Pelo Ven.Ir.'. WILLIAM ALMEIDA DE CARVALHO 33
"Prefiro cometer uma injustiça a tolerar uma desordem".
Goethe
"Consinta V.Excia. que como amigo lhe diga,
que espero seja esta a última vez que me encarregue
de pacificar alguma Província que
tenha por Presidente pessoa que nela tenha
estado na ocasião da revolta, muito principalmente
sendo paisanos, que quase sempre
tanto tem de poltrões durante o perigo, como
vingativos depois dele passado (salvo as
honrosas exceções)."
Carta do Barão de Caxias ao Ministro da Guerra
***
"Senhor! O primeiro soldado de vossas tropas
que atravessar a fronteira, fornecerá o sangue
com que será assinada a paz de Piratini
com os Imperiais. Acima de nosso amor à república
colocamos o nosso brio, a integridade
da Pátria. Se puserdes agora os vossos
soldados na fronteira, encontrareis ombro a
ombro, os soldados de Piratini e os soldados
do Sr. D. Pedro II."
Resposta de David Canabarro ao ditador Rosas
I
INTRODUÇÃO
O
objetivo do presente trabalho foi o de tentar levantar alguns traços maçônicos
do Duque de Ferro para a ARLS Duque de Caxias nº 2589. Durante o ano de 1993 ao
fazer o CAEPE (Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia) da Escola
Superior de Guerra no Rio de Janeiro, desliguei-me, momentaneamente, da minha
Loja Mãe, a ARLS Equidade e Justiça nº 2336, no Oriente de Brasília e passei a frequentar,
com muito prazer e orgulho, a loja que tem o nome do Duque.
A
referida loja tem algumas peculiaridades que convém ressaltar. É, também, uma
loja para os militares e os civis, em trânsito, que estão fazendo curso na ESG,
na ECEME, na ECEMAR, etc. Possui, ipso facto, uma plêiade de elementos de alto
coturno intelectual e moral ávidos de estudar e pesquisar problemas maçônicos e
questões relativas ao Brasil. Fui testemunha, no citado ano, da criação do
Centro de Estudos Maçônicos Duque de Caxias, dirigido por esta loja. Assim como
existem "teatros de bolso", apelidei a Loja Duque de Caxias de
"loja de bolso", por ser uma loja pequena mas aguerrida, seria o que
os hispano-americanos chamam de "chiquitita pero cumpridora".
O
presente trabalho busca, assim, ser uma espécie de pagamento simbólico pelo
período que a passei frequentando.
Trabalhos
profanos sobre Caxias existem em abundância, contudo o Caxias maçônico está
para ser estudado. Lembrei-me, em meados de 93, de que o Ir.’.Kurt Prober tinha
feito um dos poucos trabalhos maçônicos sobre o Duque. Em agosto, telefonei-lhe
para buscar mais dados sobre este trabalho. O velho tronco de jequitibá Kurt
disse-me que, realmente, em 1972 fizera um trabalho sobre o Ir.'. Caxias, pois,
ao ingressar na Academia Maçônica de Letras na cadeira nº 4, tinha o Duque como
patrono e, como praxe, o novo "imortal" tinha o dever de fazer uma
elegia ao patrono. Ansioso, queria saber onde poderia obter o trabalho. Kurt
respondeu que estava esgotado, mas que, talvez, houvesse uma cópia na
biblioteca do GOB no Lavradio. Daí a dois dias entrei em contato com o Ir.'.Borba, responsável pela biblioteca, que me tranquilizou sobre a monografia de
Kurt Prober intitulada Duque de Caxias Sua Vida na Maçonaria.
Saliento
ainda que, no referido ano, o Ir.’. Castellani lançou seu livro sobre a
História do Grande Oriente do Brasil. Procurei, então, tendo os dois trabalhos
como as colunas J.’.e B.’., ousar escrevinhar alguma coisa sobre o herói da
nacionalidade.
O
trabalho procura situar o Duque em três dimensões: i) a sinopse profana de
Caxias, para a qual me vali do excelente livro de Affonso de Carvalho, editado
pela Bibliex; ii) Caxias situado dentro do contexto obediencial da época GOB,
GOP (Grande Oriente do Passeio) e Supremo Conselho tão bem estudados pelo livro
do Ir.’.Castellani e iii) a sinopse propriamente maçônica do Ir.’.Caxias, lastreado
na monografia original e, até o momento, única do Ir.’. Kurt.
Esta
pequena pesquisa, baseada em dados secundários, visa, entretanto, despertar nos
irmãos maçônicos, sejam os da Loja Duque de Caxias, os do Centro de Estudos
Maçônicos, os do Exército, os do Estado do Rio de Janeiro, do Maranhão, de São
Paulo, de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul, em suma, das instituições e dos
Estados da Federação por onde o Pacificador tenha deixado o seu rastro, o
sentido de procurar, agora, nos arquivos do Duque, no Exército, ou nos Estados,
maiores dados sobre o pouquíssimo estudado Caxias maçônico.
Não
poderia deixar de terminar esta introdução sem os agradecimentos, não só de
praxe, mas, principalmente, de fraternidade maçônica. Além do referidos
autores, citados acima, sou extremamente grato aos seguintes IIr.’. da ARLS
Duque de Caxias: Roberto Fredenhagen (ExVen ’.), Joel Barreto Miranda (Ven’.),
Flávio Aníbal Ramazzini, Sérgio Roberto Dentino Morgado, Nelson Tinoco Vianna,
Hamilton Cavalieri D'Oro, Benedito Normando Simões Filho, Newton de Magalhães,
Edvard Cavalcanti Leite, Marco Fernando Aragão Mendes, Jorge Mathuiy, César Dal
Pai Dienstmann, Ênio da Silva, Hélio André Klein, Antônio Leite Filho, Pedro
Vitorino Cordeiro Vargas e tantos outros que corro o risco de esquecer.
Nestes
momentos de crise por que passa o nosso querido Brasil, possa o Duque de
Caxias, que tão bem soube viver as galas da Corte e a glória das Armas, ser o
nosso inspirador, para que a Nação consiga encontrar o seu projeto nacional nesse
limiar do século XXI.
II SINOPSE PROFANA
Luiz
Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias, nasceu a 25 de agosto de 1803 na
Fazenda de São Paulo, no Taquaraçu, na vila de Estrela da Província do Rio de
Janeiro.
Descendia
de velhos troncos portugueses, especialmente os Silvas, os Fonseca, os Limas,
os Brandões, os Soromenhos e os Silveiras, como se observa pelo seu brasão de
armas.
Era
filho do Brigadeiro Francisco de Lima e Silva e de D. Cândida de Oliveira
Brito. Seu pai, em 1824, como general do Exército Imperial em Pernambuco,
comandou a pacificação da Confederação do Equador. Como brigadeiro apresentou
nos seus braços à Corte, a 2 de dezembro de 1825, no Paço de S. Cristóvão, o
rebento que viria a ser o futuro Imperador D. Pedro II, nascido naquele dia. Em
1828 assume o comando de armas na província de S. Paulo e, dois anos depois, o
comando na Capital do Império. Tomou parte efetiva no 7 de abril, quando da
abdicação de D. Pedro I, não só por liderar o Exército como por se tornar
Regente, fatos que concorreram para que, mais tarde, viesse a sofrer um certo
amargor por parte do futuro Imperador. Anos mais tarde foi eleito senador pelo
Rio de Janeiro.
Caxias
descendia, também, de uma ilustre plêiade de militares, tendo vários tios como
marechais e generais.
Com
quinze anos de idade assenta praça como 1º cadete, no primeiro Regimento de
Infantaria de Linha.
Em
1818, o jovem Luiz, quando cursava o primeiro ano da Academia Militar, é
promovido ao posto de alferes para a 5ª Companhia de Fuzileiros da Guarnição da
Corte. Passa a tenente em 1821 e ao terminar o curso, é nomeado ajudante do 1º
Batalhão de Fuzileiros. Passa, em seguida, a fazer parte do Batalhão do
Imperador, tropa de elite criada por D. Pedro I.
Em
março de 1823, o Batalhão do Imperador, comandado pelo Coronel José Joaquim de
Lima e Silva, seu tio, segue com destino à Bahia afim de lutar contra o general
Madeira e, onde Caxias receberá o seu primeiro batismo de fogo, em 3 de maio.
Por bravura recebe o Hábito do Cruzeiro, considerado à época a mais alta
distinção militar. Participa do 2 de julho em Salvador, carregando o pavilhão
do Império no desfile de libertação.
Com
a volta do Batalhão do Imperador ao Rio, Caxias é promovido a Capitão e, logo
em seguida, mandado para a província rebelde da Cisplatina, onde recebe o
Hábito de Aviz, mais uma vez por bravura em campo de batalha. Nas horas livres
em Montevidéu, apaixonasse pela Marquesa de Montes Claros e o romance só não
prospera por ser chamado de volta à Corte, em dezembro de 1828.
Ainda
neste final de ano, é promovido à major e, no começo do ano seguinte, recebe a
Ordem da Rosa. A perda da Província rebelde da Cisplatina e a crescente
influência do partido português junto ao Imperador concorrem para a
impopularidade do jovem monarca. A alternância dos partidos no poder, sem
resolver os angustiantes problemas da nação infante, culminam com uma
insurreição popular pedindo a abdicação de D. Pedro I. Caxias tinha consciência
de que, com a queda do Imperador, a nação se defrontaria com a rebeldia em
diversos pontos do território nacional. D. Pedro tenta, ainda, apelar para
Caxias que não se furta em respaldar o Imperador, desde que este assinasse um
decreto, concedendo baixa a todos os soldados de primeira linha, deixando,
assim, isolados os oficiais rebeldes. D. Pedro considera uma temeridade tal
solução, desobrigando, então o jovem major de sua lealdade ao Imperador. E
acontece o 7 de abril de 1829.
Caxias
sentia que o período da Regência, nesta primeira fase denominada de Provisória,
tendo seu próprio pai como um dos regentes, seria um momento de imensos perigos
para a unidade nacional do novo país que se implantava. As revoltas começaram,
então, a proliferar, não só na Corte como nas Províncias.
Após
o 7 de abril, a journée des dupes a
que se referia Teófilo Otoni, "quatro grupos disputavam o poder: os
absolutistas, corcundas, ou mais
conhecidos pelo nome de caramurus, partidários infatigáveis da Restauração; os constitucionais; os republicanos e, finalmente, os
cautelosos oportunistas, apelidados de tatus
ou caracóis"([1]).
O
jovem Major sente que o Exército é um aglomerado de elementos das mais diversas
origens italianos, alemães, dinamarqueses e, principalmente portugueses sem
possuir, ainda, uma identidade nacional. Concebe, então, uma medida radical:
formar um batalhão somente de oficiais o Batalhão Sagrado, que veio a prestar
serviços relevantíssimos, até quando Feijó manda dissolvê-lo em 1833. Eram
conhecidos sob a alcunha de Voluntários da Pátria, que perdurou até a Guerra do
Paraguai.
