Vivemos
a cada dia situações que nos fazem agir de maneira diferente. É a sociabilidade
que a própria vida e as relações interpessoais exigem. Assim, somos um dentro
das nossas casas quando nos relacionamos com nossos familiares e totalmente
diferentes no trato com colegas de trabalho, com superiores hierárquicos ou
subordinados, quando dirigimos no transito e quando estamos num encontro
informal com amigos, etc.. Nossas atitudes se moldam quase automaticamente
dependendo do momento vivido, e as normas legais e sociais regulam o
comportamento mais adequado. De tempos em tempos essas regras vão modificando
ou se atualizando conforme os novos costumes e a tradição cultural, moral e
ética, além da religiosidade do grupo social. Isso é normal e faz parte da vida,
mas também existe o que comumente chamamos de “máscara”. Diferente da boa
educação e do bom trato, a “máscara” é usada para esconder o verdadeiro
caráter, a sincera opinião, e a real intenção de quem utiliza desse subterfúgio
ardil. A “máscara” é na verdade uma blindagem usada pelo hipócrita para ser
aceito.
O
verbete hipocrisia no “Dicionário Aurélio” é definido como a “afetação duma
virtude, dum sentimento louvável que não se tem. Impostura, fingimento,
simulação, falsidade. Falsa devoção”. As pessoas honradas são orientadas pela probidade,
sinceridade e amor-próprio. A iniquidade dos hipócritas é a sua própria desdita.
Uma pessoa hipócrita é infeliz, vive falando e agindo contra sua própria
realidade, pois condena coisas que ela mesma faz na maioria das vezes às escuras.
O hipócrita assume ter virtudes, crenças, ideais, sentimentos e conduta para
conquistar a admiração e estima dos outros. Aqui uma ênfase especial aos
bajuladores, geralmente incompetentes, que se dignam usar da hipocrisia em prol
de uma ascensão social e/ou profissional, em detrimento da sua desqualificada
autoestima.
“François duc de la Rochefoucauld disse: "A
hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude". O chefe de família
que ensina seus filhos a não roubar e ser fiel e, na empresa, leva pequenos
"mimos" no bolso e trai a sua esposa é hipócrita. A velha senhora que
entra na Igreja cumpre suas obrigações e penitências, auxilia o padre e o
coroinha, é vista como simpática e sincera e no mesmo dia vai à casa das amigas
para fofocar e falar mal dos outros é hipócrita. O Maçom que, em Loja, constrói
textos maravilhosos sobre irmandade, tolerância e honestidade e, ao sair, fala
mal dos seus Irmãos, trama contra outrem e trai sua família é hipócrita”. (Alexandre Aschenbach). Assim o
autentico hipócrita não é o que finge, mas tenta convencer daquilo que ele
mesmo não acredita e
exige do próximo aquilo que não pratica.
Não devemos exigir dos
outros as qualidades que não temos. Criticar os erros alheios é muito fácil,
principalmente depois de cometidos; mas convenhamos, num país onde o salário
mínimo é menor que os gastos de um presidiário, onde os governantes na sua
maioria são corruptos e nunca sabem de nada e sequer “supostamente” receberam
dinheiro desviado, onde os negros, os pobres e os que têm uma orientação sexual
diversa da nossa são veladamente descriminados e a opinião pública se norteia
pelas novelas televisivas e pela grande mídia comprada e manipulada, onde a
saúde é um caos, a educação uma piada de mau gosto e a segurança pública sofre corte
orçamentário, etc., a hipocrisia já está de certa forma entranhada no
inconsciente coletivo nacional. A brutalidade virou rotina, a má educação não
nos atinge, os planos de saúde nos garantem o mínimo necessário para que
tenhamos uma morte digna e os alarmes, grades e seguros protegem o patrimônio
que adquirimos. Isso faz lembrar um pensamento de Albert Einstein que diz: “Gostaria de uma sociedade mais justa, menos
corrupta, com menos hipocrisia, mais digna, com mais amor ao próximo, menos
preconceito, menos rancor e principalmente mais paz na alma”.
Texto
do Ir∴ ANTÔNIO CÉSAR DUTRA RIBEIRO.
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