A PALAVRA HUZZÉ: ORIGEM E SIGNIFICADO

(*) Ir .'. Fábio Pedro Cyrino
A palavra Huzzé é utilizada como exclamação, ou aclamação, dentro dos rituais do Rito Escocês Antigo e Aceito. Sua origem dentro da estrutura do Rito Escocês Antigo e Aceito é incerta; nos primeiros rituais dos graus simbólicos, editados pelo Grande Oriente de França em 1804, não consta nenhuma interjeição ou aclamação quando da abertura e encerramento dos trabalhos maçônicos.
A primeira menção que ocorre a essa exclamação aparece no ritual do Rito Escocês Antigo e Aceito publicado pelo Grande Oriente de Bélgica em 1820 e aparece com a grafia Houzzai, que nada mais é que a transcrição fonética francesa para a palavra inglesa Huzzah.

Nos rituais editados pelo Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito para a Jurisdição Meridional dos EUA em 1872, revisados por Albert Pike, surge a palavra Huzza, sem o 'H'. Já Albert Mackey, em sua Enciclopédia da Maçonaria, publicada em 1873, apenas inclui o verbete Huzza como sendo a saudação do Rito Escocês Antigo e Aceito, sem mais explicações.

Segundo o Oxford English Dictionary, a definição para a palavra Huzzah é a seguinte:
HUZ·ZAH ou também HUZ·ZA Interjeição
 Expressão de alegria ou encorajamento;
 Expressão de triunfo ou aprovação. Substantivo
 Um grito de Huzzah; ou um grito de hurrá;
 Uma saudação.

Etimologia
Variação do inglês arcaico medieval derivada da palavra franco-normanda hisser: hastear

O dicionário não menciona qualquer forma específica de derivação. Considera-se duas origens para a expressão, uma literária e outra militar. Os primeiros registros literários aparecem em 1573 e constam de algumas peças de William Shakespeare, entre elas A Tragédia de Macbeth e Othelo, o Mouro de Veneza. De acordo com um grande número de escritores dos séculos 17 e 18, Huzzah era originalmente utilizada como uma saudação dos marinheiros ingleses e em brindes por alguma vitória, ou mesmo quando grandes oficiais embarcavam ou desembarcavam das naus capitanias.

O escritor e cronista inglês John Dunton (1659- -1733), em sua obra Cartas da Nova Inglaterra, publicada em 1686, registra o costume militar de saudar as autoridades com gritos de Huzzah:

“Nosso capitão ordenou uma salva de tiros completa com todos os canhões de nossa embarcação; a cada disparo, os céus se encheram de gritos de júbilos e saudações e ouvíamos por todos os lados Huzzahs e Hurrahs”.

O poeta Alexandre Pope, em sua obra Um Ensaio sobre o Homem, publicada em 1734, também apresenta Huzzah como uma interjeição de saudação. As últimas menções a Huzzah na literatura inglesa aparecem no século 19.

Charles Dickens, na obra Oliver Twist, publicada entre 1837-39, mostra:

“Fortes batidas, grossas e pesadas, sacudiram as portas e as janelas inferiores, bem como as persianas de toda a construção; e assim que ele deixou de falar, surgiu uma explosão de Huzzahs do meio da multidão”.

E Mark Twain a apresentou na obra Tom Sawyer, publicada em 1876:

“... a população se reuniu em torno de si... e varreu magnificamente as ruas principais com gritos de Huzzahs após Huzzahs!”.

Huzzah pode ser categorizada no mesmo patamar de outras interjeições inglesas, como hoorah ou hooray. De acordo com os dicionários ingleses, sobretudo o Oxford English Dictionary, Huzzah seria uma forma mais literária e dignificante, enquanto que hooray seria uma aclamação mais popular, sendo encontrada nos dialetos das periferias de Londres. Aprova disso pode ser encontrada nos gritos de saudação das equipes de remo do Magdalene College, da Universidade de Cambridge, que celebram suas vitórias com três saudações de“Huzzah”.

De qualquer forma, a origem da palavra não está de toda clara, mas pode estar associada aos gritos de guerra dos pelotões militares, sendo encontrada entre as tropas inglesas, escocesas, suecas, dinamarquesas, alemãs, russas e prussianas. Há até uma palavra muito semelhante, de origem mongol, remontando aos primeiros anos do século 13, com a mesma significação de saudação e júbilo.

O fato é que, ao longo dos séculos 17 e 18, Huzzah foi identificada como um grito de guerra das tropas avançadas da marinha inglesa, bem como do exército e do corpo de granadeiros britânicos. Durante o século 18, três “Huzzahs” eram dados pela infantaria britânica antes do toque de carga, como meio de reforçar a moral das tropas e intimidar os inimigos. O livro Casacas-Vermelhas: Os Soldados Britânicos na Era da Cavalaria e dos Mosquetes, de autoria do brigadeiro Edward Richard Holmes (1946), historiador militar inglês, indica que eram dados dois gritos curtos de “Huzzah”, seguidos de um terceiro mais longo, antes do toque dado pelos clarins. A mesma palavra foi incorporada à Canção dos Granadeiros, de 1745, cuja tradução livre é colocada a seguir:

“E quando o cerco se levanta, Para a cidade nos dirigimos, Para nos unirmos aos citadinos Com gritos de 'Huzzah, meus bons rapazes, Já chegam os Granadeiros!' Toda cidade os recebe. 'Huzzah, meus bons rapazes, Já chegam os Granadeiros!' Quem os conhece não duvida de sua coragem Cantemos, cantemos e exultemos Huzzah para os Granadeiros!”.

