Com os pesquisadores mais abalizados é
assim: a história anda de trem, mais lentamente. Mastiga-se os fatos,
confrontando-os de maneira nuançada. O resultado, às vezes, é uma história mais
discutida do que afirmativa. Com o jornalista Laurentino Gomes é diferente: a
história anda de jato, com fórmulas e “piadas” nada sisudas sobre personagens
históricos, não raro caricaturizados.
Seus livros são bem escritos, chegam a
ser divertidos, mas, apesar de uma consulta exaustiva da bibliografia, quase
sempre são rasos. Fica-se com a impressão de que o repórter é o Lula do
jornalismo: teria reinventado a história do país. Mas há pelo menos um ponto
positivo: desperta leitores para o que aconteceu no país, convocando-os para
entender o que os brasileiros fizeram de 1808 até 1889 (81 anos). O que somos
hoje não foi necessariamente gerado ontem, e sim há muitos e muitos anos.
Gomes não escreve para especialistas.
Seus livros são dedicados ao leitor comum, aquele que leu Paulo Coelho e,
evoé!, escapou de suas teias. O repórter é o Paulo Coelho da história. Mas
modernizado — até porque escreve melhor e de maneira mais convincente. Agora,
temos “1889” (Globo, 416 páginas), que ganhou subtítulo longo e chamativo:
“Como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado
contribuíram para o fim da monarquia e a Proclamação da República no Brasil”.
As fórmulas (quase piadas) estão de volta: “imperador cansado”, “marechal
vaidoso” e “professor injustiçado”. A história é assim mesmo? É, mas não só,
como nos mostram George Duby e Jacques le Goff e, no Brasil, Ronaldo Vainfas e
Mary del Priore.
Fonte: R. Bula
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