Da Redação
O fenômeno do “maçom
errante” está se tornando cada vez mais comum. Irmãos saltam de uma obediência
para outra em busca de um ideal que parece sempre escapar. Essa instabilidade
reflete uma crise profunda: as certezas que sustentavam a maçonaria por séculos
estão agora em questionamento.
As obediências,
antes consideradas pilares de estabilidade, mostram-se hoje fragmentadas,
marcadas por divisões, conflitos internos e divergências ideológicas que
corroem a confiança de seus membros. Nesse cenário, o maçom errante representa
alguém dotado de boas intenções, mas incapaz de encontrar um ambiente em que os
princípios maçônicos sejam vividos de maneira autêntica.
Para enfrentar essa
situação, é necessário retornar à essência da iniciação. As ordens maçônicas
devem deixar de ser vistas como meros “recipientes” competitivos, retomando seu
papel de espaços de reflexão, de silêncio construtivo e de verdadeira transformação
interior.
A escolha de
integrar uma obediência deve ser consciente, motivada por um propósito profundo
— não por frustrações ou considerações estratégicas. Para tanto, é crucial
atuar em vários níveis:
Proporcionar
formação iniciática sólida e contínua;
Fomentar espaços
genuínos de fraternidade;
Valorizar o mérito
em detrimento de uma abordagem meramente clientelista;
Desencorajar o
prosseguimento excessivo de recrutamento;
Fortalecer o
sentimento de pertencimento com rituais bem estruturados e convívios
comunitários autênticos.
Antigamente, o
número de maçons errantes era pequeno e bem controlado. A entrada na Loja era
precedida de um longo período de observação e reflexão: a iniciação era apenas
o início de uma jornada transformadora. Irmãos mais experientes, verdadeiros
guardiões do saber, acompanhavam os novatos com carinho paternal e disciplina,
guiando-os pelo exemplo antes de tudo.
“Errat homo qui
ubique habitat, nulli domus est”
“Ele erra,
aquele que habita em todos os lugares — não tem lar em nenhum.”
Essa frase em latim
expressa bem a confusão de quem salta de obediência em obediência sem jamais
criar raízes, buscando algo que talvez esteja dentro de si, e não fora. Somente
entendendo isso o maçom errante poderá parar sua peregrinação e encontrar um caminho
seguro rumo à luz de um templo que reflita seu estado interior.
O problema, em
essência, é um alerta: é preciso reencontrar o centro, trabalhar na própria
“pedra” antes de buscar novos templos. O futuro do maçom errante dependerá da
capacidade das ordens de resgatar a autenticidade do itinerário iniciático. A
errância que hoje se manifesta como fuga constante nasce de um vazio interior,
da desilusão frente a estruturas vazias de sentido ou de uma busca por algo
indefinido.
Para conter esse
fenômeno, a reconstrução de um sentimento profundo de pertencimento é
fundamental. Isso passa por oferecer formação individualizada, pautada na ética
e na reflexão simbólica. Somente com rituais bem concebidos, encontros
verdadeiros e um espírito fraterno renovado poderemos despertar o desejo de
permanecer, de construir, de pertencer.
Resgatando o
espírito antigo
Em épocas passadas,
o risco de errância era limitado por práticas rigorosas: seleção criteriosa,
prolongado aprendizado e profundo senso do sagrado. Hoje, devemos resgatar esse
espírito — desacelerar, ouvir, trabalhar com profundidade. Pois o maçom errante
não estará realmente perdido se encontrar, no caminho, uma luz que não ofusca,
mas aquece.
“Errat sed quaerit.”
– “Ele erra, mas busca.”
E é na busca
consciente que podemos reencontrar o caminho.
Quando o poder se
torna um fim em si mesmo, em vez de um meio para servir, a maçonaria perde seu
rumo. A célebre expressão – “o poder desgasta aqueles que não o possuem” –
reflete essa realidade: quantos hoje buscam títulos, cargos e influência, em
lugar de servirem ao Templo?
A pergunta que
precisamos fazer é básica: estamos aqui para construir o Templo… ou dominá-lo?
Conclusão
O maçom errante só deixará de errar encontrando um Templo que espelhe sua caminhada interior. Esse retorno ao centro exige formas de exercer o poder como serviço, promover a formação iniciática, reforçar a fraternidade por meio de rituais genuínos e evitar o recrutamento excessivo. Somente assim poderemos reconstruir uma base sólida, onde a errância é substituída por um caminho fraterno, profundo e construído com propósito.
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