TELHAMENTO X TROLHAMENTO

Em sua Encyclopaedia of Freemasonry, edição de 1914, Albert Mackey define Tile da seguinte maneira:
 “A Lodge is said to be tiled when the necessary precautions have been taken to prevent the approach of unauthorized persons; and it is said to be the first duty of every Mason to see that this is done before the Lodge is opened. The word to tile is sometimes used in the same sense as to examine as when it is said that a visitor has been tiled, that is, has been examined. But the expression is not in general use, and does not seem to be a correct employment of the term.”
Traduzindo:
 “Uma Loja é dita telhada quando foram tomadas as necessárias precauções para evitar-se a aproximação de pessoas não autorizadas; é considerado o primeiro dever de todo Maçom verificar se isto é feito antes da Loja ser aberta. A palavra telhar é usada algumas vezes com o mesmo sentido de examinar quando se diz que um visitante foi telhado, isto é, foi examinado . Mas a expressão não é de uso geral e não parece ser o correto uso do termo.”
Traduzi tile como telha. Mas a palavra também pode ser traduzida como ladrilho, azulejo etc.
O significado de tile em inglês é o seguinte:

substantivo
1. uma placa fina ou um pedaço dobrado de barro cozido, às vezes pintados ou vitrificado, usado para várias finalidades, como para formar uma das unidades de uma cobertura de telhado, piso ou revestimento.
2. qualquer uma das várias placas ou peças semelhantes, seja de resina, pedra, borracha ou metal.
3. telhado
verbo
1. cobrir com telhas, ladrilhos, azulejos.
Isso posto, e a nos basearmos exclusivamente em Mackey, o correto é telhamento.
O Guarda do Templo do REAA é chamado em inglês de Tiler, cuja tradução seria telhador ou telhadista. E um telhadista tem a função de cobrir o edifício para que não haja goteiras.
No entanto, o Irmão Kennyo Ismail esclarece a questão da seguinte maneira, em http://www.noesquadro.com.br/2011/02/telhamento-ou-trolhamento.html :
Muitos irmãos considerados intelectuais de maçonaria já dissertaram sobre qual o termo correto para o exame de proficiência aplicado em visitantes desconhecidos em Lojas Maçônicas. Isso porque as Grandes Lojas brasileiras adotam o termo “trolhamento” enquanto que o GOB adota o termo “telhamento”.
Praticamente todos os que se deram o trabalho de escrever sobre o referido tema, incluindo aí José Castellani, Rizzardo da Camino, e muitos outros, concordaram que o correto é “telhamento”, justificando que “telhamento” tem relação com telhado, cobertura, que simboliza a proteção da Loja, já que o telhado protege o templo das intempéries. E isso se encaixa perfeitamente com a ação de examinar os visitantes desconhecidos, de forma a impedir a entrada de profanos. Daí, esses autores de trabalhos, pranchas, peças de arquitetura e livros reforçam ainda mais essa teoria dizendo que “trolhamento” é trabalhar com a trolha e argamassa, atividade que não teria relação alguma com “cobertura”, ou seja, com a proteção do templo. Correto? Vejamos:
Consultando o Dicionário Priberiam da Língua Portuguesa (dicionário do chamado “português europeu”, visto que o REAA praticado no Brasil tem suas raízes na França e em Portugal, com muitos maçons brasileiros do século XIX tendo iniciado na Maçonaria quando dos estudos em Lisboa), encontramos, entre alguns poucos, o seguinte significado para a palavra “trolha”: “operário que assenta e conserta telhados”. Sendo assim, no bom e velho português, “trolhamento” é assentar e consertar telhados. Já o termo “telhador” significa no mesmo dicionário “aquele que telha”, e o verbo “telhar” significa “cobrir com telha”.
Sim, é exatamente isso que você pensou: se você mora em Lisboa e está com uma goteira em casa, você chama “o trolha” pra consertar seu telhado. Ele faz um “trolhamento”, ou seja, um exame para verificar onde está o problema, e então realiza o conserto.
Dessa forma, pode-se entender que “telhamento” é fazer um telhado, enquanto que “trolhamento” é consertar um telhado. Ora, o templo já está concluído. O examinador apenas verificará se não há uma “telha” fora do lugar ou defeituosa, de forma a evitar uma “goteira”. Então, qual é o termo que melhor se encaixa à ação do examinador? Trolhamento. O examinador está sendo um “trolha”, assentando, ou seja, avaliando se os visitantes têm o nível (grau) necessário para participarem dos trabalhos, e impedindo assim a entrada de “uma goteira” em nosso lar maçônico.
Alguns desses escritores ainda sustentam essa tese de “telhamento”, dizendo que em inglês, o Cobridor Externo é chamado de “Tiler” (termo que gerou o nome Tyler) que, para eles, poderia ser traduzido como “telhador”, ou seja, quem constrói telhados. Mas esse é apenas outro erro grave de pesquisas superficiais. O Dicionário Cambridge de Língua Inglesa, um dos mais completos e respeitados, registra “tiler” como “a person who fixes tiles to a surface”, ou seja, “uma pessoa que CORRIJE telhas de uma superfície”. Conforme o mesmo dicionário, o termo em inglês para quem constrói telhados é “roofer”.
Continuando a pesquisa, um irmão francês contribuiu com o seguinte?
Truelle (extraído do sítio http://www.franc-maconnerie.org/les-outils-maconniques )
Essa ferramenta representa a conclusão da obra, o momento em que espalhar a argamassa nas paredes ou no gesso apaga as distinções entre as pedras. Também está associada com o poder criativo e, na Idade Média, o Criador era descrito às vezes com uma trolha na mão.

