
Ciente
da sua missão sebástica através das Letras por a “Alma Lusitana estar grávida
de Divino”[13], Fernando Pessoa faz apelo à derradeira Demanda do Santo Graal
assim preconizando o retorno às origens, à interioridade, ao arquétipo
primordial da Nação no qual se regista o seu destino último visto ou intuído
por quantos viram à mesma Luz e a glosaram em frases proféticas na mais genuína
manifestação bandárrica.
“Bandarra
é um nome colectivo, pelo qual se designa, não só o vidente de Trancoso, mas
todos quantos viram, por seu exemplo, à mesma luz.”[14]
Diz
mais ainda Fernando Pessoa no seu Tratado da Ordem do Sub-Solo: “O nome
Bandarra que é de facto o apelido do sapateiro profeta, passou a designar,
dentro da Ordem de Cristo, qualquer dos Irmãos que assumiram a mesma luz, ou,
falando figurativamente, o mesmo grau”.
Foi
este Fernando Pessoa “Bandarra” quem predisse no seu “Horóscopo de
Portugal”[15] o adormecimento ou pralaya do País entre 1877 e 1978, daqui em
diante despertando para os seus reais valores latentes capazes de o levarem a
realizar a sua Missão Avatárica ou Messiânica de Quinto Império da Humanidade
encabeçada pelo Menino-Messias, que tanto poderá ser um Movimento Espiritual
como o seu Líder ou Guia. Segundo o pessoano “Horóscopo de Portugal”, entre
1877 e 1978 o Sol estaria na quarta casa do Zodíaco, correspondendo ao quarto
signo do Caranguejo, por sinal o signo ascendente de Portugal. Em Astrologia
Esotérica, pode dizer-se que o signo ascendente define o “material” com que a
entidade encarnada procura realizar as metas definidas pelo seu signo natal, no
caso de Portugal, os Peixes[16].
Horóscopo
de Portugal feito por Fernando Pessoa
Caranguejo
é também um signo de água, um hidrosigno. Considerado em astrologia profana,
exotérica, como domicílio da exaltação da Lua (Ísis) e queda do Sol (Osíris),
ele é, por excelência, passivo, receptivo, feminino. É a matriz onde o futuro
se plasma.
Mas
terá o Sol estado em “queda” para Portugal durante os 101 anos do horóscopo
feito por Pessoa? O mais certo é Portugal ter estado em “queda” para o Sol,
posto nunca o “superior” poder estar em queda para o “inferior”. A analogia
mais evidente é a de que o Pai (Sol) ao passar pela casa da Mãe (Lua) a
fecundou. Portanto, pode dizer-se que o trabalho realizado foi de procriação,
lançando-se as sementes de alguma coisa futura por vislumbrar. O próprio número
101 é por si feminino, pois se lido alfabeticamente é IOI, lendo da mesma forma
de trás para a frente e ao contrário IO, o mesmo que Ísis expressiva da Mónada
peregrina ou Centelha Divina evoluindo pelos ciclos em que se reparte a Vida
Universal.
O
segundo período no horóscopo aponta a entrada de Osíris (Sol) na quinta casa,
de 1978 em diante. A quinta casa é a do quinto signo do Leão. Este é
considerado em astrologia profana, exotérica, como domicílio da exaltação do
Sol e queda da Lua, precisamente o inverso da casa anterior. Particularmente,
do ponto de vista nacional, marca o início do Novo Ciclo Português, a lenta
saída de Portugal da sua 4.ª Iniciação, correspondendo à Crucificação, para a
5.ª Iniciação marcando a Ressurreição, esta cuja cumeeira será a coroação ou
consumação definitiva da velha Lusitânia como cabeça toda da Europa inteira
dando começo a um Novo Império ou Ciclo, o das Almas Superadas, o do
“Super-Homem” de Álvaro de Campos.
Será
então quando o sentido de Iniciação recuperará o seu real e único significado
tanto para o colectivo quanto para o individual. Será quando o Homem poderá
afirmar como afirmou Fernando Pessoa no seu poema Iniciação: “Neófito, não há
morte!”, e apelar como ele apelou à derradeira boda alquímica de “Eros e
Psique” que é a da União Real (Raja-Yoga) do Espírito com a Alma, já ciente da
Gnose ou Sabedoria Divina (Teosofia) como Pessoa a definiu: “A Gnose é a
libertação, no homem, de Deus; a crucificação do desfolhável, no morto; do
perecível no perecido, para que nada pereça. A Gnose, em outras palavras, é a
Criação de Deus”[17].
