Por
Antônio Rocha Fadista (*)
Quando
o Império Romano Ocidental sucumbiu aos violentos ataques das sucessivas ondas
de bárbaros migrantes (os godos, os visigodos e os ostrogodos) a construção de
obras de arquitetura foi quase totalmente interrompida. Não havia mais nenhuma
estrutura político-econômica em condições de financiar as grandes obras cívicas
ou eclesiásticas e, como conseqüência, as habilidades bastante desenvolvidas
que antes existiam se foram reduzindo gradualmente. Embora o conhecimento
vitruviano sobrevivesse intacto nos reinos de Constantinopla, ele foi
totalmente extirpado do Ocidente.
Com
a influência bárbara, as formas clássicas puras de Roma transformaram-se
gradualmente numa arquitetura radicalmente diferente – a medieval. O Colégio de
Arquitetos de Roma, cuidadosamente controlado, fora dispersado e idéias e
influências individuais foram assimiladas. Com a perda de uma autoridade
central, grupos autônomos de homens com conhecimento da arte de construir se
reuniram numa espécie de federação de mestres pedreiros – os antecessores dos
maçons medievais, que tiveram controle exclusivo sobre a construção das
catedrais posteriores.
De
acordo com a antiga tradição maçônica, membros refugiados do disperso Colégio
Romano de Arquitetos fugiram para Comacina, uma ilha fortificada do lago de
Como, na Itália, onde resistiram durante vinte anos às incursões dos lombardos
que estavam invadindo o país.
Quando
finalmente foram subjugados, os reis lombardos tomaram os mestres construtores
a seu serviço para os assessorarem nos trabalhos de reconstrução. A partir
desse centro, os maçons, chamados comacinos por causa do seu refúgio
fortificado, espalharam-se por toda a Europa ocidental e setentrional, construindo
igrejas, castelos e obras cívicas para os governantes dos estados nascentes,
que se seguiram ao Império Romano.
Os
comacinos estavam a serviço de Rotharis, um rei lombardo, que a 22 de novembro
de 643 d.C. fez publicar um édito que, entre outras coisas, também se referia
aos comacinos. O título do Artigo 143 desse édito era Dos Mestres Comacinos e
seus Colégios. O Artigo 144 dispunha: “Se uma pessoa qualquer empregar ou
contratar um ou mais mestres comacinos para projetarem uma obra (.......) e
acontecer de um comacino ser morto, o proprietário da obra não será considerado
culpado.” Pode-se inferir daí que os comacinos constituíam um poderoso corpo
contra o qual o rei achava que seus súditos deveriam ser protegidos. Joseph
Fort Newton, em seu livro maçônico The Máster Builders, fala de uma pedra
gravada no ano 712 que mostrava que a guilda dos comacinos estava organizada em
três classes: discipuli et masgistri ( aprendizes e mestres – como do Estatuto
de Bolonha, de 1248) sob as ordens de um gastaldo, um Grão-Mestre.
Como
qualquer outro grupo de técnicos dotados de habilidades apreendidas, os
comacinos ocupavam uma posição de poder e de influência. Na Europa
Setentrional, onde estavam estampados todos os sinais da prática arquitetônica
romana, era solicitada a prática comacina. Como os magos, os adivinhos, os
astrólogos e o geomantes que cercavam a corte, nenhum rei respeitado da Idade
das Trevas podia ficar sem o seu séqüito de comacinos. Durante seu reinado,
eles construíam seus palácios, suas capelas e suas igrejas; por ocasião de sua
morte, impressionantes mausoléus, como o de Teodorico em Ravena, na Itália, ou
de Estevaldo em Repton, na Inglaterra. Essas igrejas e esses mausoléus eram o
repositório do conhecimento dos comacinos sobre a geometria sagrada e a arte de
construir.
O
venerável Bede, em suas Lives of the Abbots, conta-nos que, no ano de 674, o
rei Ecgfrith da Northúmbria decidiu construir um mosteiro para Benedito, o
homem santo local. Para tanto, doou 8.400 acres do seu próprio estado, em Wearmouth.
