Vencer as Paixões: As Paixões da Alma


Por Hilquias Scardua

Ecoam nas naves de nossos Templos físicos e espirituais o desafio indesejado de propormos a cura para essa patologia. A patologia da Alma, onde a paixão encerra, parece fácil de caracterizar, expressando os vacilos e sutis erros ligados a nossas paixões. Surge a questão: vencê-las é o nosso objetivo? Que tipo de paixão estamos dispostos a negar ou, de forma soberba, resolutos a vencer? Estacionamos nossos pensamentos nas correntes Platônicas, onde negar a paixão é a possível elevação à superfície dos sentimentos nobres e frios?

 

A ignorância, mãe de todos os vícios e senhora de todos os preconceitos, revela-se quando negamos a evolução de nossa consciência, desejando permanecer confortáveis e acreditando que a estabilidade é a razão pela qual nossa consciência se inclina. Isso demonstra o quanto estamos apaixonados por nossas verdades e iludidos pelos limitados conhecimentos adquiridos.

Podemos relacionar a Paixão à sua raiz etimológica, acreditando que a doença da alma é a conclusão lógica dessa percepção. Ao devotarmos nosso espírito a superar a pequenez de nossos vícios, acolhidos pelos braços aviltadores da Ignorância, tornamo-nos capazes de transcender pensamentos e evoluir conceitos.

Avançamos em pontos cruciais, refletindo com um pequeno recorte do Mestre Jiddu Krishnamurti: "Não admira que os homens venerem os rios; é melhor do que venerar imagens, com rituais e crenças. O rio é vivo, profundo, sempre em movimento; as pequenas poças ao lado das margens estão sempre estagnadas. Cada ser humano se isola numa pequena poça de água, onde se deteriora; nunca se lança à plena correnteza do rio.". Ele completa: "A mente não pode passar do limitado ao imenso, nem pode transformar o limitado em imensidão. Um tem que cessar para que o outro exista." Adicionando ainda: "Nós somos como o resto do mundo. É um vasto e infinito rio. Quando morrermos, seremos o resto, movendo-nos no mesmo fluxo que antes, quando estávamos vivos. Mas o homem que compreende o si mesmo radicalmente, que resolve psicologicamente todos os problemas em si mesmo, não pertence a esse fluxo. Ele saiu dele."

Ao mestre nos convida a contemplar as sutilezas das coisas e a grandiosidade da consciência diante do fenômeno da existência, nos conduzindo a refletir sobre a razão da Iniciação e a assumir a morte do nosso eu anterior.

Abrimos caminho para visitar outro grande Mestre e entender um pouco mais a chamada que aqui faço, a de refletir sobre as Paixões, as paixões ignóbeis e vis que nos caracterizam na persona ruminante e primitiva; porém, não devemos ignorar as paixões motivadoras do bem que fazemos.

Descartes, em seu livro "As Paixões da Alma", realiza um tratado impressionante pela razão que suscita. Entender a Paixão não é um simples exercício dos românticos e enamorados, que se precipitam a dizer que estão apaixonados ou estão amando.

Essa exergia pulsante das paixões deveria ser pela alquimia da consciência transmutada, direcionada, impulsionada para o bem que ansiamos fazer; porém, nem todos têm as ferramentas e elementos necessários para essa alquimia sagrada. Que a diligência seja a mão guia que nos conduza aos estreitos e ásperos caminhos de fazer das Paixões uma corrente de um rio e não a prisão estática de sua margem.

Hilquias Scardua

Cavaleiro da Liberdade

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