"Há tantas situações no Brasil e no mundo que reclama atenção"

*Por Barbosa Nunes
Há 785 anos passados, exatamente no dia 16 de julho de 1228, era canonizado São Francisco de Assis, nascido Giovanne Francesco di Bernardoni, falecido em 1226, reconhecido em 1979 pelo Papa João Paulo II, como padroeiro da ecologia, protetor dos animais, que após uma visão estranha despertou para uma nova vida. Renunciou suas riquezas e começou a pregar o arrependimento, ganhando seguidores, vivendo vida simples no leprosário de Rio Torto, proximidades da cidade de Assis na Itália.
Viveu para o bem, afirmando em algumas de suas frases, que até hoje permanecem como orientativas e que nos chamam à meditação: “Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível e de repente você estará fazendo o impossível”.
“Apenas um raio de sol é suficiente para afastar várias sombras”. “Ninguém é suficiente perfeito que não possa aprender com o outro e, ninguém é totalmente destituído de valores que não possa ensinar algo ao seu irmão”. Penso que São Francisco de Assis foi Jesus em seu tempo.
Agora aparece Jorge Mário Bergoglio, nascido em terras sul americanas, cidade de Buenos Aires em 17 de dezembro de 1936, recebendo a missão de ser Papa em 13 de março de 2013, identificado em sua vida simples e ao lado dos pobres pelo nome de Francisco, por ele preferido.Leia mais
Sua primeira viagem além dos muros do Vaticano acontece nesta semana em nosso país, quando em todos os seus gestos e palavras demonstrou simplicidade, amor aos mais pobres, considerando a todos como irmãos e irmãs.
Chegou numa hora antecedida por manifestações populares originárias de uma série de razões que desequilibram o funcionamento de nossa sociedade, razões que demonstram a necessidade de mudanças e práticas democráticas, justas e não vinculadas à corrupção, esta repudiada por todos nós, mas compreendida, aceita e presente em especial nas variadas classes política e administrativa do setor público.
O Papa Francisco vem para um novo tempo que desejamos no país, reduzindo o medo que todos nós estamos sentindo, do desemprego, da violência, para surgimento de uma sociedade menos consumista e de crédito. Abordando o uso de drogas disse em um centro de recuperação para dependentes químicos: “Há tantas situações no Brasil e no mundo que reclamam atenção, cuidado, amor, como a luta contra a dependência química”.
Zygmunt Bauman, em entrevista ao jornalista Sílio Boccanera, do Programa Milênio, da Globo News, assim se expressou: “Eu sou o que eu compro. Esse fenômeno faz parte da fluidez na sociedade de consumo onde não se valoriza o permanente, mas o temporário. Não sei se estamos vivendo em outra depressão. Temos prognósticos muito ruins, em especial se perguntarmos sobre a situação das pessoas. As pessoas comuns estão vivendo com muita ansiedade e medo ininterruptamente, pois, na maioria dos países, com poucas exceções, o desemprego não para de aumentar”.
Nesta semana mesmo, aqui no Brasil, a taxa de desemprego ficou em 6% (seis por cento), o país cresce menos e o nosso poder aquisitivo se reduz a cada mês. Isto é altamente preocupante para a paz e o equilíbrio administrativo das prefeituras, estados e união. Há que se pensar com seriedade absoluta quanto à corrupção no meio público. Se esta não for eliminada e os seus praticantes afastados e punidos, todos nós pagaremos um preço altíssimo.
Disse recentemente o arcebispo de Belo Horizonte dom Walmor Oliveira de Azevedo, referindo-se à Jornada Mundial da Juventude e a importância da visita do Papa Francisco, analisando a necessidade de mudanças: “A lista das questões consideradas na grande bandeira, que é o anseio por mudanças, inclui desde a tarifa de ônibus ao exercício da política na sociedade brasileira, particularmente, a partidária. As manifestações não são motivadas e empurradas pela força que propriamente poderia vir, dos partidos políticos ou de outras instâncias institucionais. As mudanças parecem ser pretendidas pelo conjunto da sociedade brasileira, com mais participação nas decisões, na escolha de prioridade e no que é essencial para uma vida digna. Providências urgentes são esperadas por parte dos responsáveis primeiros, incluindo a participação singular de cada cidadão.”
Leonardo Boff, teólogo e escritor, produziu o artigo intitulado “O que São Francisco diria aos jovens de hoje”, em momento da visita do Papa Francisco que está no Brasil pelos jovens e em função da Jornada Mundial da Juventude, assim diria São Francisco de Assis:
“Meus queridos jovens, irmãos e irmãs. Alegro-me que o Papa Francisco que leva meu nome está entre vocês. Ele quer propor a toda a Igreja o sonho que eu vivi em Assis há mais de 800 anos com meus companheiros: uma vida segundo o evangelho de Jesus, na simplicidade, na pobreza voluntária, na sobriedade compartida, amando a todos, especialmente os mais pobres e considerando a todos os seres da natureza como meus irmãos e irmãs”.
Diretamente aos jovens, São Francisco de Assis diria: “Caros jovens: sejam vocês mesmos a mudança que querem para os outros. Comecem vocês mesmos a viver o novo, respeitando cada um dos seres da natureza, cada planta, cada animal, cada paisagem porque eles possuem um valor em si mesmo, independente do uso racional que fizermos deles. São nossos irmãos e irmãs. Com eles fundaremos uma convivência de respeito, de reciprocidade e de mútua ajuda para que todos possam continuar vivos neste planeta, também os mais vulneráveis para os quais devotaremos mais cuidado e amor.
Resistam à cultura da acumulação e do consumo. Vivam uma sobriedade compartida; façam a experiência de que com menos poderão ser mais livres e felizes”.
Poderia dizer São Francisco de Assis, do fundo do seu coração:
“Por fim, faço-lhes um pedido muito especial: rezem, apoiem, colaborem com o Papa que leva o meu nome, Francisco. Ele vai restaurar a Igreja de hoje como eu tentei restaurar a Igreja do meu tempo. Sem a ajuda de vocês, se sentirá fraco e terá grandes dificuldades. Mas com o entusiasmo e o apoio de vocês, nos seus grupos e movimentos, ele vai cumprir a missão que Jesus lhe confiou: de confirmar a todos na fé e na esperança e de conferir um rosto confiável à nossa Igreja. Com vocês ele será forte e irá conseguir”.
Autoridades brasileiras, o alerta foi dado pelo Papa Francisco, que tem comportamento despojado, inspirado em São Francisco de Assis e marcará sua trajetória como reformador. Que o Brasil aproveite também para se reformar, partindo da extinção definitiva da corrupção, mas é lamentável e constrangedor quando alguns notórios praticantes de corrupção entraram na fila para cumprimentarem o Papa Francisco.

*Barbosa Nunes é Grão-Mestre Geral Adjunto do GOB


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