Clique no player para ouvir o áudio desta matéria
A MITOLOGIA EGÍPCIA
Os povos da antiguidade, os egípcios certamente são os mais estudados. Mesmo antes da descoberta da Pedra da Roseta, em 1799, a cultura egípcia já desafiava a curiosidade dos exploradores europeus. Riquíssima em personagens que possivelmente provêm de períodos anteriores ao dinástico (c. 3.100 a.C.), a mitologia egípcia sempre foi pródiga na criação de divindades, heróis, vilões e lendas para explicar não só acontecimentos corriqueiros do dia-a-dia, mas também para dar uma dimensão mágica às questões religiosas e espirituais.
Nas dezenas de séculos que durou sua
civilização, tanto os personagens mitológicos quanto os relatos em que estes
estavam envolvidos sofreram diversas mutações, adaptando-se às questões sociais
e aos valores dos períodos históricos nos quais estavam inseridos. Assim, os
mesmos deuses, semideuses e entes mágicos adquiriram personalidades, nuances e
contornos diversos, tornando quase impossível uma descrição única de suas
características ao longo das diversas dinastias. Horus, por exemplo, uma das
divindades mais antigas, assume tantos papéis e desempenha funções tão
diferentes ao longo dos séculos, que se tentássemos montar um painel dos traços
comuns a todas as suas versões, talvez acabássemos apenas com seu nome.
Uma civilização sofisticada como a do Egito,
desenvolvida no calor inclemente do norte da África, tinha, como não poderia
deixar de ser, um rico folclore em torno do trânsito solar1. Dentre os vários
relatos fantásticos que contam histórias sobre o Sol, o da Barca de Ra ou Barca
do Sol ocupa um papel de destaque. É contado em duas versões principais. A
versão cosmológica é uma criativa tentativa de justificar porque o Sol nascia
para iluminar o dia e se punha, trazendo a escuridão da noite. Já a versão
mística, embora se valha praticamente dos mesmos personagens da cosmológica,
busca explicar um dos maiores mistérios da criação: o que acontece depois da
morte? Para tanto, elabora uma série de situações que descrevem a peregrinação
dos mortos no caminho do além-túmulo, até alcançarem o direito a uma nova vida.
As duas versões envolviam cultos próprios,
revestidos da maior dramaticidade. Ambas dispunham de rituais diurnos e
noturnos. Os rituais noturnos, especialmente, eram imersos em tensão e comoção,
na eterna dúvida sobre se o Sol nasceria pela manhã2 ou, no caso da versão
mística, se o morto poderia viver novamente.
O que veremos a seguir é como eram esses
mitos e o que eles têm a ver com a maçonaria e com o uso da palavra Huzzé.
A
VERSÃO COSMOLÓGICA
O Sol do poderoso deus Ra já havia
desaparecido atrás das montanhas ao longe, deixando como prova de sua passagem
apenas o vermelho-alaranjado do céu e a silhueta das figueiras que, pouco a
pouco, iam perdendo nitidez.
Na Barca de Ra tudo era silêncio. À medida
que o Sol se punha e que as trevas do submundo (Duat) envolviam a nau, o medo e
a apreensão se instalavam no coração dos tripulantes. A partir daquele
instante, navegariam nas águas do caos. Ra, ao centro, mantinha sua serena
austeridade, como a transmitir confiança aos companheiros de viagem. Todos
tinham um papel a desempenhar. Destacadamente, a atuação de Heka, Set, Hu e
Sia [3] seria determinante. Se vencessem Apep4, a demoníaca serpente, novamente o
Sol faria jus ao ressurgimento no leste. Para tanto, Heka garantiria que as
magias praticadas contra Apep pelos sacerdotes tivessem eficiência plena. Set,
por sua vivência marcial, asseguraria ao monstro um oponente cuja fúria estava
à altura de sua malignidade. Sia traçaria os planos para a previsivelmente
turbulenta viagem e Hu se encarregaria de verbalizá-los, comandando as ações e
garantindo que fossem desempenhadas adequadamente. Além de terem a incumbência
de zelar pela segurança de Ra, ambos, Hu e Sia, seriam os principais
responsáveis por levar a viagem a bom termo.
