Qual é a tua obra?

Barbosa Nunes
Em 7 de fevereiro de 2008, fui presenteado com o livro Qual é a Tua Obra?, de Mário Sérgio Cortella – Editora Vozes. Dedicatória gentil e de próprio punho do maçom Jacyntho Fernandes Dutra. Pesquisador, membro da Loja de Pesquisas Maçônicas Brasil Central, profundo estudioso do “Rito de York”, o mais utilizado na maçonaria dos países de língua inglesa.
Transcrevo com agradecimento a dedicatória de cinco anos passados: “Caro Irmão Barbosa; o livro não traz propriamente novidades. Fala do que a gente já conhece, consciente ou intuitivamente. A vantagem dele reside na forma ordenada das informações, que a gente as tem desordenadas. Penso que você vai tirar grande proveito dele e, ao final, saberemos “Qual é a tua obra”. “Há de ser boa”. Fraternalmente – Irmão Jacyntho - 07/02/08.
Mário Sérgio Cortella é paranaense, nascido em Londrina, filósofo, mestre em Educação, doutor em Educação e professor de Teologia, autor de diversos livros, entre eles Qual é a Tua Obra? Inquietações Propositivas sobre Gestão, Liderança e Ética. Leia mais

Ao ler um livro, tenho por hábito sublinhar frases, marcar textos e fazer anotações na margem da página. Ao concluir a leitura, o livro está todo marcado e o faço no sentido de tornar identificados com mais rapidez os pontos que, na minha apreciação, contém maior qualidade literária. Não apenas leio, mas releio por diversas vezes, já focando as partes evidenciadas.
Marquei este que merece meditação: “O que é a espiritualidade? É a sua capacidade de olhar que as coisas não são um fim em si mesmas, que existem razões mais importantes do que o imediato. Que aquilo que você faz, por exemplo, tem um sentido, um significado. O líder espiritualizado, mais do que aquele que fica fazendo meditações e orações, é aquele capaz de olhar o outro como o outro, de inspirar, de elevar a obra, em vez de simplesmente rebaixar as pessoas. Então a espiritualidade é a capacidade de respeitar o outro como o outro e não como um estranho.”
Vivemos em momento triste no País, em que liderança no seu significado mais aperfeiçoado – arte de atrair seguidores, influenciar de forma positiva mentalidades e comportamentos, está morrendo. Morte de uma noção cansada e improdutiva de liderança. Seguidamente torna-se desacreditada pela ação negativa de supostos “líderes” em todos os setores. Financeiros, administrativos, religiosos e especialmente na atividade política, que hoje detém o descrédito de cercade 84% da população brasileira. São controladores, manipuladores e exploradores.
Vejamos. “Por que um bombeiro, que não ganha muito e trabalha de uma maneira contínua em algo que a maioria de nós não gostaria de fazer, volta para casa cansado, mas de cabeça erguida? Por causa do sentido que ele vê no que faz. Por causa da obra honesta, a serviço do outro, independentemente do status desse outro, da origem social, da etnia, da escolaridade”. Análise sobre liderança, encontrada no livro que sugiro leitura.
Será, fico a pensar se esses homens considerados importantes nos mais diversos setores da Nação, elogiados e condecorados, que se apresentam como exemplos de dignidade e ao serem revelados pelos comportamentos destoantes, como ficam perante suas famílias, seus filhos e em específico, centenas de milhares de eleitores? Será que não carregam no seu interior a testemunha mais verdadeira que é a consciência?
Cortella afirma: “Nós somos animais arrogantes. Qual o contrário de humildade? Arrogância! Gente arrogante é gente que acha que já sabe, que acha que não precisa aprender, que costuma dizer: ‘Há dois modos de fazer as coisas, o meu ou o errado. Gente arrogante não ouve discordância e não consegue crescer. Nós somos um animal arrogante. Há pessoas que se recusam à mudança porque acham que já estão prontas e se ofendem quando são chamados de animais.’”
Quando a população se levanta exigindo mudanças, como cordeiros vão cedendo em alterações apressadas e rápidas, com muito medo, pois estão perdendo o chão onde pisam. Assim como aconteceu recentemente com o famoso deputado federal Donadon, hoje presidiário.Com seu prestígio político protelou um processo durante 7 anos e ainda foi absolvido pela Câmara Federal.Ajoelhado, agradeceu a Deus pelos votos que naquele momento o salvaram, como se Deus pudesse estar solidário a ele. Foi absolvido por pouco tempo, mas o Poder Judiciário via um ministro do Supremo, determinado e competente, Luis Roberto Barroso, não permitiu o desrespeito e desobediência com a Justiça, colocando a “excelência” no seu devido lugar, Presídio da Papuda, em Brasília.
Concluo sob meu ponto de vista. A liderança como conhecemos está morta. A maioria dos líderes abusa de sua posição e perde a noção dos limites morais. Os princípios da liderança tradicional, não funcionam no mundo moderno. Ganância, egoísmo, corrupção e defesa de interesses pessoais e particulares na administração pública nos últimos anos, tem trazido consequências devastadoras. A maioria dos “líderes” é vista atualmente com ironia na imprensa. Perderam a confiança que os devia inspirar e motivar, não só nos cargos do setor público, mas também das lideranças civis no País inteiro, nas grandes cidades, nas grandes empresas quanto nos pequenos e em isolados e pobres municípios.

Durante décadas a corrupção está presente. Manobras de poder, exclusão social, perca de respeito, chefões políticos e financeiros. Acreditamos, queremos e temos fé que esta geração que se levanta conduzirá uma missão em que a confiança seja restabelecida entre quem governa e o povo brasileiro. Que juntos possamos responder positivamente em futuro bem próximo, a pergunta: “Qual a tua obra?”, como desejou na dedicatória o amigo Jacyntho, em relação a mim, que eu transfiro a todos que me distinguem com suas qualificadas leituras: “Há de ser boa”.

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