Por Stéphanie Le Bars - Tradução: José Filardo
Fonte: LE MONDE / BIBLIOT3CA
O Irmão Padre Vesin |
Ainda não totalmente excomungado, mas
ele não é mais, seguramente, um padre. Entre ambiguidade e desconforto, o caso
de Pascal Vesin, cura de Megève e “das
estações de esqui vizinhas” parece pertencer
a um outro tempo. O padre de 43 anos, foi demitido de suas funções por
ordem do Vaticano por sua filiação culpável à Maçonaria.
Conhecido por seu preconceito contra
as religiões, o Grande Oriente de França
(GODF) assumiu o ônus de apoiar publicamente este “irmão” . “Embora nos últimos anos, as nossas relações com a Igreja Católica
tivessem melhorado, é como se retornássemos aos dias da Inquisição. No fundo, a
Igreja reprova em Pascal Vesin ter desejado pensar por si mesmo”, diz o grão mestre do Grande Oriente , Jose Gulino. Considerando
este caso “inédito” na história do GO, ele lamenta o retorno do “obscurantismo
e ostracismo”.
Em uma carta explicando a decisão de
Roma, a diocese de Annecy afirma que “o fato de aderir à Maçonaria coloca em
questão os fundamentos da existência cristã. O relativismo é o fundamento
efetivo da Maçonaria. Exige-se de um maçom que seja um homem livre, que não
aceite qualquer submissão a um dogma. “ Leia mais
CARTAS
ANÔNIMAS
Lembrando também “a incompatibilidade
entre o compromisso cristão e compromisso maçônico, especialmente para um
ministro do culto”, Mons. Bernard
Podvin o porta-voz da Conferência dos
Bispos da França, assegura entender ”o castigo” romano. Não desejando comentar
“propostas polêmicas” ele se diz “pronto para o diálogo” com o GODF.
Convocado a escolher, o próprio Pascal Vesin já decidiu.
Ele deixou a casa paroquial da sua paróquia para um apartamento emprestado por
amigos em uma cidade nas proximidades. A Igreja, que o condenou a uma “pena medicinal”
- dando-lhe a oportunidade de mudar de opinião -, pagará seu tratamento mensal
(cerca de 900 euros) por seis meses . “Não ocorrendo ‘cura’, serei reduzido ao
estado laico, e procurarei trabalho”, comenta o Sr. Vesin. ” Triste, mas
confiante em Jesus”.
Durante dez anos, entretanto o padre
manteve as aparências “E, em perfeita harmonia, por vida de fé, com o
ministério” e “a reflexão intelectual” que lhe forneciam seus três
encontros mensais com “irmãos maçons”.
Eles conheciam sua condição de padre e, diz ele, “a respeitavam”. “Eles nunca
me pediram que renunciasse a qualquer coisa, ao contrário do que
deixa entender a doutrina católica.”
Para a Igreja, de quem ele conhece as
posições sobre o assunto, para o Bispo e para sua família , praticante, ele manteve
sua iniciação secreta. “Eu menti, é verdade, mas eu considerei que este
compromisso tinha a ver com minha vida privada
”. Em 2011, duas cartas anônimas de denúncia foram devidas à sua
mentira. “Meus pais imediatamente me perguntaram como eu havia sido ‘alistado’
e, depois, eles me entenderam.”
“PECADO
GRAVE”
Neste caso, algumas coisas entristecem e
outras irritam este padre também conhecido por seus pontos de vista
“progressistas” sobre o casamento de padres, casamento para todos, ou o uso de
preservativos. “A disciplina da Igreja em relação à Maçonaria está completamente
ultrapassada”, ele considera.
A proibição feita aos católicos de
entrar na Maçonaria remonta a 1738. Ela foi confirmada ao longo dos séculos e
papas, que consideraram a Maçonaria “contrária à justiça, à moral natural” fustigando seu
ateísmo e o gosto pelo segredo das lojas. Para um crente, pertencer a uma
obediência corresponde, portanto, a um “pecado grave” e impede toda
possibilidade de receber os sacramentos. No caso de Pascal Vesin, ela o proibiu
de os ministrar.
“Na minha opinião, não se trata de opor
a Igreja e a Maçonaria. Há guerras que não são mais necessárias, explica Vesin.
Minha luta consiste simplesmente em pedir à minha Igreja que respeite a
liberdade de consciência, a liberdade individual e aceite a pluralidade de
discurso em seu seio.” “Por exemplo, durante o debate sobre o casamento para
todos, é claro que a liberdade de expressão foi dificultada”, julga ele.
Ao mesmo tempo, ele gostaria que seus
“irmãos maçons” relaxassem um pouco a tradição de segredo. “É um ônus que
acentua os estereótipos e a ignorância.” Mesmo que, na sua opinião, o Grande
Oriente tenha feito um “trabalho de abertura, especialmente em relação às
mulheres, a Igreja ainda não fez isso” .
Um pouco desgastado pela decisão de
Roma, o padre pretende percorrer os caminhos de Compostela nas próximas
semanas, antes de enfrentar sua nova vida. “Mas eu fui realmente feito para ser
um padre. Eu tive a vocação desde a idade de 11 anos. Vou tentar transmitir
minha fé, como um leigo “. À distância da Igreja Católica, mais perto de outras
igrejas cristãs, mas sempre no Grande Oriente, que de acordo com o grão mestre,
continua a acolher ministros de religiões, incluindo os católicos. Com toda
discrição.
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