“Após não mais de um ano da fundação do mosteiro, Benedito cruzou o mar e veio
a Gaul e procurou, encontrou e levou de volta com ele os maçons que deveriam
erigir para ele uma igreja no estilo romano, de ele sempre gostara”.
As
igrejas de pedra da Northúmbria e as obras-primas erigidas após a renascença,
instigadas pelo imperador Carlos Magno, apresentam um desenvolvimento gradual
em complexidade e sofisticação. Um ponto de referência capital neste processo é
a Capela Palatina de Aachen (Aix-la-Chapele). Uma igreja redonda, baseada no
octograma, a capela apresenta um retorno de influências do Império Oriental,
que naquela época ainda florescia ao redor de Constantinopla. Todavia, igrejas
contemporâneas na Inglaterra apresentam um base geométrica mais simples. A
análise de muitas igrejas saxônicas de Essex demostrou que retângulos de raiz
3, 4, 5, 6 e mesmo 7 eram gerados para as plantas baixas por meio de um método
simples de construção. As igrejas de Inworth, Streethall, Checkney, Hadstock,
Little Bardfield, Fobbing, Corringham e White Roding possuem razões
comprimento/largura que se aproximam da raiz 3. A proporção geométrica, incomum
em tempos posteriores, era o resultado do esboço dos fossos da fundação por
meio de uma corda, justamente como a prática egípcia antiga.
A
orientação da lenha do centro era determinada pela observação direta do nascer
do sol, no dia do padroeiro. O mestre maçom demarcava a largura
pré-estabelecida da igreja ao sul da linha do centro. Um assistente caminhava
então para a extremidade norte da mesma linha, arreando a corda. Depois,
traçava-se um quadrado e, do quadrado, fazendo-se um retângulo de raiz 2. A
diagonal desse retângulo era então tomada com a corda e dessa maneira se
obtinha um retângulo de raiz 3. O retângulo da planta baixa da nave podia então
ser completado, usando-se a corda para medir a igualdade das diagonais.
Esse
método parece particularmente saxão, pois a igrejas normandas posteriores da
área foram construídas geralmente com base no quadrado duplo, o ad quatratum.
Os maçons de Carlos Magno utilizaram os métodos adotados posteriormente pelos
normandos, e esses métodos “bárbaros” foram relegados à arena da arquitetura
secular. A arquitetura de Carlos Magno e as suas imitações foram revitalização
consciente da corrente principal dos métodos romanos, utilizados na famosa
igreja redonda de San Vitale em Ravena, na Itália. Essa estrutura microcósmica,
cujo objetivo foi demonstrado aos cognoscenti por um ladrilho feito na forma de
um labirinto, foi construída no século VI por maçons de Constantinopla que
haviam absorvido a geometria asiática e alguns dos seus métodos de construção.
Todavia, foi só muitos séculos mais tarde que um influxo de idéias árabes foi
combinado com uma consciência romana desenvolvida para criar as grandes
catedrais do período gótico. A infusão de idéias emprestadas do mundo islâmico
marcou um desenvolvimento importante na história da arquitetura sagrada
ocidental. As idéias e as práticas geométricas do mundo clássico tardio foram
aprendidas pelos árabes quando eles conquistaram cidades universitárias de
importância vital, como Alexandria, muitos séculos antes. Textos como os
Elementos de Geometria de Euclides foram traduzidos para o árabe e aplicados à
nova arquitetura sagrada exigida pela nascente fé do Islã. Grandes progressos
em astronomia, arquitetura e alquimia foram conseguidos pelos árabes, que antes
estavam muitos séculos atrás de suas contrapartes européias.
Por
volta do século XI, todavia, com a emergência de estados nacionais relativamente
estáveis, as técnicas de construção na Europa chegaram a um alto ponto de
perfeição no estilo românico, sobrepujando até mesmo as melhores obras
apresentadas pelo velho Império Romano.
