FILOSOFO OCULTO
Tomás de Aquino é indubitavelmente o
maior teólogo da Igreja, e por isso mesmo, recebeu os títulos de Doutor
Angélico, Doutor Comum, Doutor Universal. Embora sendo uma eminência teológica,
esta não ofuscou a sua excelência filosófica. Muitas vezes a sua sabedoria
filosófica é esquecida, pois é citado quase sempre, como emérito e incomparável
teólogo, ficando oculta, a sua grandeza filosófica. Entretanto, as XXIV Teses
escritas por ele, e denominadas de “Teses Tomistas” , são lembradas justamente
para revelar a autêntica filosofia de São Tomás. E tanto é assim, que a
filosofia do grande mestre e teólogo marcou um espaço definido, sendo
considerada como uma legítima filosofia, denominada de “filosofia
aristotélico-tomista”. Como afirmam os grandes Mestres, não se pode deixar de
reconhecer que Tomás de Aquino seguiu as trilhas de Aristóteles, mas ele
reformulou de tal modo e com tal sabedoria os ensinamentos do sábio grego, que
arquitetou outra filosofia, a sua própria filosofia.
Basta considerar como ele com
discernimento, soube introduzir naquela filosofia, os conceitos da criação das
coisas por Deus, da temporalidade da matéria-prima, e também do próprio ser,
conduzindo as idéias até as últimas consequências, bem mais distante do que
aquilo que o Filósofo Grego apenas esboçara. É uma filosofia realista.
O Tomismo parte da realidade das coisas,
não de idéias imaginadas, e delas, conclui todo um sistema coordenado por
teses. Em outras palavras: o Tomismo se originou da percepção sensível do
mundo, e depois tirou dela, no plano abstrativo da inteligência, um conjunto harmonioso
de teses. O Papa Leão XIII, na Encíclica "Aeterni Patris”, descreve a
filosofia de Tomás de Aquino: “O Doutor Angélico buscou as conclusões
filosóficas nas razões principais das coisas, que têm grandíssima extensão e
conserva em seu seio o germe de quase infinitas verdades, para serem
desenvolvidas em tempo oportuno e com imensa quantidade de frutos pelos mestres
dos tempos posteriores”.
“As razões principais das coisas”, é o
ponto de partida da Filosofia Tomista. Das coisas que existem, percebidas pelos
sentidos humanos, depois de conceituadas e analisadas pela inteligência, Tomás
de Aquino eleva as considerações até as explicações últimas das mesmas. E é
subindo das percepções mais primitivas das coisas, que São Tomás chega à
certeza do Supremo Criador de todas as coisas. Caminhando pelas mudanças das
coisas, da causalidade existente entre elas, da contingência, das perfeições, e
da ordem harmoniosa das mesmas, ele caminhando por cinco vias, atinge a
sublimidade, a suma perfeição, a existência de DEUS.
Tomás afirmava, que a verdade não tem
dono, pertence a todos, é de todos, e acrescentava que: “toda verdade, dita por
quem quer que seja, vem do ESPÍRITO SANTO”, e diante das diversas opiniões dos
filósofos, ele dizia: “não olhes por quem são ditas, mas o que dizem”.
O Papa Paulo VI com felicidade descreveu
a filosofia Tomista como aquela que abrange o Ser “Tanto no seu valor
universal, como nas suas condições essenciais”. Ao que o Papa João Paulo II
acrescentou dizendo em belos termos que: “esta filosofia poderia ser chamada
filosofia da proclamação do Ser, um autêntico canto em honra daquilo que
existe”.
Três Papas declararam que “A Igreja fez
sua, a doutrina de São Tomás de Aquino”.
Por outro lado, como é compreensível,
Tomás de Aquino não elaborou sozinho a sua filosofia, não a construiu extraída
da sua genial inteligência, mas recebeu contribuição dos helênicos Platão e
Aristóteles, dos israelitas Avicebron e Maimônides, dos árabes Avicena e
Averróis, dos Padres da Igreja, sobretudo de Santo Agostinho, da metafísica
implícita na Revelação, as quais estudou profundamente, e com o seu agudíssimo
espírito iluminado pela Luz de DEUS, uniu a herança recebida de seus
predecessores às suas contribuições pessoais, formulando a sua admirável
Filosofia Tomista. A essência deste Realismo está condensada nas XXIV Teses
Tomistas.
Pode ainda surgir à pergunta, por terem
sido As XXIV Teses formuladas pela Igreja e por ela propostas, se a uma pessoa
que confesse outro credo religioso diferente do católico, lhe serão aceitáveis
as XXIV Teses de São Tomás de Aquino? Evidentemente teremos uma resposta
positiva, porque essas teses limitam-se ao campo da filosofia formulada pela
razão natural. Ademais, as que se referem à temporalidade do mundo, à
imortalidade da alma, á dualidade corpo e alma, à doutrina da criação, embora
sejam afirmadas na Revelação, poderão ser descobertas pela própria razão
natural. As Teses se limitam, às filosofias que prescindem da teologia e das
verdades religiosas, dos mistérios e dogmas da fé.