Enquanto isso, nos templos de Abydos, desde o
início do poente, os sacerdotes se revezavam em fervorosas preces, buscando com
isso fortalecer os integrantes da Barca e aumentar a intensidade dos feitiços e
maldições que, através de Heka, fariam exaurir as forças da horrenda e
descomunal serpente.
As águas do caos pareciam calmas quando,
repentinamente, um grito aterrador atravessou a escuridão. Tomada de surpresa,
a tripulação mal havia se recomposto do susto quando a quilha da Barca bateu em
algo que a fez adernar. Era Apep, que contorcia seu enorme corpo sob a pequena
embarcação na tentativa de tombá-la e garantir desta forma que a escuridão
eterna se instalasse no céu do Egito.
À medida que a noite avançava, mais intensas
eram as sensações de que o naufrágio era iminente e maior o desespero. Bramidos
alucinantes, urros encolerizados. Deuses contra monstro, luz contra trevas. Por
horas a fio Hu e Sia, com manobras audazes, conseguiram evitar que as
investidas de Apep tivessem sucesso. Mas estavam à beira da exaustão.
Já era alta madrugada e a serpente parecia
perto de conseguir seu intento, quando Ra fez um sinal e Hu ordenou a Set que
tentasse destruí-la.
A primeira oportunidade logo surgiu. Foi numa
tentativa do descomunal réptil abocanhar Ra. Set saltou sobre ele como um raio
e, valendo-se do elemento surpresa, tentou asfixiar a fera. O que se seguiu foi
aterrorizante. Set e a serpente engalfinharam-se, revolvendo furiosamente as
águas do caos e fazendo com que a Barca ficasse ao sabor das ondas e
redemoinhos, quase soçobrando não fossem a precisão das orientações de Sia e a
firmeza de Hu ao comandar. Lamentos, gemidos, gritos, ruídos indecifráveis.
Terror. O cheiro do medo no ar... inquietação. Por fim, ao perceber a serpente
extenuada pelos vãos esforços de afundar a Barca, pelas maldições que lhe foram
lançadas e pelos golpes que lhe aplicara, Set conseguiu imobilizá-la e
desferiu-lhe uma estocada sob a base da cabeça, matando-a instantaneamente.
Prova tua morte, ó Apep! Retrocede!
Retira-te, ó inimigo de Rá! Cai! Sê repelido! Volta e recua! Eu te faço voltar
e te corto em pedaços! Ra triunfou sobre Apep! Prova a tua morte, Apep!5,
ecoavam os hinos no templo.
Trazido de volta à Barca, Set foi recebido
com alegria pelos companheiros. Mas, acossado pela vaidade, ufanou-se de ter
sido o único responsável pela morte da traiçoeira cobra, o que provocou a ira
de Ra, que imediatamente o fez abandonar a embarcação, deixando-o numa das
margens do caos.
Hu prosseguiu no comando, ordenando as
manobras previstas por Sia, até que, finalmente, com Ra são e salvo, puderam
concluir sua vitoriosa peregrinação pelo submundo. A estrela da manhã brilhava
no céu. A despeito das dificuldades e obstáculos da viagem, a Barca de Ra,
trazendo consigo o astro-rei, poderia novamente cumprir sua viagem no
firmamento egípcio.
Os primeiros raios de luz apontavam no
horizonte.
Reunidos num dos altares e banhados pela
claridade, desgastados, mas ansiosos por aquele momento, os sacerdotes, num
misto de alívio e intensa emoção, saudavam os principais responsáveis pelo
feito. Ajoelhavam-se em direção ao nascente e exclamavam a uma só voz: Hu Sia!
Hu Sia!, Hu Sia!
O Sol voltara a brilhar...
A
VERSÃO MÍSTICA
Como dissemos antes, esta versão se utiliza
basicamente dos mesmos protagonistas da versão cósmica, embora com diferentes ênfases.
O Sol da versão cósmica transforma-se aqui no
morto que almeja o renascimento ou, como querem alguns, a libertação eterna.
Para conseguir seu intento ele deveria, durante a vida, ter pautado suas
atitudes pela pureza e pela correção.
