Por Ir.'. João Anatalino
A
atração do ritual
É
inegável a atração que o espírito humano tem pelos chamados ritos de passagem.
Na verdade, todos os grandes acontecimentos da nossa vida, se não são marcados
por algum tipo de ritual, eles perdem o seu valor emocional e são facilmente
esquecidos.
Dessa
forma, o ritual funciona como uma âncora que fixa em nosso sistema neurológico
os fatos marcantes da nossa existência, razão pela qual, quanto mais
exuberantes, exóticos e interessantes forem, mais impressionam o espirito
daqueles que são submetidos a ele.
Alguns
exemplos de rituais de passagem são o batismo, a comunhão, a festa da
debutante, o casamento, o trote da faculdade, e principalmente o último e
definitivo, que é o funeral.
Os
amantes que ritualizam seus momentos de romance tem mais chance de prolongarem
seus relacionamentos do que aqueles que não o fazem. Refeições á luz de velas,
comemorações de datas importantes, noites de amor com teatralizações, são tipos
de ritualização que tem o caráter de ancorar o amor com mais força do que o
mero relacionamento diário e o compartilhamento de uma vida em comum.
De
qualquer forma, todo processo ritualístico está vinculado á algum tipo de
iniciação, na qual a pessoa está passando de uma etapa á outra, em sua vida.
Nesse sentido, o ritual de iniciação também é um arquétipo de compartilhamento
coletivo, que tem sido cultuado por toda a humanidade, em praticamente todos os
tempos, pois esse comportamento já foi recenseado em todas as civilizações,
desde as mais antigas á mais modernas.
O
ritual de iniciação
A
iniciação se define como o ingresso de um noviço em um determinado sistema de
conhecimento, ou em um processo de aculturação no qual ele deixa uma etapa da
sua vida para ingressar em outra. Em se tratando de conhecimento é uma forma de
eliciar os sentidos da pessoa que participa do ritual para o conteúdo da
sabedoria que se quer transmitir; em se tratando de cumprir etapas da vida, o
que se pretende é marcar essa passagem com o registro psicológico de um fato,
que doravante será a marca do seu novo status. É o que acontece com a criança
batizada, que passa a fazer parte de uma comunidade religiosa, com uma
adolescente que participa de um ritual de debutantes, que deixa, por assim
dizer a sua condição de criança para se tornar uma jovem mulher, do jovem que
participa do trote da sua faculdade para mostrar a sua condição de
universitário, da pessoa que faz uma festa de casamento para mostrar á
sociedade a sua condição de casado, etc. [1]
Assim,
não são somente as sociedades secretas, ou as instituições religiosas, que se
valem da tradição iniciática para recepcionar novos membros nos seus quadros.
Muitos grupos laicos também usam variantes desse instituto em seus rituais de
recepção e elevação dos seus associados. Também em certos clubes de serviços e
algumas empresas, é uso comum algum tipo de ritual de iniciação na recepção de
novos membros ou colegas de serviço.
Porém,
é na liturgia das religiões que o rito iniciático encontra a sua maior
aplicação. Toda religião têm o seu ritual de admissão, que se configura como
sendo uma forma bastante peculiar de o grupo recepcionar o novo membro,
compartilhando com ele o espírito da egrégora que se forma naquele momento
singular da sua vida.[2]
O
batismo como ritual de iniciação
O
exemplo mais comum de um ritual de iniciação é o batismo. Através desse ato
ritual, o neófito é admitido no sistema de crenças da religião em ele está
sendo iniciado. Por isso, o batismo, na maioria das religiões, se reveste de
pompa e cerimônia, sendo o ato litúrgico da mais alta importância no cerimonial
que a ela se atrela.
Toda
religião tem uma forma de batismo como ritual de iniciação o sistema de crenças
por ela professado. O catolicismo é, talvez, a religião que vincula á esse rito
de passagem a maior carga de significação.