Avançando
no seu Ensaio sobre a Iniciação (s/d):
“A
união com Deus significa, portanto, a repetição pela Adepto do Acto Divino da
Criação pelo qual ele é idêntico a Deus em acto ou em modo de acto, mas, ao
mesmo tempo, uma inversão do Acto Divino pelo qual ele continua separado de
Deus ou a ser o oposto de Deus; se não, seria o próprio Deus e não seria
necessária qualquer união.”
Ou
seja, a conquista gradual da Suprema Unidade, degrau a degrau, sempre unido
interiormente e separado aparentemente, tonando-se o Homem mais Homem e Deus
mais Deus, num Monopanteísmo igualmente aparente mas correcto do ponto de vista
oculto, como Fernando Pessoa o justifica em carta a Adolfo Casais Monteiro
(Lisboa, 13 de Janeiro de 1935):
“Creio
na existência de mundos superiores ao nosso e de habitantes desses mundos, em
existências de diversos graus de espiritualidade, subtilizando-se até chegar a
um Ente Supremo, que presumivelmente criou este Mundo. Pode ser que haja outros
Entes, igualmente Supremos, que hajam outros universos, e que esses universos
coexistam com o nosso, interpenetradamente ou não (…). Dadas essas escalas de
seres, não creio na comunicação directa com Deus mas, segundo a nossa afinição
espiritual, podemos ir comunicando com seres cada vez mais altos.”
Essa
crença expô-la Fernando Pessoa num esquema seu sobre as Hierarquias Criadoras,
na versão judaico-cristã, divulgado por Pedro Teixeira da Mota (ob. cit.), a
qual não deixa de ser método teúrgico como comunicação com deuses cada vez mais
elevados até alcançar a absorção em Deus Absoluto.
Ao
manifestar-se o Pai na Terra significa que no Divino e no Celeste contém em Si
o Espírito Santo e o Filho, conforme o esquema.
Seja
de que maneira for, uma só certeza resta ao poeta vate, por certo a maior de
todas:
Cheio
de Deus, não temo o que virá,
Pois,
venha o que vier, nunca será
Maior
do que a minha Alma! [18]
II
Quando
se compara o Horóscopo de Portugal com o de Fernando Pessoa, ambos feitos por
ele próprio, de imediato detectam-se traços de aproximação entre ambos deveras
perturbadores, em guisa de revelar o segundo como que possuído pela alma
messiânica do primeiro.
Fernando
António Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa no dia 13 de Junho de 1888 às 15:20
horas, no 4.º andar esquerdo do prédio n.º 4 do Largo de S. Carlos, portanto,
sob a influência do signo de Gémeos.
Em
Janeiro de 1916, Fernando Pessoa instalou-se com astrólogo na capital e foi
quando escreveu um Ensaio de Astrologia que assinou sob o sub-heterónimo Raphael
Baldaya, no qual fez o seu próprio horóscopo vindo revelá-lo profundo
conhecedor da Astrologia e do Ocultismo[19].
O
próprio consignado Raphael Baldaya é deveras sugestivo do ponto de vista
oculto: Raphael é o nome do Arcanjo Rafael relacionado a Mercúrio/Gémeos,
domicílio natal do poeta. Baldaya tem a ver com o adjectivo baldeus relacionado
à “transmissão”, função esta própria de Hermes ou Mercúrio como o transmissor
ou medianeiro dos deuses junto dos homens, e vice-versa. Desde logo é, em toda
a extensão, um sub-heterónimo mercuriano.
Como
se sabe, o Sol demora um ano (365/66 dias) a percorrer as doze constelações do
Zodíaco. Quando uma criança nasce, o seu signo natal é o que corresponde à
constelação onde o Sol se encontra nesse dia: Carneiro, de 21 de Março a 19 de
Abril; Gémeos, de 21 de Maio a 20 de Junho, etc. Além do signo natal, existem
quatro pontos importantes num horóscopo: a constelação que se ergue a Este no
momento do nascimento (Ascendente), a que se põe a Oeste e portanto é oposta àquela
(Descendente), a constelação que se encontra no ponto mais alto do céu (Meio do
Céu) e a que lhe é oposta (Fundo do Céu). Os eixos Ascendente-Descendente e
Meio do Céu-Fundo do Céu dividem o horóscopo em quatro partes, ficando cada uma
delas dividida em três o que no total dá doze casas. A primeira casa é situada
a partir do Ascendente e desta maneira tem-se: entre o Ascendente e o Fundo do
Céu estão as casas I, II e III; entre o Fundo do Céu e o Descendente ficam as
casas IV, V e VI; entre o Descendente e o Meio do Céu situam-se as casas VII,
VIII e IX; entre o Meio do Céu e o Ascendente dispõem-se as casas X, XI e XII.
