*Por Ir.'. José Maurício Guimarães
Ir.'. José Maurício Guimarães |
O
atual impasse da Maçonaria ‒ esse aparente "beco sem saída" que leva
tantos Irmãos a questionarem se estamos sendo úteis à sociedade ‒ passa pelo
conceito e características do nosso objetivo.
Nunca
se questionou tanto nosso papel no mundo atual. Na falta de um fórum adequado
para essas discussões, que deveria acontecer nos Templos, a internet supre o papel do "quarto
de hora de estudos", dos "períodos de instrução", da
"palavra a bem da Ordem", etc. Só assim os maçons têm oportunidade de
expressarem suas ideias e insatisfações sobre o exercício do livre pensamento
que, ao contrário das premissas tradicionais da Maçonaria, vem sendo cerceado
nalguns segmentos da Ordem.
De
modo geral, o povo maçônico tem sido mero expectador e ouvinte passivo de
exposições intermináveis de uma elite que não abre espaço para a livre manifestação
de ideias e expressão do contraditório. Resultado: a Maçonaria (que tem por fim
tornar feliz a humanidade) não escapa à angústia deste século deixando de
propiciar o melhor da vida iniciática a seus membros.
A
repetição mecânica de rituais, a decoreba de palavras e gestos cujo significado
escapa à maioria dos Irmãos, toma o lugar do exercício da reflexão sobre nosso
papel nesta época de aceleradas transformações. Por puro comodismo (e pelo
"adiantado da hora"), há os que inventam novos papéis para os maçons
‒ desde que não exijam riscos ou grandes esforços: é mais confortável decorar e
seguir as instruções de um "guru" do que pensar com a própria cabeça,
pois "combater os inimigos da humanidade, os hipócritas, que a enganam, os
pérfidos, que a defraudam, os ambiciosos, que a usurpam e os corruptos que
abusam da confiança do povo. A estes não se combate sem o perigo... de colocar
o pescoço nas mãos do carrasco.
No
íntimo, todos sabemos que o papel da Maçonaria é educativo ‒ "um sistema
e uma escola de filosofia social ensinada por símbolos, que guia seus adeptos
num sistema de moral prático mediante o aperfeiçoamento dos mais elevados
deveres de homem cidadão".
Tenho
descrito esse papel da Maçonaria como PROCESSO CIVILIZATÓRIO, expressão que não
inventei nem tirei da cartola, pois evidencia-se na caminhada dos pedreiros
livres durante mais de seis séculos de história.
Quando
escrevi a tese para a XLI Assembleia Geral Ordinária da Confederação da Maçonaria
Simbólica do Brasil-CMSB, intitulada "A MAÇONARIA E SEU ENVOLVIMENTO COM
AS CAUSAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO" (Rio Branco ‒ AC, 5 a 11 de julho de 2012),
outro não foi o objetivo, apoiado pela GLMMG, senão o de demonstrar o Processo
Civilizatório na erradicação da criminalidade, no combate à corrupção e à
violência. Esse papel e dever que nos incumbe como homens e cidadãos constitui
na promoção de aprendizagens de qualidade em todos os níveis: na redução do
desemprego, no desenvolvimento sustentável, na proteção do meio ambiente, na
humanização da habitação, na redução da mortalidade infantil, na igualdade de
direitos para ambos os sexos e em padrões mais adiantados para a saúde.
Apesar
de a tese escrita para a CMSB (e que posteriormente transformei numa palestra
intitulada "EDUCAR-SE PARA EDUCAR") ter sido reconhecida e aprovada,
não foi posta em prática, não obstante uma centena de propostas que apresentei.
Por outro lado, e infelizmente, os mais entusiastas "leram o texto por
cima" e entenderam equivocadamente EDUCAÇÃO FORMAL (a que eu me referia) com
"educação de berço", bons modos... ou seja: não jogar papel no chão
nem atirar restos de comida nas calçadas.
A
Maçonaria atual sente-se mais acomodada em abraçar causas de consenso ‒ aquelas
que não contestem as decisões do sistema. Falar do analfabetismo e da péssima
condição das escolas públicas (federais, estaduais e municipais) fere os
interesses dos "governantes", pois um povo alfabetizado não votaria
na classe política que vem se apossando das instituições nacionais.
Basta
lermos o noticiário ‒ ou, para os que são avessos à leitura, basta ficar diante
da televisão:
1
– No discurso da recém reempossada Presidente da República ouvimos falar em
“Pátria Educadora”, mas poucas semanas depois tomarmos conhecimento da manchete:
“O segundo mandato da presidente, cujo lema é “Pátria Educadora”, começa com um
corte de quase R$ 600 milhões nos seus gastos discricionários (não
obrigatórios) com Educação. A pasta teve o maior contingenciamento das chamadas
despesas de custeio nos 39 ministérios do governo, conforme o decreto publicado
no Diário Oficial da União de 08/01/2015 e assinado pela chefe do Executivo e
pelo seu novo titular do Planejamento" (jornal Estado de Minas,
09/01/2015).
