Por Barbosa Nunes*
Sou um novato no mundo sem limites do
“facebook”, site de rede social. Ao transpor suas portas fiquei e continuo
cuidadoso, muito inseguro tecnicamente. Mandava mensagens extensas e recebia
respostas curtíssimas. Minha filha Isabela Brandão Barbosa me alertou: “Pai, no
facebook, mensagens longas o pessoal não lê e não tem muita paciência”. Um
outro amigo me instruiu assim: “Não se preocupe em corrigir as palavras
digitadas com acréscimos ou falta de letras, seja objetivo e quando você quiser
falar alto, mande a mensagem em caixa alta (letras maiúsculas) e quando você
quiser rir, coloque “kkkkkkk”.
Estou
reaprendendo a escrever. Emito uma mensagem de felicitação por aniversário,
corrigindo os erros, colocando vírgulas e acentos e vem a resposta: “Mto obg”.
“Vc e mto amg”. Ou então, recebo um convite assim postado: “hj niver do Marcão
e a galera vai reunir na balada. Mas fiquem ligados na turma do balão mágico,
que pode distribuir doces em vários locais”. Traduzindo a segunda parte da
mensagem. Um alerta avisando que pode haver blitz da balada responsável. Leia mais
Também vi
algumas mensagens assim: “Estou L (triste), fiquei nervoso, agora
estou J (alegre)”.
Preocupa-me
muito quanto à formação intelectual e cultural tendo a internet como fonte. A
juventude hoje, com raras exceções lê obras da literatura clássica, romântica e
moderna, brasileiras ou portuguesas, muito pouco lê revistas semanais ou
jornais diários. Quando muito as manchetes, ficando mais atenta ao mundo das
ilusões das novelas, filmes produzidos com chamamento dos efeitos de alta
tecnologia. Mergulhando noite adentro varam madrugadas que causam no mundo da
internet até dependência. O diálogo é solitário, a pessoa vai se isolando,
chegando ao ponto de rejeitar participação nas reuniões familiares e de amigos.
Adquire
virtualmente, relacionamentos muitas vezes perigosíssimos, com consequências
trágicas, sobretudo, com envolvimentos passionais. Vão se tornando pessoas
apressadas, impacientes e reduzidas na sua competência de se expressar. Onde se
encontrarem, sempre estarão desejosas de voltar ao seu “mundo”, sentadas de
frente a um computador, que é a porta para uma imensidão ilimitada.
A pureza de um
relacionamento, de uma amizade, que a internet dificilmente proporciona em
caráter duradouro, pois nela o amigo quase sempre é abstrato como presença,
exige conforme o texto de Charles Chaplin: "Que me olhe nos olhos
quando falo. Que ouça as minhas tristezas e neuroses com paciência. Preciso de
alguém, que venha brigar ao meu lado sem precisar ser convocado; alguém Amigo o
suficiente para dizer-me as verdades que não quero ouvir, mesmo sabendo que
posso odiá-lo por isso.
Neste mundo de
céticos, preciso de alguém que creia, nesta coisa misteriosa, desacreditada,
quase impossível de encontrar: A Amizade.
Que teime em ser
leal, simples e justo, que não vá embora se algum dia eu perder o meu ouro e
não for mais a sensação da festa.
Preciso de um
Amigo que receba com gratidão o meu auxílio, a minha mão estendida. Mesmo que
isto seja pouco para as suas necessidades. Preciso de um Amigo que também seja
companheiro, nas farras e pescarias, nas guerras e alegrias, e que no meio da
tempestade, grite em coro comigo: "Nós ainda vamos rir muito disso
tudo".
Não pude
escolher aqueles que me trouxeram ao mundo, mas posso escolher o meu Amigo. E
nessa busca empenho a minha própria alma, pois com uma Amizade Verdadeira, a
vida se torna mais simples, mais rica e mais bela..."
Na internet o
sorriso é sempre vazio “kkkkkkk”, a face não se abre, a boca não existe, não há
olhos iluminados, inexistindo comunicação com sentido universal, não existindo
alma na expressão. A mensagem não se consolida, pois como descrito por Milton
Nascimento, “a amizade é voz, amizade é encontro, amizade é para se guardar
debaixo de sete chaves, dentro do coração”.
Na impaciência
do mundo de hoje, a amizade é quase sempre passageira, temporal, movida por interesses
daquele momento vivido.
Então, fazendo
um link, expressão em voga, entre o início deste artigo que foca a conversação,
troca de ideias sintetizadas, o desinteresse da juventude em leituras e a
impaciência gerada pela pressa, podemos antever jantares virtuais em família,
aniversários comemorados isoladamente em grupos, porém, cada um de frente ao
seu computador.
O mundo nos leva
com rapidez para um isolamento, uma individualização e isto é fator de
desagregação do fundamento básico da sociedade, que é a família. Núcleo de
convivência unido por laços afetivos que pelos tempos de hoje está ficando
desprotegido diante de uma convivência repartida, diminuindo, por exemplo, a
frequência dos tão saborosos e felizes encontros das pessoas que possuem grau de
parentesco.
Muitos se falam, muitos dialogam,
poucos se encontram e “a vida sempre será a arte do encontro”, como disse
Vinicius de Moraes.
*Barbosa Nunes é Grão-Mestre da Maçonaria Grande Oriente do Estado de Goiás e Grão-Mestre Geral Adjunto eleito do Grnade Oriente do Brasil barbosanunes@terra.com.br.
0 Comentários