Jornalismo isento ou um bom salário?

Por Eliakim Araújo
Heródoto Barbeiro
Uma coluna de televisão da Folha informou esta semana que Heródoto Barbeiro, veterano jornalista da CBN e da TV Cultura de SP, trocou as duas pela Record. Uma notícia normal no mundo televisivo, não fosse pela tripa de comentários dos leitores abaixo da coluna assinada por Flavio Ricco. Os fiéis ouvintes de Barbeiro ficaram decepcionados e externaram as mais variadas opiniões que misturam religião com ideologia.

Mas o que chama a atenção na maioria das críticas é a rejeição à Record, chamada pejorativamente de "a emissora do bispo". Aqui o que se nota é que os leitores não criticam tanto a troca, mas sim a escolha da nova emissora, como nos comentários que transcrevo abaixo: Leia Mais


Herodoto que vergonha! Se mudou pra tv do "bispo" a quem sempre criticou. Mas não vai adiantar você dava traço na cultura e vai continuar a dar zero de audiência na record news.

Lamentável essa escolha do Heródoto. Entendo que deve compensar financeiramente, mas, jornalista respeitável que é, infelizmente será esquecido, pois o esquecimento e a perda de credibilidade é a consequencia de quem escolhe tal emissora.

Estou decepcionado com o Heródoto Barbeiro. Nunca imaginei que ele se prestaria a servir de capacho do Edir Macedo como o Amorim.

Considerava Herodoto um caso a parte, mas novamente uma decepção, como tantas no mundo do radio e tv. Se vender pelo dinheiro facil e obscuro de uma organização que lava dinheiro com emissoras e radio. Tenho pena da Globo, SBT, Band e outras que lutam para sobreviver, diante da concorrencia desleal e criminosa desta emissora. Parabéns aos profissionais que não se deixaram vender, e continuam suas vidas nos lugares que lhes deram fama e prestigio, apesar das tentações, gratidão não tem preço.

Vai garantir sua aposentadoria, Heródoto. Você tem direito. Foi o prazer ter te conhecido, ter te respeitado e ter tido a ilusão de que existem jornalistas sérios e respeitáveis neste país. Vai pra Record? Então, boa sorte, adeus e até nunca mais.

Até você, Heródoto, que decepção. Mas como o dinheiro dos fiéis vale mais, então vai com Deus, mas estou super triste contigo, não esperava que você era desse nível de profissional que aceita qualquer emissora e mais uma Record da vida, que porcaria a gente acha que tem jornalista honesto nesse pais mas nessa hora é que vemos as porcarias que temos.

Não sei o que o último comentarista quis dizer com “jornalista honesto”. Ficaria melhor, menos agressivo, se ele dissesse “jornalista isento”. Mas será que o bom Barbeiro era tão isento como pensam seus ouvintes?

Pra ser sincero, escudado em minha experiência nas principais redes do país, posso garantir que, do ponto de vista ideológico, a troca não faz diferença. Barbeiro não tinha independência de opinião na CBN (ou já esqueceram que ela faz parte do grupo Globo?), nem vai ter na Record. Quanto a isso, nada vai mudar na vida dele. Só que agora, além da limitação político-ideológica ele vai enfrentar também a limitação religiosa.

No atual cenário da mídia brasileira, com canais de TV, jornais e rádios nas mãos de poucos, geralmente políticos ou grupos religiosos comprometidos com o que há de mais retrógrado no país, é praticamente impossível falar-se em independência profissional dos jornalistas. É aquela história de amarrar o burro de acordo com a vontade do dono.

É claro que se você trabalha numa emissora em que se identifica ideologicamente com a opinião do patrão, é muito mais confortável. Duro mesmo é você ter que ler ou opinar sobre temas com os quais não concorda ou ter que ler notícias que você sabe mentirosas , que escondem interesses político-partidários, religiosos ou comerciais. Tudo em troca de um bom salário no fim do mês.

Penso que, sem conhecer Barbeiro pessoalmente, acho que ele cansou de dar murro em ponta de faca. Trabalhou muitos anos em emissoras que pagam pouco e decidiu realmente pensar numa aposentadoria tranquila, como provocou um dos comentaristas acima. Salários de rádio e de empresa pública (o caso dele) são parcos e os que a Record paga são milionários. Faz parte de sua política.

Não pretendia me estender na opinião sobre a Record, até porque fui contratado dela durante três anos, mas é público e notório que a emissora da Igreja Universal prostituiu o mercado televisivo brasileiro. Paga o que for preciso para “roubar” funcionários de outras emissoras, mesmo que a ética vá para o espaço. Contrata e, muitas vezes, coloca na geladeira. Paga salários milionários a alguns e miseráveis à grande massa de trabalhadores da retaguarda, exatamente aqueles que fazem a televisão. Mas esse é assunto para outra coluna e não é privilégio apenas da Record.

Para finalizar, deixo para a reflexão dos meus leitores a seguinte indagação: jornalista deve morrer pobre em nome de um ideal ou vender sua alma ao patrão que paga melhores salários?

Boa sorte, Heródoto Barbeiro.

PS. Os comentários dos leitores retro publicados estão no pé da “Coluna do Flavio Ricco”, do dia 25.02.2011

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