A
construção com largos arcos fora dominada e os construtores haviam aperfeiçoado
tanto as junções de argamassa, que um cronista do século XII comentou que as
pedras da catedral de Old Sarum, iniciada em 1102, estavam tão bem colocadas,
que se poderia pensar que toda a obra feita era feita de uma única rocha.
A
esse elevado nível de perfeição somou-se um novo elemento – o arco pontiagudo,
uma revolução geométrica originária da arquitetura islâmica. Afirma-se que o
arco pontiagudo teve origem na Europa, no Mosteiro beneditino italiano de Monte
Cassino, construído entre 1066 e 1071. Alguns, se não todos eles, dentre os
maçons que trabalharam nesse projeto, eram cidadãos de Amalfi, uma república
comercial italiana que possuía postos comercias em lugares tão distantes quanto
Bagdad. Com esse intercâmbio, foi só uma questão de tempo para que os segredos
da geometria dos maçons árabes fossem incorporados à arquitetura sagrada
ocidental, para formarem um novo estilo transcendente – agora conhecido
universalmente por estilo gótico, nome pejorativo que lhe foi dado no século
XVIII.
O
arco pontiagudo que introduziu essa revolução é produzido pela interseção de
dois arcos. Em sua forma perfeita, esse arco é a metade posterior do vesica
piscis. É estranha a coincidência de que o patrono de Amalfi seja Santo André.
Aquilo que é tido como suas relíquias ainda repousa lá e sua efígie dourada
segura um peixe – o emblema do VESICA.
Embora
os pacíficos comerciantes de Amalfi importassem o arco pontiagudo, os outros
segredos maçônicos do Islã não foram conseguidos sob a égide do comércio. A 27
de novembro de 1095, o Papa Urbano II conclamou a cristandade para liberar os
lugares santos e devolvê-los ao cristianismo. Milhares de homens piedosos,
sacerdotes, monges, mercenários, soldados regulares e oportunistas atenderam ao
chamado do Pontífice. A Primeira Cruzada foi bem sucedida. Nicéia foi capturada
em 1097; no ano seguinte caiu Antioquia e a 15 de julho de 1089 a cidade santa
de Jerusalém; rendeu-se aos exércitos do cristianismo após um cerco de apenas
seis semanas.
Com
esse sucesso, os “francos” como eram conhecidos os cristãos ocidentais,
prosseguiram na obra de consolidação de suas conquistas. Como na Inglaterra,
trinta anos antes, o país conquistado foi tornado seguro para os novos senhores
por meio do reforço de velhos castelos e com a construção de novos, em pontos
estratégicos por todo o país. Os maçons empregados para a construção desses
castelos utilizaram o trabalho escravo, que sem dúvida incluiu uma boa
quantidade de maçons árabes, pois seus desenhos incorporam muitas
características desconhecidas dos artífices europeus.
O
entusiasmo dos maçons daquele período são demonstrados pela rapidez espantosa
com que as novas idéias conquistaram a Europa. A estrutura completa da abóbada
de pedra reforçada com traves, conhecida apenas na Pérsia e na Armênia antes do
ano 1100, foi utilizada na distante Catedral de Durham já em 1104. Em Gales, a
Abadia de Neath foi construída por um dos maçons do rei Henrique I, Lalys, um
prisioneiro de guerra sarraceno. Suas técnicas, aprendidas no Oriente Médio de
uma tradição isolada, foram sem dúvida transmitidas aos maçons ingleses e
galeses que trabalharam com ele nesse projeto.
Outro
elemento importante na época, foi a redescoberta das obras de Euclides, o
geômetra grego. Sua obra fora considerada perdida para a Europa, com a queda do
Império Romano e sobrevivera apenas nas traduções árabes. Por volta de 1120, o
erudito inglês Adelard of Bath fez uma tradução dos Elementos do árabe para o
latim, que os tornou acessíveis pela primeira vez aos geômetras e maçons
europeus. O modo de transmissão dessa obra seminal para a Inglaterra não é
conhecido, mas os Cavaleiros Templários, que eram o repositório de muito saber
arcano tradicional, podem tê-la obtido de uma fonte conquistada.
