Por Barbosa Nunes (*)
Atendendo
convite da Assembleia Federal Maçônica do Grande Oriente do Brasil, que tem
como presidente e Grão-Mestre Geral, Múcio Bonifácio Guimarães e Marcos José da
Silva, respectivamente, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux,
proferiu palestra na noite de sexta feira, 4 de dezembro, no auditório
principal do GOB. O público superlotou o espaço, superando 500 pessoas
presentes. Revelou ser um cidadão humano de muita fé, praticante de muitos
postulados maçônicos. Foi homenageado com o Diploma de Reconhecimento Maçônico,
entregue pelos presidentes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. A
íntegra da palestra e saudações, estão em http://bit.ly/1QCvWFl
Nas
primeiras afirmativas disse: “Tenho a honra de verificar uma imensa afinidade
entre os valores que marcam a minha criação e esses valores morais e
espirituais que timbram a singularidade da maçonaria. Minha vida pessoal me
traz a sensação de que eu era maçom e não sabia.
Fui
criado num lar extremamente justo e solidário, sou filho de imigrantes
perseguidos pelo nazismo, assim como foi a maçonaria no limiar do seu
nascimento. Aqui exilou-se meu pai, depois vieram meus avós. Conheci a
solidariedade muito cedo na minha vida, que influenciou sobremodo, a minha
criação e o meu pendor pela caridade, pelo respeito ao outro e acima de tudo,
pela necessidade que temos de sermos felizes, conquanto o outro também o seja.
A
grande evolução do mundo será uma lenta involução aos valores morais e
espirituais do passado. Um dos valores significativos da maçonaria é o valor
“família”. Ao concluir, aplaudido de pé, apresentou a oração “Cântico de
Núpcias”, de Dom Marcos Barbosa, que sempre lia nas centenas de cerimônias de
casamentos que presidiu. Texto belíssimo que sugiro leitura na íntegra, podendo
ser facilmente localizado na internet. Dele retiramos alguns parágrafos.
“Nossos
caminhos são agora um só caminho, nossas almas, uma só alma. Cantarão para nós
os mesmos pássaros, e os mesmos anjos desdobrarão sobre nós as invisíveis asas.
Temos agora por espelho os nossos olhos; o teu riso dirá a minha alegria, e o
teu pranto, a minha tristeza. Se eu fechar os olhos, tu estarás presente; se eu
adormecer, serás o meu sonho; e serás, ao despertar, o sol que desponta.
Nossos
caminhos são agora um só caminho, nossas almas, uma só alma. Já não preciso
estender a mão para alcançar-te, já não precisas falar para que eu te
escute...”
Pela
Assembleia Federal Maçônica, fez a saudação o Orador Jaime Henrique: “Hoje é
uma noite de alegria para todos, pois estamos sendo brindados, senhor ministro,
com a presença de Vossa Excelência. Não poderia deixar de registrar a feliz e
ousada iniciativa do nosso deputado federal maçônico, Adão José de Oliveira, o
qual teve a brilhante idéia de convidar Vossa Excelência para nos honrar com a
palestra desta noite, onde num gesto de grandeza e altruísmo, entendeu por
aceitar.
Cumpre-nos
informar a Vossa Excelência que o Grande Oriente do Brasil, maior conglomerado
de maçons do mundo, se compõe de três órgãos internos de representação, que são
autônomos e independentes, identificados como Poder Legislativo, Poder
Executivo e Poder Judiciário, seguindo as mesmas linhas traçadas pela
Constituição Federal vigente em nosso país, tratando-se portanto, de uma
entidade federativa onde adota como sustentáculos os lemas da Liberdade,
Igualdade e Fraternidade. Os maçons brasileiros nesta noite sentem-se
engalanados com a presença de Vossa Excelência.
Vossa
Excelência tem uma postura profissional, juntamente com seus colegas membros do
Supremo Tribunal Federal, que nos permite assistir diuturnamente os mais
elevados enfrentamentos que o Excelso Supremo Tribunal Federal tem confrontado,
chegando a se posicionar em favor da sociedade brasileira, sobre temas que
inclusive, caberia ao Congresso Nacional se manifestar.”
