*Por Barbosa Nunes
Professor Ferreirinha |
Inicio este
artigo, prestando homenagem muito saudosa antes de abordar o tema que o
intitula. Companheiro de dezenas de viagens madrugada adentro, fiel amigo e
irmão de maçonaria. Francisco de Assis Azeredo Oliveira, “Chico”, cumpriu
corajosamente com fé e altivez o que lhe foi reservado em continuado sofrimento
nos últimos meses, mas sempre resignado. Foi sepultado na “Capital da Fé”,
Trindade - Goiás, onde seu pai Philipe Alves de Oliveira foi juiz de direito,
prefeito, fundador e venerável mestre da Loja Maçônica João Braz, que no
próximo dia 30 completará 80 anos, com atividades iniciadas em junho de 1934.
Jaguarari é um
município do sertão baiano, distante de Salvador 411 quilômetros, localizado entre
as montanhas da Chapada Norte, com população aproximada de 30 mil habitantes. O
nome Jaguarari é de origem indígena e significa “onça pequena”. Nome este que
pertencia ao guerreiro indígena que se destacou entre os demais, “Indio
Jaguarari”.
Distante da sede
do município, 40 quilômetros mais sertão ainda, um povoado denominado Flamengo
esconde uma história de ensinamento de vida. Lá está o Professor Ferreirinha,
grande guerreiro de Jaguarari. Estudou para lecionar no primário, migrando da
área para preencher vazio na educação física do município. Leia mais
Atendendo um
pedido de sua filha que desejava ser atleta, criou uma escola hoje já com 75
alunos. Ao início corria com sua filha pelas ruas esburacadas todos os dias e
as crianças começaram a acompanha- lo, quando ele olhou para trás em um
determinado dia, viu que 50 crianças o seguiam.
Foi encontrado,
descoberto e mostrado ao Brasil, pelo apresentador Luciano Huck que em
emocionante narrativa divulgou a história de sua vida e de seu rústico e pobre
local de prática esportiva.
A emoção me
invadiu. Convido os amigos de todos os sábados para acessarem pela internet o
programa “Caldeirão do Huck” do dia 07 de junho, muito bem produzido, com o
quadro “Um por todos, e todos por um”. Técnica impecável, textos emocionantes e
um sentido humano e social de grande extensão.
Muitos poderão
dizer que é só para ganhar audiência. Digo eu que, se todos os canais assim
fizessem, o mundo poderia ser um pouco melhor, pois o que nós recebemos em
nossas casas são noticias de crimes, violências, estupros, pedofilia e
corrupção desenfreada praticada pelos colarinhos brancos e gestores públicos.
Foi mostrada uma
região castigada pela falta de chuva há mais de dois anos, praticamente não
possuindo verde, rios sem água que viraram amontoados de pedras, paus e terra.
Neste cenário o
Professor Ferreirinha tenta mudar a realidade das crianças, através do centro
de atletismo que montou, com aparelho de salto feito com pneus e colchões
usados. Garrafas pets, tubos de PVC, madeiras, elásticos, têm funções para os
treinamentos das crianças, algumas sem tênis, correndo em piso de pedras,
gravetos e estercos.
Veja a grandeza
desse homem, quando com esperança, otimismo e dedicação, assim se expressa:
“Comecei com minha filha que cobrava de mim o desejo de ser atleta. A gente
passa por muitas dificuldades, mas nós não estamos aqui para enumerar as
dificuldades e sim para contar as nossas vitórias. As crianças esperam muito de
mim, só peço saúde a Deus para que eu possa ajudá-las. Mostro às crianças do
sertão nordestino que é possível acreditar no futuro, mesmo diante de
dificuldades.”
Luciano Huck mostrou
como os empreendedores sociais fazem toda a diferença onde vivem com pouco ou
quase nenhum recurso, mas contando com a ajuda da comunidade. Foi ao povoado do
Flamengo, conheceu Ferreirinha, criatura cheia de iniciativa e força de
vontade, que muitas vezes abriu mão da manutenção de sua família para oferecer
o melhor que podia para as crianças.
A comunidade foi
mobilizada pelo Caldeirão do Huck e em mutirão contribuiu. No prazo de 10 dias
nasceu um novo centro de atletismo com salas e equipamentos novos e modernos,
aparelhos de ginástica, bicicletas, uma moto, poço artesiano, dependências
necessárias para acolhimento confortável e um cheque de 10 mil reais para a
manutenção. Durante este período Ferreirinha e sua família foram levados pelo
programa para conhecerem o centro de atletismo de São Caetano do Sul - São
Paulo. Ao voltarem, a grande surpresa. Ferreirinha, chorando aos prantos, viu e
não acreditou, ficando profundamente emocionado. Ainda de olhos vendados foi
questionado pelo apresentador. “Vamos te oferecer coisas para você e família. O
que deseja receber? Respondeu na sua pureza e simplicidade: “As crianças
precisam de uma casa nova, uma sede digna, um centro esportivo que permita
recebê-las como seres humanos incluídos em possibilidades para o futuro.”
Ferreirinha é um
construtor de sonhos. Lutou, sonhou. Serve de motivação para tantos outros por este
Brasil. A minha sensibilidade aflora e me revela que a beleza depende do nosso
olhar. Ela existe porque o ser humano é capaz de sonhar. Ferreirinha sonhou e
como disse Paulo Freire, “boniteza de ser gente, boniteza de ser professor”.
Ferreirinha é gente bonita, é professor, embora muito e muito desvalorizado
pelo brasileiro. Mas lá no seu sertão, agora em melhores condições, continuará
se batendo contra a exclusão social, na continuidade de animador dos grupos que
criou e o seu exemplo vai se multiplicará.
Ferreirinha, o
professor que é alimentado pela esperança, vive intensamente o seu tempo com
consciência e sensibilidade, cuida de crianças e jovens, construindo sentido
para vida, buscando juntos um futuro mais saudável.
No Professor
Ferreirinha, meu orgulho de ser brasileiro. Mas também veio-me tristeza também como
na música “Gente Humilde”, de Vinicius de Moraes e Chico Buarque. Em homenagem
a ele, e a comunidade pobre do povoado de Flamengo, simples e humilde, cantemos
esta página que encanta e comove, narrando pessoas simples em suas rotinas
diárias, como as que existem no povoado de Flamento.
“São casas simples, com cadeiras na calçada. E na fachada escrito em cima
que é um lar.
Pela varanda, flores tristes e baldias. Como a alegria que não tem onde encostar.
Pela varanda, flores tristes e baldias. Como a alegria que não tem onde encostar.
E aí me dá uma tristeza no meu peito, feito um despeito, de eu não ter
como lutar. E eu que não creio, peço a Deus por minha gente. É gente humilde.
Que vontade de chorar.”
* Barbosa Nunes é Grão-Mestre Geral Adjunto do Grande Oriente do Brasil
2 Comentários
Com essa narrativa,veio a mim uma pergunta,o que tenho feito em beneficio dos meus semelhantes?
ResponderExcluirE mais do que nunca cresce em mim uma imensa vontade de me autoavaliar e deixar que a benevolência q existe em cada ser,se manifeste em forma de gestos e atitudes externas,com o objetivo de sentir a felicidade e o bem estar de outrem.
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