A trolha é a colher nos ágapes. A trolha é a ferramenta que permite unir as pedras entre si. Note-se que a trolha está ausente nos Ritos Escoceses. A expressão trolha, significa perdoar. Equipada com uma empunhadura oblíqua, a sua forma é emprestado da “trolha de acabamento”. Ao contrário do que alguns têm escrito, não é uma “ferramenta simbólica”. No entanto, no R.E.R. decora a mesa do V.M.. Também é encontrado nos Graus Capitulares: Real Arco, Mestre Escocês Perfeito de Sto André etc., nos quais se explica que os maçons do Templo de Jerusalém empunhavam a espada com mão esquerda e uma colher de pedreiro com a mão direita. Isso é uma prova, dentre outras, de que Maçom não deve atacar ou lutar, mas apenas trabalhar e se defender. A trolha é uma ferramenta de “ligação” e de coordenação. Lembra  união fraternal.

O termo “passar a trolha” tem o significado de perdoar e esquecer as ofensas. A simbologia desta ferramenta também é baseada na forma triangular de sua lâmina e o seu perfil truncado, parecendo um raio.

Truelle (extraído do sítio http://www.cnrtl.fr/lexicographie/truelle )

Enquanto todas as ferramentas maçônicas estão associadas aos pares, a trolha, que surge apenas no rito francês no final da cerimônia de iniciação ao grau de companheiro, aparece sozinha. Simboliza o fim do trabalho dos pedreiros. Com o cimento molhado, solda as pedras juntas e equaliza as asperezas (LangloisFr.-maçonn.1983).

Contrariando o que diz o texto em francês, no catecismo do R.E.A.A. de 1804, além de aparecer como insígnia do Cobridor, a trolha aparece na decoração da Loja de Companheiro. Mas não há menção ao verbo trolhar.

Não há, em francês, nenhuma referência a trueller (trolhar) ou a truellage (telhamento) associada à Maçonaria. Neste aspecto, portanto, o Irmão Kennyo enganou-se. Também com relação ao que diz o dicionário Priberam que ele menciona, as definições são estas:

tro·lha |ô|

substantivo feminino

Espécie de pá em que o pedreiro tem a argamassa de que se vai servindo.
substantivo masculino

Servente de pedreiro.
[Popular] Pedreiro.
Operário que assenta e conserta telhados.
“trolha”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/trolha [consultado em 05-06-2015].

Desconheço se, neste caso, o substantivo que identifica o profissional se transformou em verbo. Se existe o verbo, não consta do Priberam nem do Houaiss. De qualquer forma, a língua portuguesa é maleável o suficiente para permitir que exista, assim como existe espátula e espatular.

Coincidentemente, acabei a resposta de um Irmão nosso do Oriente da França a respeito deste assunto, e ele afirma que lá a palavra utilizada é tuiler, que quer dizer telhar.


E a polêmica continua…
Por Ir.'. Sérgio Jerez
Fonte: https://bibliot3ca.wordpress.com/

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