Pelo
Poder Executivo, representando o Grande Oriente do Brasil, assim me pronunciei:
“Em nome do Soberano Grão-Mestre Geral, irmão Marcos José da Silva e do Poder
Executivo do GOB, do qual é titular, recebi a honrosa incumbência de saudá-lo,
senhor Ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, e o faço como momento de
alto significado para minha vida maçônica, cumprimentando a Assembleia Federal,
presidida pelo goiano Múcio Bonifácio Guimarães.
Aqui
nos encontramos em uma instituição prestes a completar 200 anos e que nasceu
para proclamar a Independência do Brasil. Comprometida foi com inúmeros outros
movimentos sociais, mas hoje, senhor ministro, não só mais comprometida, mas
com seus integrantes indignados com o estágio a que levaram o nosso país, com
expectativas imprevistas a curtíssimo prazo. Uma instituição que se administra
seguindo a teoria de Montesquieu com seus poderes divididos em Legislativo,
Executivo e Judiciário, presentes e representados nesta mesa e solenidade.
O
recebemos aqui, com o reconhecimento do Grande Oriente do Brasil, não só como
grande jurista, mas como um ser humano que canta, toca guitarra, pratica
jiu-jitsu, e musculação. Cidadão de sentimentos culturais e do coração. Quando
da posse do Ministro Joaquim Barbosa, na presidência do STF, Vossa Excelência
brindou os presentes interpretando a música de Tim Maia “Um dia de domingo”,
que na sua última estrofe revela sua pessoa “...deixar falar a voz do
coração...”. Aqui, senhor Luiz Fux, a sua fala foi do fundo do coração.
Fui
ao artigo de sua autoria publicado no jornal A Folha de São Paulo, em que se
referindo ao juramento de fidelidade que prestou à Constituição Brasileira,
quando de sua posse, disse: “Nesse mister, assemelhado às atividades sacras,
cumpre ao juiz substituir o falso pelo verdadeiro, combater o farisaísmo,
desmascarar a impostura, proteger os que padecem e reclamam a herança dos
deserdados pela pátria. Assim são os juízes do meu país, essa pátria amada, que
acolheu meus ancestrais exilados pela perseguição nazista, esse Brasil que é o
ar que respiro, o berço dos meus filhos e do meu neto”.
Vossa
Excelência, usando mensagem de Charles Chaplin, disse aos juízes “Tu és jovem.
Atender a quem te chama é belo, lutar por quem te rejeita é quase chegar à
perfeição. A juventude precisa de sonhos e se nutrir de lembranças, assim como
o leito dos rios precisa de da água que rola e o coração necessita de afeto.
Não faças do amanhã, o sinônimo do nunca, nem o ontem te seja o mesmo que nunca
mais. Teus passos ficaram. Olhes para trás, mas vá em frente, pois há muitos
que precisam que chegues para poderem seguir-te.”
Vossa
Excelência assim se definiu em autobiografia, sobre como procura ser
magistrado: “Primeiro procuro ver qual é a solução justa. E depois, procuro uma
roupagem jurídica para essa solução. Não há mais possibilidade de ser operador
de Direito aplicando a lei pura. Nós aprendemos assim por força de um
engessamento levado pela política de repressão, e que hoje não existe mais.
Então, hoje é muito importante que o professor se despoje desse ranço da
ortodoxia do ensino, de que fica vinculado a só uma questão legalista. O
Direito vive para o homem, e não o homem para o Direito. É preciso dar solução
que seja humana. A justiça tem que ser caridosa e a caridade tem que ser justa.
É preciso estar atento às aspirações do povo, porque, no meu modo de ver, assim
como o Poder Executivo se exerce em nome do povo, para o povo; o Poder
Legislativo se exerce em nome do povo, para o povo; o Poder Judiciário se
exerce em nome do povo, para o povo. A justiça é uma função popular. Na
faculdade deve-se partir desse ensino com a cabeça bem aberta para tudo isso.
Porque aí se formam pessoas que farão as suas opções.”
A
sua presença e as suas palavras, senhor ministro Luiz Fux, sinalizam para os
maçons de que a luta pelas conquistas sociais e defesa da liberdade, estão mais
fortes agora, quando ouvimos de que o seu caminhar passa pelos nossos
princípios, quando afirmou: “Eu era maçom e não sabia”.
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