Não deve confundir-se a ordem dos signos do Zodíaco (de Áries a Piscis) com a
das casas, que se calcula a partir do Ascendente podendo-se encontrar em
qualquer dos signos[20].
No
horóscopo de Fernando Pessoa (no qual previu com exactidão a data da sua
morte), Leão encontra-se no Meio do Céu, Touro no Descendente, Aquário no Fundo
do Céu e Escorpião no Ascendente.
A
Cruz Fixa representa a própria fixação da Missão a cumprir, o Pramantha-Dharma
como lhe chamam os Iniciados orientais, cujos signos fixos, espécie de “cravos”
astrais, expressam a energia centrípeta (Tamas) radiando para o centro, que no
horóscopo é a próprio Fernando Pessoa. Esta Cruz centra-se no aqui e agora,
estando a energia muito concentrada sob o poder da pessoa, cuja inércia
exterior transparecia no poeta sob a forma de discrição e timidez.
A
Cruz Fixa é também a do Cristo Crucificado que a própria Humanidade representa
na sua travessia da crise psicossocial de Iniciação Colectiva do 4.º Reino
Humano ao 5.º Reino Espiritual[21], cuja integração pessoal e colectiva nele
ficou definida até ao começo do ciclo de Aquarius, iniciada às 15 horas de 28 de
Setembro de 2005. Neste sentido, Fernando Pessoa agiu como Arauto (Yokanan) da
5.ª Idade Universal, e fê-lo como sebástico da Portugalidade sob o influxo do
5.º Raio Divino caracterizado pela Riqueza (sobretudo a Espiritual para o vate,
que a material sempre lhe foi míngua) cujo maior atributo é a Literatura[22].
Antes
de adiantar mais, devo dizer que o Descendente relaciona-se às metas já
alcançadas e o Ascendente às metas por alcançar, enquanto o Meio e o Fundo do
Céu estabelecem as linhas coordenadoras do indivíduo face à sociedade e a si
mesmo na vida que tem pela frente[23], sempre em conformidade à kármica Lei que
a tudo e a todos rege.
Quanto
aos eixos dos signos de oposição cujo atrito gera a acção tornando-os
complementares entre si, o horizontal (Touro – Escorpião) relaciona-se com a
aplicação imediata das conquistas obtidas no Descendente indo procurar a
integração espiritual no Ascendente, de maneira a adquirir maior consciência
egóica por uma presente transmutação dos desejos em tendências, o que vale por
transformação das nidhanas em skandhas.
Esse
segundo eixo do Zodíaco (Touro – Escorpião) representa a potência, a
intensidade; intensidade nos sentimentos, abundância de sensações e de emoções
(Touro), e intensidade na penetração espiritual (Escorpião), nisto representada
pela Quinta Hierarquia Criadora, para Fernando Pessoa “as Potestades como Deus
mantenedor deste Mundo”, para os Rosacruzes os Senhores da Forma e para a Obra
Teúrgica os Makaras, pertencentes à Hierarquia dos Assuras ou Arqueus.
O
eixo vertical é o mais subjectivo, por procurar a conciliação entre o Homem e a
Sociedade, entre a criatura e a Natureza, enfim, neste conspecto particular
entre Fernando Pessoa e o seu “Outro”, o seu encoberto mas desejado Eu Divino.
O quinto eixo do Zodíaco (Leão – Aquário) é o da afeição: o amor aos amigos, à
família, à pátria (Leão), e a amizade, a confraternidade e as afinidades
espirituais (Aquário).