Ao
longo dos séculos XII e XIII, foram desenvolvidas e refinadas as primeiras
formas góticas. Os métodos islâmicos foram estudados e incorporados numa nova
linguagem forma que passou de mão em mão com uma explosão de simbolismo
místico. As grandes catedrais dessa época, como as de Chartres e de Paris
(Notre Dame), apareceram numa forma completamente nova, num tempo consideravelmente
curto. Sua construção, executada com um fervor literalmente religioso, continua
sendo uma proeza de organização.
Uma
tradição isolada, mas paralela da arquitetura de igrejas, estava seguindo o seu
curso. Conquanto as igrejas redondas configurem um tema contínuo, embora
fragmentado, ao longo de toda a arquitetura sagrada do mundo cristão, elas
ocupam um lugar especial e um pouco herético no esquema da geometria sagrada. O
edifício redondo ocupou um lugar especial na iconografia cristã, pois fora a forma
escolhida para o Santo Sepulcro que uma vez marcara o lugar do túmulo de Cristo
e o centro do mundo. Como a forma circular desses edifícios representasse a
reprodução microcósmica do mundo, as igrejas redondas representavam um toda a
pare os micro-cosmos locais que ocupavam o omphalos geomântico local.
As
igrejas redondas derivaram originalmente dos templos pagãos primitivos da mesma
forma. Os templos romanos redondos de Tivoli e Spalato, que sobreviveram até
aos tempos modernos, são típicos dos santuários que inspiraram os geômetras
sagrados cristãos. O templo de Tivoli foi baseado no modelo grego, com colunas
externas, mas o de Spalato, que fazia parte do complexo do palácio do imperador
Diocleciano, possuía colunas internas. Esse templo, planejado segundo o
octógono, como muitas igrejas templárias posteriores, formou o protótipo dos
santuários cristãos primitivos, tais como o de San Vitale em Ravena, que por
sua vez influiu sobre o Santo Sepulcro em Jerusalém e sobre a Capela de Carlos
Magno.
Como
os templos pagãos, as igrejas redondas eram micocosmos do mundo. Na Idade Média
tardia, elas tornaram-se a prerrogativa dos Cavaleiros Templários. A Ordem do
Templo foi constituída em 1118 em Jerusalém, com a função aparente de prover
proteção aos peregrinos da
Terra
Santa. O seu poder cresceu, e logo a Ordem se tornou fabulosamente rica e capaz
de erigir capelas e igrejas por toda a Cristandade (vide a igreja do Templo em
Londres). A forma redonda da igreja tornou-se relacionada com a Ordem, e no
centro de suas igrejas não havia nenhum altar, mas sim um cubo perfeito, de
pedra talhada, que era um dos mistérios dos Templários.
A
ordem foi extinta em 1314 e muitos dos seus oficiais mais graduados foram
sentenciados à pena de morte pelas autoridades de Filipe V de França. Antes de
sua extinção os Templários construíram templos redondos por toda a Inglaterra:
Cambridge, Bristow, Canterbury, Dover, Warwick. Mas o de Londres era a sua casa
principal, por ter sido construído segundo a forma do templo que está próximo
do sepulcro de Cristo, em Jerusalém. Atualmente, apenas seis igrejas redondas
existem nas Ilhas Britânicas, duas delas em ruínas. A igreja do Templo em
Londres teve a sua cúpula destruída pelos alemães na 2ª Guerra Mundial, mas foi
reconstruída.