Em
abril de 1831, já na Regência de Feijó, acontece a abrilada, com a tentativa de
proclamação de uma república no Campo de Santana pelo Major Miguel de Frias.
Caxias vence a revolta e consolida a Regência na Corte.
Em
2 de fevereiro de 1833 casasse com Ana Luíza de Carneiro Viana, filha do
Desembargador Paulo Fernandes Viana, intendente geral de polícia da Corte, e
descendente da aristocrática família Carneiro Leão. Ana Luíza, a encantadora
Anica, deu-lhe três filhos: duas mulheres e um homem, sendo que este veio a
falecer prematuramente, fato que lhe causou profunda dor por toda a vida. O
amor por Anica durou por toda sua existência, durante os 41 anos que
permaneceram casados foi um exemplo de virtude e dedicação. Anica só possuía um
único concorrente: o Exército, que lhe roubou boa parte do tempo de seu marido.
Em
1835 explode na Província do Rio Grande a Guerra
dos Farrapos que começava, então, a incomodar a Regência e perdurará por
mais de 10 anos.
Em
setembro de 1837 Caxias é promovido a tenente-coronel. Segue com o Ministro da
Guerra Sebastião do Rego Barros para o teatro de operações no Sul do País. A
chama da insurreição, contudo, não se confina ao Sul, e em 1840, o
tenente-coronel é chamado a pacificar a Província do Maranhão, naquele
movimento que é descrito na História do Brasil como a Balaiada. As forças
centrípetas começavam a se espalhar pelas províncias, os movimentos insurrecionais
pululam por todo o país.
O
quadro geral de miséria e a incompetência da oligarquia tradicional levaram os
rebeldes, depois de saquearem várias cidades e fazendas no Maranhão e no Piauí,
a tomarem a cidade de Caxias na Província do Maranhão.
Em
dezembro de 1839, Caxias é promovido a Coronel e, ao mesmo tempo, para poder
ter maior liberdade de ação, é nomeado Presidente e Comandante de Armas do
Maranhão e Comandante do Exército Pacificador. Parte do Rio de Janeiro em 22 de
dezembro e chega a São Luís à 4 de fevereiro de 1840. Faz um apelo à concórdia
e não se deixa enredar nas vinganças mesquinhas dos políticos da região.
Organiza três colunas para combater na região de Vargem Grande, na de Caxias e
na zona do Icatu. Após libertar a cidade de Caxias, diversos bandos de
cangaceiros resolvem se entregar. Emprega, então, tática astuciosa: indulta-os
e ordena que persigam os demais recalcitrantes.
Recebe,
em 23 de agosto de 1840, a notícia da declaração da Maioridade de D. Pedro II e
de sua ascensão ao trono. Como num passe de mágica, os Cabanos e os Bentevis,
que até então se engalfinhavam ferozmente, resolvem fazer as pazes em honra ao
jovem monarca. Caxias publica um indulto em nome do Imperador e anuncia a
pacificação do Maranhão em 1º de janeiro de 1841. O governo, num preito de
reconhecimento, promove-o a general em julho de 1841 e outorga-lhe o título de
Barão de Caxias.
Na
Corte, a luta política entre Liberais e Conservadores irá se espraiar pelas
armas para as Províncias de S.Paulo e Minas Gerais. Em 1841 os conservadores
derrubam os liberais que estavam há oito meses no poder, desde o golpe da
Maioridade. Após a dissolução das Câmaras, acende-se o estopim da revolta em S.
Paulo, com o manifesto lançado pelo Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, que
acabara de deixar o governo da Província de S. Paulo, é aclamado Presidente
interino da Província e presta juramento perante a Câmara na cidade de
Sorocaba. Os liberais contavam com nomes de alto coturno nas suas hostes: Padre
Antônio Feijó, Teófilo Otoni, Antônio Carlos Ribeiro de Andrade, seu irmão
Martim Francisco, Limpo de Abreu, etc. A sedição de Sorocaba esperava contar,
dentro em pouco, com a adesão de Minas Gerais e dos farroupilhas no sul.
O
movimento em S. Paulo estoura em 18 de maio de 1842 e o general e Barão de
Caxias parte para a Província rebelde no dia 19.
Os
paulistas, pela voz de Antônio Carlos, desdenham do Pacificador do Maranhão: "para combater homens da Pátria de
Amador Bueno, mandam-se 400 cadáveres ambulantes".
O
Barão de Caxias, num lampejo de gênio, verificando que os rebeldes não tinham
tomado a capital da província, parte do Rio a bordo de um vapor, no dia
seguinte chega a S. Sebastião, aporta em Santos no dia 21, requisita rações
para 2000 homens e numa arrancada desembarca na capital paulista, deixando
atônitos os rebeldes pela sua mobilidade e velocidade. O restante da campanha
foi, no dizer de Oliveira Lima, uma passeata militar do General Barão de
Caxias. Sorocaba cai em poder das forças legais em 20 de junho de 1842. A
demora do Barão em Sorocaba não passa do dia 28; volta à capital, onde é
recebido com festas, e inicia o retorno ao Rio em 8 de julho, passando por
Taubaté no dia 13. Em Guaratinguetá recebe a notícia de que é nomeado general
chefe das forças pacificadoras na Província de Minas Gerais. Desembarca no Rio
em um vapor a 24 de julho, e na mesma noite é recebido, pelo Imperador, para
jantar no Palácio, onde se anuncia a notícia do decreto que o nomeia Ajudante
de Campo do Imperador.
A
revolução liberal mineira estoura a 10 de junho de 1842, na véspera do embarque
do Barão para as plagas paulistas. Ali a revolta será mais difícil de combater
que a paulista, visto que os mineiros contarão com um recurso inestimável: o
terreno. Tanto em S. Paulo quanto em Minas, os rebeldes sempre ressaltaram a
figura do Imperador, sejam Tobias Aguiar e o Padre Feijó em S. Paulo quanto
José Feliciano em Minas Gerais.
Uma
coisa era comum aos chefes rebeldes: a morosidade nas ações armadas, fato que o
Barão aproveita com maestria.
A
revolta se espraia feito epidemia nas terras das Gerais, mas na Corte um
ministério de grandes homens está atento: José Clemente Pereira, Ministro da
Guerra; Honório Hermeto Carneiro Leão, Marquês do Paraná, Presidente da
Província do Rio de Janeiro; e o Barão de Caxias, já, então, a maior figura
militar da época. O segundo ministério conservador contava com figuras de proa:
o Marquês de Sapucaí, na pasta do Império; o Visconde do Uruguai, na pasta da
Justiça; o Visconde de Sepetiba, na de Estrangeiros; o Marquês de Abrantes, na
da Fazenda; e o Marquês de Paranaguá, na da Marinha. Se os liberais contavam
com nomes de alto coturno, os conservadores não ficavam atrás!
A
estratégia do governo constava de quatro pontos: i) atuar por partes; ii)
esmagar S. Paulo e vigiar Minas; iii) não nomear nenhum comandante em Minas
enquanto não resolvesse o contencioso paulista; e iv) terminado o
"affaire" paulista, esmagar os mineiros.
O
Barão emprega a mesma tática de S. Paulo: ocupar o mais rápido possível a
capital da província. "Não se trata no caso propriamente de uma simples
marcha. É, antes, um através das montanhas mineiras, e um “raid” com o
arrastar da artilharia"([2]).
Ouro
Preto é ocupada em 6 de agosto de 1842 debaixo de ruidosas manifestações
populares. O Barão profliga os políticos mineiros em carta ao Ministro da
Guerra, como está assinalado nas citações no começo deste trabalho. Os rebeldes
começam a desesperar-se com a notícia da rendição de Sorocaba e a ocupação de
Ouro Preto. Teófilo Otoni propõe uma saída negociada honrosa que é rechaçada, “in limine”, por José Feliciano que,
logo a seguir, toma Sabará. Os rebeldes, então, mandam Manuel de Melo Franco ao
Rio a fim de obter um decreto de anistia do Imperador. Melo Franco tenta,
ainda, escrever ao Barão propondo uma anistia. Desconhece que o Barão só
anistia depois da deposição das armas. Antes não!
O
Barão embarca para Caetés, onde reúne todas as forças legais e resolve marchar
contra Sta. Luzia, pela estrada de Sabará, em três colunas: a da direita,
comandada pelo seu irmão, Coronel José Joaquim de Lima e Silva, a do centro,
pelo próprio Barão e a da esquerda pelo Tenente-coronel Ataíde. A intenção do
Barão é chegar no dia 20 e atacar no 21, com as duas colunas fustigando os
respectivos flancos.
O
pouco conhecimento do terreno e o espírito ofensivo dos mineiros levam o Barão
a ser atacado ao invés de atacar, e no dia 20 é obrigado a aceitar o combate. A
situação do Barão tornase periclitante, pois o Coronel Lima e Silva só estava
preparado para a luta 24 horas depois. E, numa espécie de Grouchy dos
trópicos não aparece no momento crucial da batalha. No momento em que os
mineiros estavam prelibando o instante da vitória sobre o Barão, eis que o
Coronel Lima e Silva, ouvindo a distância os tiros de artilharia, resolve
acelerar o passo e entrar na batalha, e tal qual um Blücher, decide o
destino do conflito armado. Não seria, desta vez, que o Barão haveria de perder
uma batalha.
Com
a vitória de Sta. Luzia terminou a revolução liberal em Minas Gerais e a
província, logo, voltará à normalidade.
A
1º de setembro o Barão retorna a Ouro Preto, lança um manifesto de
confraternização ao povo mineiro, é promovido a marechal de campo e chega à
Corte em 21 de setembro.
No
final de 1842, com o final das campanhas do Maranhão, de S. Paulo e de Minas
Gerais, a espada do Império estava pronta para debelar a revolta de Farrapos. É
nomeado, a 28 de setembro, ao mesmo tempo, Presidente da Província e Comandante
das armas. Ao chegar a Porto Alegre em 9 de novembro lança um manifesto onde
faz um apelo de união ao povo gaúcho. O Barão enfoca o problema do sul de três
maneiras: i) prepara uma distensão do ambiente para restabelecer a atividade
comercial da província em todas as direções; ii) reconhece que o fenômeno do caudilhismo,
seu conhecido da época da campanha da Província rebelde da Cisplatina, deverá
ser contido numa zona contígua, privando-o das faixas de fronteiras, por onde
poderia se comunicar com os uruguaios; e iii) o sistema de combate com os
rebeldes será o de guerrilhas, com ataques de surpresa e, para tanto, o cavalo
e a remonta serão cruciais.
Astutamente,
procurou cooptar o chefe rebelde, Bento Manuel, para as hostes legalistas,
infiltrando-se, assim, nos meandros dos meios e modos de combater dos homens do
sul. Além do mais, Bento Manuel nunca tinha perdido uma batalha, o que não
acontecia com Bento Gonçalves, que a exemplo de George Washington, era mestre
na arte de perder batalhas.
Caxias
ruma para Alegrete, local de estacionamento das forças republicanas, que, ao
saberem, da aproximação do Barão, abandonam a cidade. Os rebeldes contra-atacam
em S. Gabriel, onde estava estacionada a bagagem pesada dos imperiais,
surpreendendo-os e arrebatando-lhes a cavalhada.