O julgamento seria conduzido por Ma’at, agora
à frente da Barca, garantindo, em primeiro lugar, que o coração do morto fosse
pesado para avaliar suas ações. Fosse bom, e seria mais leve que uma pena. Caso
a balança de Ma’at pendesse para o lado do coração, estaria condenado à
escuridão e aos tormentos perenes no submundo que esperava os adeptos do mal.
Um lugar de incessantes castigos, repleto de entes maléficos gerados pelas
perversidades do mundo, que despiriam o corpo do falecido e destroçariam suas
entranhas como abutres, deixando-o ao sabor da decomposição.
Os maus teriam seus corações arrancados e
suas almas ba ficariam perdidas, sem terem como voltar ao corpo original.
Ficariam entregues à sede e à fome, e só teriam acesso às águas pútridas
emanadas das fossas da impiedade. Ma’at não mais ouviria suas súplicas e, como
Set, teriam que deixar a Barca. Seu tormento jamais cessaria. Já os bons,
veriam suas esperanças de renascimento se materializarem como um raio de luz ao
amanhecer, enquanto os sacerdotes responsáveis por ajudá-los em sua vitória
sobre a morte cantariam hinos e comemorariam exultantes. Celebrariam a força de
Ra e saudariam aqueles que transportaram o morto pelas águas do caos e o
levaram incólume ao seu auspicioso destino final, bradando: Hu Sia! Hu Sia! Hu
Sia!
ECOS DE
HU E SIA
Não temos como afirmar que a lenda da Barca
de Ra era exatamente assim. Algumas versões posteriores transformam Ra em Horus
e, ao que parece, surge por isso um novo relato para a epopeia da Barca, embora
com moral condizente com a anterior. Os egiptólogos nos dão conta de que em
algumas dinastias acreditava-se na existência de duas barcas, uma noturna
(Mesektet) e outra diurna (Mandjet), cujas tripulações variavam entre si,
embora na versão diurna Hu e Sia sempre estivessem presentes, em geral
apresentados como uma dupla.
Até há algum tempo os estudiosos imaginavam
que Sia e Hu pudessem ser personagens menores no panteão egípcio, mas as
descobertas das últimas décadas mostraram que eram deuses importantes, e mesmo
o Papiro de Ani, também conhecido como Livro dos Mortos, relata cerimônias
realizadas em sua homenagem6. Sia personificava a percepção, o planejamento
perspicaz. Hu representava a voz de comando, a fala que infunde respeito.
Indícios de sua influência podem ser
encontrados na cultura árabe pré-islâmica, onde Uzza era uma deusa cultuada
como uma das três filhas do deus supremo, protetoras da cidade de Meca. A
tradição diz que era a estrela da manhã (Vênus), o que mostra que, de fato,
está relacionada a Hu e Sia. Seu nome tem a mesma raiz de Izza, que significa
glória. Os nabateus, povo ancestral semita, a consideravam a deusa da
fertilidade. Uma notável surpresa para nós maçons é que, posteriormente, na
época de Maomé, havia uma tribo numerosa, denominada Ghatafan, que reverenciava
a acácia egípcia sob este nome7.
Na mesma linha das semelhanças fonéticas, a
tradição judaica menciona um certo Husai, Uzzah ou Uzziah, fiel conselheiro de
Davi8, e, mais tarde, o Sefer Zohar9 refere-se a Uzza como um anjo que se opôs
à criação do homem. Já na Grécia,
Aristóteles utilizava a palavra Ousiapara expressar as qualidades
essenciais de algo.
É impossível garantir que todos esses nomes
tenham Hu e Sia como origem, mas, certamente, alguns deles são repercussões da
exaltação àquelas divindades nos vibrantes rituais egípcios.
As variações que julgamos potencialmente
provenientes de Hu e Sia são aquelas que têm conotação de aprovação, regozijo
ou júbilo - algo equivalente às interjeições salve ou viva em português - ou
que, de alguma forma, mostram semelhanças com o papel que ambos representavam
nos mitos.
O
CAMINHO PARA OS NOSSOS RITUAIS
A primeira citação de huzza na lingua inglesa
data de 1573. O Dicionário Oxford de Inglês diz que nos séculos XVII e XVIII
huzza era um cumprimento ou saudação usada por marinheiros para homenagear quem
embarcava ou desembarcava. Na realidade, uma interjeição exclamativa.