Essa
quadratura é das mais aliciantes por designar o Novo Ciclo ou Pramantha urgindo
já no horizonte das Tempos com Leão inclinando sobre Aquário, o signo da Nova
Era[24]. Nisto, o facto do Leão imperar no Meio do Céu no horóscopo de Fernando
Pessoa não é razão suficiente para atribuir-lhe a “mania das grandezas”, ao
contrário do que pretendem certos impúberes psicofísicos de hoje, ademais e
como dizia Paracelso, “os astros inclinam mas não obrigam” a quem sublimou o
seu estado interior. A autoafirmação de Pessoa neste conspecto terá
exclusivamente a ver com a afirmação da certeza íntima que possuía, sem deixar
vagar ao dúbio incerto to bie or not to bie.
Horóscopo
de Fernando Pessoa feito por ele próprio
Esses
quatro signos estão representados tanto nos quatro Evangelistas como na Esfinge
de Gizeh, simbólica dos Poderes Espiritual e Temporal: a cabeça humana
configura a sabedoria, e o corpo de touro a força; a cabeça é a autoridade
espiritual que dirige, e o corpo é o poder temporal dirigido.
A
Esfinge possui cabeça de Homem (Aquário, signo de Ar, afim a São Mateus), corpo
de Touro (como signo é de Terra, empático a São Lucas), patas de Leão (como
signo é de Fogo, relacionado a São Marcos) e asas de Águia (antiga
representação do Escorpião, signo de Água, assinalado em São João). Esta
simbologia é notável por representar o Universo vivente. Sem dúvida é a
expressão sintética das 4 Manifestações de Deus como 4 Cadeias Planetárias já
realizadas pela Terra neste 4.º Universo ou Sistema de Evolução Universal, com
as suas 4 Humanidades hoje Hierarquias Criadoras. Assim, na Esfinge as asas de
Águia representam a 1.ª Cadeia de Saturno e a sua Humanidade, os Assuras ou
Arqueus; as patas de Leão expressam a 2.ª Cadeia Solar e a sua Humanidade, os
Agnisvattas ou Arcanjos; a cabeça de Homem assinala a 3.ª Cadeia Lunar e a sua
Humanidade, os Barishads ou Anjos; o corpo de Touro indica a presente 4.ª
Cadeia Terrestre e o próprio Homem, a Hierarquia Jiva.
A
Esfinge simboliza, pois, a Unidade, o Andrógino que se torna múltiplo através
da Polaridade, mas vista aqui em Fernando Pessoa como valor único polarizado
entre o Orpheu e a Ophélia – a Sabedoria Futurista e o Amor Ideal. Repare-se
ainda que a Esfinge é sempre figurada em repouso, como seja a passividade ou
dependência do Poder Temporal da Autoridade Espiritual[25], pela qual agiu
idealmente Fernando Pessoa com aparente indiferença aos factores socioeconômicos de seu tempo, considerando-os meros instrumentos inconscientes
ao serviço do soerguimento do futuro V Império do Mundo.
No
horóscopo em causa, para cuja leitura tomarei como apoio Max Heindel[26],
encontram-se as seguintes influências astrais ou planetárias que vieram a ditar
em traços largos a Vida e a Obra de Fernando Pessoa:
ASCENDENTE
Casa
1 = Júpiter a 28 graus e 48 minutos de Sagitário.
Casa
2 = Sol a 17 graus e 50 minutos de Sagitário.
INTERPRETAÇÃO
Casa
1 = Júpiter nesta casa dá uma disposição natural e bondosa, uma natureza que
respira cordialidade, honra e rectidão. A pessoa neste domicílio ama os
prazeres naturais, particularmente os do campo, e é muito amiga das viagens.
Possui uma capacidade considerável de execução e adaptabilidade.
Casa
2 = O Sol nesta casa indica que a pessoa terá um papel de liderança entre os
amigos e familiares, e que encontrará a ajuda de pessoas capazes de melhorarem
a sua posição material, todavia havendo a tendência do nativo em esbanjar o
dinheiro por desinteresse pelo mesmo.
O
Sol em Sagitário inspira aos ideais elevados e à nobre disposição espiritual de
elevar o seu próximo. Torna a pessoa benévola, filantrópica e, portanto, amada
pelos seus próximos. Não raro é designada para ocupar cargos de confiança ou
desempenhar missões de natureza delicada, por ser alma de honra e de natureza
expansiva no terreno que lhe é afim.
DESCENDENTE
Casa
7 = Neptuno a 0 graus e 39 minutos de Gémeos.
Casa
8 = Sol a 22 graus e 59 minutos de Gémeos.
Casa
8 = Vénus a 15 graus e 16 minutos de Gémeos.
