Deus Negro

*Artigo do Grão-Mestre Barbosa Nunes
Neimar de Barros tornou-se famoso em várias atividades que exerceu. Foi produtor de televisão na equipe de Sílvio Santos, com programas de grande audiência, como “Cidade contra Cidade”, ”Boa Noite Cinderela” e outros, isto, por volta dos anos 70. Era ateu, afirmando que só acreditava no que podia ver. Ao permanecer em uma capela durante três dias, ajoelhou-se e em grande emoção converteu-se ao catolicismo.
Polêmico, entrou em conflito com Sílvio Santos. Foi missionário para evangelização e animação de comunidades e durante 14 anos ministrou cursos e palestras em mais de 4 mil cidades. Foi destaque na revista “Família Cristã” da Editora Paulinas. Visitou o Vaticano, publicou mais de 10 livros, sendo vários em espanhol. Leia mais

Variando sempre nos seus pensamentos filosóficos, desiludiu-se e em profunda crise, inclusive familiar, foi diagnosticado como portador do Mal de Alzheimer. Em seus devaneios, no ano de 1986, concedeu uma entrevista à Revista Veja, revelando que sua conversão foi uma farsa e em completo e total mundo de ilusão e desequilíbrio espiritual, afirmou ter sido contratado por uma Loja Maçônica internacional, para se infiltrar na Igreja Católica e repassar informações sobre a conduta de religiosos. Neste momento chegou ao fundo de um poço que o desacreditou perante a maioria de seus admiradores.
Ainda neste estado, escreveu dois livros, sem nenhum sucesso e receptividade. Faleceu em 6 de agosto de 2012. Sinteticamente, estamos registrando a história de uma pessoa desequilibrada, intranquila e que não se encontrou na vida, mas tenho lido e relido o seu livro “Deus Negro”, da Editora “O Recado – Editorial Ltda”, em primeira edição no ano de 1973 e com mais de 50 edições sucessivas, que vendeu mais de 4 milhões de exemplares. Seus escritos contem sabedoria, iluminação, boa semente e indicação de um bom caminho, na maioria deles, mas sempre criticando com muito peso.
O autor afirmou que o livro foi escrito para questionar o egoísmo e tirar o mofo que assenta no leitor. O editor, ao apresentar a obra cultural, declara: “O livro Deus Negro, um marco entre o amor e o ódio, entre a doação e o egoísmo, é um fenômeno na comunicação humano-cristã. Seus versos chegam ao coração, tocam a mente, alcançam o espírito: exigem mudança de vida, diária, para melhor”, complementando. “Deus não é branco, não é vermelho, não é amarelo, não é negro. Deus é amor, que está em todas as raças, em todas as cores, no homem culto e no analfabeto, na criança e no velhinho e em todos os lugares, só não está no ódio e no egoísmo”.
Em um dos seus textos faz uma declaração profunda, significativa, comparativa da vida material e da vida após a morte, como se estivesse num corredor para a vida espiritual analisando o seu comportamento material, assim se expressando:
“Mas estou pensando agora: e quando chegar minha hora? Meu Deus, se eu morresse amanhã, De manhã? Se uma criança me tomasse pela mão, criança como aquela que não embalei? E me levasse por um corredor florido, Colorido Como as flores que eu jamais dei? Se eu sentisse o chão frio, Como o dos presídios que não visitei?  Se eu visse as paredes caindo, Como as das creches e asilos que não ajudei? E se a criança tirasse corpos do caminho, Corpos que eu não levantei. Dando desculpas de que eram bêbados, mas eram epilépticos, Que era vagabundagem, mas era fome! Meu Deus! Agora me assusta pronunciar seu nome”!
Em 1974, publicou e gravou na RCA Victor, alcançando os primeiros lugares nas paradas de rádio, o poema “Não tenho tempo”, que assim inicia:
“Sabe, meu filho, até hoje não tive tempo para brincar com você. Arranjei tempo para tudo, Menos para você crescer. Nunca joguei dominó, dama, xadrez ou batalha naval com você. Percebo que você me rodeia, mas sabe, sou muito importante e não tenho tempo! Sou importante para números, convites sociais, Uma série de compromissos inadiáveis... E largar tudo isso para sentar no chão com você! Não, não tenho tempo”.
Ao final do mesmo poema: “Mas, o pior de tudo, O pior de tudo, é que... Se você morresse agora, já, neste instante, Eu ficaria com um peso na consciência, Porque até hoje não arrumei tempo para brincar com você, E na outra vida, por certo, Deus não terá tempo de me deixar, pelo menos, vê-lo”.
Sugiro a leitura do livro “Deus Negro”. Não sei se você o encontrará disponível nas livrarias atuais, certamente nos sebos, onde se vendem livros usados e antigos, mas relaciono alguns poemas que leio já por dezenas de vezes, e em cada um me encontro, me avalio e faço autocrítica.
Poemas como “Deus decepção”, “Não tenho tempo”, “Materialista de meia pataca”, “Renúncia”, “Mande Deus para o museu”, “As sandálias de Jesus Cristo”, “No vento livre do seu arbítrio”, “Um tiquinho de mim”, “Homo automobilis”, “Suplício chinês”, “Sentir e consentir” e “Marido desligado”.
No texto “Mande Deus para o museu”, Neimar de Barros é extremamente sincero, duro, austero, mandando esta mensagem: “ Quando vejo um autossuficiente, Postado à minha frente, Despojando sapiência, Eu tenho ataque de riso. O sujeito pensa que sabe tudo, Que é gênio, intelectual, E, na verdade, é um ignorante letrado, Um analfabeto das coisas divinas. É um cara que só tem dez por cento, Do seu cérebro em funcionamento. E com dez por cento, Julga Deus! Apaga Deus, Ri de Deus”.
Concluo, com as estrofes de “Homo automobilis”:
“Comprei um carro e aumentei meu corpo. O carro passou a ser meu prolongamento: Eu xingo, grito e agrido por ele. O carro não é mais carro, O carro também sou eu. Sou um “homo automobilis”, E, para voltar a ser o que era, Eu preciso progredir espiritualmente. Mas meus conhecimentos estão No jardim da infância; Por isso, continuo sendo Um tolo e confuso “homo automobilis”.
*Barbosa Nunes é Grão-Mestre do  GOB-GO
 


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