Por Ir.’. Rui Bandeira
A
Maçonaria é, por vezes, vista do exterior como uma instituição fechada,
imutável, dotada de uma grande coesão, que atua em bloco. Esta visão não é, nem
de perto, nem de longe, correta. Pelo contrário, a Maçonaria é dotada de uma
invulgar diversidade, agrupando sob a mesma genérica denominação, realidades
distintas, práticas diversas, entendimentos díspares. Em todos os aspetos, a
começar logo pelas suas origens…
A
maior parte dos estudiosos da Maçonaria considera que ela tem a sua origem nas
corporações medievais de construtores em pedra, de catedrais, palácios,
fortificações, etc.. Mas essas agremiações medievais, embora partilhando regras
e costumes similares, tinham caraterísticas muito próprias e específicas, em
função da sua localização geográfica. Só para falar das Ilhas Britânicas, a
organização específica das Lojas Operativas inglesas diferia das escocesas, que
por sua vez, tinham sensíveis diferenças das irlandesas. Em França, não se pode
falar dos antecedentes históricos da Maçonaria sem referir a Compagnonage. As
agremiações de construtores da Flandres tinham usos diversos das italianas e
estas das teutônicas. Por isso, quando se afirma que a Maçonaria Especulativa
moderna evoluiu da Maçonaria Operativa – afirmação que, pessoalmente, considero
correta -, é bom que se tenha presente que esta evolução resulta de diferentes
Tradições, não inteiramente díspares, mas também não totalmente semelhantes.
Mas,
ainda no campo da origem da maçonaria, há aqueles que a situam nos Templários e
respetiva Tradição. E aqueles que a fazem remontar aos Antigos Mistérios
egípcios e ou mitraicos.
Só
no tema das origens podemos detectar assinaláveis diferenças de entendimento,
que conduzem a diversas posturas e práticas. É inevitável que haja diferenças
de concepção, mais visíveis ou mais subtis, entre quem considera praticar algo
que evoluiu das corporações medievais e quem acredita que a sua prática
descende da tradição cavalheiresca religiosa e ainda quem considera a maçonaria
herdeira dos herméticos mistérios da Antiguidade.
Mas
a Maçonaria também assume estilos e práticas diversas em função dos grandes
espaços em que se insere. Não é a mesma coisa falar-se da Maçonaria Americana e
da Maçonaria Europeia Continental. Não é de todo a mesma a realidade da
Maçonaria Inglesa e da Latinoamericana. Isto para não falar da diversidade
asiática e da progressiva afirmação maçónica em África.
Mesmo
dentro de cada bloco geográfico – diga-se assim – as Obediências Nacionais e as
práticas maçónicas em cada país mostram-nos assinaláveis diferenças e visíveis
variantes, designadamente em práticas rituais. Cada país tem uma discreta
evolução própria, que, ao longo do tempo, adquire uma individualidade
específica, também inerente às diversidades culturais dos diversos povos. Se se
assistir a uma sessão de Loja em Itália, na Alemanha, em França, num país
eslavo e em Portugal, ainda que em Lojas do mesmo rito – designadamente do Rito
Escocês Antigo e Aceite – facilmente reconhecemos um ambiente comum, uma base
partilhada, mas também diferenças, idiossincrasias, práticas próprias.
Por
outro lado, não olvidemos a transversal diferença existente entre a Maçonaria
Regular e a Maçonaria Liberal, aquela trabalhando à glória do Grande Arquiteto
do Universo e com os seus obreiros na busca de um aprofundamento espiritual,
esta efetuando os seus trabalhos à glória do Homem e do seu aperfeiçoamento
moral. Ambas têm a sua específica valia e ambas são – creio-o – necessárias.
Mas as respetivas buscas são diferentes. Sem serem reciprocamente opostas,
prosseguem caminhos diferentes, esta tendente a melhorar o relacionamento do
Homem com a Sociedade e os diferentes grupos sociais, aquela trilhando a rota
de uma espiritualidade baseada na Fé no UM universal, origem e reflexo de tudo
e todos. Ambas as vias são – repito – respeitáveis e valiosas. Ambas têm
assinaláveis pontos de contacto entre si, partilham aqui e ali caminhos e
princípios e valores comuns. Ambas têm – sobretudo – a inestimável
caraterística de integrarem homens que procuram ser melhores. Mas são
intrinsecamente diferentes. Para os cultores de cada uma das vias, essa é a
melhor. Intrinsecamente nenhuma é melhor do que a outra. Apenas diferentes.
Por
outro lado ainda, a Maçonaria pratica-se em diferentes ritos, uns mais
universais ou mais difundidos, outros mais seletos ou localizados. Sem
preocupações de exaustão, podemos referir uma dezena de ritos hoje em dia
praticados: Emulação, York, Escocês Antigo e Aceite, Escocês Retificado, Sueco,
Brasileiro, Adonhiramita, Francês ou Moderno, Memphis-Misraim, Schröder. Cada
um com simbologia própria ou diferente interpretação simbólica, ou diverso
encadeamento do ensinamento. Todos diferentes. No entanto, cada maçom de um
destes ritos, de visita a uma Loja de qualquer dos outros, reconhece ali
Maçonaria…
Mesmo
na mesma região, no mesmo país, na mesma Obediência, praticando o mesmo rito,
cada Loja tem uma prática subtilmente diferente das demais. Tem a marca da sua
individualidade, o resultado da sua evolução própria, a levemente diferente
evolução de uma mesma matriz.
E,
finalmente, dentro de cada Loja, que pratica o mesmo rito, que pertence a uma
mesma Obediência, no mesmo país e na mesma região do globo… cada maçom é –
inevitável e felizmente! – diferente do Irmão ao seu lado. Cada maçom tem a sua
pessoal busca, a sua individual interpretação, o seu diferente caráter, a sua
diversa história, o seu incomparável plano. Buscam todos o mesmo – o seu
aperfeiçoamento -, utilizando o mesmo método, seguindo o mesmo rito,
integrando-se no mesmo grupo. Mas, porque intrínseca e gloriosamente
diferentes, não prosseguem todos o mesmo caminho, à mesma velocidade e não
chegarão aos mesmos lugares. Embora naveguem à vista um dos outros. Embora se
auxiliem e influenciem mutuamente. Cada um é um diferente maçom, ainda que na
mesma maçonaria.
Quando
se fala em Maçonaria, está-se na realidade falando de todas estas diversas
maçonarias. Todas – mais ou menos – diferentes. Mas todas se incluindo no mesmo
universal conceito de… Maçonaria.
Ir\ Rui
Bandeira
Publicado
no Blog “A Partir Pedra”, em Novembro de 2010
1 Comentários
Muito excelente e esclarecedor
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