Com
a divisão do exército em duas colunas, os rebeldes tentam dar combate à coluna
comandada por Bento Manuel, que lhes infringe uma derrota em Ponche Verde. O
começo do fim, no início de 1844, entretanto, será a batalha de Porongos, onde
o exército imperial vinga a derrota de S. Gabriel.
Já
no início de 1845 os chefes rebeldes, reunidos em Ponche Verde deliberaram
sobre a necessidade da paz. David Canabarro e outros chefes assinam a ata de
pacificação e dirigem aos seus companheiros uma proclamação, finalizando o
período da guerra civil.
O
Barão é recebido, como sempre, com manifestações calorosas pelo povo da capital
da província, que o elege, em lista tríplice para o Senado do Império, sendo
escolhido pelo Imperador para Senador em 30 de agosto de 1845, ingressando,
dessa maneira, na vida política do país. Se os conservadores podiam contar com
o Barão nas suas hostes, os liberais, por outro, lado, tinham uma compensação:
conseguiram cooptar Osório.
O
Barão, também, é efetivado marechal de campo em 2 de março e agraciado com o
título de Conde quando suas atas de eleição senatorial chegam à Corte. Recebe,
antes de partir, a comitiva imperial em visita ao Rio Grande. Governara a
província por três anos e meio.
No
Senado do Império encontra seu velho pai, senador pela província fluminense,
que lhe fará companhia até a sua morte no ano de 1853.
De
1847 a 1851, com o país pacificado e integrado, dedicase aos afazeres da
política no Senado, quando se inicia um segundo ciclo na sua vida: os primeiros
conflitos externos da nação brasileira. O tiranete Oribe na República Oriental,
apoiado pelo ditador Rosas da Confederação Argentina, começa a criar
complicações na fronteira da Província do Rio Grande. O ditador argentino
alimentava pretensões de anexar o Paraguai e o Uruguai. Com a ameaça de
rompimento do equilíbrio na "cuenca del Plata", o Império é obrigado
a intervir e, para tanto, o Conde é nomeado, em 18 de junho de 1851,
Comandante-chefe do Exército e, pela segunda vez, Presidente da Província do
Rio Grande. O Brasil tem como aliados nesta guerra o Governador da Província de
Entre Rios o General Urquiza e as forças anti Oribe da República Oriental,
comandadas pelo General Gerzón. As diretrizes do Conde são claras: a invasão do
território uruguaio e o apoio da esquadra, comandada pelo Almirante Grenfell.
O
Conde deixa a Corte e, a bordo do vapor Imperatriz, dirige-se à Porto Alegre e,
de lá, se estabelece em Santana do Livramento, onde concentra suas forças. O
exército é dividido em quatro divisões e dez brigadas, num total de 16200
homens, além de 4000 homens distribuídos pela fronteira. Convém salientar que
vários comandantes farroupilhas estavam sob as ordens do Conde e o pino de
ligação com as forças do general Urquiza era o Tenente-coronel Osório. À 4 de
setembro, às 7 horas da manhã o Conde invade o território uruguaio. O rolo
compressor brasileiro, gradativo mas lento pela estação chuvosa, e o
isolamento, pela Marinha, das forças de Rosas e Oribe, concorrem para que Oribe
negocie com o general caudilho argentino Urquiza uma paz em separado, sem a
presença do Conde. Apesar dos dissabores, o Conde é recebido entusiasticamente
em Montevidéu. Lá, reúnem-se os vultos argentinos exilados Mitre, Sarmiento e
Paunero e os diplomatas brasileiros os futuros Marquês do Paraná e Visconde do
Rio Branco, preparando, assim, a queda de Rosas, que, com a derrota de Oribe,
tinha os seus dias contados.
Urquiza,
no comando das forças, resolve concentrar os exércitos aliados em Diamante, à
margem direita do Paraná. "O plano dos aliados é simples: atacar o ditador
Rosas pela margem direita do rio, investindo contra Buenos Aires, enquanto
Caxias, na Colônia do Sacramento, fica com o grosso do Exército em observação e
articulado com a esquadra para o ataque à capital, caso seja
necessário"([3]).
Com
a demora do deslocamento de Urquiza, o Conde resolve à borda da corveta
D.Affonso, fazer um reconhecimento da capital argentina. O espanto no porto de
Buenos Aires é indescritível quanto se notam as insígnias do general chefe do
Exército brasileiro e o pavilhão do Almirante Grenfell. As canhoneiras das
estações navais inglesa e francesa saúdam com suas peças os dois chefes
brasileiros. A corveta imperial responde às salvas e Caxias faz,
tranquilamente, o seu reconhecimento por mais de seis horas, deslocando-se, a
seguir, para o seu posto na Colônia do Sacramento.
Em
3 de fevereiro de 1852 tem início a batalha de Caseros às 8 horas da manhã. A
divisão brasileira, comandada pelo General Marques de Souza, espera impaciente
por Urquiza, que não aparece e pela Divisão Galan, que deveria atacar e não o
faz! O futuro Conde de Porto Alegre, que não tinha vocação de Grouchy, resolve
atacar, decidindo, assim, o destino da batalha. O desaparecimento de Urquiza
deveu-se aos seus rompantes gauchescos que, descurando a sua missão de
comandante de exército, preferia o combate cara a cara!
Rosas
foge à galope para Buenos Aires e, disfarçado em marinheiro, refugia-se num
navio inglês. O Exército Aliado entra, triunfalmente, em Buenos Aires sem
disparar um tiro a 12 de fevereiro de 1852. Como sempre o Conde é recebido
entusiasticamente na capital portenha. Voltava à Corte já, agora, como
tenente-general e Marquês (26-06-52) e, no peito, a medalha de ouro, do
Uruguai.
O
Marquês chega doente à Corte, seguindo, incontinente, para uma estação de águas
em Caxambu, quando é chamado de volta, por causa do falecimento de seu pai.
Passa os anos de 53 e 54 em atividades políticas no Senado. Em 14 de junho de
1855 é nomeado, pela primeira vez, ministro de Estado. Com a renúncia do
General Belegarde na pasta da Guerra, um nome se impõe como o novo Ministro da
Guerra: o Marquês de Caxias. Como é de seu feitio, primeiro toma contato
devagar com a nova realidade, para, em seguida, decidir com argúcia. Determina
que as promoções se façam com a mesma data para todas as armas. Propõe, pela
primeira vez, o estuda da tática elementar nas três armas, nacionalizando, por
assim dizer, o estuda da tática. Contrata veterinário na França e um picador em
Portugal para mestre de equitação. Fortalece o Conselho Supremo Militar,
transfere para a Fortaleza de S.João a instrução prática, cria os conselhos
econômicos. O grande benefício feito ao Exército, contudo, foi a criação da
repartição do ajudante general. "Na época, todos os negócios do Exército
eram dirigidos direta e exclusivamente pelos Ministros da Guerra, figuras
geralmente políticas, flutuantes e, por isso mesmo, na maioria dos casos, pouco
conhecedoras dos problemas militares.
O
novo ministro, reconhecendo todos esses inconvenientes, cria uma repartição
estável, incumbida, realmente, da direção do Exército. Que os ministros passem
e que tenham a missão precípua de defender os interesses do Exército perante o
Parlamento, e que ela fique, mantendo-se à revelia da política, e assegurando
ao Exército unidade de ação e de doutrina e a continuidade de todos os
serviços"([4]). A lei de 30 de junho de 1856, que autoriza a importante
inovação, é o embrião do Estado Maior do Exército.
Quando
falece o Marquês do Paraná, em 3 de setembro de 1856, chamam-no para ocupar a
Presidência do Conselho de Ministros, que acumula com a pasta da Guerra. Em 3
de maio do ano seguinte, com a queda do gabinete, volta ao Senado, para ser, em
1858, nomeado Conselheiro de Guerra.
Em
1861, a 3 de março, novamente, é nomeado Presidente do Conselho, que acumula
com a pasta da Guerra. Enquanto , na primeira nomeação era mais Ministro da
Guerra do que Presidente do Conselho, pois foi galgado pelo imprevisto do
falecimento do Marquês do Paraná, agora, contudo, detém, com a experiência
acumulada, as rédeas firmes da Presidência do Conselho. Apesar de passar pouco
tempo na direção do Governo, realiza as seguintes obras: providências relativas
ao serviço militar obrigatório, à justiça militar e às colônias militares;
abolição dos velhos processos disciplinares do Conde de Lippe e adoção do
Regulamento Correcional das Transgressões Disciplinares, embrião do Regulamento
Disciplinar do Exército.; promoção do novo Código Penal Militar.
O
Gabinete, na eterna gangorra do IIº Império, cai em 24 de maio de 1862, e é
substituído pelo do liberal Zacarias de Góes. Neste mesmo ano dois fatos
relevantes: i) o falecimento de seu filho e a sua promoção a marechal graduado.
Permanece exercendo suas funções no Senado e como Conselheiro de Guerra, quando
estoura a guerra do Paraguai, com o aprisionamento do Marquês de Olinda e a invasão do Mato Grosso.
Com
a assinatura do Tratado da Tríplice Aliança 1 º de maio o nome que se impõe,
como unanimidade nacional, é o do Marquês, mas Caxias é conservador e o
gabinete é liberal! As questões político-partidárias sobrelevam às de segurança
nacional. O impasse político foi o de querer ser nomeado, ao mesmo tempo,
Comandante-em-chefe do Exército e Presidente da Província do Rio Grande, como
das vezes anteriores, para melhor desempenho da missão. Iria prejudicar a política do partido liberal na província! E o
nomeado, em seu lugar para a pasta da Guerra, foi o Visconde de Camamu, o único
general com quem o Marquês não tinha relações de amizade.
Com
a declaração de guerra e a invasão do território nacional a situação começa a
se tornar grave, tanto que o Imperador resolve embarcar para o sul e, para
tanto, deverá levar o Marquês por ser o seu marechal de campo. Situação deveras
constrangedora para o Marquês por ter de suportar a presença de seu inimigo o
Ministro da Guerra e o Conde D'Eu, cuja maior ambição era ser
comandante-em-chefe do Exército brasileiro e que movia uma guerra surda ao
Marquês.
O
Imperador, ainda em presença do Marquês, assiste à rendição de Uruguaiana, onde
copioso material de guerra cai em mãos dos Aliados. Nem bem assentara a poeira
de Uruguaiana estoura, na Corte, a
Questão Christie que, depois de intensas gestões diplomáticas, tem uma
solução feliz.
Depois
de um ano de guerra, a avaliação não é das mais animadoras. Apesar das vitórias
de Riachuelo e Tuiuti, o Exército Aliado só penetrou 14 quilômetros em
território inimigo. A gota d'água, entretanto, foi o desastre de Curupaiti, que
teve o mérito de acordar a nação e trazer de volta o Marquês, que é nomeado
comandante-em-chefe das forças do Império em 10 de outubro de 1866. Um Ministro
forte, conservador, num Gabinete liberal... As intrigas não demoram a pulular e
o desfecho será a tão propalada queda do Gabinete Zacarias em 1868.