Menciona-se também que a expressão era um grito repetido em uníssono,
sincronizadamente, quando os marujos atuavam em conjunto para puxar os cabos
das velas ou as amarras da embarcação10.
Há relatos de que nos séculos XVIII e XIX
três huzzaseram dados pela infantaria britânica antes das cargas, como meio de
ganhar moral e de intimidar o inimigo. Há quem diga que eram dois huzzas curtos
seguidos de um terceiro, mais longo, dado durante a carga final.
De todo modo, e embora não existam provas
documentais sobre isso, é possível deduzir que, a partir do Egito, a reverência
a Hu e Sia tenha se espalhado por todo o Oriente Médio, como ocorreu com várias
divindades11. O Olho de Horus, por exemplo, era – e ainda é – presença
frequente na proa das embarcações mediterrâneas. Da mesma maneira, é bem
plausível que Hu e Sia tenham se tornado, por motivos óbvios, inspiradores ou
padroeiros dos navegantes da região e que seus vestígios tenham sido repassados
a outros povos.
Foi dessa forma, acreditamos, que o brado
utilizado no R.E.A.A. deve ter chegado aos marinheiros ingleses e depois, pelo
fato da Inglaterra ser um país onde as atividades navais ocupavam grande
destaque, passado ao resto da sociedade não só como exclamação de alegria e
aprovação, mas também como designativo de união e atitude solidária. Disso,
talvez, advenha sua adoção pela maçonaria.
Mackey diz os que antigos manuscritos
franceses do R.E.A.A. mencionavam a palavra Hoschea como aclamação, que ele
supõe que seja uma corruptela do Huzza inglês. No mesmo livro, apresenta um
poema que parece ser um ritual em versos, datado de 1750, que diz numa de suas
estrofes, “A multidão com três huzzés conclui.”12.
O mais antigo ritual impresso do R.E.A.A., do
ano de 180413, publicado na França, já faz menção à tradicional manifestação.
CONCLUSÃO
São várias as lições que podem ser tiradas do
simbolismo subjacente à mitologia que envolve Hu e Sia. A mais evidente é que,
como Sia, temos que desenvolver nossa sensibilidade e nossa capacidade de
percepção para, com isso, podermos, como Hu, comandar nossa vida com sabedoria
e serenidade. Outra, é que a vida é um ciclo que alterna claridade e escuridão
e que, se nos momentos mais críticos tivermos tranquilidade e acreditarmos
firmemente na superação dos obstáculos, voltaremos a navegar em águas plácidas,
rumo a um recomeço ou, se preferirmos, um novo amanhecer. Outra ainda, é que,
por mais sucesso que tenhamos em alguma atividade, nossas vitórias são
resultantes, direta ou indiretamente, da participação de várias pessoas. Não
reconhecer isso é sucumbir ao feitiço da vaidade, uma inimiga capaz de nos
deixar à margem do que seria nosso processo de crescimento.
Por fim, talvez devamos admitir a
participação divina em nossa evolução, embora reconhecendo que esta é,
paradoxalmente, individual e precisa ser conquistada por cada um de nós, pelos
nossos próprios esforços, mormente considerando que “há mesmo muito mais coisas
entre o céu e a terra...”.
Para tanto, precisaríamos aceitar, também -
porque se aguçarmos a percepção, como Sia, sentiremos isso em nossas vidas -
que essa evolução se processe pelo enfrentamento corajoso das provas
interpostas em nossos caminhos, todas elas cada vez mais sutis, exigindo
decisões também sempre mais refinadas, que são aprimoradas e fortalecidas pelos
valores e vibrações da corrente iniciática a que estivermos ligados nesse
caminho até à liberdade.
Essas provas, das menores às maiores, sempre
nos apresentam a opção de dois caminhos a seguir, como uma polaridade divina
necessária, metafísica, evidentemente preservando nosso livre arbítrio. Mas
isso todos nós já sabemos razoavelmente bem. O que difere esta concepção das
demais é a constatação de que uma sequência de caminhos adotados
equivocadamente, os chamados caminhos de esquerda - das paixões e intransigências
- ilusórios e mais fáceis, pode nos levar à perda irreparável de valores
edificantes, arremessando-nos irremediavelmente, perdidos, para dentro do velho
e dantesco labirinto, em cujo portal está a sentença: “lasciate ogne speranza,
voi ch’entrate14”. Para evitar isso, é necessário fortalecer nosso Hu interior
para que ele nos guie à senda da luz.
