O que acontece com a terra acontece com os filhos da terra

*Artigo do Grão Mestre Barbosa Nunes
GME-GO Barbosa Nunes
Neste momento os Estados Unidos estão com 60% do seu território em seca profunda, estado de emergência. Estados Unidos que vão decaindo como potência mundial, ameaçada pela China. Europa milenar e histórica em grande crise.
Nosso país, com queimadas devastando florestas, eliminando fontes de água. Cerrado dizimado para dar lugar ao plantio da soja. Cidades com crescimento desorganizado, surgindo selvas de pedra através de prédios de altura imensa, trânsito infernal e as grandes enchentes oriundas das chuvas, cujas águas não podem mais ser absorvidas pelo solo, coberto pelo asfalto.
Escalada do crime, incrivelmente, atingindo crianças inocentes, droga que tem o uso incentivado pela sociedade hipócrita, que orienta filhos a não usarem substância que cause dependência, com um copo de cerveja na mão e um cigarro entre os dedos.
Pergunto a mim mesmo: Isto é qualidade de vida? Como estamos vivendo?
Mas, o momento também, pode ser avaliado positivamente, pelo fato de que a população toma consciência da utilidade e importância do meio ambiente. Leia mais

Se as recomendações do cacique Seattle tivessem sido seguidas nos Estados Unidos, no Brasil e em todo o mundo, a população não estaria tão vulnerável às consequências das transformações que ela mesma provocou no planeta.

Cacique Seattle era chefe de duas tribos indígenas americanas, Suquamish e Duwamish, do estado de Washington, quando em 1855 enviou uma carta resposta ao presidente Francis Pierce, após o governo haver dado a entender que pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios. O texto é uma profunda declaração de amor ao meio ambiente, brotada de coração puro e simples, cheio de reconhecimento à natureza, por tudo de bom que ela dá ao homem. Foi distribuído pela ONU, considerado através dos tempos, como um dos mais belos e profundos pronunciamentos já feitos a respeito da defesa do meio ambiente.

O manifesto do cacique foi um mágico momento da história da humanidade, em que um coração forte, sensível e inspirado, verbalizou palavras que chegam fundo no coração de muitos homens, mesmo muitos anos depois.

Ao prezado e amigo leitor que me distingue com sua qualificada leitura, convido-o para conhecer, ler, reler e meditar sobre trechos da carta, que neste artigo reproduzimos, disponível na internet e na íntegra com comentários, na edição da Versal Editores, com tradução de Alice Gallefi, quando o cacique Seattle falou sobre:

OS RIOS: “Esta água brilhante que corre nos rios e regatos não é apenas água, mas sim o sangue de nossos ancestrais. Se te vendemos a terra, terás de te lembrar que ela é sagrada e terás de ensinar a teus filhos que é sagrada e que cada reflexo espectral na água límpida dos lagos conta os eventos e as recordações da vida de meu povo. O rumorejar da água é a voz do pai de meu pai. Os rios são irmãos, eles apagam nossa sede. Os rios transportam nossas cargas e alimentam nossos filhos. Se te vendermos nossa terra, terás de te lembrar e ensinar a teus filhos que os rios são irmãos nossos e teus, e terás de dispensar aos rios a afabilidade que darias a um irmão.”

A TERRA: “Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um lote de terra é igual a outro, porque ele é um forasteiro que chega na calada da noite e tira da terra tudo o que necessita. A terra não é sua irmã, mas sim sua inimiga, e depois de a conquistar, ele vai embora. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados e nem se importa. Arrebata a terra das mãos de seus filhos e não se importa. Ficam esquecidos a sepultura de seu pai e o direito de seus filhos à herança. Ele trata sua mãe - a terra, e seu irmão - o céu, como coisas que podem ser compradas, saqueadas, vendidas como ovelha ou miçanga cintilante. Sua voracidade arruinará a terra, deixando para trás apenas um deserto.”

SELVAGEM QUE NADA ENTENDE: “Não sei. Nossos modos diferem dos teus. A vista de tuas cidades causa tormento aos olhos do homem vermelho. Mas talvez isto seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que de nada entende.”

QUE VIDA É AQUELA: “Não há sequer um lugar calmo nas cidades do homem branco. Não há lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o tinir das asas de um inseto. Mas talvez assim seja por ser eu um selvagem que nada compreende. O barulho parece insultar os ouvidos. E que vida é aquela se um homem não pode ouvir a voz solitária do curiango ou de noite, a conversa dos sapos em volta de um brejo? Sou um homem vermelho e nada compreendo. O índio prefere o suave sussurro do vento, a sobrevoar a superfície de uma lagoa e o cheiro do próprio vento, purificado por uma chuva do meio dia, ou rescendendo o pinheiro.”

O AR: “O homem branco parece não perceber o ar que respira. Como um moribundo em prolongada agonia, ele é insensível ao ar fétido. Mas se te vendermos nossa terra, terás de te lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar reparte seu espírito com toda a vida que ele sustenta. O vento que deu ao nosso bisavô o seu primeiro sopro de vida, também recebe seu último suspiro. E se te vendermos a nossa terra, deverás mantê-la reservada, feita santuário, como um lugar em que o próprio homem branco possa ir saborear o vento, adoçado como fragrância das flores campestres.”

BISÕES APODRECENDO: “Sou um selvagem e desconheço que possa ser de outro jeito. Tenho visto milhares de bisões apodrecendo na pradaria, abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem em movimento. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante do que o bisão que nós, os índios, matamos apenas para o sustento de nossa vida.”

AGRESSÃO À TERRA: “De uma coisa sabemos: a terra não pertence ao homem, é o homem que pertence à terra. Disto temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra. Não foi o homem quem teceu a trama de vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo que ele fizer à trama, a si próprio fará.”

AMA-A COMO NÓS A AMÁVAMOS: “Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueças de como era esta terra quando dela tomaste posse. E com toda a tua força o teu poder e todo o teu coração, conserva-a para teus filhos, ama-a como Deus nos ama a todos. De uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus, esta terra é por ele amada. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum."

A carta do cacique Seattle que é uma lição de amor à natureza e à vida é assim encerrada: “O homem branco deveria educar suas crianças, ensinando-as que a terra é nossa mãe. O que acontece com a terra acontece com os filhos da terra.” Cabe a nós verificar se há tempo para seguir as orientações do cacique.

*Barbosa Nunes, advogado, ex-radialista, delegado de polícia aposentado, professor e Grão-Mestre da Maçonaria Grande Oriente do Estado de Goiás – barbosanunes@terra.com.br.

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