A Regularidade Maçônica e a Autonomia das Grandes Lojas no Século XXI


 

 Da Redação 

Por muito tempo, a Grande Loja Unida da Inglaterra (UGLE) foi considerada a principal referência para o reconhecimento de Grandes Lojas ao redor do mundo. No entanto, essa posição já não é mais absoluta. Atualmente, cada Grande Loja exerce sua autonomia para decidir sobre o reconhecimento de outras obediências, levando em consideração critérios próprios e a realidade maçônica de seus respectivos países.

Um exemplo notável dessa autonomia é a Grécia. A Grande Loja da Grécia é reconhecida tanto pela UGLE quanto pela Grande Loja Suíça Alpina (SGLA) e pelas Grandes Lojas Unidas da Alemanha (VGLvD). No entanto, as Grandes Lojas da Escócia e da Irlanda optaram por reconhecer uma outra obediência grega, a National Grand Lodge of Greece, demonstrando que não há um consenso absoluto sobre a regularidade e o reconhecimento.

Na Suíça, a SGLA adota um procedimento rigoroso antes de estabelecer relações com outra Grande Loja. Antes de qualquer reconhecimento, a obediência suíça analisa minuciosamente a situação da candidata, aplicando os critérios estabelecidos nos "Cinco Pontos de Winterthur", um conjunto de diretrizes elaborado em 1949. Após essa análise, o processo passa por deliberação no Colégio de Grandes Oficiais e, posteriormente, é submetido à votação na Assembleia de Deputados. Somente após essa aprovação, a reciprocidade de reconhecimento se concretiza por meio da troca de garantias de amizade.

A Evolução do Princípio de Reconhecimento Único

Historicamente, a UGLE defendia o princípio de reconhecer apenas uma Grande Loja por país. Foi essa lógica que deu origem às Grandes Lojas Unidas da Alemanha (VGLvD), uma estrutura composta por cinco Grandes Lojas independentes que delegam suas relações externas a um órgão central. Contudo, esse princípio tem sido cada vez mais flexibilizado para se adaptar à realidade maçônica contemporânea.

Atualmente, a UGLE já reconhece múltiplas obediências em um mesmo país, como acontece no Canadá e nos Estados Unidos, onde a maioria das Grandes Lojas Prince Hall – compostas principalmente por maçons afro-americanos – foram reconhecidas. Essas obediências coexistem paralelamente às Grandes Lojas tradicionalmente estabelecidas em cada estado norte-americano, demonstrando que a diversidade dentro da Maçonaria é uma realidade inegável.

O Futuro da Regularidade e do Reconhecimento

Apesar da crescente descentralização, a UGLE continuará a exercer influência nos debates sobre regularidade e reconhecimento. No entanto, a decisão final sobre esses temas cabe a cada Grande Loja, que possui a prerrogativa de avaliar individualmente cada caso e estabelecer suas próprias diretrizes.

Além disso, mesmo sem um reconhecimento formal, há um vasto campo para a cooperação maçônica entre diferentes obediências. O espírito de fraternidade e os desafios sociais contemporâneos exigem que a Maçonaria encontre formas de colaboração que transcendam fronteiras administrativas e dogmáticas, utilizando sua influência para promover o bem-estar da sociedade.

Esse cenário demonstra que a Maçonaria do século XXI não se resume a estruturas rígidas e unívocas, mas sim a um complexo mosaico de tradições, reconhecimentos e colaborações, onde a essência do trabalho maçônico deve sempre prevalecer sobre disputas institucionais.


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