Casa
9 = Mercúrio a 17 graus e 18 minutos de Caranguejo.
Casa
9 = Saturno a 4 graus e 5 minutos de Leão.
Casa
9 = Urano a 2 graus e 32 minutos de Leão.
São
precisamente as casas 8 e 9 as de maior preponderância na vida e destino do
poeta.
Casa
8 = Corresponde à morte e ao além-morte.
Casa
9 = Corresponde às grandes viagens (literárias ou reais valem o mesmo nesta
leitura), à vida espiritual, à filosofia e à religiosidade.
Sendo
o 8 e o 9 os algarismos predominantes no horóscopo de Fernando Pessoa, então o
seu valor biorritmo é 17, precisamente o mesmo de Portugal!
INTERPRETAÇÃO
Casa
7 = Neptuno nesta casa indica o matrimónio com uma pessoa de natureza oculta e
inspirada, geralmente uma união platónica cuja natureza é mais satisfatória
para a alma. Também indica êxitos em assuntos ocultos e místicos.
Neptuno
em Gémeos é uma das melhores indicações da posse de faculdades mentais
extraordinárias, por Neptuno indicar a Intuição iluminando o Mental ou Mercúrio
domiciliado em Gémeos. Esta posição desenvolve as faculdades ocultas, proféticas
ou inspiradas. É um dos sinais do Génio ou Jina em qualquer dos sentidos do
horóscopo. Concede o dom da oratória e uma enorme capacidade literária.
Casa
8 = O Sol nesta casa indica as forças actuantes em concordância com a morte, e
como o Sol é o dador da vida torna-se evidente ser esta posição extremamente
prejudicial no respeitante à vitalidade, acarretando constantemente o fim
prematuro de uma vida prometedora. Também ocorre frequentemente que depois do
Génio ter passado toda a vida mendigando e transposto o umbral da morte em
obscuridade, consegue um reconhecimento póstumo, assim como fama e imortalidade
devido a esta posição do Sol.
Funeral
de Fernando Pessoa no Cemitério dos Prazeres, Lisboa, notícia que os jornais da
época quase ignoraram
Sol
em Gémeos favorece a capacidade de escrever e de viajar. Dá uma disposição
prazenteira e afável, que geralmente faz o nativo querido entre os seus familiares
e amigos.
Casa
8 = Vénus nesta posição acarreta desgostos de amor e causas sociais perdidas.
Vénus
em Gémeos mescla e funde a beleza com a habilidade de expressão. É uma das
posições que faz os poetas, desde que, bem entendido, as outras posições do
horóscopo coincidam com tal.
Casa
9 = Mercúrio favorece aqui o amor pela religião, pela ciência, pela literatura
epistolar e pelo estudo das leis. Torna a mente estudiosa e capaz de penetrar
profundamente nos problemas da vida e do ser, com tendências filosóficas e
filantrópicas, com o desejo de viajar muito longe se for preciso para adquirir
o conhecimento que persegue. Esta posição dá facilidade para a oratória e para
escrever com êxito sobre religião e filosofia, sobre leis ou sobre ciências,
por ser a mente ampla, flexível e adaptável.
Mercúrio
em Caranguejo favorece um intelecto claro, uma boa memória e capacidade de
adaptação. A pessoa nesta posição adapta-se por elasticidade mental a qualquer
lugar e a qualquer consideração alheia, sem que tal signifique sujeição.
Casa
9 = Saturno proporciona nesta casa uma mente profunda, séria e reflectiva, com
habilidade e inclinação para o estudo das leis, ciências e filosofias, tanto
físicas como metafísicas. Semelhante pessoa sobressai sempre no mundo, em vida
ou postumamente, segundo a natureza dos aspectos e das linhas de forças por que
é regida.
Saturno
em Leão proporciona diplomacia, discrição, capacidade, honradez e habilidade
executiva. A constituição desta pessoa não é muito forte, porém pode manter uma
boa saúde se conservar a energia indicada por Saturno.
Casa
9 = Urano concede aqui uma mente progressista e independente, com uma
disposição original e criadora podendo elevar-se ao Génio. A espiritualidade e
a intuição estão extraordinariamente desenvolvidas nesta pessoa. De qualquer
modo, é sempre vista como excêntrica devido às suas ideias no presente utópicas
por mostrarem-se demasiado avançadas para o estado actual dos comuns seres
humanos, incapazes de compreendê-las e assim impossíveis de aprofundá-las. Esta
é uma das melhores posições horoscópicas feitoras dos exploradores e
percursores no descobrimento e povoamento de novas terras, sejam geográficas,
sejam ideais.