O
Marquês parte da Corte a 29 de outubro, passa por Montevidéu, Buenos Aires,
Corrientes e Itapiru, chegando a Tuiuti em 18 de novembro. O moral do Exército
deixava a desejar pela frouxidão dos costumes e o gradativo esmaecimento das
virtudes militares. Como era do feitio do Marquês, primeiro reorganizar num
processo aparentemente lento para, em seguida, lançar, com o máximo de
velocidade, o rolo compressor. É, nesta fase, que se estuda o gênio organizador
do Marquês.
Em
21 de julho de 1867, o Marquês considera terminada a fase da preparação e a
necessidade de sair da defesa passiva em que o Exército se encontrava desde
maio de 1866. No dia 22 tem início a marcha de flanco para Tuiu-Cuê, que
terminará, nesta primeira fase, com o Exército vencendo o meio agreste do Chaco
e a Marinha quebrando as correntes da fortaleza de Humaitá.
Após
a vitória de Humaitá, o Marquês esbarra com as instalações defensivas de
Pequiciri nove quilômetros de linha fortificada e as baterias da fortaleza de
Angostura.
O
Marquês, na impossibilidade de um ataque frontal seria rematada loucura resolve
desbordar pela esquerda, mandando construir uma estrada de mais de 13
quilômetros em meio altamente pantanoso e sujeito a escaramuças dos paraguaios.
A ideia do Marquês é simples e óbvia: i) entrosar-se com e liberar a esquadra
que estava sem meios de locomover-se no Rio Paraguai e ii) desembarcar mais ao
norte e atacar, à la Maginot, a fortaleza de Angostura pela retaguarda,
desbaratando o exército e Lopez, e partindo, então, para Assunção, com a
guerra, virtualmente, terminada.
A
construção da estrada demorou 23 dias e deslocou 18667 homens na retaguarda de
Solano Lopez. Se demorasse mais uns dias, o rio teria alagado a estrada!
Ao
desembarcar em S. Antônio, a preocupação do Marquês era a de ocupar a ponte de
somente três metros mas de barrancas altas do arroio de Tororó, pela sua
importância estratégica. O Visconde de Itaparica, contudo, diz-lhe que os
paraguaios tinham chegado primeiro.
No
dia seguinte 6 de dezembro é promovido o ataque e, depois de 3 investidas das
tropas brasileiras e 3 recuos, a situação começava a se tornar perigosa, pois,
Fernando Machado pagara com a vida; Argolo e Gurjão, com ferimentos graves. A
tropa começa a ceder e a recuar em desordem, quando o velho Marquês de 65 anos,
desembainha a sua espada e solta o grito que eletrizou a soldadesca: Sigam-me os que forem brasileiros!
O
entusiasmo de Caxias foi o fator essencial para a passagem de Itaroró.
Agora,
o Marquês resolve aproveitar a surpresa estratégica e deslocar-se, com o máximo
de velocidade, para o sul em direção ao outro arroio: o Avaí. Aqui, o espaço
permite o movimento, os lances da cavalaria, em suma, a manobra que era o forte
do Marquês. Divide, pois, o exército nas três alas clássicas: centro, direita e
esquerda e a batalha se inicia com violência inaudita. No fragor da embate,
desaba um temporal de proporções dantescas, tornando o quadro ainda mais
grandioso. Se Itororó fora o cenário ideal para a infantaria, Avaí será a
epopeia da cavalaria. Os planos do Marquês seguiam a sua trajetória meticulosa,
quando, no final da manobra de envolvimento, Osório é ferido e os soldados
começam a recuar, e mais uma vez, o Marquês resolve intervir diretamente no ataque,
desembainhando a espada e lançando-se à frente dos soldados, restabelecendo o
ímpeto ofensivo. Entre meio dia e a uma da tarde de 11 de dezembro, a batalha
teve o seu desfecho favorável aos Aliados.
Vencidos
os obstáculos de Itororó e Avaí, o Marquês tinha, agora, diante de si, dois
objetivos: atacar Angostura pela retaguarda ou investir agressivo sobre o
exército inimigo. Escolheu o segundo. A idéia da manobra era a seguinte: isolar
a fortaleza, atacar Pequiciri pelo norte e pelo sul e desfechar contra
ItaIvaté, o reduto de Lopez, o ataque final com todas as suas forças. Em 21 de
dezembro de 1868 tem início o combate em todas as frentes de Lomas Valentinas.
A batalha deverá durar vários dias e terminará em 27 de dezembro. O combate é
encarniçado, pois o inimigo detém fortíssimas posições dominantes. Os dois
exércitos, no meio do enfrentamento, são separados por um temporal a exemplo de
Avaí. No dia 22 e 23 chegam ao campo de batalha as forças argentinas, orientais
e a brigada Paranhos. No dia 24, o Marquês envia um ultimato a Lopez, que é
rejeitado. Caxias passa os dias 25 e 26 em preparação para o assalto final. No
dia 27 rompe o fogo em todas as frentes num violentíssimo combate e a batalha é
vencida pelos aliados. Todo o exército paraguaio foi destruído, mas o ditador
conseguiu fugir. Angostura se rendeu no dia 30 de dezembro.
No
começo do ano de 1869, o Marquês envia o coronel Hermes da Fonseca para ocupar
Assunção. Quatro dias depois estará em Assunção para dirigir a ocupação
militar. A população do país tinha sido reduzida a frangalhos. Após um Te-Deum na capital dos paraguaios,
acompanhado de todo o Estado-maior, o Marquês sofre uma síncope, que dura meia
hora. Contava, então 66 anos e o esforço inaudito dos dois últimos anos foram
sobre-humanos. Resolvem, então, embarcar o Marquês para a Corte no dia 22 de
janeiro. Chega ao porto do Rio de Janeiro no dia 15 de fevereiro, onde não há
nenhum representante, seja do Ministro da Guerra, seja do Conselho de
Ministros, seja do Senado do Império e muito menos do Imperador. O Marquês
desembarca em melancólica solidão.
A
23 de março de 1870 recebe o título de Duque. Em 1874 falece a Duquesa e Caxias
realiza seu testamento. Em junho de 1875, o Imperador, desejando fazer uma
longa viagem pelo mundo, convida o Duque para presidir o Conselho e ocupar,
pela terceira vez, a pasta da Guerra. Em dezembro, em plena efervescência da
"questão religiosa", o Duque consegue do Imperador, que não era muito
favorável, um decreto concedendo anistia aos bispos envolvidos na cognominada
Questão Religiosa. O Imperador parte em viagem, deixando a Princesa Isabel como
regente do Trono.
No
final de 1877, ao regressar, o Imperador demite o Gabinete e nomeia, no dia 5
de janeiro de 1878, o Gabinete liberal de Sinimbu. O Duque de Ferro,
desgostoso, refugia-se na fazenda Santa Mônica, onde permanecerá até a sua
morte em 7 de maio de 1880. No dia seguinte, o corpo é conduzido para o Rio de
Janeiro, onde é enterrado no dia 10, no Cemitério do Catumbi. E, no dizer do
historiador, "segue-se o cortejo fúnebre, uma fila tão grande de
carruagens que, quando a primeira chegou ao cemitério do Catumbi, ainda havia
carros que não tinham saído do palacete da Tijuca. É o maior enterro da
época"([5]).
Morre
o Condestável do Império, nasce o Herói da Nacionalidade e Patrono do Exército
Brasileiro.
III OS PRIMÓRDIOS E
O CONTEXTO OBEDIENCIAL
Para
se tentar situar o Caxias maçônico tem-se que traçar, antes, os primórdios da
maçonaria no Brasil e o contexto obediencial da época.
O
primeiro clube, com ares maçônicos, apesar de ser frequentado, também, por
profanos, do qual se tem notícia, no Brasil, foi fundado em 1796, em Pernambuco
e denominava-se Areópago de Itambé.
Segundo o Aurélio, areópago significa tribunal ateniense, assembléia de
magistrados, sábios, literatos, etc. Teve como fundador e alma inspiradora o
ex-frade carmelita e médico formado pela Faculdade de Monpellier na França,
Arruda Câmara. Convém salientar que o grosso da elite, forjadora da
independência brasileira foi formada em Coimbra e, o restante, em Monpellier.
Enquanto os formados em Coimbra tinham, em termos médios, uma postura mais
conservadora, os de Monpellier, talvez, por sofrerem o influxo das idéias
iluministas dos enciclopedistas franceses, possuíam uma atitude mais radical,
seja em termos liberais ou até mesmo republicanos.
A
primeira loja maçônica brasileira surgiu em águas territoriais brasileiras, no
início de julho de 1797, na fragata francesa La Preneuse (A Apresadora),
comandada por Larcher, onde aconteceram as primeiras reuniões. A 14 de julho,
numa espécie de comemoração da Revolução Francesa, os notáveis da terra, como
Cypriano Barata, José da Silva Lisboa, Francisco Muniz Barreto, padre Francisco
Agostinho Gomes, Ignácio Bulção, José Borges de Barros, Domingos da Silva
Lisboa, tenente Hermógenes de Aguiar Pantoja, mais o comandante Larcher
fundaram em terra a Loja Maçônica Cavaleiros da Luz, na povoação da Barra, na
Baía.
A
primeira loja maçônica regular do Brasil, contudo, foi a Loja Reunião, fundada em 1801, no Rio de
Janeiro e filiada ao Or.’.da Ilha de França, antigo nome da Ilha Maurício,
situada no Oceano Índico e, na época colônia francesa.
O
Barão do Rio Branco, contudo, nos seus escritos fala de uma loja que teria
existido em Niterói em 29 de julho de 1800, que poderia ter sido uma
antecessora da Reunião e, apesar de não citar o nome da loja, supõe-se ter sido
a loja União.
A
primeira obediência brasileira foi o Grande Oriente Brasiliano (ou Brasílico),
fundado em 17 de junho de 1822 e teve como seu primeiro Grão-Mestre o Ir\
José Bonifácio de Andrada e Silva. Como filho espiritual do Grande Oriente de
França, adotou o rito moderno ou francês. Castellani afirma que "criado
nas asas dos ideais emancipadores e libertários, que empolgavam os brasileiros,
nos primeiros anos do século XIX, o GRANDE ORIENTE DO BRASIL, a partir das três
Lojas que lhe deram sustentação inicial e apesar de alguns percalços, não parou
mais de crescer e de acolher homens de valor e de destaque nas letras, nas
artes, nas ciências e nas armas do Brasil, os quais teriam atuação marcante em
muitos episódios sociais e políticos do país, a ponto de se poder dizer, sem
medo de errar, que não se pode escrever a História do Brasil independente, sem
entrar na História do GRANDE ORIENTE DO BRASIL"([6]).
