Por Hilquias Scardua
No coração, o monólogo não existe; nele
subsiste o diálogo das essências. As forças primordiais conversam, entre o ego,
as essências e tudo aquilo que é divino; o banquete dos sabores e dissabores
são minuciosamente servidos.
Depois de uma longa conversa com uma cara
amiga, Silvia Sanges, apropriei-me da frase que ela disse naturalmente -
"no coração não há monólogo, é um diálogo constante". Com sua
permissão, trouxe essa reflexão. Certamente, a frase veio como síntese do que
há muito venho refletindo, convergindo com nossos diálogos amistosos e
"cheios de profundidade", como ela mesma costuma dizer.
A característica desse pensamento, dessa
conclusão que esbarra no absurdo, assiste à percepção espiritual em relação às
contestações que as preces e os sentimentos anunciam e reservam. Cedemos à
condição sensível de nossa razão para adentrarmos nas sutilezas de nossos
sentimentos e amplamente buscar as diversas vozes que ecoam em nosso coração.
A parte divina exorta, pondera e conforta;
enquanto os sentimentos, cada qual com suas forças, anunciam aquilo que
pretendem e, ali, em meio à mesa, assistimos e contestamos, agradecemos e
pedimos por via da fé.
Para todos aqueles cujos corações são
sensíveis ao Bem, compreenderão minha exposição e refletirão sobre esse diálogo
constante que vivenciamos. Sendo capazes de perceber a potencialidade que
alcançamos ao permitirmos esse diálogo, seja com o Divino ou com um ou outro
sentimento que se presta a expressar suas vontades.
A voz do coração é o uníssono coro das intenções
espirituais e universais. Assemelha-se ao instinto da fêmea musa e do
sobrevivente animal. É deveras essencial para a nossa evolução emocional e
espiritual.
Nesse contexto faz maior sentido a frase do
Livro Sagrado, em Apocalipse 2:7 - "Quem tem ouvidos, ouça o que o
Espírito diz às Igrejas". Essa frase está posta à mesa de diálogo do
coração. De outra forma, não fará sentido, senão pela fé.
Esse diálogo está no campo metafísico, embora
tanto contestado, é por onde a sólida sanidade e contestável razão perceberão
seus limites.
No entanto, é crucial compreender que o
diálogo do coração transcende as palavras e vai além da comunicação verbal.
Envolve também a linguagem dos sentimentos, das intuições e das emoções, que
muitas vezes são mais eloquentes do que qualquer discurso articulado.
A sensibilidade para ouvir o que o coração
tem a dizer requer um estado de receptividade e introspecção, onde nos
permitimos mergulhar nas profundezas de nossa própria essência. É nesse espaço
interior que encontramos respostas, insights e inspirações que nos guiam na
jornada da vida.
Devo usar de exemplo algo e aqui me exponho:
Recorri à prece, visitei esse ambiente interior e ouvi a voz do coração antes
de ligar para minha amiga Silvia. Quase sempre o faço antes de qualquer
atividade, desde as mais simples até as mais complexas, que envolvem trabalho e
reuniões diversas. Foi crucial fazê-lo, pois sabemos das sutilezas que reservam
o outro lado ou a outra pessoa.
Ao cultivarmos esse diálogo interno, estamos
nutrindo nossa conexão com a sabedoria interior, que é uma fonte inesgotável de
orientação e discernimento. É através desse diálogo que podemos nos alinhar e
conectar com nossa verdade mais autêntica, com o Divino que há em nós e nos
outros, para viver de acordo com nossos valores mais elevados.
Portanto, honrar o diálogo do coração é
honrar a voz da alma, a Divina Voz, que nos conduz em direção à plenitude e à
realização pessoal.
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