Urano
em Leão favorece uma natureza muito determinada, rebelde e impaciente face às
restrições, com gostos e aversões muito fortes e uma extraordinária
desconsideração pelos convencionalismos respeitantes à natureza passional. Por
possuir carácter robusto e bem assente, esta pessoa ocorre constantemente no
desgosto dos demais e consegue deles oposições frequentes. Indica um génio
original e criativo, especialmente no respeitante às ideias educacionais e
religiosas.
MEIO
DO CÉU
Casa
10 = Lua a 8 graus e 23 minutos do Leão.
Casa
12 = Urano a 18 graus e 23 minutos da Balança.
Casa
12 = Marte a 18 graus e 4 minutos da Balança.
Também
a 12.ª casa, em sua duplicidade sobrepondo-se à 10.ª, teve uma influência
enormíssima na vida humana, lavrada de tragédia e incompreensão, do poeta.
Casa
12 = Corresponde às provações, às inimizades, aos sofrimentos.
INTERPRETAÇÃO
Casa
10 = A Lua nesta casa ocasiona popularidade levando a pessoa a sobressair de
entre o público. Torna a mente profunda e diplomática, curiosa e inquisitiva. A
pessoa é propensa a incorrer da hostilidade pública e a sofrer reveses da
fortuna. Por vezes vê-se envolvida em escândalos públicos e sujeita a censuras.
A
Lua em Leão tem influência na iluminação da mente. Daí uma disposição forte,
confiante de si mesma e com boa capacidade para organizar, portanto, a pessoa
com a Lua nesta posição geralmente sobressai e torna-se dirigente do círculo
onde se desenvolveu. É honrada nos negócios financeiros e sociais, clara e
magnânima nas suas relações com os outros e muito popular com as demais
pessoas.
Casa
12 = Urano aqui concede êxito na relação com o Ocultismo e as Ordens
Iniciáticas. Também origina enfermidades em períodos distintos da vida e
desfecho final em algum sanatório, assim como desgostos e incompreensões
provocados por inimigos.
Urano
em Balança favorece a capacidade artística e literária de natureza original
fora do comum, indicando também que a pessoa segue linhas independentes de
esforço e expressão constantemente relacionadas ao Ocultismo. Esta posição
concede igualmente uma intuição perspicaz e uma personalidade atractiva, assim
como uma imaginação viva. Esta posição também provoca dores, desgostos e
dificuldades familiares, acarretando a solidão.
Casa
12 = Marte faz aqui do nativo um proscrito social, proporcionando-lhe desgostos
e inconvenientes durante toda a vida, constantemente suscitados pela inveja e
inimizade d´outréns.
Marte
em Balança favorece um amor entusiasta pela arte e pela beleza em todas as suas
fases, tornando a pessoa popular ante o público geral e nas sociedades
culturais e religiosas. Todavia, também acarreta impopularidade, oposição e
crítica por parte dos seus conterrâneos desagravados.
Vê-se,
dessa maneira, o carácter e vida de Fernando Pessoa expostos em traços gerais
mas correctíssimos, porque a escritura de Deus que são os astros lavrados no
Livro do Céu jamais falha ou erra[27]. Quanto ao determinismo fatal que brindou
a vida do vate, apenas confirma que todo o Iniciado e mesmo um Mestre
Espiritual, qualquer que seja, a partir do momento que se manifesta no Plano
Físico fica automaticamente sujeito às leis físicas que regem a Humanidade, com
as suas alegrias e tristezas, sucessos e insucessos, enfim, a Lei Kármica que a
tudo e a todos rege com isto não exceptua ninguém, que mais evoluído que seja.
Se assim não fosse, o Cristo escusava ser crucificado há dois mil anos, tanto
como todos os outros Grandes Iluminados que se manifestaram neste “vale de
dores e misérias” que é o palco imediato da Evolução Humana.
Mas
também se vê a grandeza solene de um corpo pequeno demais para conter a chama
inflamada de alma tão grande quanto a sua sebástica Obra Pátria, de vez para
sempre o colocando entre os Maiores no panteão dos imortais da Portugalidade,
da sua quintessência viva que Fernando Pessoa tão bem soube apreender, viver e
promanar como Formula Mens Lusitaniae depressa sendo Formula Mens Humanitas.