As
disputas políticas de José Bonifácio e Joaquim Gonçalves Ledo em relação ao
monarca e ao processo de independência levam, este último, a convidar D. Pedro
a ingressar na maçonaria. Em 2 de agosto, na nona sessão do Grande Oriente
Brasiliano, D. Pedro foi iniciado como aprendiz e tomou o nome de Ir\
Guatimozim. Um costume da época grafava o nome dos obreiros com nomes
históricos ou heroicos. Na décima sessão no dia 5 de agosto o Ap\
Guatimozim foi exaltado a M\M\. No dia 4 de outubro, na décima
sétima sessão, o Ir\ Guatimozim prestou juramento e
foi empossado como Grão-Mestre da Obediência. Por brigas internas, D. Pedro
mandou encerrar o Grande Oriente a 25 de outubro, permanecendo fechado por 10
anos.
A
partir de meados de dezembro de 1830, os maçons pertencentes aos corpos
legislativos começaram a abrandar as leis que proibiam reuniões de sociedades
secretas e após a abdicação de D. Pedro, em 7 de abril de 1831, a maçonaria
começava a ressurgir. Os remanescentes do Grande Oriente Brasiliano, a partir
de outubro de 1831, juntamente com seu ex Grão-Mestre José Bonifácio, começaram
a reunir-se, até que fosse concluída a Constituição do Grande Oriente do
Brasil, daqui em diante denominado GOB. A reinstalação do GOB se deu em 23 de
novembro de 1831. Com a reinstalação, os nomes heróicos ou históricos, tradição
das lojas do rito adoniramita, que não mais existiam, a partir de uma resolução
do GOB em dezembro de 1831, caíram em desuso.
Como
se não bastassem as brigas de José Bonifácio e Ledo, nos primórdios da
independência, antes da reinstalação do GOB já havia surgido um outro Grande
Oriente, denominado Grande Oriente Nacional Brasileiro, ou mais conhecido como
Grande Oriente do Passeio, daqui em diante denominado GOP, fundado em 1830 e instalado
em 24 de junho de 1831 e que teve como seu primeiro Grão-Mestre, o Senador
Vergueiro aquele que, conjuntamente ao pai de Caxias e ao Marquês de Caravelas,
fazia parte da Regência Trina Provisória. O Senador, anos mais tarde, viria a
fazer parte do GOB. Agora, toda a luta se dará em função de quem seria o
legítimo sucessor do Grande Oriente Brasiliano, fechado por D. Pedro no final
de outubro de 1822, o GOB ou o GOP? Esta luta durará até 1861 quando abateu
colunas o GOP e Caxias, como se verá adiante, teve um papel saliente neste
evento. Apesar de o GOB tentar, em 2 de abril de 1832, estabelecer contatos
para uma fusão das duas obediências, que acabou fracassando, o quadro ia se
tornando cada vez mais complexo e conflitivo. Tais conflitos políticos, no nascedouro
do sistema obediencial brasileiro, concorreram, e muito, para que a maçonaria
proibisse a discussão de temas políticos em lojas, desde então.
Outro
fator que, também, acirrou o conflito foi a fundação de uma terceira obediência
em 12 novembro de 1832: o Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e
Aceito, introduzido no Brasil por Francisco Gê Acayaba de Montezuma, com
patente fornecida pelo Supremo Conselho dos Países Baixos e que começou a
proliferar, no Brasil, a partir de então. Montezuma era filiado tanto ao GOB
quanto ao GOP e a introdução do seu Conselho, que é o legítimo no Brasil,
criou, na época, uma série de oficinas híbridas, misturando graus simbólicos
com altos graus filosóficos, estabelecendo um sincretismo e uma parafernália
ritualística que a maçonaria brasileira sofre suas decorrências, principalmente
no simbolismo, até os dias atuais. Como exemplo sintomático, cita-se o caso do
velho Andrada, que Grão-Mestre de uma obediência de linha moderna ou francesa,
recebe em 5 de março de 1833 o grau 33 do R.E.A.A.!
Como
o GOB adotava o rito moderno ou francês, o GOP resolveu, a partir do final de
1834, que suas lojas adotariam o R.E.A.A. Com a confusão pairando entre as
lojas, resolveu o GOB publicar um Regulador
do Rito Francês e o GOP um Guia dos
Maçons Escoceses. Ainda em 1834, também, é fundado o primeiro Capítulo Rosa
Cruz do Rito Escocês. Em 1835, estrutura-se o Soberano Capítulo do Rito Francês
ou Moderno e, em 1836, o Ilustre Conselho de Kadosh Nº 1. Em 16 de janeiro de
1838 uma loja de Niterói do GOB Sabedoria e Beneficência instala o rito
adoniramita que não era praticado no Brasil e no mundo a vários anos.
A
década de 30 será conturbada não só para o Brasil como para a maçonaria, pois
assistirá, às lutas políticas como um reflexo da fragilidade da regência que,
inclusive, levam, à prisão, o Grão-Mestre José Bonifácio, tutor do Imperador.
Uma perene troca de lojas de uma obediência para outra, de um rito para outro,
conturbam, ainda mais, a maçonaria recém reinstalada.
As
eleições para o Grão Mestrado do GOP, em novembro de 1836, sufragam o futuro
Marquês de Sapucaí. Quanto ao GOB, José Bonifácio é reeleito em 1837, mas vem a
falecer em 6 de abril de 1838, entregando o Grão Mestrado ao futuro Visconde de
Albuquerque o pernambucano Antônio Francisco de Paula Holanda Cavalcanti de
Albuquerque que, após sucessivas reeleições, permaneceu, no cargo, até 1850.
Ainda em 1838, o GOB criou um Grande Colégio de Ritos em lugar dos Capítulos,
regulamentando, assim, o R.E.A.A., apesar de seu rito oficial continuar sendo o
Moderno ou Francês.
Os maçons das três Obediências GOB, GOP e Supremo Conselho lutavam
e participavam da luta política da nação emergente. Com a Regência permanente,
a luta começa a transformar-se em agitação, e o embate entre os maçons José
Bonifácio (GOB) e o Padre Diogo Antônio Feijó (GOP)([7]) causam queda de
ministérios e ataques no Parlamento. Existiam, também, maçons nas três facções
em luta: restauradores, moderados e exaltados. Com a morte de D. Pedro I a luta
se trava, agora, entre conservadores e liberais. Pelo Ato Adicional à
Constituição de 1824, foi eleito, em 1835, como Regente Uno, o liberal maçom do
GOP Padre Feijó que disputou e ganhou do maçom Holanda Cavalcanti e, como visto
acima, futuro Grão-Mestre do GOB. Feijó que governará até 1837, quando é
substituído pelo conservador Araújo Lima, tinha uma relação estreita com Caxias
como se verá, futuramente, na revolução liberal de 1842 em S. Paulo. Araújo
Lima deveria
governar até 1842, quando em 23 de julho de 1840, sofre um rude golpe dos
liberais, com a antecipação da maioridade de D. Pedro II e a consequente
formação do gabinete da Maioridade ou das Famílias (oligarquias).
No
sul, estoura em 1835 a revolução Farroupilha que durará até 1845, quando é
pacificada por Caxias, e que contava com ativíssima participação de maçons:
Bento Gonçalves, David Canabarro, Giuseppe Garibaldi e tantos outros. Também em outubro de 1835, o Supremo
Conselho resolveu demitir Montezuma do cargo de Soberano Grande Comendador e
nomear, em seu lugar, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, e como adjunto o seu
irmão carnal José Bonifácio, que era GrãoMestre do GOB, ligando, assim,
momentaneamente, as duas obediências independentes. Outro golpe viria a sofrer
o Supremo Conselho, em novembro de 1836. Com o agravamento do estado de saúde
de José Bonifácio, alguns membros do Conselho resolveram tomar o poder ou
dissolvê-lo para criar outro em seu lugar. José Bonifácio, ainda acamado,
decidiu, por decreto de 10 de abril de 1837, expulsar o grupo rebelde, liderado
por Cândido Ladislao Japiassu, que, em troca, forma um Supremo Conselho
irregular.
Com
a morte de José Bonifácio, em 1838, é nomeado Soberano Grande Comendador o
Conde de Lages João Vieira de Carvalho uma espécie de Austragésilo de Athaíde,
pelo longo período que presidiu o Conselho, pois governará, ininterruptamente,
até 1847, ficando o Supremo Conselho, neste época, conhecido como o Supremo
Conselho do Conde de Lages. Ainda, neste ano, tentou-se, mais uma vez, unificar
as três obediências, com resultados frustrantes.
No
final de 1842, o Conde de Lages conseguiu a façanha de fundir o Supremo
Conselho com o GOP, rejuvenescendo, assim, as duas obediências que estavam em
processo de exaustão.
No
tocante ao GOB, em 1842, obtém o reconhecimento do Grande Oriente da França e,
com a sua nova Constituição, de feição mais liberal, começava a esvaziar o GOP.
Neste mesmo ano, reorganiza o Grande Colégio de Ritos (Moderno ou Francês,
Adoniramita e Escocês), adaptando-o à nova constituição e passam a ocupar o
prédio do Lavradio, velha aspiração dos maçons do GOB.
Durante
o ano de 1845, o GOB conseguiu, com a decadência evidente do GOP, firmar
tratados de amizade e reconhecimento com as seguintes obediências estrangeiras:
Grande Loja de Nova York, Grande Loja da Prússia e Grande Loja de Hamburgo.
O
quadro geral apresentava, desta maneira, um GOB regular e em crescimento, um
GOP irregular e decadente em fusão com um Supremo Conselho legítimo, mas em
processo de esvaziamento.
Em
1846 um rude golpe concorre para abalar o GOP: seu Grão-Mestre, o futuro
Marquês de Sapucaí em conflito com o Grande Secretário Brito Sanches e
postulante ao Grão-Mestrado, entregava o cargo e, com diversos elementos do GOP
e do Supremo Conselho, que ainda era dirigido pelo Conde de Lages, ingressava
no GOB. Brito Sanches conseguia, assim, acelerar o processo de implosão do GOP.
Em 1846 um rude golpe concorre para abalar o GOP: seu Grão-Mestre,
o futuro Marquês de Sapucaí em conflito com o Grande Secretário Brito Sanches e
postulante ao Grão-Mestrado, entregava o cargo e, com diversos elementos do GOP
e do Supremo Conselho, que ainda era dirigido pelo Conde de Lages, ingressava
no GOB. Brito Sanches conseguia, assim, acelerar o processo de implosão do GOP.
Com a saída do Marquês de Sapucaí assume o Grão-Mestrado do GOP o senador
Manoel Alves Branco que, obviamente entrou, também, em conflito aberto com
Brito Sanches, que saiu para fundar uma nova obediência e um novo Supremo
Conselho. "Diante disso, o conde de Lages, já doente e sem condições de
enfrentar essa dura batalha, entregou a direção do Supremo Conselho LEGÍTIMO a
Luiz Alves de Lima e Silva, o conde de Caxias, o qual, pelo prestígio de que já
desfrutava, era quem poderia salvar a situação. Caxias, então, tomando posse
como Soberano Grande Comendador do Conselho, declara-se independente, saindo da
sede então na rua do Conde e mantendo o título que a Obediência possuía desde a
fusão de 1842, ou seja, Muito Poderoso Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo
e Aceito do Grande Oriente Brasileiro, já que esse título não fora extinto pelo
Passeio, quando da criação de seu Supremo Conselho espúrio. Caxias tornava-se,
assim, além de Soberano Grande Comendador, Grão-Mestre desse Grande Oriente,
que costuma ser tratado, pelos historiógrafos, como "Grande Oriente de
Caxias". A Obediência perduraria até 1852, quando foi feita a sua fusão
com o Grande Oriente do Brasil"([8]).