Na
religião católica há três sacramentos indispensáveis: o batismo, a comunhão e a
crisma, que são rituais representativos da comunhão entre o católico e a
divindade patrona dessa religião, ou seja, Jesus Cristo. Embora esses três
sacramentos sejam importantes do ponto vista litúrgico, o batismo é o mais
significativo, pois sem a realização desse primeiro e fundamental ato não é
permitida a realização dos dois seguintes.
O
batismo representa uma verdadeira iniciação á religião católica. Os demais são
ritos de passagem de uma condição á outra. Embora nem todos os católicos de
coração e espírito se submetam á todos esses ritos, eles continuam, ainda hoje,
sendo muito importante para aqueles que professam essa crença.
Entre
os evangélicos o batismo é uma opção que deve ser escolhida pelo adepto quando
ele, finalmente, se convence da sua fé nos preceitos da religião que vai
adotar. Então, conforme o ritual, que consiste, na maioria das seitas, na
imersão do adepto na água, á semelhança do que João Batista fez com Jesus e com
os crentes que aderiam á sua doutrina, o neófito é batizado perante os fiéis e
passa a fazer, efetivamente, parte da congregação. [3]
Embora
tenha sido popularizado pelos cristãos, a partir do ato simbólico realizado por
João Batista com Jesus, o batismo é um ato ritual anterior ao surgimento do
cristianismo. Esse termo vem do grego "βαπτισμω" (baptismō) que
significa "imergir". Ele já era utilizado pelos judeus, em tempos anteriores
ao cristianismo, como ato ritual destinado a purificar os indivíduos em
diversas ocasiões em que estes se comunicavam com a divindade, ou praticavam
algumas ações consideradas sacras pela sua religião. A prática de imergir os
seus adeptos em água, como símbolo da sua purificação foi institucionalizada
principalmente entre a seita dos essênios, e dessa fonte o costume foi
absorvido pelos cristãos, pois embora não haja concordância com a informação
veiculada por alguns autores, de que Jesus era adepto da seita dos essênios,
não parece haver dúvida de que João Batista, o iniciador de Jesus, o era, dado
a semelhança da doutrina que ele pregava com aquela defendida pelos chamados
“filhos da luz”.[4]
Na
religião islâmica não existe um ritual de batismo como ato litúrgico praticado
num templo, mas sim um comportamento específico que caracteriza a iniciação do
jovem muçulmano nos mistérios da religião. A palavra de Deus, na forma de um
azan (versículo do Alcorão recitado na forma de um salmo, contendo os
fundamentos da religião do Islã) deve ser dito no ouvido do bebê. Depois,
raspa-se o cabelo da criança, o qual é pesado, e o valor correspondente ao seu
peso, em prata, distribuído aos pobres.
Durante
essa cerimônia, o nome do bebê deve ser escolhido. Nessa ocasião, as famílias que
têm posses podem realizar o cerimonial do akika, que é uma espécie de banquete
ritual, do qual participam parentes e amigos próximos, que consiste no consumo
de um carneiro em ágape. Esse ritual simboliza os animais que Abraão sacrificou
em lugar do seu filho Isaque, de acordo com a história relatada em Gênesis
22.13.[5]
Já
no judaísmo, a cerimônia de batismo inicial é bastante ritualizada. Essa
ritualização, que consiste principalmente na circuncisão, segundo se lê na
Bíblia, teria sido instituída por Abraão, por instrução de Deus. Com efeito,
lê-se em Gênesis,17:10:11“ Todos os homens entre vós sereis circuncidados.
Circuncidareis a carne do vosso prepúcio, como sinal da aliança entre mim e
vós.” Segundo ainda o texto bíblico, o próprio Abraão tinha noventa e nove anos
de idade quando se circuncidou.[6]
A
circuncisão tornou-se o principal ritual de iniciação do judaísmo, sendo ainda
hoje praticado pelos naturais desse povo, em relação a todas as crianças do
sexo masculino, as quais devem circuncidadas perante uma assembleia de dez
homens, ocasião em que também recebe um nome. Quanto ás meninas, o ritual
consiste em apresentá-la junto aos membros da sinagoga, e dar-lhe um nome.