2
‒ O portal G1(GLOBO, 13/01/2015) nos dá conta de uma triste realidade:
"529 mil alunos ficaram com nota zero na redação do Enem 2014, diz
MEC". O vergonhoso resultado representa 8,5% dos candidatos participantes
do último exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ainda segundo o MEC, a média
das notas em redação teve uma queda de 9,7% em relação ao Enem do ano passado;
em matemática, a queda foi de 7,3%.
Ser
avaliado com zero em redação quase que equivale ao analfabetismo funcional,
isto é: indivíduos que, mesmo capazes de identificar letras e números, não
conseguem interpretar textos e realizar operações matemáticas mais elaboradas.
A capacidade de escrever e redigir, pelo menos razoavelmente, está na razão
direta da capacidade de a pessoa entender o que lê. Não é à toa que os trabalhos
para "aumento de salário" na Maçonaria são apresentados POR ESCRITO
(peças de arquitetura); é através desse recurso que as Lojas avaliam o futuro
Companheiro ou Mestre ‒ se ele sabe apenas identificar letras num texto ou se é
capaz de interpretar e realizar concepções mais elaboradas sobre sua
participação na Maçonaria e na sociedade.
A
formação do maçom passa pela leitura, seja a leitura dos rituais, das instruções,
das leis, dos regulamentos, atos, decretos, etc. Daí eu ter modificado o título
da tese na palestra que intitulamos "Educar-se Para Educar", pois o
iniciado há de primeiro EDUCAR-SE para em seguida pretender educar. Há de
primeiramente INICIAR-SE para depois ambicionar cargos ou malhetes. A palavra "educação"
vem de ex+duco, e+ducare = "conduzir para fora" ‒ equivalente ao mito
iniciático na caverna de Platão ‒ quando o homem esclarecido traz para fora,
para a luz, aqueles que estão acorrentados na obscuridade. Este é o papel da
Maçonaria, é o papel dos Graus Superiores, das Academias Maçônicas de Letras,
das paramaçônicas Ordem DeMolay e Filhas de Jó.
Liderança
é apenas consequência.
Na
Maçonaria atual os fatores propícios ao desenvolvimento social e educacional
estão deslocados para plano secundário.
A
integridade do ponto focal ‒ isto é, a orientação segundo a qual se efetua
nosso movimento ‒ é que reanima e revigora a força do grupo e impede que os
indivíduos percam a ligação interna, sucumbindo à alienação e demais sintomas
de uma participação carente de significado. Este fenômeno degenerativo está
presente na maioria das instituições da atualidade, não apenas na Maçonaria.
Dentro desse quadro surgem os indivíduos que assumem, por si mesmos, o sentido
e interesse da Ordem em outros poderes reprojetados em movimentos que visam à
simples busca do poder pelo poder.
No
campo reservado ao estudo, os "gurus" inventam outras interpretações
e acabam adulterando o ponto focal segundo o qual deveria se efetuar o
movimento de libertação almejado pela Maçonaria.
Precisamos
de homens capazes de abrir caminhos para os que querem raciocinar acertadamente
e buscar soluções para os desafios da vida.
Quem
teve a oportunidade de ver o filme recente de Ridley Scott, “Êxodo, Deuses e
Reis”, há de se lembrar da última fala de Deus para Moisés:
"
MESMO
QUANDO O LÍDER VACILAR, A PEDRA PERMANECERÁ".
FONTE: JB NEWS
*Irmão José Maurício Guimarães é Bacharel em Direito pela Universidade Federal de M.G. e Professor.
FONTE: JB NEWS
*Irmão José Maurício Guimarães é Bacharel em Direito pela Universidade Federal de M.G. e Professor.
Membro
da Loja Inconfidência nº 47 jurisdicionada à Grande Loja Maçônica de Minas
Gerais.
Venerável
Mestre da LOJA MAÇÔNICA DE PESQUISAS QUATUOR CORONATI PEDRO CAMPOS DE MIRANDA
também jurisdicionada à Grande Loja Maçônica de Minas Gerais.
Membro
da ACADEMIA MINEIRA MAÇÔNICA DE LETRAS, Cadeira nº 39.
Inspetor
Geral Grau 33 do Supremo Conselho do Grau 33 da Maçonaria para a República
Federativa do Brasil.
Maçom
do Arco Real Inglês (Capítulo 51 Belo Horizonte)
Grande
Bibliotecário da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais.
Membro
da Escola Maçônica Antônio Augusto Alves de Almeida da Grande Loja Maçônica de
Minas Gerais.
1 Comentários
Maravilhoso!
ResponderExcluirDisse tudo, Venerabilíssimo Ir.'. José Maurício Guimarães.
Obrigado, Ir.'. Luiz Sérgio Castro.
SSS