Em
1846, portanto, existiam, no Brasil, as seguintes obediências: i) GOB de
Holanda Cavalcanti (regular), ii) GOP de Alves Branco (irregular), iii) Grande
Oriente de Brito Sanches (irregular), iv) Grande Oriente de Caxias (irregular),
v) Supremo Conselho de Caxias (legítimo), vi) Supremo Conselho de Japiassu
(ilegítimo), vii) Supremo Conselho de Brito Sanches (ilegítimo).
Em
9 de setembro de 1850 toma posse no GOB o futuro Marquês de Abrantes o Baiano
Miguel Calmon du Pin e Almeida que promoverá, em 1852, a fusão do Grande
Oriente de Caxias e do Supremo Conselho com o GOB.
Enquanto
o GOB florescia, o GOP chegou a contar com somente 10 lojas em 1857! Com a
renúncia, ao Grão-Mestrado do GOP, de Alves Branco, em 1856, assume o Visconde
do Uruguai Paulino José Soares de Souza que, com um seleto grupo, passará,
também, para o GOB no início de 1861.
A
partir de meados do século o grande debate será o abolicionismo, no qual a
maçonaria exercerá um papel de relevo. A “lei Aberdeen” na Grã-Bretanha,
promulgada sob os auspícios da Grande Loja Unida em 25 de março de 1845,
determinava que todo navio brasileiro que transportasse escravos poderia ser
apresado por navio inglês. Como resposta à crescente pressão britânica, o
governo brasileiro promulgou a lei do maçom Eusébio de Queiroz, extinguindo o
tráfico de escravos, em 4 de setembro de 1850.
Desde
1861 até 1863, quando houve a absorção definitiva pelo GOB do GOP, reinava,
finalmente, a paz na maçonaria brasileira. Ao invés de solidificar a
pacificação, a trégua durou muito pouco, pois, no mesmo ano, surge, novamente,
outra grave cisão: a criação do Grande Oriente do Brasil do Vale dos
Beneditinos, daqui em diante denominado de Grande Oriente dos Beneditinos. O
grupo dissidente, liderado por Saldanha Marinho, criou tais tipos de problemas
que forçaram a renúncia do Marquês de Abrantes em 25 de agosto de 1863, sendo
substituído pelo Grão-Mestre Adjunto Bento da Silva Lisboa, Barão de Cayru,
posteriormente aclamado novo Grão-Mestre do GOB em 25 de novembro. O ano de
1864 assiste aos manifestos de Saldanha e de Cayru, explicando ambas as
posições. A 26 de dezembro, Cayru falece, sendo substituído pelo Grão-Mestre
Adjunto, Joaquim Marcelino de Brito, que foi eleito em 26 de abril do ano
seguinte.
Em
1869, influenciados pelo Grande Oriente Lusitano Unido que acabava de se
unificar, Saldanha propõe a Marcelino a reunificação das duas obediências. O
processo de reunificação dura até abril de 1871, quando as eleições concorrem
para implodi-lo. Ainda em 1871, toma posse em março, o Visconde do Rio Branco
como Grão-Mestre do GOB. O Visconde fazia parte do Conselho de Estado, tinha
assinado o tratado de paz com o Paraguai e seu gabinete foi o de mais longa
duração de toda a história do Império, pois durou de 7 de março de 1871 (alguns
dias antes de assumir o Grão-Mestrado) até 25 de julho de 1875. Seu maior feito
foi a promulgação da lei Visconde do Rio Branco, ou, como é popularmente
conhecida, lei do Ventre Livre a 28 de setembro de 1871.
No
início da década de 70 o movimento abolicionista começa a se imbricar com o
movimento republicano, e a maçonaria exerceu profunda influência em ambos.
A
lei Visconde do Rio Branco, também, serviu para desencadear uma crise entre o
alto clero e o governo imperial, na qual as duas obediências maçônicas foram
envolvidas: a Questão Religiosa. O fulcro da contenda foi um discurso pronunciado
pelo Grande Orador Interino do GOB padre José Luiz de Almeida Martins
enaltecendo a Maçonaria e seu Grão-Mestre, o Visconde, pela abolição gradual da
escravidão no Brasil. Com a publicação, no dia seguinte, do discurso pelos
principais diários da Corte, o bispo do Rio de Janeiro D. Pedro Maria de
Lacerda advertiu o padre e exigiu a sua saída da maçonaria. O padre se recusou
e o bispo o suspendeu das ordens. Estava desencadeada a crise política que
acabou por envolver D. Antônio de Macedo Costa, bispo do Pará e D. Vital de
Oliveira, bispo do Recife. A crise perduraria até a formação do gabinete de
Caxias, quando ele consegue, apesar da relutância do Imperador, anistiar os
bispos pelo decreto imperial nº 5.993 de 17/09/1875.
A
Questão Religiosa reacendeu, na maçonaria, a discussão sobre o processo de
reunificação. Em 4 de junho de 1872, aprovaram-se os termos de um acordo para
se organizar um Grande Oriente Unido, que fundisse o GOB com o dos Beneditinos.
Foram realizadas várias eleições, ora elegendo o Visconde do Rio Branco, ora
Saldanha Marinho, com impugnações de ambos os lados e brigas homéricas. Dado o
impasse, os maçons do GOB retornaram à sua grei, tendo o Visconde reassumido o
Grão-Mestrado do GOB, enquanto Saldanha Marinho e seu Grande Oriente dos
Beneditinos se apossavam do Grande Oriente Unido do Brasil.
Em
18 de abril de 1873, era realizado em Itu, na Província de S. Paulo, a primeira
Convenção Republicana do Brasil e, mais uma vez, a maçonaria se fazia presente,
pois, os principais líderes eram maçons.
Castellani
afirma que "no Grande Oriente do Brasil, em 1873, o Sublime Grande
Capítulo dos Ritos Azuis (Moderno e Adoniramita), que sucedera ao Grande
Colégio de Ritos, quando este perdera o Rito Escocês, com a incorporação do
Supremo Conselho, em 1855, ficava reduzido ao Rito Moderno, já que, a 24 de
abril daquele ano, pelo decreto Nº 21, era criado o Grande Capítulo Noachita,
Oficina Chefe da Maçonaria Adoniramita. Só a 23 de novembro de 1874 é que
desapareceria o Grande Capítulo dos Ritos Azuis, com o surgimento do Grande
Capítulo Geral do Rito Moderno, Oficina Chefe do rito"([9]).
O
infausto ano de 1880 assiste a duas mortes célebres: a de Caxias em 7 de maio e
a do Visconde do Rio Branco em 1º de novembro.
IV SINOPSE MAÇÔNICA
DE CAXIAS
Apesar
de existirem inúmeras biografias do Caxias profano, somente se encontra um
trabalho sério sobre o Caxias maçônico: o de Kurt Prober, citado na Introdução
deste estudo.
Kurt
chega, mesmo, a afirmar que "biografias de CAXIAS, quer sobre a sua vida
profana, militar ou política, existem às centenas, mas por curiosa
coincidência, o seu primeiro biógrafo, o Monsenhor Pinto de Campos, sacerdote
pernambucano, e que escreveu sobre a vida de Caxias em 1878, enquanto vivo
ainda, esquiva-se de qualquer alusão maçônica, apesar de ter sido ele um maçom
bastante ativo no passado. Ao leitor desavisado de hoje, este fato por certo
causará estranheza, mas as condenações da Santa Sé, já então postas em vigor no
Brasil, durante a famigerada "Questão Religiosa", tornam tudo
perfeitamente plausível, pois afinal de contas o sacerdote "não queria
perder o seu emprego"...
A
bem da verdade deve aqui ser mencionado, que a magnífica conferência proferida
pelo Marechal Augusto da Cunha Magessi, em 25.8.1965, também não faz qualquer
referência a vida maçônica de Caxias, cousa muito natural uma vez que o
conferencista NÃO era maçom, e sim convidado de honra"([10]).
Tudo
leva a crer que o pai do Ir\ Caxias Francisco de Lima e Silva
não deve ter sido maçom, contudo, o seu tio José Joaquim de Lima e Silva,
Visconde de Magé era maçom de destaque e ativo ali pelos idos de 1831 a 1834.
Muitos escritores, notadamente maçônicos, confundiram o Ir\
Caxias com o seu tio. "Por sinal este parentesco talvez possa tornar compreensível
a..."atitude INEXPLICAVEL..." do futuro Ir\
CAXIAS no caso do maçom MIGUEL DE FRIAS, na ABRILADA, fato tão comentado por
Gustavo Barroso, inimigo fidagal da Maçonaria.
NÃO
PRENDENDO.. Miguel de Frias, Luiz Alves provavelmente assim agiu em atenção ou mesmo
por ordem de seus superiores hierárquicos JOSÉ JOAQUIM e MANOEL DA FONSECA, seus
tios e talvez, quem sabe, mesmo por ordem do próprio Regente Feijó, o que por
sua vez iria explicar o fato, de CAXIAS NÃO TER PRENDIDO FEIJÓ ao ter ocupado
Sorocaba em 1842"([11]).
Inexistem,
até os dias de hoje, provas documentais sobre a loja e a data onde o profano Caxias
teria sido iniciado. "Embora não haja documentação "oficial"
sobre o ingresso de CAXIAS na maçonaria e sobre sua atividade maç\antes
de 1847, pelo menos até agora não apareceu, é isto uma circunstância
perfeitamente explicável, pois, sendo ele católico praticante, posteriormente muita
"gente boa" tinha todo o interesse em fazer desaparecer qualquer
vestígio de ter ele pertencido à Ordem"([12]).
Prober
supõe que Caxias deve ter sido iniciado numa loja do GOP ou numa das três lojas
do Supremo Conselho do Conde de Lages, antes da fusão de 1842, na Corte, entre
30 de junho de 1841 e 17 de maio de 1842, quando ainda era brigadeiro e Barão.
"A iniciação com mais probabilidade se teria realizado na Loja S. PEDRO DE
ALCANTARA, em 1842, sob o malhete do Dr. Thomaz José Pinto de Serqueira 33
...Poderiam ter sido os seus padrinhos: O próprio Conde de LAGES João Vieira de
Carvalho que, sendo Ministro da Guerra, em 12.12. 1839 escolhera o então
CORONEL LUIZ ALVES para pacificar a BALAIADA no Maranhão, ...Ou então
ingressara pela mão de seu amigo dileto José Clemente Pereira, o Ir\
CAMARÃO, Ministro da Guerra..."([13]).
Castellani,
ao pinçar alguns traços biográficos de Caxias, afirma que "foi iniciado
numa das Lojas do Grande Oriente do Passeio, integrando-se ao Grande Oriente do
Brasil, a partir da fusão deste com o Supremo Conselho, em 1852"([14]).