De qualquer forma, a vinculação da palavra à Maçonaria é evidente: a pretensa origem do Rito de Heredom, do qual o Rito Escocês Antigo e Aceito derivou posteriormente, vinculado às tropas escocesas que acompanharam o exílio da família Stuart em França, poderia ser uma indicação de sua adoção como grito de aclamação ou de júbilo dado no início e término dos trabalhos. Outro fator é a vinculação do Rito de Heredom e do Rito Escocês Antigo e Aceito às tropas prussianas de Frederico II, segundo consta a lenda, o organizador do Rito na Europa.

O importante é a consciência de que a palavra Huzzah e suas corruptelas afrancesada e aportuguesada, Huzzai e Huzzé, respectivamente, apenas significam um grito de saudação, ou como consta literalmente em nossos rituais, um grito de aclamação, não possuindo nenhum outro significado maior ou esotérico. É apenas um grito de exaltação como os constantes dos demais Ritos, como “Vivat, Vivat, Vivat”, do Rito Adonhiramita, e “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, do Rito Moderno.

(*) Ir .'. Fábio Pedro Cyrino, MI 33° REAA 9° RM
Secretário Estadual de Orientação Ritualística do GOSP

FONTE: REVISTA LUZES (GOSP) 




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3 Comentários

  1. Desde APRENDIZ busquei informar-me, junto aos meus mestres maçons, quanto ás intenções e as origens da exclamação HUZZÉ, aquando da abertura e do encerramento dos trabalhos, exclamação chamada pelo nosso Venerável Mestre. Decorria o ano de 1985, mais precisamente, Outubro daquele ano, ano de minha iniciação como maçom.

    Lógico... Sem muitos efeitos tiveram minhas solicitações, haja vista, que ontem, hoje, quiçá sempre, nossos mestres (excluindo-se uma pequeníssima minoria) não gostam e nem estudam nada sobre a maçonaria. Chegando a ouvir de alguns: Caracas... Este aprendiz é um chato. Porque não procura nos livros. E foi o que sempre fiz, tendo em vista que ainda não tínhamos a Internet e o Google pesquisa.

    Por achismos, sempre desconsiderei, que qualquer associação francesa, seja ela uma tertúlia, uma assembleia, ou corporações de quaisquer estilos, ousasse adaptar quaisquer coisas que viessem ou fossem originárias dos ingleses. Tendo em vista as seculares desavenças entre ambos os povos, que sempre nutriram (e continuam) uma aversão aos estilos das piores e ultras rivalidades, que podemos descrever sem medos de errar como extremada xenofobias.

    Então... Desconsiderando que pudesse ter havido uma corruptela por pronuncias de Huzza ou Huzzay, para Huzzè ou Hoozè em francês, haja vista as xenofobias existentes, levei em considerações o que se fez no sentido aquando se criou a Lenda, ou lendas maçônicas, sobre a existência de um Mestre Maçom, ou a Lenda de Hiram Abiff. Naquelas alturas tomou o autor como sinopses, todas as circunstâncias havidas na criação do Templo de Salomão.

    Nada mais justos (lógico pelos meus achismos) ir de encontro a passagens do Torá (também conhecido no ocidente cristão como Antigos Testamentos) quaisquer exclamações de vitórias ou júbilos. Á deuses ou personagens “heroicas”.

    O difícil de tudo isto, é encontrar um termo em hebraico ou cântico que se possa dar em corruptelas como Huzzè ou Hoozè em francês.

    Tornar-se ainda mais difícil quando vemos que o Ritual do Rito Escocês Antigo e Aceito não é uniforme no universo maçônico. Por exemplo: No ritual utilizado no Brasil, há a utilização do Salmo 133, onde está escrito: “Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união. É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes. Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre”.

    Cântico que David utilizava quando em procissão com seus súditos, se dirigia as portas do Tabernáculo, templo improvisado onde ficava a Arca da Aliança.

    Acresce afirmar que toda madeira utilizada tanto para construção da Arca, quanto para o Santo Santórum era feita de uma Acácia especial, cuja madeira era considerada (e é até hoje para algumas tribos nômades árabes) e que tinha por nome se chamar Al-uzzá!

    EfeGueiros (Mestre Maçom).

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  2. Qual sua relação com o personagem bíblico OZA ou HUZZÉ (II SAMUEL, VI, 6 e I Crônicas, XIII, 9-10;)?

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