Da Redação
No coração da Sierra Maestra, cadeia montanhosa
de difícil acesso no sudeste de Cuba, repousa uma aldeia perdida no tempo, onde
ainda se encontra um edifício singelo, mas carregado de simbolismo: na porta,
gravados em madeira gasta, os antigos símbolos do esquadro e compasso,
representando os ideais da Maçonaria. Este modesto templo maçônico, esquecido
pela história oficial por décadas, guarda em suas paredes silenciosas um dos
episódios mais decisivos da Revolução Cubana.
Foi ali, em 1956, logo após o desastroso
desembarque do iate Granma, que Fidel Castro e seu grupo de combatentes — os
“barbudos” revolucionários — encontraram abrigo e um ponto de reorganização.
Refugiados e perseguidos pelas forças do ditador Fulgêncio Batista, Fidel e
seus homens viram na antiga loja maçônica de montanha mais do que um simples
esconderijo: ela tornou-se berço de um ideal, de uma causa e de um movimento.
Na penumbra daquele edifício, tomado de
símbolos da liberdade, igualdade e fraternidade, nasceu o Movimento 26 de Julho
— batizado em homenagem ao assalto fracassado ao Quartel Moncada, que marcara o
início da luta armada contra a ditadura. Inspirado por ideais libertários e
profundamente influenciado pelos ensinamentos de José Martí, patriota, poeta e
maçom, Fidel forjou, junto a seus companheiros, os princípios e estratégias que
guiariam a Revolução até sua vitória em 1959.
José Martí, considerado o pai da independência
cubana, era ele próprio um iniciado na Maçonaria. Seus escritos, marcados pela
defesa da autodeterminação dos povos, da justiça social e da dignidade humana,
ecoavam nos discursos de Fidel. Para os revolucionários, Martí não era apenas
uma referência histórica: era um guia espiritual e político.
Assim, a coincidência de Fidel ter encontrado
abrigo justamente em uma loja maçônica não é apenas simbólica, mas
significativa. A Maçonaria, com sua longa tradição de resistência ao
absolutismo e ao autoritarismo, oferecia um cenário ideológico propício à
incubação de uma nova revolução social. E, paradoxalmente, foi nesse espaço de
tradições antigas que se concebeu o embrião de uma nova ordem socialista para
Cuba.
A Loja da Sierra Maestra, como passou a ser
chamada por estudiosos e historiadores, permanece hoje como um testemunho
silencioso dessa convergência entre mística maçônica e fervor revolucionário.
Um ponto de encontro entre o passado espiritual de Martí e o futuro político
traçado por Fidel. Um símbolo de como os caminhos da história às vezes se
cruzam em lugares improváveis, sob o véu da discrição e da luta.
Essa pequena edificação, escondida entre as
montanhas, representa, portanto, uma ponte entre a Maçonaria e a Revolução
Cubana — entre a tradição e a ruptura, entre o sonho de Martí e a realização de
Fidel. E, para quem estuda a história cubana com atenção aos detalhes ocultos,
ela é mais do que uma curiosidade: é um elo fundamental na cadeia de
acontecimentos que mudou para sempre o destino da ilha.


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