Em
outubro de 1842, o Visconde de Albuquerque, na vida profana Ministro da Guerra
e, na maçonaria, Grão-Mestre do GOB nomeia o Ir\ Caxias para acabar com a
interminável rebelião Farroupilha. Quase todos os líderes da revolução dos
Farrapos eram maçons, tanto que na bandeira Farroupilha aparecem as colunas
maçônicas J\ e B\ e o Ir\
Bento Gonçalves chegou a ser Ven\ da Loja Filantropia e Liberdade
de Porto Alegre. Os ideais maçônicos podem ser visualizados, tanto nos
proclamas e manifestos de Caxias quanto no Manifesto da Paz de 28 de fevereiro
de 1845, assinado pelo Ir\ David Canabarro.
Ao
voltar dos pacificados pagos do Sul, o Ir\ Caxias encontrou as lojas do
Supremo Conselho incorporadas ao GOP pelo tratado de 4 de novembro de 1842.
Assiste ao cisma perpetrado no GOP pelo Ir\Brito Sanches, Marechal de Campo
e Grande Secretário do GOP, que tendo sido derrotado pelo Ir\
Manoel Alves Branco para o Grão-Mestrado do GOP, resolve, como é praxe, em
alguns momentos, na maçonaria brasileira, "criar" uma nova
obediência. Com a eleição de Alves Branco, este resolve reclamar os seus
direitos de Lug\ Ten\ do
Supremo Conselho, com o que não concorda o alquebrado Conde de Lages. Com a
precária e caótica situação do GOP, o Conde de Lages denuncia o referido
tratado de 1842 e nomeia Caxias seu sucessor. Kurt Prober apresenta um documento
provando que a fundação do Supremo Conselho de Caxias e do Círculo Maçônico
Independente deu-se a 20 de março de 1847, pois, "para poder desincumbir-se
da FUNDAÇÃO de seu Círculo Maç INDEPENDENTE o Conde de Caxias pediu licença do
Comando das Armas da Côrte, o que conseguiu em 22.3.1847, só se apresentando da
licença em 11 de Maio do mesmo ano, quando os trabalhos mais prementes da
Instalação já tinham sido realizados"([15]).
Castellani
afirma que diante das desavenças "o Conde de Lages, já doente e sem condições
de enfrentar essa dura batalha, entregou a direção do Supremo Conselho LEGÍTIMO
a Luiz Alves de Lima e Silva, o conde de Caxias, o qual pelo prestígio de que
já desfrutava, era quem poderia salvar a situação. Caxias, então, tomando posse
como Soberano Grande Comendador do Conselho, declara-se independente, saindo da
sede então na rua do Conde e mantendo o título que a Obediência possuía desde a
fusão de 1842, ou seja, Muito Poderoso Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo
e Aceito do Grande Oriente Brasileiro, já que esse título não fora extinto pelo
Passeio, quando da criação de seu Supremo Conselho espúrio. Caxias tornava-se, assim,
além de Soberano Grande Comendador, Grão-Mestre desse Grande Oriente, que
costuma ser tratado, pelos historiógrafos, como "Grande Oriente de
Caxias". A Obediência perduraria até 1852, quando foi feita a sua fusão
com o Grande Oriente do Brasil"([16]).
Com
a fundação de seu Oriente Independente, Caxias contou com pouquíssimas lojas, dentre
as quais podem ser citadas: 23 de Julho, de Saquarema (RJ); 2 de Dezembro,
União Escocesa e Triunfo do Brasil, todas do Rio de Janeiro; e 24 de Junho de
S. Gabriel (RS).
Um
dos primeiros documentos que começam a aparecer sobre o Caxias maçônico, partir
de 1847, foi o de uma solenidade na Loja União Escocesa na qual se comemorava a
posse do Conde de Caxias como Soberano Grande Comendador e Grande Inspetor do
Grau 33. Convém salientar que, a hoje quase sesquicentenária, ARLS União
Escocesa é a Loja Mãe do velho Kurt!
Kurt
apresenta um facsímile deste libreto de 1847 com o seguinte título na capa: Discursos e Mais Peças D'Achitectura
Recitada por Ocasião da Posse das Luzes e Mais Dignidades da Sempre Aug\
e Resp\
L\Un\
Esc\
aos 26 dias do 5º mez da Verd\ L\ de 5847 e
oferecidas AO SOB\ GR\
COMM\
INSP \G\
33\CONDE
DE CAXIAS.
S O N E T O
Da
brazilica gente heroe famoso
Preclaro
general, bravo guerreiro,
Dos
louros marciaes feliz herdeiro,
E
o sanct'elmo da paz mais assombroso;
Do
Parlamento ornato portentoso
Em
prol da Patria sabio e justiceiro,
Cantar
venho teu nome prazenteiro
Brandindo
a fraca lyra fervoroso;
Da
gran MAÇONERIA brilho e gloria,
O
illustre povo honras, que te venéra,
Qu'a
aureola te cingiu tão meritoria;
A
ESCOCEZA UNIÃO hoje se esméra
Em
teu nome inscrever na sua historia,
Pois
risonha lh'abriste propicia éra
Pelo Ir\Francisco Leal Passos
C\R\+
Alguns
meses de gestão e o Ir\Conde de Caxias começou a sentir
a politicalha, a vaidade e os interesses pessoais que assolavam a maçonaria da
sua época. "Naturalmente CAXIAS não era homem para viver num ambiente
destes por muito tempo, e vendo a pasmaceira em que naturalmente também deve
ter caido o SEU círculo, que fora obrigado a formar por mera força das circunstâncias,
e talvez mesmo para atender ao pedido de um amigo moribundo, sentiu desde logo
a necessidade de consolidar a posição do seu SUPREMO CONSELHO no Brasil, que necessariamente
teria de funcionar aliado a uma potência maçônica vigorosa.
Assim
aproveitou a primeira oportunidade que vislumbrou para ver se conseguia fazer
uma FUSÃO com o grêmio mais forte daquela época, então dirigido pelo Gr\ M\
Antônio Francisco de Paula e Holanda Cavalcanti de Albuquerque, cuja
administração já demonstrava nítido cansaço, depois de continuamente reeleito
desde 1837"([17]).
Encarrega
oficialmente, em julho de 1849, o Ir\João Fernandes Tavares a iniciar
o processo de negociação com o GOB sobre a fusão do seu Supremo Conselho, o
Conselho de Montezuma, o do Conde de Lages, em suma, o Supremo Conselho
legítimo do Brasil.
Kurt
apresenta, durante a sua administração no Supremo Conselho, quatro documentos
com a assinatura do Ir\ Caxias: i) o documento acima
nomeando João Fernandes delegado junto ao GOB para tratar da fusão (17/07/49);
ii) carta constitutiva da loja Perfeita Amizade do Rio de Janeiro (02/08/50);
iii) carta capitular da mesma loja (16/09/50); iv) carta constitutiva da loja Piratininga
de São Paulo (16/09/50).
A
fusão do Círculo Maçônico (espúrio) mais o Supremo Conselho (legítimo) de
Caxias com o GOB só foi ultimada após a volta da campanha do Sul contra Oribe e
Rosas, lá pelos meados de 1852.
Os
documentos oficiais sobre esta fusão, ainda, não foram encontrados, apesar de
que "não existe motivo APARENTE para o fato de o GOB, nunca ter feito
alarde pelo menos até agora não apareceu UM ÚNICO DOCUMENTO OFICIAL sobre esta
FUSÃO, quando isto seria perfeitamente justificável, pois em última analise foi
por ela que o GOB conseguiu o seu SUPREMO CONSELHO "REGULAR E LEGÍTIMO",
que diziam existir, mas que nem de suas várias Constituições constava `de
fato´"([18]).
Aqui
convém abrir um pequeno parênteses sobre as diversas Constituições do GOB, naquela
época. A primeira Constituição do GOB, após a sua reinstalação, foi a de
dezembro de 1832; a segunda entrou em vigor em 1º de setembro de 1839; a
terceira, uma das mais liberais e tolerantes no intuito de atrair lojas do
Passeio, foi sancionada em 12 de janeiro de 1842; a quarta, promulgada a de 15
de setembro de 1852, ano, também da fusão com o Supremo Conselho legítimo de
Caxias, causou uma verdadeira celeuma, pois previa um mandato de cinco anos
para a Alta Administração, criava o primeiro timbre do GOB, colocava fim às
liberalidades da Carta de 1842, que permitia que o GOB fosse tomado de assalto
por elementos perniciosos, muitos advindos do GOP, chegando mesmo a criar um
Grande Oriente Revolucionário!; a quinta, a de 26 de fevereiro 1855, tentou por
fim às contendas entre as Constituições de 42 e 52, pois algumas lojas seguiam
a primeira e outras, a segunda, e teve o mérito de separar os ritos,
"tendo destacado o Rito Escocês, com a incorporação do Supremo Conselho
legítimo, trazido por Caxias. Assim, administrativamente, o Supremo Conselho
passava a ser independente do Grande Oriente, o que não acontecia com os outros
dois ritos Moderno e Adoniramita que ainda faziam parte do Grande Colégio de
Ritos, que havia sido reorganizado por Manuel Joaquim de Menezes, em 1842.
Assim, com a promulgação dessa nova Constituição, foi necessário liquidar com o
Grande Colégio de Ritos e criar, para os ritos Moderno e Adoniramita, o Sublime
Grande Capítulo dos Ritos Azuis, cujo Regulamento Geral seria aprovado a 7 de
maio de 1858"([19]); a sexta Constituição
promulgada em agosto de 1862; e, finalmente, a sétima, em 29 de abril de 1865,
após a grande cisão que resultou no Grande Oriente dos Beneditinos de Saldanha
da Marinho.
Kurt
Prober prova a fusão "por tabela", dada a inexistência de documentos
oficiais. Alinhava dois documentos: i) o Manifesto do Grão-Mestre Provincial do
Rio Grande do Sul João Affonso de Freitas Amorim que relata explicitamente a
fusão do Grande Oriente do Brasil e do Supremo Conselho do Conde de Lages em
1852 e ii) o Manifesto do Barão de Cayru de 1864 que aborda a notícia, como um
dos únicos documentos da época, da criação de um Grande Oriente Revolucionário,
causado pela Constituição de 1852, que trazia nos seus artigos 333 e 334 a previsão
de um Supremo Conselho, "prova mais do que convincente de que, se a fusão
ainda não esta concluída, nesta altura dos acontecimentos estava para ser sancionada
a qualquer hora, e de fato foi, por certo nos dias em que explodiu a revolta no
GOB, como vimos do Manifesto de 1874" ([20]).
Já
a Constituição de 1855 cita explicitamente, no seu artigo 2º, um Supremo
Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito e no artigo 6º, que constará de 27
membros efetivos.
Em
4 de novembro de 1856, numa das sessões do Supremo Conselho existe a comunicação
de que o Marquês de Caxias tinha sido admitido como filiando livre na Loja 2 de
Dezembro, que desde 1853 trabalhava sob os auspícios do GOB.