A
iniciação religiosa, porém, dá-se aos treze anos para os meninos e aos doze
para as meninas. Essa cerimônia, chamada bar-mitzvá, para meninos, ou
bat-mitzvá, para meninas, é a ocasião em que eles são chamados a ler a Torá
pela primeira vez perante os membros da sinagoga.[7]
No
budismo a iniciação se dá em um ritual chamado ordenação leiga, que é quase
sempre desenvolvido na fase adulta. Geralmente, o neófito é preparado durante
um ano, no qual lhe é ensinado os fundamentos da religião. Depois, o iniciando
passa por uma cerimônia na qual recebe, de um mestre que lhe foi indicado, ou
de um superior do templo em que vai se ordenar, um novo nome e a indicação da
sua ordem na linhagem de Buda. Como o budismo é uma religião metafísica, não
existe nela a idéia de unidade entre a divindade e o adepto, pois para os
budistas todo ser humano já possui em si mesmo os atributos que o conduzem ao
um estado de beatitude. Esse estado de beatitude consiste na natureza de Buda,
ou seja, a capacidade de atingir a iluminação. E esse estado pode ser atingido
através de uma conduta específica na vida pessoal e na prática da liturgia
ritual que a religião prescreve para os seus adeptos.
O
batismo nas sociedades iniciáticas
Nas
sociedades iniciáticas, o batismo se confunde com o ritual de iniciação. Aqui
sempre se pressupõe a existência de um Mistério, no qual o neófito vai ser
admitido. Difere, pois, das religiões oficiais, cujas doutrinas são abertas e
não necessitam de uma linguagem particular para que dela se possa participar.
Essa é uma diferença fundamental entre uma
sociedade iniciática e uma igreja oficial. Nesta última qualquer pessoa pode
entrar e assistir suas reuniões, embora nem sempre possa participar de todos os
ritos oficiais. Não há, propriamente, um Mistério a ser compartilhado apenas
pelos membros da congregação, ao passo que nas sociedades iniciáticas, esse é o
elemento fundamental que a distingue.
Mistério
(do grego mystérion) é um termo que vem do verbo myéin, que significa calar.
Assim, o termo mýstes se aplica a tudo que se fecha, e por derivação temos o
místico, (mystikós), que se refere a quem conhece e guarda os Mistérios. E por
derivação, também, temos o termo myesis, que designa os ritos que se ligam a
essas tradições, ou seja, o que chamamos de iniciáticas.
Em
latim temos as palavras initiare e initiato, para indicar o ato de iniciação em
si, e aquele que é iniciado. Assim, a iniciação se define como sendo o primeiro
passo em um caminho que tem a pretensão de levar o iniciado a uma sabedoria de
grau superior, que lhe possibilitará conhecer o verdadeiro sentido da vida. E
para que isso seja possível, o iniciado precisará enfrentar o mistério da
morte, como primeiro e fundamental conhecimento, para que ele possa seguir
nessa senda. Morte e renascimento espiritual constituem, portanto, o fundamento
de toda iniciação onde crenças de fundamento espiritual estejam
envolvidas.
Rituais de iniciação são elementos
arquetípicos que habitam na fauna inconsciente da humanidade desde priscas
eras. Derivam de intuições humanas sobre a possiblidade da existência de uma
vida além-túmulo, intuições essas que já estavam presentes nas civilizações
pré-históricas, como atestam as escavações arqueológicas feitas em sítios onde
habitaram vários grupos dos chamados homens de Neanderthal, tidos como antecessores
do Homo sapiens que deu origem á nossa espécie. Em suas sepulturas há uma clara
intenção ritual na forma como os mortos eram sepultados, a indicar que esses
nossos ancestrais mais remotos já cultivavam algumas crenças na existência de
vida após a morte.
Destarte, já na alvorada das primeiras
civilizações da época histórica, iremos encontrar os ritos iniciáticos como uma
prática constante, ligadas ás crenças professadas por esses antigos povos. Com
o desenvolvimento dessas civilizações essas tradições alcançaram um alto nível
de sofisticação, e os ritos que originalmente tinham um aspecto religioso,
passaram a compor uma importante função sociológica na cultura desses povos.
