Só sei que nada sei

*Por Barbosa Nunes
Barbosa Nunes
Volto neste artigo ao período entre 469 a.C a 399 a.C. (antes de Cristo), em que viveu o filósofo da Grécia antiga, Sócrates, nome que significa “aquele que tem autocontrole nos atos e nas palavras”. É considerado um dos fundadores da filosofia ocidental. Renomado por sua contribuição no campo da ética. Foi peça fundamental no mundo da filosofia, dividida em dois tempos, anterior e pós Sócrates. De acordo com estudiosos e pesquisadores, apesar de ter sido considerado um dos homens mais inteligentes, não foi reconhecido pela aristocracia grega, pois suas ideias eram contrárias ao funcionamento da sociedade da época.
As pessoas que eram contra Sócrates afirmavam que ele tinha contato com demônios, não era pessoa normal e que necessitava de tratamento e até mesmo da morte. “Sócrates sempre acreditou que existe vida após a morte, ele sempre acreditou que somos todos uma família, homens e espíritos são os mesmos. Suas teorias ligadas a vida após a morte e espiritismo são tão importantes que elas foram colocadas em dois livros espíritas que são: Livro dos Espíritos, que é o melhor livro e o mais conhecido do espiritismo, e o Livro dos Médiuns, que fala sobre mediunidade e tudo mais”.Leia mais

Angariava mais e mais discípulos, deixando irados os professores da época. Eles não concordavam com os pensamentos de Sócrates, o que lhe trouxe muitos inimigos e intrigas. A ele foram proferidas três acusações: “Sócrates é culpado do crime de não reconhecer os deuses reconhecidos pelo Estado, de introduzir divindades novas e ainda culpado de corromper a juventude”. Castigo pedido: “A morte”.
O tribunal constituído por 501 cidadãos o condenou, não à morte, mas ao exílio para sempre ou a lhe ser cortada a língua, impossibilitando-o assim, de ensinar aos demais. Caso negasse, seria morto. Após receber a sentença disse: “Vocês me deixam a escolha entre duas coisas: uma que eu sei ser horrível, que é viver sem poder passar meus conhecimentos. A outra, que eu não conheço, que é a morte. Escolho pois, o desconhecido”.
Sócrates foi resoluto em suas posições e não fez nenhuma concessão. Para ele, propor qualquer penalidade, mesmo que fosse uma pequena multa, seria aceitar a culpa que queriam lhe imputar. Não abrindo mão de suas ideias foi condenado a beber o veneno da morte, extraído de uma planta chamada cicuta, hoje também conhecido como “veneno de Sócrates”.
Muitos leitores poderão interpretar que Sócrates foi radical, fanático e não cedeu em um ponto sequer, para salvar sua vida. Aplicando, simbolicamente, este posicionamento no mundo de hoje, vamos identificar, com raríssimas exceções, homens que defendem suas ideias com essa firmeza, pois os de hoje têm o seu preço e se vendem na medida em que as boas ofertas aparecem e vão aumentando.
Em uma oportunidade, foi apontado pelo oráculo de Delfos como “o mais sábio de todos os homens“, ao que ele reagiu: “Só sei que nada sei”. Falava que o verdadeiro sábio, aquele que tendo consciência da sua ignorância, abre o coração para ouvir, ler, viver, enfim, aprender.
Estou cansado de ouvir pessoas que dizem: Eu sei isso, sei aquilo, sei tudo. Já vivi muito e não tenho mais o que aprender. Na verdade, estes nada sabem.
Carregam dentro de si o substantivo feminino “vaidade”, que significa ilusão, futilidade, frustração, frivolidade, insignificância, sem valor e sem sentido. São pessoas que se consideram donas da verdade, que não conversam de “olho para olho”, que não tem diálogo aberto, mas às escondidas, atuam muito e são perigosos.
Vaidade, no idioma hebraico, significa sopro, vapor, bolha, qualquer coisa invisível que logo desaparece. Vaidade não combina com gentileza, esta contribui com um mundo mais humano e eficiente para todos, ela é muito bem traduzida nas duas últimas estrofes da poesia “Vaidade”, de Florbela Espanca: “Sonho que sou Alguém cá neste mundo... Aquela de saber vasto e profundo, Aos pés de quem a terra anda curvada! E quando mais no céu eu vou sonhando, E quando mais no alto ando voando, Acordo do meu sonho... Eu não sou nada!”
“Só sei que nada sei”, tornando-se frase cada vez mais significativa, resistindo há mais de 2.300 anos, não é uma simples sentença, é bússola, indicativa de reflexão que cada um de nós devemos fazer, colocando-nos na condição de eternos aprendizes.
Faço uma ilação de que a frase: “Só sei que nada sei”, é extremamente atual e não nos permite projetar sobre pessoas, nem mostrar ser superior a elas. Sócrates foi virtuoso, sensível, encontrando-se também numa frase conhecidíssima e pronunciada diariamente pelos maçons: “Vencer as minhas paixões, submeter a minha vontade e fazer novos progressos”.

*O Irmão Barbosa Nunes, e Grão-Mestre Geral Adjunto eleito do Grande Oriente do Brasil

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