Ir.’. Roger Dachez
Ainda
não se tomou conhecimento na Europa, especialmente na França, mas uma
tempestade está prestes a acontecer na Maçonaria Americana. A perturbação, de
que ainda se ignora o quão longe ela irá, vem da Geórgia – uma região
acostumada com furacões, é verdade …
Em
9 de setembro, o novo Grão-Mestre da Grande Loja da Geórgia, uma obediência que
tem cerca de 40.000 membros (oficialmente) e se situa em uma posição invejável
entre as Grandes Lojas norte-americanas em termos de número de membros,
promulgou um “decreto “- os Grandes Mestres americanos têm direitos soberanos –
que proscreve formalmente a homossexualidade e bane das fileiras da Maçonaria
aqueles que são culpados do “pecado”! A decisão bastante desconcertante do
Grão-Mestre não é, contudo, um ataque isolado de loucura: ela foi recentemente
confirmada pelo voto da maioria da Grande Loja e, em boa medida, esta condenou
igualmente a “fornicação” – que parece referir-se a qualquer forma de sexo fora
do casamento!
Em
suma, a maçonaria da Geórgia decidiu verificar com quem dormem os seus membros
e criou a noção de uma “sexualidade Maçônica normal”. Não se interromperá o
progresso … e nem talvez o declínio de uma maçonaria que perde todos os anos
cerca de 4% de seus membros e que ameaça, ao final de algumas décadas, o
completo desaparecimento.
“Os escravos, as mulheres e as
pessoas imorais”
Devemos
ressaltar aqui o fato de a Grande Loja da Geórgia pertencer à maior e mais
poderosa comunidade maçônica do mundo: a das Grandes Lojas “regulares”. Assim
acabamos de adicionar um novo item à lista já longa de landkmarksamericanos:
não se contenta mais apenas com a exclusão das mulheres, agora adiciona-se a
ela a heterossexualidade obrigatória dos homens.
Mas,
acontece que muitos maçons americanos, conscientes da posição delicada de sua
maçonaria, reagem com um vigor que cresce a cada dia. Um líder de opinião
respeitado na América, Paul Rich é ativo em redes sociais denunciando essa
aberração de outra era e se preocupa publicamente com os consideráveis danos
que isso poderia produzir na imagem de uma Maçonaria americana já em estado
muito mau. Ele é acompanhado por muitos Irmãos e as trocas de e-mail que vemos
são edificantes. Em suma: por ocasião dessa decisão inepta, a maçonaria dos EUA
está, talvez, na iminência de uma importante crise moral…
Pois,
muitos são aqueles que apontam, nesta ocasião, os “pecados” da antiga Maçonaria
– incluindo sua longa proibição de Negros, forçados a formar a sua própria
Grande Loja (Constituição de Prince Hall), de resto comparável em todos
os aspectos às Grandes Lojas “Caucasianas”. Alguns já acrescentam, embora
timidamente, que a questão das mulheres é, em última análise, similar. As Constituições de
Anderson – não tão “liberais” quanto aquela – no fundo – já excluía os
“escravos, as mulheres e as pessoas imorais”, o que é compreensível – ainda que
não se justifique! – No contexto social e moral da época, mas a Grande Loja da
Geórgia se apoia firmemente nestes princípios interpretados ao pé da letra para
evitar qualquer ambiguidade, ela designa essa imoralidade suprema: a
homossexualidade. Até mesmo a Igreja Católica, no passado tão carregada neste
campo, tenta sair – com muita dificuldade, é verdade, conforme demonstrou o
Sínodo sobre a família, recentemente. Mas esta comparação, é ela realmente
lisonjeira?
Outros
já evocam as possíveis consequências jurídicas de tal posição, em um país forte
ligado aos direitos civis e à defesa dos direitos das minorias – visível ou não
– garantidos pelaConstituição dos Estados Unidos, um produto puro do espírito
maçônico do final do século XVIII!
Um novo Caso Morgan?