Incorporou-se a eles uma mística própria, no sentido de destacar certos membros
do grupo social, como compartilhantes de um “segredo”. No fundo, tudo isso nada mais era do que uma
formulação que visava criar uma elite intelectual e política, pois não havendo,
nessas antigas civilizações, um saber universal institucionalizado, cabia á
religião oficial do país a criação de um kitch cultural que servisse de
elemento de ligação entre esses “eleitos” da divindade, os quais, sendo
detentores do “saber secreto”, deveriam ser, naturalmente, os guias da nação.
[8]
Nascia,
assim, a face política dos ritos iniciáticos. Enquanto isso, ela ia também
ganhando terreno como fórmula de distinção social, aplicável aos grupos
econômicos que iam se desenvolvendo dentro da sociedade. Profissionais das mais
diversas atividades começaram a adotar a mística da iniciação para a admissão
de novos membros, e a utilizar sua liturgia também nos rituais de passagem de
grau. Iremos, destarte, encontrar essa tradição sendo praticada pela grande
maioria das escolas filosóficas da antiguidade. Nessas instituições, o costume
de compartilhar a vida social, as relações pessoais e o próprio conhecimento
apenas com os companheiros do mesmo grau, bem como o desenvolvimento de uma
linguagem particular para o reconhecimento dessa condição, feita de toques,
sinais, símbolos e outros elementos de passe passou a ser uma marca distintiva
delas, uma linguagem do grupo, propriamente dita.
O
desenvolvimento dos ‘Mistérios’
Todas
as grandes civilizações da antiguidade desenvolveram seus Mistérios como forma
de preservação de conhecimento e distinção de seus quadros sociais. Assim,
iremos encontrar nas civilizações do Egito, da Mesopotâmea, da Índia e da
China, rituais de iniciação elaborados com extrema sutileza. Na Grécia, por
exemplo, as iniciações eram processos já incorporados no próprio sistema
político e social das cidades-estado, que as patrocinava e administrava, como
parte das suas tradições. Não se tratava apenas de uma liturgia aplicada no
campo das coisas sagradas, mas também nas organizações sociais de caráter laico,
como as escolas filosóficas e as corporações obreiras. Pitágoras, por exemplo,
bem como Tales de Mileto e Epicuro, administravam suas escolas como se fossem
verdadeiras sociedades iniciáticas.
O rito iniciático, como se disse, é um
elemento arquetípico compartilhado pelo inconsciente coletivo da humanidade
desde os tempos mais remotos. Mesmo entre as mais primitivas tribos indígenas
da África, América e Oceania, sempre se encontrará em suas culturas algum
ritual de iniciação, ou de passagem, a simbolizar as etapas da vida do
indivíduo, nas suas conquistas sociais ou espirituais. Os quatro arquétipos do
psiquismo humano, segundo as tradições desses povos, que são o guerreiro, o
xamã, o visionário e o sábio, são ecos dessa tradição longínqua, nas quais a
intuição dos povos mais ligados á natureza nos dão uma formidável lição de
sabedoria.[9]
A
iniciação maçônica
Na
maçonaria é o caráter esotérico do ritual que impressiona o espírito do
iniciado, pois nele se manteve o simbolismo dos antigos cerimoniais que
celebravam os chamados Mistérios. É nesse sentido que o neófito é submetido á
uma “morte ritual”, representada pela sua imersão na “câmara das reflexões”,
onde ele encontra todos os símbolos dessa passagem pelo mundo dos mortos,
experiência que ele terá que enfrentar para renascer, glorioso, para a luz que
a maçonaria irá lhe conferir.
