Por Ir.'. José Maurício Guimarães
Depois
de certa idade, o homem acorda de manhã cedinho, chega frente ao espelho para
lavar o rosto e... Oh!!, descobre que está cada dia mais velho. Sei que a noite
não é boa conselheira, mas as primeiras horas da manhã são formidáveis para nos
convencer de que, apesar de saudáveis, estamos envelhecendo ‒ que precisamos
corrigir rumos e acertar decisões "antes que venham os maus dias, e
cheguem os anos dos quais tenhamos que dizer: ‒ não tenho contentamento
neles" (Bíblia, livro de Eclesiastes capítulo 12, vesr.1).
Nossa Ordem nos ensina desde o dia da
Iniciação: "Se queres bem empregar a tua vida, pensa na morte". Mas
preferimos não olhar no espelho, continuamos hipnotizados, na sombra e na zona
de conforto. Continuamos pensando que somos imortais, que ficaremos para
semente; ou que teremos nossos nomes imortalizados nalguma comenda, num retrato
desbotado de uma galeria de notáveis ou, na pior das hipóteses, teremos nosso
nome atribuído a alguma biblioteca (o que representaria morte certa).
Foi
muito oportuna a mensagem escrita por nosso Grão-Mestre, Leonel Ricardo de
Andrade da GLMMG, em 6 de abril de 2015 sobre "o Homem Maçom". Não
pretendo comentar as palavras de um Grão-Mestre, mesmo porque o Irmão Leonel
tem agido e conduzido nossa Grande Loja Maçônica de Minas Gerais com total
coerência em relação ao que ele fala e escreve. Contudo, refleti bastante no que
li e me veio à mente a inquietante realidade de que nossa a sociedade
brasileira atravessa um perigoso desfiladeiro que tem, de um lado, a
exacerbação do ego e, do outro, uma brutal inversão de valores e princípios.
Sei
que estou chovendo no molhado, todo mundo já disse a mesma coisa ‒ em todas as
reuniões maçônicas ouvimos, entediados, intermináveis monólogos que sabemos
serem apenas palavras e exibição retórica da vaidade e da luta por cargos
transitórios e "poderes" que não são Poderes.
A
exata dimensão do ego decorre do conhecimento de si mesmo. Depende da coragem
com que contemplarmos, diante do espelho, nossa pequenez, nossa extrema
insignificância e, muitas vezes, o ridículo papel que desempenhamos, mesmo
diante de baterias de alegria que cobrem nossas palavras.
Apesar
de se proclamar como "escolas de moral, filosofia social e
espiritual", as instituições maçônicas, oficial ou oficiosamente, colocam
obstáculos muitas vezes instransponíveis ao trabalho educativo e cultural
nascido do anseio de seus próprios membros, pois a popularidade, como todos
sabem, está ligada ao tapinha-nas-costas e não ao estudo e à verdade.
Temos
nos preocupado com a Educação e, apesar do empenho teórico das Potências
maçônicas e suas Lojas, nosso país tem hoje (2015) a oitava maior população de
adultos analfabetos no mundo: são cerca de 14 milhões de pessoas que não sabem
ler nem escrever ‒ sem falar nos prováveis 20 milhões de analfabetos funcionais
(pessoa que, mesmo sabendo ler e escrever, são incapazes de compreender um texto
ou enunciado simples, inabilitados para a escrita ou inábeis para o cálculo
aritmético, qualidades estas necessárias para plena participação da vida social
em toda a sua dimensão).
Em
2014, o mapa da violência no Brasil foi o maior desde 1980. A revista EXAME
(julho de 2014) reportou que "as principais vítimas são jovens do sexo
masculino e negros. Ao todo, foram vítimas desse tipo de morte 30.072 jovens,
com idade entre 15 e 29 anos. O número representa 53,4% do total de homicídios
do país. Também, desse total, 91,6% eram homens."
A
solução que vem sendo apresentada ao país é "punir mais cedo"
mediante a redução da maioridade penal, enquanto que o humanismo e a verdadeira
justiça nos ensinam e impõem a todos o dever de EDUCAR MAIS CEDO. Sabemos que não é papel da Maçonaria substituir
as funções e deveres do Estado, mas é fato que ainda permanecemos calados
diante desses desmandos porque a solução deles não constitui CAUSA DE CONSENSO. Mas não podemos, nem
mesmo como cidadãos, curvar nossas cabeças ou pactuar com a política miúda dos
partidos quando a nação se encontra em crise.
Se
assuntos desta magnitude não constituírem o alvo central de nossas preocupações
e PROJETOS como maçons... então, a que viemos?
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Tenho
usado e abusado da paciência dos Irmãos que acompanham meus textos pela
internet, apontando a fragilidade e o falecimento progressivo dos pilares da
Maçonaria Universal que são a união e a fraternidade. Temos visto a perda
progressiva da plena vivência no seio da Maçonaria e o descuido com o núcleo
que sustenta nossas colunas: a família ‒ constituída como célula primeira da
sociedade e do Estado. Festas, comemorações e bajulações não respondem aos
anseios da família maçônica como um todo.
A
tão propalada "solidariedade maçônica" vem perdendo o viço e a força
sempre que perdemos a oportunidade de sermos úteis; sempre que recusamos ou
negligenciamos socorro, seja a um Irmão ou a concidadãos nossos ‒ ato que nossa
Iniciação aponta como perjúrio: "
‒ Aquilo que num
profano seria uma qualidade rara, não é mais que o cumprimento elementar de um
dever para o maçom."
A
"terna e consoladora amizade" muitas vezes não é cultivada em nossos
Templos. A ausência continuada de um Irmão deve ser uma preocupação constante
de todos e da hospitalaria em particular antes de ser percebida e apontada
apenas pelo tesoureiro da Loja. Um sentimento não precisa ser expresso como
dever para se transformar em virtude.
Mais do que nunca a sociedade volta os olhos
para a Maçonaria e pergunta se ainda somos os continuadores dos heróis que nos
antecederam...
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