O
PRIMEIRO ESCRITO
Tomás escreveu entre os anos de 1252 a
1253, quando ainda era jovem, um opúsculo: "O Ente e a Essência”. Nele,
aborda questões metafísicas, explicando o percurso da consciência humana entre
a sensação e a concepção. Ele afirmava: aquilo que cai imediatamente no alcance
do saber humano é composto. O homem se eleva do composto ao simples, do
posterior ao anterior. A essência existe no intelecto. A substância composta é
matéria e forma. A forma e a matéria, quando tomadas em si, isoladamente, sem a
preocupação do entendimento racional, são incognoscíveis, ou seja, não podem
ser conhecidas, mas existem caminhos para a investigação das possibilidades. O
intelecto quando está isento de pensamentos materiais, revela que nada pode ser
mais perfeito do que aquilo que confere o ser humano. São Tomás é famoso por
ter cristianizado Aristóteles, à semelhança do que fez Agostinho com Platão,
ele transformou o pensamento daquele sábio num padrão aceitável pela Igreja
Católica. Isto, apesar de Aristóteles não ter conhecido a revelação cristã, e
de ser a sua obra original, autônoma e independente de dogmas, ela está em
harmonia com o saber contido na Sagrada Escritura.
Tomás de Aquino afirmava que podemos
conhecer DEUS pelos seus efeitos, porque ELE , o SENHOR, é o último numa escala
evolutiva, e a causa de todas as coisas. Antes de DEUS vêm os Anjos, e antes
desses, os homens. Ele comenta o gênero e a espécie, que pertencem à essência,
pois “o todo” está no indivíduo. A essência tem dois modos, um modo dela
própria, e o outro, nada é verdadeiramente dela, senão o que lhe cabe como ela
própria. Por exemplo o homem, por ser homem, será sempre racional (isto é
próprio do homem e de todos os seres humanos). Mas o branco e o preto não são
noções exclusivas da humanidade, não são verdadeiramente dos humanos. (Isto
porque, existem muitas raças e não somente homens brancos e pretos). A
diferença da essência da substância compostas e simples é que a composta tem
forma e matéria, e a simples é apenas forma. A inteligência possui potência e
ato. Tomás de Aquino afirma que a essência de DEUS é o seu próprio Ser.
Suas obras teológicas têm muitos
aspectos filosóficos. Por exemplo, recordemos a sua clássica afirmação, de que
o homem possui uma capacidade, concedida por DEUS, de distinguir naturalmente o
certo e o errado. Ele não tinha uma visão muito positiva da mulher, como
Aristóteles, que dizia ser o homem mais ativo, criativo e doador de energia
vital na concepção, enquanto a mulher é receptora e passiva. Mas aceitava a
idéia do filósofo grego, acreditando que aqueles dizeres estavam de acordo com
o que estava na Bíblia, no versículo do Gênesis, o qual afirma que a mulher
derivou de uma costela do homem. Por outro lado, as Sagradas Escrituras ensinam
como viver segundo a vontade de DEUS, e dela, Tomás exauriu os seus argumentos
sobre a vida moral. Ele com inteligência e discernimento demonstra que não há
conflito entre a fé e a razão. O conhecimento verdadeiro é uma adição que se
acresce a inteligência para o objeto (que se estuda) ser bem compreendido.
Apesar de DEUS ser a causa de tudo, ELE não age diretamente nos fatos (nos
acontecimentos) de sua criação. Mas a Providência Divina existe e governa o
mundo, pois ELE, o SENHOR, é absoluto e necessário a vida. Sem ELE, o mundo é
vazio e a existência é efêmera. A felicidade do homem só pode ser encontrada
NELE, na contemplação da Verdade e seguindo o Divino caminho.
A memória nasce pelo acúmulo de
lembranças, e a lembrança nasce da experiência. Mas o homem se eleva ao
raciocínio e produz a arte. A filosofia é um conhecimento das causas dos
fenômenos. Assim a filosofia deve considerar o senso comum e tem um aspecto
coincidente com a teologia: seu saber provém da Sabedoria Divina. A Sabedoria
Divina deve ser cultivada através da fé, dizia Tomás, e isso é comum entre os
teólogos. Ele distingue na natureza o ser real e o ser da razão. O ser real
existe independente de qualquer consideração da razão. O ser da razão é aquele
que apesar de existir em representação, não pode ser independente do pensamento
de quem o concebe. Assim a lógica humana só existe no conceito, e não na realidade.
Por outro lado, a alma é imortal, pois é imaterial, e tudo que é imaterial é
imortal.