No
ano de 1861, num documento do GOB sobre sua Organização e das Grandes Oficinas cita
como cinco membros efetivos do Conselho os seguintes: Visconde de Albuquerque, Conselheiro
Antônio da Veiga, Marquês de Olinda, Marquês de Caxias e Visconde de Sapucai.
Outro
grande mito que precisa ser desfeito é o de ter sido Caxias GrãoMestre do GOB. Segundo
Castellani "ao contrário do que afirmam alguns historiógrafos, Caxias NÃO
FOI GRÃOMESTRE DO GRANDE ORIENTE DO BRASIL, mas, sim, da Obediência oriunda da
dissidência do Passeio, junto com o Supremo Conselho, a partir de 1847. Ele
receberia, sim, depois de sua filiação ao Grande Oriente do Brasil, o título de
GrãoMestre de Honra da Obediência, o qual é simplesmente honorífico, não
envolvendo exercício do cargo"([21]).
A
comprovação do título honorífico é apresentada por Prober, pois, "quanto
ao fato de CAXIAS ter recebido o título de Gr\M\Honorário do GOB, não há dúvida,
pois o seu nome consta como tal no "QUADRO GERAL DO GOB DO LAVRADIO",
publicado em 1871, pg.8, e numa relação publicada no Boletim de 1874, pg. 354
(ref. 1874,301); entretanto, querer insinuar, que tenha recebido tal honraria
em retribuição pela entrega do seu Supremo Conselho ao GOB é inadmissível, e
não se coadunaria com o seu caráter. Também está errada a notícia dada no Bol.
de 1956, pg. 56, onde se diz "que teria recebido o título em 1872",
pois no ano anterior já o possuía"([22]).
Em
1869, Caxias, já como Duque, foi nomeado representante do Supremo Conselho da Inglaterra
no Grande Oriente do Brasil. Exerceu este cargo até a sua morte em 1880.
Em
17 de setembro de 1875, D. Pedro II, contrafeito, assina o Decreto nº 5993 que anistiava
os bispos no momentoso assunto da questão religiosa. A análise de Castellani
sobre o padroado da época e a questão religiosa é muito percuciente, pois
"o clero brasileiro era, tradicionalmente, recrutado em dois grandes
celeiros: um era a Casa Grande das fazendas, onde as "sinhás", na sua
superficial devoção, sonhavam ter um filho padre... o outro era a pequena burguesia,
que fazia todos os esforços para mandar seus filhos para os seminários, pois
esse era o meio para obter instrução gratuita e posição social, que a
insuficiência econômica e a situação social não lhes permitiria ter de outra
maneira. Assim, a história do clero brasileiro, no período imperial, mais do
que as considerações de ordem espiritual, está ligada às de ordem econômico social.
Esse
quadro acabaria por proporcionar uma superficialidade gritante na devoção do
povo, que comparecia às cerimônias religiosas como se fosse participar de um
folguedo, como relata Auguste de Saint Hilaire, depois de assistir, em S.
Paulo, às cerimônias de uma Semana Santa. Mais do que isso, propiciaria a
instalação de um clero, que, muitas vezes, aproveitava-se do fanatismo gerado
pela ignorância e que se adaptara à sociedade patriarcal, dando-se bem com o regime,
usufruindo dos bens que possuía, sem grande propensão à teologia, e, por estar
impregnado pelas superstições e crendices, tolerando-as e avivando-as no povo.
Ao
lado desse clero popular e desse peculiar catolicismo, entretanto, existia
outro, formado por sacerdotes cultos, ciosos de seus princípios teológicos e do
direito canônico, inconformados com as crendices populares, a religiosidade
supersticiosa, o sincretismo religioso e o paternalismo imperial. Formando um
bloco quase hermético, sem ligação com o povo e sua superficial devoção, esses
poucos sacerdotes formavam a elite do clero, e seria essa elite que entraria em
conflito com o governo imperial, dando origem à questão religiosa. Tanto isso é
verdade, que o conflito foi ignorado pelo povo, não havendo nenhum movimento a
favor dos bispos, nem mesmo por parte do clero, já que a maioria dos prelados e
dos sacerdotes evitou, prudentemente já que dependia do Estado tomar partido na
querela"([23]).
Ao
lado desse clero popular e desse peculiar catolicismo, entretanto, existia
outro, formado por sacerdotes cultos, ciosos de seus princípios teológicos e do
direito canônico, inconformados com as crendices populares, a religiosidade
supersticiosa, o sincretismo religioso e o paternalismo imperial. Formando um
bloco quase hermético, sem ligação com o povo e sua superficial devoção, esses
poucos sacerdotes formavam a elite do clero, e seria essa elite que entraria em
conflito com o governo imperial, dando origem à questão religiosa. Tanto isso é
verdade, que o conflito foi ignorado pelo povo, não havendo nenhum movimento a
favor dos bispos, nem mesmo por parte do clero, já que a maioria dos prelados e
dos sacerdotes evitou, prudentemente já que dependia do Estado tomar partido na
querela"([23]).
O
decreto de anistia causou tal celeuma que o próprio Visconde do Rio Branco,
exGrãoMestre do GOB, preferiu deixar o Conselho de Ministros a ter de
assiná-lo. Prober chega mesmo a afirmar que "D.Pedro não se enganara com o
clero..., mas tinha encontrado o "bode" expiatório para a situação
vexatória, que ele mesmo criara, e que por cima lhe aguentaria o galho enquanto
por mais de DOIS ANOS iria passear na Europa"([24]). Kurt põe mais lenha
na fogueira ao dizer que o Ir\, Caxias, também, recebeu
"logo em seguida em meados de 1876 a RETRIBUIÇÃO DO CLERO, ao ser EXPULSO,
POR SER MAÇON, da IRMANDADE DA CRUZ DOS MILITARES DO Rio, confraria da qual
tinha sido Provedor em 1871/72 e ainda era MEMBRO DA MESA ADMINISTRATIVA em
1876"([25]).
Kurt
termina o seu artigo relatando que a Igreja resolveu "esquecer" que o
IrCaxias tinha sido maçom, pois, "ao serem trasladados o restos mortais
de CAXIAS, que no interim se tornara PATRONO DO EXÉRCITO, do Cemitério de
Catumbi, Rio, para o PANTHEON MILITAR, em frente ao Quartel General do
Exercito, foi justamente na Igreja da Irmandade da Cruz dos Militares, na
antiga rua Direita, que o expulsara como MAÇON PESTILENTO, realizada a vigília
cívica da eça armada, das 12 horas do dia 24 até 8 horas de 30.08.49.
Participaram
da trasladação dos ossos do MAÇON CAXIAS nada menos do que 18 bispos e
arcebispos de todos os rincões brasileiros, sendo a missa rezada por Dom Jorge
Marcos de Oliveira, na presença de D. Jaime de Barros Câmara.
A
maçonaria não esteve representada OFICIALMENTE no ato, mas salvou a situação
pelo menos a presença do Presidente da Comissão de Trasladação, o maçom Dr.
NEREU RAMOS, então Vice-presidente da República, e o maçom Capitão Médico TITO
ASCOLI DE OLIVA MAIA, sendo que este ultimo assinou a ATA DA EXHUMAÇÃO EM
23.8.1949"([26]).
"Os
boletins do GOB de 1880 estavam por demais ocupados com a Assembléia Constituinte,
e em noticiar o falecimento da filha do Visc. do Rio Branco, e já em 1.11.1880
o passatempo do próprio VISCONDE, de modo que não houve espaço para sequer
mencionar a morte do seu GRÃOMESTRE HONORÁRIO, que lhe entregara graciosamente
o SUPREMO CONSELHO LEGÍTIMO"([27]).
Sic transit gloria
mundi!
V CONCLUSÃO
Se
a ingratidão foi uma constante, em determinados períodos, da vida do Ir\
Caxias, seja dos políticos, do Imperador, ou da maçonaria, cabe, agora, as
gerações posteriores redimir este hiato.
A
ARLS Duque de Caxias nº 2589 e o Centro de Estudos Maçônicos do mesmo nome tem o
dever de pesquisar, com mais profundidade, o Caxias Maçônico, não só para as
futuras gerações, como também para os maçons de hoje que, com raríssimas
exceções, desconhecem a figura maçônica do Duque de Ferro.
Além
da pesquisa, propriamente dita, a referida Loja deveria atualizar,
periodicamente, o catálogo das Lojas com o nome do Duque, não só no GOB, como
nas Grandes Lojas, nos Orientes Independentes e nos Corpos Filosóficos, para
que se possa estabelecer um intercâmbio de idéias sobre Caxias e uma troca de
experiências.
A
filatelia e a numismática sobre o Duque de Caxias, também, precisa ser
estudada, pesquisada e preservada.
A
promoção de estudos de divulgação de Caxias, principalmente, para as crianças
em idade escolar parece ser de bom alvitre.
As
datas memoráveis de Caxias não deverão passar em branco, principalmente, nas
lojas que ostentam o seu nome.
Que
esta pequena monografia sirva de incentivo para que a maçonaria e as lojas
portadoras de seu imortal nome cultivem o seu glorioso passado.
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[1] CARVALHO,
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[2] CARVALHO,
opus cit., pg. 109.
[3] CARVALHO,
opus cit., pg. 203.
[4] CARVALHO,
opus cit., pg. 162.
[5] CARVALHO,
opus cit., pg. 293.
[6] CASTELLANI,
José, História do Grande Oriente do Brasil A
Maçonaria na História do
Brasil, Gráfica e Editora
do Grande Oriente do
Brasil, 1993, pg. 15.
[7] Feijó foi
iniciado na loja Amizade fundada em 1832, a segunda da Província de S. Paulo e
filiada ao GOP.
[8] CASTELLANI,
José, História do Grande Oriente do Brasil A
Maçonaria na História do
Brasil, Gráfica e Editora
do Grande Oriente do
Brasil, 1993, pg. 123.
[9] CASTELLANI,
opus cit., pg. 156.
[10] PROBER,
Kurt, Duque de Caxias Sua
Vida na Maçonaria, ed. do
autor, Rio de Janeiro, 1972, pg. 6.
[11] PROBER,
opus cit., nota 3, pg. 6.
[12] PROBER,
opus cit., pg. 13.
[13] PROBER,
opus cit., pg. 8.
[14] CASTELLANI,
opus cit., pg. 126.
[15] PROBER,
opus cit., pg. 15.
[16] CASTELLANI,
opus cit., pg. 123.
[17] PROBER,
opus cit., pg. 19.
[18] PROBER,
opus cit., pg. 26.
[19] CASTELLANI,
opus cit., pg. 132.
[20] PROBER,
opus cit., pg. 27.
[21] CASTELLANI,
opus cit., pg. 126.
[22] PROBER,
opus cit., pg. 29.
[23] CASTELLANI,
opus cit., pg. 158.
[24] PROBER,
opus cit., pg. 33.
[25] PROBER,
opus cit., pg. 34.
[26] PROBER,
opus cit., pg. 36.
[27] id.
ibidem., pg. 36.
FONTE: http://www.freemasons-freemasonry.com
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