Por Kennyo Smail
A
relação entre Islamismo e Maçonaria sempre foi tema obscuro, delicado,
polêmico, e por isso evitado por muitos autores. Quando das raras vezes
abordado, os autores se restringem em citar Lojas e Obediências que existiram e
existem nos países árabes e, de modo geral, param por aí. Uma postura um tanto
quanto incoerente se observarmos os objetivos maçônicos da livre pesquisa da
verdade, da busca pela justiça e do combate à ignorância, a intolerância e o
fanatismo.
O
objetivo aqui é tentar apresentar algo diferente do que “mais do mesmo”,
fornecendo informação válida e de forma neutra sobre o assunto e abordando as
questões que realmente importam.
Após
o triste dia de 11/09/01, muito se tem falado sobre o Islamismo, o qual teve
sua imagem de certa forma manchada no mundo ocidental com o marcante incidente.
Apesar dos esforços das autoridades, uma onda de intolerância e preconceito,
reforçada pela ignorância, tem caído sobre o Islã e seus adeptos no Ocidente
desde então.
Por
isso, faz-se necessário esclarecer alguns pontos:
O
Islamismo não é uma religião radical. É apenas uma religião como as demais que,
por ter mais de 1,5 bilhão de adeptos, possui algumas vertentes baseadas em
diferentes interpretações de diferentes passagens de seu livro sagrado, sendo
que apenas uma minoria dessas é radical. O mesmo ocorre no Cristianismo, que
também possui suas vertentes minoritárias radicais, fanáticas, baseadas em
diferentes interpretações de suas sagradas escrituras. Não é toda mulher
muçulmana que usa burca ou véu, assim como não é toda mulher cristã que tem
cabelo até o joelho e saia até o calcanhar.
Por
isso, não se pode julgar 1,5 bilhão de pessoas presentes em dezenas de países
com base em grupos terroristas que agem por si próprios e sem a concordância de
qualquer país ou mesmo de autoridades religiosas. E no que se refere a
autoridade religiosa, o Islamismo não possui uma hierarquia com autoridade
constituída, não existindo algo um “Papa” ou algo do gênero. Por esse motivo,
dizer que existe uma postura oficial do Islamismo sobre determinado assunto
seria, no mínimo, imprudente.
Compreendido
tais questões, vejamos o Islamismo perante a Maçonaria:
Islã: lua e estrela
Como
já esclarecido, não existe uma autoridade que fale em nome da religião
muçulmana. Assim sendo, é impossível que o Islamismo seja oficialmente a favor
ou contra a Maçonaria. Diferente disso, outras Igrejas já se declararam
oficialmente contrárias à Maçonaria, como a Igreja Católica e algumas outras
Igrejas Cristãs de menor porte. Mesmo assim, isso não impediu que muitos dos
fiéis dessas, sendo homens livres e de bons costumes, ingressassem na Ordem
Maçônica nos últimos séculos.
Alguns
maçons podem pensar que a Maçonaria talvez seja incompatível com a fé islâmica
por conta de sua simbologia. Afinal de contas, muito da Maçonaria está
relacionado ao Templo de Salomão, e em muitos graus de muitos ritos vê-se
símbolos como letras em hebraico, cruzes, etc. Deve-se ter em mente que existem
dezenas e dezenas de ritos maçônicos, sendo que alguns têm maior influência de
uma ou outra religião, cultura ou época. Assim, temos ritos maçônicos com
influências católicas, protestantes, judaicas, iluministas, egípcias, muçulmanas,
cavaleirescas, nacionalistas, etc.
Shriners: lua e
estrela
Ainda
nesse sentido, observa-se que a Maçonaria é Ordem voltada a homens livres, e
essa liberdade também se refere às amarras da intolerância. Um exemplo claro é
que muitos dos ritos maçônicos fazem referência a “São João”, ou aos “Santos de
nome João”, enquanto que grande parte de seus adeptos são protestantes. Isso
ocorre porque o maçom é homem racional, e compreende que a citação de “São
João” não é questão dogmática, e sim referência histórica aos Solstícios.
Já
Salomão e a construção de seu templo, tão presentes na Maçonaria, ao contrário
do que muitos possam presumir, não se encontram apenas na cultura e religião
judaica. Esse importante personagem e evento também estão descritos no Alcorão.
Para os maometanos, Salomão era um rei dotado por Deus de toda a prudência e
sabedoria, um grande profeta como todos os descendentes de Davi estariam
predestinados a ser. E sua importância era tamanha que Deus ordenou que os
homens e “gênios” obedecessem a suas ordens e trabalhassem na construção de seu
templo e palácio.
Gênios?
Que gênios?
Esse
é um ponto tão interessante que mereceu esse destaque. Os gênios estão
presentes na cultura árabe desde tempos imemoriais. Seriam seres criados por
Deus, invisíveis, mas que possuem a habilidade de se materializarem entre os
homens e realizarem feitos notáveis. Não são anjos, pois possuem o
livre-arbítrio e podem ser castigados ou mesmo aprisionados. Dessas crenças
surgiu o famoso “gênio da lâmpada”, tão explorado em contos infantis. Esses
gênios teriam, sob as ordens de Salomão, auxiliado os homens na construção de
seu templo.
As
duas faces da moeda
Templários
- Rito de York
A
questão religiosa está presente na Maçonaria desde seu início e, apesar de não
ser discutida nas Lojas, está mais em voga do que nunca. Prova disso é que, nos
últimos anos, os Nobres Shriners, instituição maçônica fundada no século XIX
com temática e simbologia árabe, vem discutindo sobre a redução dessa
influência árabe na instituição. Em contrapartida, as históricas críticas à
Ordem dos Cavaleiros Templários, último degrau do Rito de York e restrito aos
maçons que professam a fé cristã, continuam mais presentes do que nunca. Qual
seria o caminho ideal: a busca pela universalidade ou a promoção das
diferenças?
Conclusão
A
Maçonaria está para o muçulmano assim como está para o cristão: dependente da
ausência de intolerância e fanatismo por parte do fiel, e da ausência de
ignorância por parte dos demais integrantes.
A
durabilidade e sucesso da Maçonaria sempre se deveu ao fato de sua união ser
baseada nos pontos comuns e sua riqueza nos pontos diferentes. Enquanto os
diversos Ritos, Ordens internas e Corpos aliados proporcionam ao maçom
participar daquilo com que se identifica, cujos valores compartilha, todos os
membros dessas instituições se sentem integrantes de uma única família, e
constroem a fraternidade sobre os landmarks que tornam a todos iguais: a crença
num Ser Supremo e na imortalidade da alma.
O
Dr. SM Ghazanfar, professor emérito da Universidade de Idaho, escreveu em um de
seus artigos que “alienantes por aqueles que são diferentes, nós acabamos nos
afastando e diminuindo nossa própria humanidade”. Que a Maçonaria, essa Sublime
Ordem cuja finalidade é a felicidade da humanidade, saiba renovar seu
compromisso de unir os diferentes pelo que eles têm em comum.
FONTE: NO ESQUADRO
FONTE: NO ESQUADRO
1 Comentários
Revelador!
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