Como
já dito, as igrejas redondas pertencem a uma tradição separada da corrente
principal da geometria sagrada eclesiástica. Com a extinção dos Templários, a
forma redonda das igrejas foi eliminada, até que a Renascença a redescobrisse,
diretamente das fontes pagãs antigas. Mas foi novamente suprimida, quando a
Igreja reconheceu as suas origens. A forma redonda, ao contrário de outros
padrões tais como a Cruz Latina, ao representava o corpo de um homem ou o corpo
de Deus. Ao contrário, representava o mundo, o domínio da matéria e, em termos
cristãos, as forças satânicas (na Idade Média satã era figurado como Rex Mundi
– o rei do mundo). No costume Templário, essa materialidade era enfatizada pelo
cubo que se situava no centro da rotunda. O cubo no interior do círculo
representava a terra nos céus, a fusão dos poderes considerados heréticos pelos
cristãos medievais, donde a perseguição aos alquimistas, magos e heréticos que
se empenhavam nessa fusão. Com esse simbolismo exposto, não foi difícil provar
a acusação de heresia contra os Templários. Princípios islâmicos públicos,
derivados da ala mística do maometismo, os Sufis, só serviram para amaldiçoar
ainda mais os Templários.
Por
outro lado, o conhecimento técnico islâmico era de outra natureza. E apareceu
por meio de um conjunto de circunstâncias, um segundo período de influência
islâmica que deveria varrer o gótico chamado puro de Chartres. Durante o século
XIII, as hordas mongóis saíram de sua base na Ásia Central e se converteram
numa séria ameaça ao Oriente Médio e à Europa. Após a primeira fase de
expansão, o Império Mongol estava consolidado com seu posto avançado na Pérsia,
sob o governo de um vice-rei, que atendia pelo título de ILKHAN. Tendo deixado
de representar uma ameaça à Cristandade, os mongóis logo foram vistos como
aliados contra os turcos. Vários reis cristãos enviaram emissários a sucessivos
IlKhans, a fim de cultivar essa aliança. Digno de nota foi o Olkhan Arghun
(1284-1291), que manteve relações com muitos estados cristãos. Ele chegou a
enviar uma embaixada a Londres, em 1289. Em troca, o rei Eduardo I da
Inglaterra enviou uma missão comandada por Sir Geoffrey Langley à Pérsia.
Langley participara de uma cruzada com o rei no começo dos anos 70 e viajara à
Pérsia via Constantinopla e Trebizonda, em 1292. Tais embaixadas eram um canal
para a transmissão de novos conhecimentos. Os arquitetos asiáticos misturaram
as suas técnicas com a tradição islâmica persa e aos poucos o seu estilo foi
transformado pelos maçons europeus.
Um
edifício do período Ilkhan que exerceu grande influência na Europa foi o famoso
mausoléu do Ilkhan Uljaitu, em Sultaneih. No início do século XX, o erudito
alemão Ernst Diez fez estudo completo desse memorial. Toda a sua estrutura é
determinada por dois quadrados interpenetrados que formam um octógono. A partir
da base octogonal, derivou-se a elevação, que triângulos e quadrados. A altura
do mausoléu, medida por M. Dieulafoy nos anos 80 do século XIX, é de 51 metros
e o diâmetro interno tem exatamente a metade. Um sistema de razões derivadas
geometricamente, foi a origem básica dessas harmonias, ao passo que o diâmetro
principal dos pilares, que servira aos gregos como módulos, os arquitetos
persas levaram essa medida para as dimensões dos arcos ou domos, em relações
determinadas e proporcionais às outras partes do mausoléu. Neste mausoléu, o
ponto básico de partida foi a dimensão do diâmetro da câmara mortuária.
A
arquitetura deste mausoléu foi o ponto de partida que influenciou o octógono da
Catedral de Ely, no leste da Inglaterra. A origem oriental desta geometria não
deteve os mestres maçons no desenvolvimento de seus projetos. Como tecnólogos
progressistas, eles acolheram com prazer as novas idéias orientais e as
incorporaram às suas últimas obras. Os princípios transcendentes foram adotados
por homens de saber, cuja compreensão do simbolismo os capacitara a trabalhar
com novas e insuspeitadas técnicas.
