*Por
Barbosa Nunes
Cansado
de violência, de palavras que ferem, de uma sociedade que a cada dia prega o
amor em Cristo, mas na prática só ama o poder material, de famílias
desajustadas que esquecem seus filhos, recolho-me neste artigo ao mundo sincero
e confiável de jovens entrando na adolescência.
Recebi
do meu neto Paulo Henrique de Oliveira Brandão, 12 anos, próximo dos 13,
coletânea produzida por alunos e colegas de sua “Escola Interamérica”,
intitulada “Projeto Literário – Homenagem a Vinícius de Moraes”, a partir de estudos
realizados sobre o autor. “O objetivo é formar leitores e escritores
competentes que possam transcender a forma material da escrita e mergulhar no
âmbito mais profundo da literatura, repleta de representações simbólicas da
linguagem”.
Na
apresentação o “Projeto Literário Interamérica”, registra que a coletânea
sintetiza parte da caminhada consciente de que ela dura uma vida inteira. Os
textos fazem parte de momentos diferentes de produção em sala de aula, sendo
que cada aluno contribuiu com um texto a sua escolha, entre várias criações.
Fiquei
emocionado ao sentir, mesmo superficialmente, o mundo deles, período especial
de crescimento, e em construção.
Buscando autonomia da vontade e maturidade, o que gerará mudanças em suas
personalidades. Percebi nitidamente as características e competências que os
trabalhos revelam, capacitando jovens para o preparo quanto a deveres e papeis
sociais de futuros adultos. Vi também nas produções que ser adolescente é ser
feliz, ter o direito de algumas responsabilidades com a vida, às vezes
inseguros, carentes, mas, autênticos e donos de si. Vi e senti vontade própria,
sonho de cada um, pensamento às vezes contrário, mas também crítico, sincero e
honesto.
Caminhei
por esta fase maravilhosa que nunca voltará e que fará muita falta, fase
incrível, única, rápida e que deixa saudades.
Cumprimento
a todos, em especial à professora Tereza Cristina Carvalho, por ser guia de encaminhamentos de vidas literárias para
seres humanos que não são crianças grandes, nem pequenos adultos, mas um grupo
em si, capaz de falar sobre amor, desamor, sol, lua, sequestros, mitos,
liberdade, luz, escuridão, terra, mar, felicidade, pescaria, amor impossível,
virada da vida, flor, guerra, princesa e romance, entre outros temas.
Não
podendo registrar na totalidade, destaco alguns, naturalmente iniciando pelo
orgulho e alegria de ser avô de Paulo Henrique de Oliveira Brandão, aluno neste
trabalho, orientado pela professora Tereza Cristina Carvalho, que enfocou o
tema “Amor – um remédio para todas as horas”, intitulado “O remédio do
desamor”, assim iniciando e concluindo o seu texto.
“Informação
ao usuário: O desamor pode ser contagioso se houver insistência. Normalmente se
inicia com raivas e brigas, que com o tempo tomam conta da alegria. A razão
começa a ficar abalada e o coração fica vazio de sentimentos. Espalha-se por
todo o corpo de forma rápida, pausadamente e curta. Permanece no coração
causando o desamor. Esse remédio é somente para quem sofre de amor excessivo,
esquecendo-se do amor próprio.
Composição:
Não definida nos meios científicos. Contraindicação: Não deve ser administrada
em pessoas de otimismo congênito.
Interações
medicamentosas: Contém ingredientes que suspendem a alegria e a falta de
solidão. Durante o tratamento, os pacientes ficam plenos de solidão, tristeza,
raiva e irritação. Pode provocar diminuição dos batimentos cardíacos, sensação
de desconforto, suor excessivo nas mãos, um calorzinho desconfortável na barriga
e momentos de medo. Em alguns pacientes deve-se suspender imediatamente o uso
quando se percebe que está causando tristeza profunda ou dependência da
solidão.
Posologia
(doses): Não pode ser usado em nenhum momento do dia, somente a noite e em
pequenas doses”.
Ana
Sofia Bittar Pacheco, já antecipando como futura poetisa, trouxe “Os diferentes
também se amam”.
“O
dia e a noite são tão diferentes, mas quem disse que os opostos não atraem
gente? O dia é agitado, a noite é quietinha. O dia é barulhento, a noite é
caladinha. O dia é iluminado, a noite, escurinha. São gostos e jeitos tão
diferentes, mas amam e encantam toda gente.
O
melhor é o por do sol! É o grande momento. Em que o dia encontra a noite, para
o casamento. Quando o céu fica vermelho é que eles querem avisar. Que a noiva
beijou o noivo e o casamento terminará. Quem disse que era impossível o dia e a
noite se amarem. Se todo dia observam eles se encontrarem”.
Laila
Soares Lemes Kossa Galli, buscou “A Terra e o Mar” e escreveu: “O mar ama a
terra, a terra ama o mar. O mar é molhadinho, a terra é sequinha. O mar é
agitadinho, a terra é calminha. Muita gente diz: Esse amor não vai dar! Eu não
concordo. O que custa tentar? O amor é bonito, amor não tem preço, o amor não é
justo, mas mesmo assim é verdadeiro.
Não
tem problema ser de mundos diferentes, você só tem que saber amar como a gente.
As pessoas dizem: “Isso é impossível”, mas a terra e o mar se amam. Isso é
invencível. Podem até ser diferentes, mas isso atrai a gente. Quando as ondas
se quebram, ele se encontram e agora está acontecendo, um lindo casamento”.
Luisa
Inácio Marçal Batista em “O amor é como uma flor”. “Uma rosa cheira a amor. Uma
margarida cheira a alegria. E um cravo cheira a quê? Um cravo tem espinhos,
espinhos que lhes tornam único. O amor machuca, fere, mas traz alegria, que nem
o cravo, ele pode machucar, mas também pode arrancar belos sorrisos de quem o
vê. Tudo que existe nesse mundo, tem uma função.
Uns
tem a função de fazer o bem e outros tem a função de fazer o amor! Não tenha
medo de arriscar, porque quem não arrisca não petisca e nem descobre o sentido
de amar”.
Penso
eu que inspirada no mundo atrapalhado de hoje, Marcela Rodrigues Abdallah,
produziu “A bicharada atrapalhada”. “Num lugar muito distante atrás do morro
molhado, existe uma floresta onde tudo é trocado. Os animais são diferentes,
nunca vi nenhum igual e todos vivem contentes, pois acham tudo normal. A zebra
é toda pintada e a girafa listrada. O macaco não tem cauda, o elefante é bem
magro. A onça anda bem devagar, o hipopótamo corre sem parar. O coelho anda se
arrastando e a tartaruga saltando. O papagaio não sabe falar e o pavão vive a
tagarelar. Os peixes sabem voar e os passarinhos a nadar. O avestruz não sabe
correr, a coruja pode morder, o pato sabe cacarejar e a cigarra vive a piar.
Quem
por ali passar vai ficar admirado! De ver que numa floresta só tem bicho
atrapalhado!”.
Lendo
os trabalhos, caminhei pelo mundo dos jovens colegas do meu neto, sentindo suas
inspirações poéticas, desejos de uma vida futura melhor, críticas e sentimento
muito forte de paz, amor e desamor, muitos já caminhando pela ficção.
Parabenizo, então a professora Tereza Cristina, da Escola Interamérica pela
iniciativa e especialmente os alunos pelos textos produzidos.
*Barbosa Nunes é
Grão-Mestre Geral Adjunto do Grande Oriente do Brasil
Texto publicado
originalmente no Diário da Manhã - Goiânia
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