Um
episódio recente nas Filipinas trouxe à tona mais uma vez as tensões históricas
entre a Igreja Católica e a Maçonaria. O padre Libby Daños, atuante na ilha de
Leyte, foi temporariamente afastado de suas funções sacerdotais após ter
participado da bênção de um marco maçônico em uma cerimônia realizada em
agosto.
O episódio
No
dia 9 de agosto, o padre esteve presente na inauguração de um grande monumento
de tijolos erguido nos arredores de Ormoc City, destinado a receber visitantes
da cidade. A iniciativa partiu da Ormoc Lodge 234, que anunciou em sua página
no Facebook que este seria o primeiro de três marcos planejados para as
principais entradas da cidade.
A posição da Igreja
A
suspensão foi confirmada pelo Pe. Luigi Kerschbamer, OAD, Prior Provincial da
Ordem dos Agostinianos Descalços. Ele destacou que a Igreja Católica mantém, há
séculos, a posição de que a Maçonaria é incompatível com a doutrina católica.
Segundo
Kerschbamer, em novembro de 2023, o Dicastério para a Doutrina da Fé, com
aprovação do Papa Francisco, reafirmou a proibição absoluta de católicos se
filiarem a associações maçônicas, classificando seus princípios como
"irreconciliáveis com a fé da Igreja".
“A
Ordem dos Agostinianos Descalços defende firmemente esse ensinamento e rejeita
qualquer associação ou apoio a atividades maçônicas”, declarou o prior.
Padre
Daños, com quase três décadas de missão religiosa na Ásia, afirmou que, apesar
de ter participado da bênção, não tinha plena consciência da natureza maçônica
da cerimônia. Ainda assim, a ordem religiosa classificou sua atitude como um
gesto que contradiz o magistério católico e gerou escândalo entre os fiéis.
A Maçonaria nas Filipinas
Embora
o país seja majoritariamente católico, a Maçonaria tem forte presença nas
Filipinas desde o século XVIII. A fraternidade chegou à região por volta da
década de 1760, trazida por marujos e comerciantes europeus.
Durante
o domínio espanhol, a Maçonaria foi duramente perseguida, chegando a ser
proibida em 1812. Apesar disso, conseguiu se reorganizar e, em 1856, a primeira
loja oficial foi fundada sob carta da Grande Loja de Portugal, seguida por
outras de origens alemã, francesa, escocesa e americana.
Na
década de 1880, líderes locais como José Rizal, considerado herói nacional,
uniram-se à Maçonaria e estiveram à frente da luta pela independência contra a
Espanha, culminando na Guerra Hispano-Americana de 1888.
O
fortalecimento foi rápido: em 1917 nasceu a Grande Loja das Filipinas, reunindo
diferentes tradições maçônicas. Atualmente, o país conta com quase 300 lojas
ativas.
Conflitos
recorrentes
As
divergências entre Igreja e Maçonaria são frequentes no arquipélago. Há
registros de funerais negados a maçons católicos, além de polêmicas envolvendo
líderes religiosos e templos maçônicos. Curiosamente, muitos maçons filipinos
se declaram católicos praticantes e não veem contradição entre as duas
identidades, mesmo diante da proibição do Vaticano.
Alguns
chegam a considerar que a posição oficial da Igreja é baseada em desinformação
e preconceito, algo que desafia diretamente a noção da infalibilidade papal em
questões doutrinárias.
A ironia do discurso final
O
episódio recente ganhou contornos ainda mais simbólicos por conta da mensagem
pronunciada ao final da cerimônia de inauguração:
“Que
este marco seja santificado pelo Grande Arquiteto do Universo, sob cuja
orientação trabalhamos. Que ele resista ao sol e à tempestade, como símbolo de
paz, fraternidade e verdade. Nós o dedicamos não apenas em nome da Maçonaria,
mas em nome da unidade — entre todas as pessoas de boa vontade.”
Diante
disso, a polêmica se torna ainda mais evidente: enquanto a Maçonaria busca
transmitir um ideal de fraternidade e união universal, a Igreja Católica, ao
menos oficialmente, mantém a linha de rejeição absoluta à Ordem.
1 Comentários
Pai (GADU) perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem. Jesus Cristo, nosso Psi e Irmão disse: amai-vos uns aos outros.
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