O
conhecimento acumulado da Pérsia e de outros países do Oriente Médio foi logo
aumento, com informações provenientes de outros lugares. Em 1293, missionários
cristãos foram da Itália à China, e em 1295 Marco Pólo retornou a Veneza, vindo
de Pequim. Com esse intercâmbio sem precedentes, eram inevitáveis novas
geometrias sagradas. Um exemplo disso e o Grande Salão da Piazza della Ragione,
em Pádua. Foi desenhado por um frade agostiniano chamado Frate Giovanni, por
volta de 1306. Giovanni trabalhara em muitos lugares da Europa e da Ásia e
trouxera planos e desenhos dos edifícios que vira. Em Pádua, reproduziu um
vasto teto de vigas que vira na Índia, e que media 240 por 84 pés.
Outras
influências orientais podem ser demonstradas pelo aparecimento simultâneo de
temas exóticos em lugares bastante distantes entre si. O arco de gola, em que
os arcos que formam o arco são voltados para fora e continuam como uma
característica arquitetônica sobre a porta ou janela, apareceu simultaneamente
tanto em Veneza quanto na Inglaterra. Detalhes da porta de St. Mary Redcliffe,
em Bristol, e também na catedral dessa cidade e no castelo de Berkeley, também
apresentam uma influência oriental inconfundível, que pode ser comparada com a
obra de Lalys, em Neath.
As
visitas de registradores desses detalhes arquitetônicos locais, tais como as de
Simon Simeon e Hgh, o Iluminador, na Terra Santa em 1323, serviram para
reforçar o interesse nos círculos monásticos pelo desenho oriental. O estilo
“perpendicular” na Inglaterra, que surgiu por volta do final do século XIV, foi
prenunciado pelos hexágonos alongados dos edifícios muçulmanos egípcios do
século XIII. Os elementos verticais que cruzam a curva de um arco, uma
característica importante do desenho da Capela do King’s College em Cambridge
(iniciada em 1446), já existiam no Mausoléu de Mustapha Pasha no Cairo,
construído entre 1269 e 1273.
Os
maçons da Europa, embebidos em conhecimentos geométricos, assimilaram
prontamente as técnicas da arquitetura simbólica do Islã, realçando-a e
trazendo-a para uma nova era. Eles nos legaram, ao longo dos séculos todas as
obras de arte que são o deleite dos olhos e dos sentidos dos amantes da cultura
e da beleza universal. Devido a isso, os nossos Irmãos Operativos são
verdadeiros Benfeitores da Humanidade.
(*) Ir.’.
Antônio Rocha Fadista
M.'.I.'.,
Loja Cayrú 762 GOERJ / GOB - Brasil
Fonte: Maconaria.net
Fonte: Maconaria.net
2 Comentários
O Ir.´. Fadista é um ícone da nossa Ordem. Consegue em seus trabalhos escrever assuntos profundos numa linguagem que encanta. Parabéns por mais esta joia. Prof.A.Marins, 33 - ARLS Jonathas Abbott Filho - 3340 - GOERJ / GOB
ResponderExcluirA matéria é de conteúdo relevante. De minha parte discordo do uso da palavra cristão e cristianismo que o autor usa para referir-se aos seguidores da doutrina de Jesus de Nazaré. Entendo que esta doutrina foi tão profundamente alterada e modificada pelos teólogos dos séculos II e seguintes, que o que temos a partir do séc. IV, com o Concílio de Nicéia (ano 325), patrocinado pelo Imperador Constantino e demais concílos é um arremedo da doutrina original. Entendo que o correto é chamá-los de anti cristãos. Se quer entender do que falo, compare a posição do Papa atual, algo como um Rei do Estado Papal chamado Vaticano e a mensagem de amor de Jesus utilizada pelo Clero Romano, deturpando-a para atender seus interesses materialistas e de dominação de consciências. Não concordando com essa posição, não tome partido contra. Deixe que o tempo e os fatos futuros lhe mostre o que agora não podes aceitar. Souza Lima/33 - BARLS Estr:. Vesp:. 80 - GLMERGS
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