Fernando
Pessoa
Vítima
da incompreensão de coevos e presentes, como é natural em todas as almas muito
adiantadas para o seu tempo, Fernando Pessoa quis um Portugal divinamente
grande perpassando as mínguas fronteiras geográficas adentrando plenamente o
domínio do Espírito cujo Império sonhou. Só naturezas retrógradas, idólatras de
si mesmas em autossatisfações lascívias de intelecto pequeno em grande
preconceito revelando o pior da natureza pisciana do português, num eterno
misto de intriguista e queixosa tanto de si como dos demais, no mais mínguo dos
provincianismos, podem apodar Fernando Pessoa de todos males e erros que,
afinal, as suas próprias almas ou naturezas íntimas reflectem. Também a esses o
poeta responde, num texto indatado com a indicação Ecolalia Interior[28] com o
qual finalizo:
O
português é capaz de tudo, logo que não lhe exijam que o seja. Somos um grande
povo de heróis adiados. Partimos a cara a todos os ausentes, conquistamos de
graça todas as mulheres sonhadas, e acordamos alegres, de manhã tarde, com a
recordação colorida dos grandes feitos por cumprir. Cada um de nós tem um
Quinto Império no bairro, e um auto-D. Sebastião em série fotográfica do
Grandella. No meio disto (tudo), a República não acaba.
Somos
hoje um pingo de tinta seca da mão que escreveu Império da esquerda à direita
da geografia. É difícil distinguir se o nosso passado é que é o nosso futuro,
ou se o nosso futuro é que é o nosso passado. Cantamos o fado a sério no
intervalo indefinido. O lirismo, diz-se, é a qualidade máxima da raça. Cada vez
cantamos mais um fado.
O
Atlântico continua no seu lugar, até simbolicamente. E há sempre Império desde
que haja Imperador.
NOTAS
[1]
Fernando Pessoa, Hyram. Filosofia Religiosa e Ciências Ocultas. Notas e
Postfácio de Petrus. “Tendências”, C.E.P., Porto (s/d).
[2]
Fernando Pessoa, Associações secretas. Jornal Diário de Notícias, n.º 4388 de 4
de Fevereiro de 1935.
[3]
João Gaspar Simões, Vida e Obra de Fernando Pessoa (História de uma Geração).
Livraria Bertrand, SARL – Lisboa, 1980.
[4]
Israel Regardie, A Golden Dawn – A Aurora Dourada. Madras Editora, São Paulo,
2008.
[5]
Yvette Centeno, Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética. Editorial Presença,
Lisboa, 1985.
[6]
No espólio de Fernando Pessoa encontra-se um seu Tratado de Astrologia assinado
com o sub-heterónimo Raphael Baldaya.
[7]
Fernando Pessoa, Tratado Ordem do Sub-Solo. Textos recolhidos e coligidos por
Yvette Centeno, ob cit.
[8]
Obra em Prosa de Fernando Pessoa, Textos de Intervenção Social e Cultural (A
Ficção dos Heterónimos). Introdução, organização e notas de António Quadros.
Publicações Europa-América, Lda., Mem Martins, 1986.
[9]
Fernando Pessoa, Portugal Futurista, n.º 1, Lisboa, 1917.
[10]
Fernando Pessoa, Um Paiz Atlântico, s/d, doc. 125A – 43.
[11]
Texto originalmente publicado em Descobrimento, revista de Cultura n.º 3, pp.
409-410, 1931, transcrito do Livro do Desassossego de Bernardo Soares (Fernando
Pessoa).
[12]
Yvette K. Centeno, Fernando Pessoa: Magia e Fantasia. Edições Asa, Porto, 2003.
[13]
Fernando Pessoa, Sobre Portugal – Introdução ao Problema Nacional. Edições
Ática, Lisboa, 1979.
[14]
Fernando Pessoa, Prefácio à obra de Augusto Ferreira Gomes, O Quinto Império.
Edição António Maria Pereira, Lisboa, 1934.
[15]
Portugal – Pessoa responde ao inquérito “Portugal, Vasto Império”. Primeira
publicação em O Jornal do Comércio e das Colónias, 73.º ano, n.º 21693, Lisboa,
28-5-1926. Segunda publicação por Augusto da Costa em Portugal, Vasto Império.
Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 1934.
[16]
Os dois peixes compondo o emblema do signo natal de Portugal, levam à extracção
de diversas ilações. Bastará focar a sua relação com o elemento água, motivador
profundo do pendor marítimo dos portugueses e verdadeiro centro radiante da
Gesta das Descobertas. Sob o pretexto da chegada à Índia pelo Ocidente,
pretendia-se dar a conhecer ao mundo geral um facto de há muito conhecido nos
meios reservados: a existência do continente americano. Estudá-lo é penetrar no
âmago da motivação secreta daquela já batizada de Gesta Henriquina.
Onde
estará o outro peixe que puxa em sentido contrário, ao qual se está ligado pela
boca, o verbo, a palavra? Imediatamente evoca-se o Brasil, e as mais remotas
lendas irlandesas (não havendo a esquecer as relações entre a Península Ibérica
e a Hibérnia, a Irlanda, desde as épocas mais recuadas) falam de uma ilha
encantada, situada a Ocidente, chamada O´Brazil. Mas as analogias com o Brasil
não aparecem tão evidentes como no caso de Portugal, sobretudo porque o Brasil
é regido pela Virgem, signo oposto ou complementar do de Portugal, mas é
precisamente na relação Peixes-Virgem que se poderá encontrar o significado
real do binómio Portugal-Brasil. Quanto à entrada do Sol na quinta casa,
repare-se que o mapa da nossa Pátria-Gémea imita perfeitamente a silhueta do
Leão, o quinto signo indicativo do Quinto Reino a urgir na terra virgem do
quinto continente, o que não deixa de ser profundamente significativo ao
contexto bandárrico ou futurístico afim aos destinos imediatos do Mundo.
[17]
Fernando Pessoa, Rosea Cruz. Textos estabelecidos e apresentados por Pedro
Teixeira da Mota. Edições Manuel Lencastre, Lisboa, 1989.
[18]
Fernando Pessoa, poema para ser publicado no Orpheu n.º 3, Lisboa, 1916, não o
tendo sido e inserido na Mensagem com o título D. Fernando.
[19]
Fernando Pessoa, A Procura da Verdade Oculta (Textos Filosóficos e Esotéricos).
Introdução, organização e notas de António Quadros. Publicações Europa-América,
Lda., Mem Martins, 1989.
[20]
André Barbault, Manual Prático de Astrologia. Publicações Europa-América, Mem
Martins, 1978.
[21]
Alice A. Bailey, Astrologia Esotérica. Editorial Kier, Argentina, 1962.
[22]
Fernando Pessoa, Portugal, Sebastianismo e Quinto Império. Introdução,
organização e notas de António Quadros. Publicações Europa-América, Lda., Mem
Martins, 1987.
[23]
Omram Mikhaël Aïvanhov, O Zodíaco – Chave do Homem e do Universo. Edições
Prosveta, Lisboa, 1985.
[24]
Laurentus (pseudónimo de Henrique José de Souza), Ocultismo e Teosofia.
Associação Editorial Aquarius, Rio de Janeiro, 1983.
[25]
René Guénon, Autorité Spirituelle et Pouvoir Temporel. Guy
Trédaniel, Éditions Véga, Paris, 1984.
[26]
Max Heindel, El Mensage de las Estrellas. Editorial Kier, Argentina, 1946.
[27]
Ilse Maria Spath, Astro-Psicologia. Fundação Educacional e Editorial
Universalista, Porto Alegre, Brasil, s/d mas com o número 153.
[28]
Fernando Pessoa, Sobre Portugal – Introdução ao Problema Nacional. Editora
Ática, Lisboa, 1979.
(*)
Vítor Manuel Adrião, renomado escritor esotérico português, é consultor de
investigação filosófica e histórica, formado em História e Filosofia pela
Faculdade de Letras de Lisboa, tendo feito especialização na área medieval pela
Universidade de Coimbra. Presidente-Fundador da Comunidade Teúrgica Portuguesa
e Director da Revista de Estudos Teúrgicos Pax, Adrião é profundo conhecedor da
História Medieval do Sagrado, sendo conferencista de diversos temas
relacionados ao esoterismo, às religiões oficiais, aos mitos e tradições
portuguesas, às Ordens de Kurat (em Sintra) e do Santo Graal, das quais também
faz parte.
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Magistral!
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