Na "Suma contra os Gentios” (os
Gentios eram os pagãos e os maometanos), ele faz uma exposição completa da
religião católica, identificando a verdade que existe nela. Essa Suma trata de
DEUS e de Suas Obras, da fé no Mistério da SANTÍSSIMA TRINDADE, da Encarnação,
dos Sacramentos e da Vida Eterna. DEUS é a verdade pura, sem falsidade, Vontade
que existe em SI e para SI, e neste processo estende a Sua Divina Vontade para
o que não é a Sua Essência. O que não é a Essência Divina, são as coisas
criadas por DEUS, pois DEUS é tudo. Não tem ódio, não quer o mal, e suas
entranhas dão Vida a um Amor Absoluto e Eterno, vibrante, caloroso e
indestrutível.
PROVAS
DA EXISTÊNCIA DE DEUS
Ele afirma que não podemos ter de DEUS,
uma idéia clara e absolutamente distinta, porque nada existe na inteligência,
que antes tenha estado nos sentidos humanos. Por exemplo, se sentimos a
presença de uma pequena pomba, que nossos olhos vêem, nosso raciocínio recebe
aquela informação dos sentidos e compreende que estamos vendo uma pequena
pomba.
Assim, para provar a existência de DEUS,
ele procede a “posteriori”, partindo não da idéia de DEUS, mas dos efeitos por
ele produzidos, formulando cinco argumentos, ou seja, propondo cinco vias:
1) O movimento existe e é uma evidência
para os nossos sentidos; ora, tudo o que se move é acionado por um motor; se
esse motor, por sua vez, é movido, precisará de uma força para impulsioná-lo,
e, assim, indefinidamente, o que é impossível concebermos, se não houver um
primeiro motor ou uma força geradora, que movimente aquele primeiro motor. E
esta “força” existe, é a Vontade de DEUS.
2) Há uma série de diferentes causas que
produzem variados efeitos, ao mesmo tempo; ora, não é possível produzir
indefinidamente uma série de causas; logo, terá que haver uma causa primeira,
não causada pelo homem, e que portanto,
provêm da força de DEUS.
3) Todos os seres são finitos e
contingentes, pois não têm em si próprios a razão de sua existência - são e
deixam de ser; ora, se são todos contingentes, em determinado tempo deixariam
todos de ser e assim, nada existiria, o mundo ficaria vazio, o que é um
absurdo; logo, os seres contingentes implicam na existência do ser necessário,
que é DEUS, que tudo providencia.
4) Os seres finitos alcançam todos os
determinados graus de perfeição, mas nenhum é a perfeição absoluta; logo, há um
ser sumamente perfeito, causa de todas as perfeições, que é DEUS.
5) A ordem do mundo implica em que os
seres tendam todos para um fim, não em virtude de um acaso, mas da inteligência
que os dirige; logo, há um ser inteligente que os dirige; logo, há um ser
inteligente que ordena a natureza e a encaminha para seu fim; esse ser
inteligente é DEUS.
Complemento Racional: No mar e nos rios,
existe uma quantidade notável de diferentes espécies de peixes, que se
reproduzem por sua própria natureza. Como surgiram os primeiros peixes, aqueles
que colocaram os primeiros ovos para que nascessem todos os outros na sequência
da vida? Foi a Vontade Magnânima e Amorosa de Um DEUS Poderoso e Eterno quem
colocou os primeiros peixes no rio e no mar.
HOMEM,
ALMA E O CONHECIMENTO
Para Tomás de Aquino, o homem é corpo e
alma inteligente, incorpórea (ou imaterial), e se encontra, no universo, entre
os Anjos e os animais. Princípio vital, a alma é a parte do corpo organizado
que tem a vida em plenitude.
Contestando o platonismo e a tese das
idéias inatas, Tomás de Aquino observa que se a alma tivesse de todas as coisas
um conhecimento inato, não poderia esquecê-lo, e, sendo natural que esteja
unida a um corpo, não se explica porque seja o corpo a causa desse
esquecimento.
Para Tomás, conhecer não é se lembrar,
como pretendia Platão, mas extrair, por meio do intelecto, a forma e o
conhecimento que se acha contida nos objetos sensíveis e particulares. Do
conhecimento depende o apetite, ou o estimulo e desejo, a natural inclinação da
alma pelo bem.
O homem, só pode desejar o que conhece,
razão pela qual há duas espécies de apetites ou desejos: os sensíveis e os
intelectuais. Os primeiros, são relativos aos objetos sensíveis, e produz as
paixões, cuja raiz é o amor. Os segundos ou intelectuais, produzem a vontade,
apetite da alma em relação a um bem que lhe é apresentado pela inteligência
como tal.
Seguindo Aristóteles, Tomás de Aquino
diz que: "para o homem, o bem
supremo é a felicidade, que não consiste na riqueza, nem nas honrarias, nem no
poder, e nem em nenhum bem criado, mas na contemplação do absoluto, ou na visão
da essência Divina, realizável somente na outra vida, e com a graça de DEUS,
pois excede as forças humanas".
FONTE: http://apostoladosagradoscoracoes.angelfire.com/filoclas.html
1 Comentários
Bom dia.
ResponderExcluirApreciei muito esta publicação.
Parabéns.