Essa dicotomia, entendida como instrumento de
evolução, nos é transmitida pela sagrada iniciação e nos oferece um ciclo
específico de experiências que precisamos viver e vencer para aprender como
chegar ao reino dos céus conscientemente... entrar, enfim, num próximo ciclo
por opção própria, jamais por intermediação de terceiros nas nossas relações
com Deus.
Assim, a partir dessa divina dualidade, e segundo
decisão pessoal inarredável, podemos construir nossas próprias pontes, saltando
o abismo da morte definitiva, o labirinto onde poderemos ficar
irremediavelmente presos, deixando no lugar de partida tudo o que já não se
preste ao progresso ou que deva ser descartado para, quem sabe, aproveitamento
em outro estado de evolução.
Entretanto, essa polaridade, inevitável,
parece claro, nos oferece a salvação -gradativamente, em cada etapa do trabalho
para a evolução da consciência - para nos tornarmos heróis de nós mesmos,
verdadeiros Hércules, vencedores de todos os difíceis trabalhos que
irremediavelmente se sucedem e precisam ser vencidos, como condição “sine qua
non” para termos o direito de vivenciar o novo ciclo, como Hiram, que a cada
nova volta do sol - ele próprio - percorre15 as 12 colunas de vivências
indispensáveis e conquista o direito de renascer para uma nova luz, sem que ela
o cegue.
Será que é isso mesmo?! Ou isso é apenas o
caminho de aproveitamento das energias que contemos, e que a verdadeira
Maçonaria nos propõe, mas que, por não entendermos direito, desperdiçamos pela
estrada da vida apaixonada, onde prevalecem as ilusões dos sentidos. “Chi lo
sa?16”
Em resumo, é possível aceitar a mortalidade
da alma humana que não alcança os níveis mínimos de consciência para o novo
ciclo, nesta vida ou em futuras. Mas, destaque-se, faz-se referência aqui à
alma universal – “mahatma” – que registra, para aproveitamento futuro, as
experiências de todos que conquistam o direito de entrar na barca da salvação.
Disso tudo, evidencia-se a necessidade de
conhecer, pelo menos em linhas gerais, “a constituição oculta do homem”, antes
estudada nos excelsos colégios iniciáticos, ora levemente citada e simbolizada
no avental maçônico.
Mas, ainda assim, os mistérios do pós-vida
permanecerão.
Coincidentemente, o mito da Barca de Ra faz
lembrar também os relatos daqueles que passaram por experiências de
quase-morte: o túnel, a escuridão inicial, a luz magnífica, tangível,
envolvente. Depois, a paz indizível, o encontro com entes queridos, a doce
alegria, a ternura do amor.
Alguns cientistas defendem que estas
impressões são apenas decorrência da privação de oxigênio ou da liberação de
endorfinas em casos de trauma. Quem sabe? Se for assim, todos nós, quando
chegar a hora, usufruiremos de sensações similares.
Pelo sim, pelo não, já não tenho dúvidas
sobre o que fazer e dizer quando chegar lá. Levantarei meus olhos e, com o
coração tomado pela gratidão, exclamarei tão alto quanto possa: Huzzé! Huzzé!
Huzzé! ... e me deixarei levar pela
divina luz!
BIBLIOGRAFIA
HARRIS, J. R., Boanerges, University Press,
Cambridge, EUA, 1913.
MACKEY, A. G., Encyclopedia of Freemasonry
and its Kindred Sciences, The Masonic History Company, London, UK,1914.
MCCLENACHAN, C. T., The Book of the Ancient
and Accepted Scottish Rite of Freemasonry, Masonic Publishing Co., New York,
1884.
BOTTANI, A, CARRARA, M. e GIARETTA P.,
Individuals, Essence and Identity: Themes of Analytic Metaphysics, Kluwer
Academic Publishers, Dordrecht, The Netherlands, 2002.