Mas
antes de chegarmos lá, é o efeito global sobre o status da Maçonaria americana
que deve ser considerado. Há quase dois séculos, em 1826, um evento
aparentemente trivial no oeste dos Estados Unidos naquela época, ou seja, o
linchamento de um indivíduo obscuro, o homicídio, supostamente cometido por
maçons, de William Morgan, culpado de ter revelado seus segredos, provocou um
gigantesco escândalo em escala de todo o país e em poucos anos teve como efeito
dividir por dez o número de lojas, então florescentes. Por volta de 1840, a
Maçonaria americana finalmente saiu da crise, enfraquecida, mas sobretudo
completamente transformada, tornando-se essencialmente beneficente e convivial.
É dessa mutação que ela não havia previsto nem desejava que a instituição
tirou, no outro lado do Atlântico, as suas características essenciais até os
nossos dias.
Quem
pode dizer o quão longe irá a onda de fundo que parece se desenhar no horizonte
da Geórgia? Podemos imaginar que a Maçonaria seja a única a emitir uma
condenação sem nuances da homossexualidade, quase criminalizada por uma decisão
surpreendente e tola, não tendo como parceiro nessa posição questionável senão
alguns estados muçulmanos fundamentalistas espalhados por todo o planeta – os
mesmos que também proíbem ferozmente a Maçonaria?
Aliás,
que significam os mais altos valores humanos de que a Maçonaria “regular” fez
sua bandeira por tanto tempo, para não mencionar os valores religiosos que
supostamente a inspiram? A este respeito, os batistas da Geórgia – eles mesmos
fundamentalistas propensos a uma leitura brutalmente literal da Bíblia –
prontamente apoiaram os maçons de seu Estado, mesmo que seus correligionários
tantas vezes tenham condenado a maçonaria e os “Illuminati” como devotos do
satanismo …
Pode-se dizer alguma coisa?…
Poderíamos
dizer, para lavar as mãos, que isso não nos diz respeito, que é a política e
que a Maçonaria “regular” não tem que se envolver em tudo isso – mesmo que ela
desaprove da boca para fora, é claro.
Mas
isso é assim tão certo?
Podemos
defender uma maçonaria exemplar, alguns até dizem “a única autêntica”, mantendo
relações com uma Grande Loja que suporta tais posições éticas?
Certamente,
as nações europeias não têm nenhuma lição a dar aos outros: na Inglaterra, em
1952, o lendário Alan Turing, criador da moderna computação, herói anônimo
durante a guerra foi condenado a um tratamento hormonal horrível para a
homossexualidade, e acabou cometendo suicídio dois anos mais tarde, comendo uma
maçã previamente injetada com cianeto; e não faz muito tempo, um autor maçom
francês “regular”, que eu prefiro não nomear aqui tanto por caridade cristã
quando por conveniência maçônica, qualificava os homossexuais como “anormais”,
evidentemente proibidos nas lojas “regulares”, em sua opinião. Mas tudo isso
pode ainda cobrir-se do véu de um silêncio envergonhado e pudico?
A
Grande Loja Unida da Inglaterra demorou muito, escondendo-se atrás de alguns
argumentos jurídicos muito pobres antes de reconhecer a Grande Loja Prince
Hall. Será que ela age da mesma forma, contra toda a razão, tolerando na
Geórgia – onde os negros não eram bem-vindos nas lojas de brancos – o que em si
é intolerável de um ponto de vista meramente humano?
Na
França, onde as Obediências “liberais e adogmáticas” aproveitam esta
oportunidade para estigmatizar sem muita dificuldade uma Maçonaria concorrente,
entende-se facilmente e quase uma boa luta, por assim dizer, mas o que devem
dizer os maçons regulares, ciosos da respeitabilidade social, da integridade
moral e altura espiritual?
Eles
podem permanecer em silêncio? Os novos tempos que se levantam não são eles
sobretudo para esta Maçonaria, aqueles da palavra verdadeira e da coragem
intelectual? Será ainda necessário que a política da prudência se imponha à
retidão de pensamento e a energia moral? Pode ela, por uma questão de não fazer
ondas, ignorar o que pode ser vergonhoso e humilhante em favor de uma abordagem
pretensamente fraterna e humanista, e especialmente se ela se refere a uma
origem transcendente, tomar o partido de não dizer nada – e assim aprovar
tacitamente?
Esta
é uma questão séria que se lhe coloca. Pode ela se permitir não responder a
ela?
O
futuro nos dirá …
Publicado originalmente em: http://pierresvivantes.hautetfort.com/
Fonte:
Bibliot3ca
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