Da Redação
No dia 22 de outubro de 1773, um marco
discreto, mas de grande relevância para a tradição maçônica, foi estabelecido
na França: a criação e instituição da Palavra Semestral, por iniciativa do Duque
de Chartres, então Grão-Mestre do Grande Oriente da França. Esse ato, à
primeira vista administrativo, teve profundo significado simbólico e
organizacional dentro da estrutura maçônica do século XVIII.
O
Contexto Histórico
A Maçonaria francesa vivia um período de
intensa reorganização. Em 1773, sob a liderança do Duque de Chartres — que mais
tarde seria conhecido como Filipe de Orléans, um dos personagens mais
influentes da aristocracia francesa pré-revolucionária —, foi fundado o Grande
Oriente da França (GODF), unificando as diversas lojas que atuavam de forma
dispersa. A nova instituição buscava dar à Ordem uma organização mais racional,
com maior coesão ritualística e administrativa, além de reforçar o espírito de
fraternidade e igualdade entre os maçons.
Nesse cenário de unificação, a Palavra
Semestral surgiu como uma medida destinada a fortalecer os laços de
reconhecimento entre os irmãos e garantir a regularidade das oficinas
subordinadas à obediência do Grande Oriente.
O
Significado da Palavra Semestral
A Palavra Semestral era uma senha ou palavra de
reconhecimento que mudava a cada semestre, transmitida apenas aos membros
regulares e em situação regular com o Grande Oriente. Essa prática tinha uma
função dupla:
1. Administrativa, servindo como mecanismo de
controle para distinguir lojas e irmãos regulares daqueles não reconhecidos;
2. Simbólica, reafirmando o princípio maçônico
da renovação cíclica e da busca constante pela verdade — pois, assim como o ano
se divide em períodos de luz e sombra, a Palavra Semestral representava a
necessidade de constante vigilância e atualização espiritual.
O
Duque de Chartres: um Grão-Mestre Reformador
O Duque de Chartres (Louis Philippe Joseph
d’Orléans) foi um personagem singular da história francesa e maçônica. Sob sua
liderança, a Maçonaria francesa deixou de ser um agrupamento aristocrático
fechado para se tornar uma força de pensamento liberal e filosófico. Ele
incentivou a abertura da Ordem às ideias do Iluminismo, à liberdade de
consciência e ao espírito científico.
Ao instituir a Palavra Semestral, o Duque de
Chartres consolidava uma forma de identidade dinâmica dentro da Maçonaria — um
elo secreto e simbólico que mantinha a fraternidade unida, mas sempre em
movimento. Essa prática também fortalecia a autoridade do Grande Oriente sobre
as lojas, criando uma padronização nacional que refletia o novo espírito
administrativo da Obediência.
Legado
e Continuidade
Embora hoje a Palavra Semestral não seja
amplamente utilizada como no século XVIII, sua criação marcou um importante
momento na história maçônica: o de transição entre a Maçonaria operativa e a
especulativa moderna, organizada e consciente de seu papel social e filosófico.
O ato do Duque de Chartres, portanto, não foi
apenas burocrático, mas um gesto simbólico de coesão e disciplina espiritual,
que ecoa até hoje nas práticas de regularidade e reconhecimento entre as
potências maçônicas do mundo.
Em síntese, o dia 22 de outubro de 1773 recorda
uma iniciativa que, embora discreta, reflete a essência da Maçonaria: a busca
constante pela ordem, pela unidade e pela renovação moral e espiritual —
princípios que continuam a iluminar o caminho dos maçons em todas as épocas.
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