Como bem viu Mircea Eliade, todas as provas
iniciáticas, de uma maneira geral, resumem um processo escatológico que
simboliza a morte e o renascimento do homem, seja em que sistema de crenças
for. É uma intuição que deriva das próprias características da natureza, que
passa por ciclos de morte e ressurreição, anualmente, simbolizados pelas
estações do ano.[10]
Esse fato foi observado por James Fraser em
sua obra clássica “O Ramo de Ouro”. Nessa obra ele associa os ritos de
iniciação praticados pelos povos antigos com os ciclos de produção da natureza,
e daí a derivação que se faz, em termos simbólicos, para uma imitação anímica
desses processos. Fraser mostra que os mitos da criação, em todas as lendas
antigas que versam sobre esse tema, têm uma mesma estrutura arquetípica. Então
ele conclui que a própria humanidade, e as sociedades que nela se formam,
desenvolvem alguma noção psíquica desse processo e acabam criando alegorias,
mitos, lendas e rituais que se destinam, de alguma forma, a recompô-los.
Explica-se, dessa maneira, que a grande maioria das sociedades antigas tenha
desenvolvido uma mitologia que utiliza a figura de um deus, ou um heroi morto,
que é regenerado por processos miraculosos, semelhante ao que a terra faz com a
semente que nela é lançada.[11]
Esse
tema estava presente em todas as antigas iniciações, desde os Mistérios de Ísis
e Osíris, praticados pelos egípcios, quanto nos Misterios Eleusinos dos
gregos.[12] E aparece, como vimos, também na doutrina do cristianismo, nos
chamados Mistérios Cristãos, que se refere á Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo.
Á iniciação representa, portanto, uma participação simbólica do neófito nesse
processo regenerativo que a divindade, através da natureza, ensina ao homem. Ao
praticar o ritual de iniciação, o homem, por imitação, penetra no âmago desse
processo.
A
iniciação maçônica, conquanto seja conduzida com elementos místicos, herdados
dos Antigos Mistérios gregos e egípcios, na verdade ela é uma corruptela dos
costumes adotados pelos grupos praticantes das artes e ofícios que, na Idade
Média, os usavam para recepcionar em seus quadros novos membros por eles
admitidos.
Nesse
sentido, vinculado ao caráter esotérico que lhe foi impregnado, a iniciação
maçônica se reveste de um caráter simbólico que significa que o neófito maçom
que está sendo admitido como aprendiz está, na verdade, sendo admitido em uma “
profissão moral” que lhe permitirá construir “templos á virtude e cavar
masmorras ao vício.” Essa é a função do maçom como “pedreiro da construção
universal.”
É
nesse sentido que lhe são aplicadas as provas simbólicas que acontecem durante
a cerimônia de iniciação. Elas consistem
principalmente em “viagens” de integração junto aos quatro elementos da
natureza (água, terra, fogo e água), que são reminiscências de antigos rituais.
Em seguida lhes são informadas algumas obrigações e posturas que ele deverá
assumir como maçom e indagado se ele tem disposição e condições para honrar
essas obrigações. Essas disposições faziam parte dos regulamentos observados
pelos profissionais da antiga maçonaria operativa. Só após cumpridas toda essa
liturgia poderá o iniciando fazer o seu juramento como maçom, cumprindo assim a
tradição de toda sociedade iniciática, que é compartilhamento de um “segredo”
ritual que dali para a frente lhe será comunicado aos poucos. Por isso é que,
antes de neófito receber a “Luz” da iniciação, ele deve ser conservado vendado
e no escuro, pois até então ele ainda é um profano.[13]
Cumprida
todas essas etapas, o iniciando torna-se de fato um iniciado, recebendo, em
presença dos Irmãos, a “Luz” da maçonaria, após o que ele é revestido com o
avental do Aprendiz e está em condições de receber as suas primeiras
instruções.
Eis
assim, cumprida a tradição iniciática, que na maçonaria ainda encontra, nos
diversos ritos e liturgias que desenvolvidos, o ideal dessas antigas
manifestações do espírito humano. Eles representam, como diz Van Gennep, a
“porta de ingresso” do neófito, na sua passagem do mundo profano para o mundo
sagrado.[14]
Daí
em diante, cada elevação de grau implicará num “rito de passagem”, na qual o
iniciado subirá uma escada que lhe permitirá penetrar na esfera mais sutil do
conhecimento universal, que consiste na Geometria Sagrada, ou seja, aquela
segunda a qual o Grande Arquiteto do Universo constrói o mundo. [15]
[1]
Observei entre os irlandeses, por exemplo, o costume dos noivos percorrerem as
ruas da cidade, ou do bairro onde moram, após a celebração do casamento,
saudando os moradores e conhecidos, para que todos tomem conhecimento da sua
nova condição.