POE, M., Ancient Egyptian Metaphysics,
http://www.sacred-texts.com/bos/bos446.htm
GONZALEZ-WIPPLER, M., The Complete Book of
Spells, Ceremonies and Magic, Llewellyn Publications, St. Paul, MN, EUA, 2004.
VAN DEN DUNGEN, W., The Royal Ritual of
Rebirth & Illumination,
http://pt.scribd.com/doc/154258722/1-The-Pyramid-Text-of-UNAS-wim-Van-Den-Dungen-2007-68p.
CASTEL, E., Gran Diccionario de Mitología
Egipcia, Editorial Aldebarán, Madrid, Espanha, 2001.
BUDGE, E. A. W. (trad.), Papirus of Ani –
Egyptian Book of the Dead, Dover Publications, EUA, 1967.
PINCH, G., Magic in Ancient Egypt, British
Museum Press, London, UK, 1994.
Britannica Encyclopedia of World Religions,
Encyclopædia Britannica, Inc., Chicago, EUA, 1999.
Rite Ecossais Ancien & Accepté - Guide
des Maçons Écossais, Pesquisa e Tradução: Oficina de Restauração do Rito
Escocês Antigo e Aceito, Porto Alegre, Brasil.
The Oxford English Dictionary, Clarendon
Press, Oxford, UK, 2013.
*
* *
NOTAS
1 A
maioria das civilizações desenvolveu mitos solares, que são aqueles que, como o
nome indica, usam figurativamente o ciclo do pôr e nascer do sol como uma
metáfora para a existência. Eles contam histórias de deuses ou heróis,
mostrando que foram capazes não só de vencer seus desafios em vida, mas também
de triunfar sobre a morte. As lendas de Horus, Odin, Mithra, Prometeu, Thor,
Osíris e muitas outras são consideradas mitos solares. Na maçonaria, a lenda de
Hiram é, por excelência, um relato solar.
2
Imagine-se o terror e o desespero das pessoas quando ocorria um eclipse
solar.
3
Pronuncia-se também sei, esia e esie.
4
Apófis, para os gregos.
5
Passagem do Livro para derrotar Apep, compilado por egiptólogos.
6 Na
sua tentativa de convencer Ma’at, a deusa da justiça, de que é merecedor de
outra vida, o morto diz: “eu realizei as cerimônias de Hu e Sia”, como prova de
ter cumprido obrigações religiosas.
7
Albert Pike, no livro Moral e Dogma, faz menção a essa reverência. Diz
ele: “A Acácia genuína, também, é a espinhosa tamareira, a mesma árvore que
cresceu em torno do corpo de Osíris. Era uma planta sagrada para os árabes, que
dela fizeram o ídolo Al-Uzza, que Maomé destruiu. É um arbusto abundante no
Deserto de Thur, e dela foi feita a “coroa de espinhos” que foi colocada na
fronte de Jesus de Nazaré. É um tipo de planta que era associada à imortalidade
por causa de sua tenacidade em manter-se viva, pois era sabido que, quando
colocada como batente de porta, criava raízes novamente e estirava ramos floridos
sobre a soleira.”
8
Crôn 27:33 e outros. Em português, Husai se transformou em Osias. Pode
ser que o nome derive de Hu Sia, mas não há qualquer indício que possibilite
esta conclusão.
9 O
Livro dos Esplendores, obra cabalística hebraica surgida na Espanha, por volta
de 1.280 d.C..
10 O
mesmo dicionário sugere a possibilidade de que huzza seja proveniente da mesma
raiz que hoist = içar. Parece pouco provável, mas mesmo isso não descarta a
hipótese de que Hu e Sia tenham dado origem às duas palavras.
11
Sabemos que as mitologias grega e romana, que são muito bem
documentadas, incorporaram inúmeros deuses e deusas originalmente egípcios.
12
The mob with three huzzas conclude, no original. É preciso lembrar que,
neste caso, a palavra huzza pode estar sendo usada como sinônimo de saudação ou
exclamação.
13 O
ritual de 1804, em linhas gerais, reproduz os procedimentos praticados pelos
maçons da Grande Loja dos “antigos” de Londres.
14
Abandonem toda a esperança, vós que estais aqui!
15 Na
visão geocêntrica, adotada pela Ordem.
16
Quem sabe? em italiano.
0 Comentários