Por Pedro Junk
Irmão Pedro Junk |
Em
01.08.2014 o Respeitável Irmão Rubens Sanches Hernandes, Loja Verdade e
Justiça, 3.263, REAA, GOB-PR, Oriente de Campo Mourão, Estado do Paraná,
apresenta a questão seguinte:
Com
qual pé devemos ingressar no Templo?
Temos
um membro do quadro que sempre nos questiona, como, por exemplo: Por que usamos
chapéu nas Sessões de Câmara do Meio? Nossa resposta sempre foi no sentido de
que se trata de uma antiga tradição e não pretendemos interrompê-la, por não
haver impedimento em nosso Ritual.
Esta
semana, indagou onde está previsto que devemos adentrar ao Templo com o pé
esquerdo?
Considerações:
1
– Quanto à questão no REAA.´. de se ingressar no Templo começando com o pé
esquerdo de fato é mera filigrana, já que isso nem mesmo está previsto no
ritual em vigência e nem mesmo em bons rituais derivados de fontes de água
limpa – não confundir ingresso no Templo com romper a Marcha do Grau. Nesse
caso ambas as situações são distintas e, aqui está de tratando apenas de se
ingressar no Templo.
Ocorre
que alguns autores ocultistas impondo as suas opiniões pessoais derramaram rios
de tinta inventando essa “estória” de se ingressar no Templo com o pé esquerdo.
Daí não tardou muito para que pseudoritualistas aderissem à temerária ideia.
Racionalmente
esse equivocado procedimento não possui justificativa alguma, salvo aquelas
impostas pelos “achistas” que, não raras vezes acham tudo bonito e ainda querem
impor procedimentos que não estão previstos.
2
– Já no tocante ao uso do chapéu a questão é outra, pois esse costume possui
base existencial característica em alguns Ritos maçônicos, como é o caso da
prática no Rito Escocês Antigo e Aceito.
Embora
a Maçonaria não possua origem hebraica como querem alguns autores menos
avisados, desde o século XVIII, após a criação e adoção pela Moderna Maçonaria
da Lenda de Hiran Abif como o lendário construtor do Templo de Jerusalém,
muitas práticas místicas relacionadas aos hebreus e judeus passariam a se fazer
presentes em muitos trabalhos maçônicos conforme o rito praticado, tanto na
liturgia e ritualística assim como na decoração dos Templos.
Uma
das razões facilmente explicáveis é que a Maçonaria, embora sem ser ela
considerada uma religião e com a sua autêntica idade de aproximadamente
oitocentos anos de história, nascera à sombra da Igreja Católica (cristã), cujo
Cristianismo indiscutivelmente possui suas raízes influenciadas pela cultura
hebraica.
Nesse
sentido, a ortodoxia judaica sustentada pelo Sepher Há Zoar (Livro do
Esplendor) que trata em linhas gerais, segundo a sua cultura, das relações
humanas com “Deus” traduz por esse costume de que o Homem deverá manter sempre
a sua cabeça coberta, desde o oitavo dia de vida - marcado pela circuncisão
(brit-milá) que simboliza a aliança abraâmica com “Deus”. Na prática,
entretanto, essa cobertura da cabeça é realizada pelo uso obrigatório do kipá,
que é na verdade o solidéu – do latim soli Deo = só a “Deus” – quando da
realização das cerimônias litúrgicas judaicas, embora muitos ortodoxos
mantenham constantemente a cabeça coberta também por um chapéu preto.
Em
Maçonaria e particularmente no REAA.´., onde geralmente a cobertura da cabeça é
feita com um chapéu negro e desabado, tradicionalmente deveria ser obrigatória
para todos os Mestres nas Sessões do Terceiro Grau e apenas para o Venerável
nas sessões do Primeiro e Segundo Graus.
Lamentavelmente
em muitos rituais esse tradicional costume não está mais previsto. Também
existem Ritos em que esse procedimento de cobertura é obrigatório para todos os
Irmãos em todos os Graus simbólicos e em qualquer Sessão.
Ainda
na questão da influência hebraica e o uso do chapéu nas práticas litúrgicas de
muitos ritos maçônicos, explica-se o fato, sob o ponto de vista teísta, que essa
cobertura, tal como no judaísmo, recomenda também que acima da cabeça do Homem,
de modo transcendental, onisciente, onividente e onipresente está a presença de
“Deus”, ou o Grande Arquiteto do Universo para a Maçonaria.
Em
tese adverte a insignificância humana perante o “Criador”, evidenciando a
incapacidade de compreender a divindade, já que sendo a cabeça a morada da
mente e do conhecimento, a sua cobertura denota nessa interpretação. Em última
análise é o símbolo da submissão do Homem a “Deus”.
Sob
o ponto de vista histórico e figurado na Moderna Maçonaria, a cobertura da
cabeça remonta das cortes europeias, sobretudo na França do século XVIII,
quando o rei na presença dos seus súditos (inferiores hierárquicos) cobria a
cabeça em alusão a sua superioridade (figuradamente é o Venerável nas sessões
de Primeiro e Segundo Graus).
Já
o rei reunido com seus pares todos, em menção a igualdade, mantinham a cabeça
coberta (é o que ocorre em uma Sessão do Terceiro Grau – todos são Mestres).
Concluindo,
ficam então aqui consignadas essas considerações que ponderam justificativas
para os procedimentos alusivos ao tema (uso do chapéu), entretanto fica o
alerta de que o mencionado apenas se propõe a trazer luzes para relevar
costumes hauridos da tradição maçônica sem, contudo se arvorar em desrespeito
dirigido a qualquer ritual legalmente aprovado e em vigência.
Como
fora aqui anteriormente mencionado, muitos desses costumes relacionados ao uso
do chapéu, lamentavelmente não mais estão previstos nos rituais, ou quando não
em outros, usa-se o termo “a critério do Venerável”. Como a imensa maioria nem
sequer entende a razão da prática, o que se diria então se a mesma ficasse “a
critério do”.
T.F.A.
PEDRO
JUK
jukirm@hotmail.com
Fonte:
JB News – Informativo nr. 1.563 Florianópolis (SC) – quinta-feira, 8 de janeiro
de 2015
0 Comentários