[2] Egrégora, do Egrégora, (do grego
egrêgorein) significa velar, vigiar. A
teoria da egrégora fundamenta-se na existência das entidades denominadas
egrégoros, que são centelhas de energia espiritual manifestadas pela mente das
pessoas congregadas em estreita união, e na crença de que elas podem
influenciar os acontecimentos no mundo físico.
[3] Na imagem, o profeta João batizando
Jesus no rio Jordão. Foto Videoteca Católica.
[4] “Filhos da Luz” era o título que os
essênios atribuíam a si mesmos, em oposição aos “Filhos das Trevas”, que eram
aqueles que se opunham á sua doutrina.
[5] O ágape é uma antiga cerimônia, na
qual o clã compartilha uma refeição ritual. Era, e ainda é, uma cerimônia
praticada pela maioria das famílias de origem oriental. Um dos exemplos mais
famosos de um ágape é a refeição pascal praticada pelos judeus e a famosa
última ceia de Jesus com seus discípulos. A maçonaria também tem os seus
ágapes, que consiste na prática do “banquete ritual”, e também nos chamados
“copos d’agua”, ceias realizadas depois
das reuniões da Loja.
[6] Gênesis, 17:24
[7] Provavelmente é a esta cerimônia de
iniciação que o evangelista Lucas se refere quando narra a aventura do
adolescente Jesus, aos doze anos, em Jerusalém, quando segundo sua informação,
ele se perde de seus pais e é encontrado junto aos doutores da lei, na sinagoga
do templo. Foi nesse ato que o menino despertou o seu espírito missionário, o
que justifica as misteriosas palavras que disse aos seus pais quando estes o
interpelaram: “ Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas do meu pai? E eles
não entenderam o que ele disse.” Lucas, 2:49
[8] Na imagem Cena do documentário Pep
Cahoc – Um Rito de Iniciação. Foto: Raissa Ladeira. Mostra um ritual de
iniciação à vida espiritual que meninos e meninas da tribo dos Krahô, são
submetidos quando entram na adolescência.
9. Vide, a esse respeito, o notável
trabalho da professora Angeles Arrien, publicado sob o título de “O Caminho
Quádruplo”, publicado pela Ed. Agora, São Paulo, 1997. Vide também a nossa obra
PNL para a vida diária- O Poder dos Arquétipos, publicada pela Madras São
Paulo, 2013, que trabalha com o mesmo tema, associando-a com as técnicas
desenvolvidas pela PNL (Programação Neurolinguística.),
[10] Mircea Elíade- Iniciaciones
Misticas- Ed. Taurus, Madri, 1958
[11] George James Fraser, o Ramo de
Ouro, Zahar Editores, São Paulo, 1986.
[12] Sobre os Mistérios Eleusinos e os
Mistérios Egipcios e sua conexão com a Maçonaria, veja-se a nossa obra “Tesouro
Arcano”, publicado pela Ed. Madras, 2013.
[13] Fundem-se, nesse processo, os
rituais praticados pelos antigos pedreiros medievais com aqueles praticados
pelos iniciados nos antigos Mistérios das sociedades iniciáticas. Misto de
esoterismo e prática corporativa, o ritual maçônico de iniciação é, ao mesmo
tempo, um compromisso de ordem quanto uma profissão de fé.
[14] Vann Gennep- Ritos de Passagem,
Ed.Vozes, Petrópolis, 1974.
[15] A noção de que o conhecimento
sagrado se obtém subindo uma escada graduada é contemporânea das primeiras
civilizações. Na imagem acima, o patriarca Jacó contempla, em sonho, uma escada
que vai do céu á terra, na qual anjos sobem e descem. É a famosa “Escada de
Jacó”, uma das principais alegorias maçônicas. Foto: Enciclopédia Barsa.
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