Da Redação
Em 10 de novembro de 1937, o Brasil vivia um momento decisivo em sua história política e social. Nesse dia, um golpe de Estado liderado por Getúlio Vargas instaurou o regime do Estado Novo, consolidando seu poder e transformando-o em ditador. Inspirado em ideais fascistas, o Estado Novo buscava centralizar o controle do poder, suprimindo vozes contrárias e implementando uma política de forte repressão. Em meio a esse cenário de autoritarismo, uma das instituições que sofreram o impacto direto das novas políticas repressivas foi a Maçonaria brasileira.
O
Estado Novo e a Repressão à Imprensa e às Lojas Maçônicas
Com a implantação do Estado Novo, Vargas
decretou a suspensão de liberdades civis, incluindo o cerceamento da imprensa,
que se tornou estritamente controlada pelo governo. Essa censura tinha o
objetivo de impedir que opiniões contrárias ou críticas ao regime circulassem,
promovendo uma única narrativa que glorificava a figura do ditador e
consolidava seu controle sobre a sociedade. Nesse contexto, o movimento
maçônico, conhecido por seu papel histórico de resistência e pelo seu
compromisso com a liberdade e a democracia, foi visto como uma ameaça ao novo
regime.
Em diversos estados do Brasil, muitas Lojas
maçônicas foram fechadas como parte do esforço do Estado Novo para silenciar
qualquer forma de oposição. A Maçonaria, que defendia valores de liberdade, igualdade
e fraternidade, era percebida como um foco de resistência, especialmente entre
aqueles que não aceitavam o autoritarismo imposto por Vargas. No entanto, o
Grande Oriente do Brasil conseguiu manter suas atividades, embora sob intensa
pressão do governo. A Maçonaria brasileira, que já havia experimentado
repressões em outros momentos históricos, vivia agora uma nova fase de luta e
adaptação para sobreviver em um ambiente de restrições.
Decretos
1.179 e 1.519: Controle e Redefinição dos Valores Maçônicos
A pressão sobre o Grande Oriente do Brasil se
manifestou de forma mais incisiva através de dois decretos específicos, que
buscavam alinhar a Maçonaria aos ideais do Estado Novo ou, pelo menos, impedir
que ela se tornasse um foco de resistência ativa. O Decreto 1.179, por exemplo,
propunha a eliminação de “irmãos contrários ao regime”. Esse decreto visava a
purificação interna da Maçonaria, eliminando membros que pudessem representar
uma ameaça à ideologia dominante ou que pudessem fomentar discursos e ações
contrários ao governo de Vargas. Dessa maneira, o governo tentava neutralizar a
Maçonaria como instituição de resistência, infiltrando-se em seus quadros e
pressionando-a a tomar posições alinhadas ao Estado.
Além disso, o Decreto 1.519 propôs uma nova trilogia para a Maçonaria: Ordem - Fraternidade - Sabedoria, substituindo os tradicionais ideais maçônicos de Liberdade - Igualdade - Fraternidade. Essa mudança simbólica refletia a tentativa do regime de Vargas de reformular o pensamento maçônico para que ele se ajustasse à retórica fascista do Estado Novo. A nova trilogia colocava “Ordem” em primeiro lugar, enfatizando a conformidade e a obediência ao poder central, em detrimento da liberdade individual e da igualdade, que eram vistas como ameaças à estabilidade do regime.
A
Maçonaria e sua Luta pela Sobrevivência
Apesar das tentativas de controle e
repressão, a Maçonaria brasileira manteve-se ativa e, dentro do possível,
buscou maneiras de resistir ao Estado Novo sem colocar seus membros em risco.
Essa postura resiliente demonstrou a força e a adaptabilidade da instituição,
que, ao longo dos séculos, aprendeu a sobreviver a regimes autoritários e a
repressões. Durante o Estado Novo, as Lojas maçônicas que permaneceram abertas
continuaram a trabalhar discretamente em prol de seus ideais, mantendo sua
influência na sociedade e em setores que, aos poucos, se organizavam contra o
autoritarismo de Vargas.
O golpe de 1937 e o subsequente Estado Novo
marcaram uma fase sombria para a Maçonaria no Brasil, mas também uma fase de
resistência silenciosa. A imposição dos decretos 1.179 e 1.519, bem como a
censura e a tentativa de infiltrar o pensamento fascista no ambiente maçônico,
exemplificam o esforço do regime em anular qualquer possibilidade de oposição
organizada. No entanto, a Maçonaria brasileira, fiel aos seus valores e às suas
tradições, conseguiu manter-se resiliente, mesmo sob tamanha pressão.
Esse período revelou a capacidade da
instituição de adaptar-se e resistir, preservando, ainda que nas sombras, os
princípios fundamentais de liberdade e fraternidade que sempre caracterizaram a
Maçonaria. Assim, o Estado Novo, ao tentar subjugar a Maçonaria, acabou por
reforçar o espírito de resistência e de luta pela liberdade que constitui a
essência da tradição maçônica.
1 Comentários
E na situação atual em que nos encaminhamos a sistema semelhante o que será feito?
ResponderExcluir