Filosofia de vida ou ferramenta de
autoconhecimento… o “método” maçônico quando transposto para a gestão da
empresa podem também ser muito eficaz para aumentar a produtividade em
reuniões, gerir os conflitos entre pessoas e conseguir melhores “brainstorms”!
E se a Maçonaria fosse também uma escola de negócios?
“Lausanne, Harvard, ou MIT… Como qualquer
Diretor de Recursos Humanos de uma multinacional, envio os meus talentos e os
meus funcionários com mais elevado potencial a estágios de formação em gestão
nas melhores universidades do mundo; contudo, estes estágios não são nada em
comparação com o que se pode aprender em Loja!” Daniel D., 52 anos, a
trabalhar para um grande grupo de BTP. O seu departamento abrange cerca de
70.000 funcionários! Maçom há cinco anos, este membro de uma loja da Droit
Humain admite ter adquirido através do método maçônico, uma pacificação pessoal
e uma verdadeira organização de trabalho para aumentar a sua eficácia
profissional e a sua gestão. E se o método maçônico trouxesse mais à sua gestão
do que qualquer escola de negócios?
Ouvir melhor
A escuta é a primeira ferramenta dada ao Maçom
a partir da sua iniciação. “Dadas as minhas altas responsabilidades e também
o meu temperamento, eu sou mais inclinado para falar do que para escutar”,
admite Christian N., diretor de um grupo de serviços para as comunidades. “Na
Maçonaria, somos todos colocados em pé de igualdade. Quando se entra, é preciso
ficar calado durante pelo menos um ano!” Também para ele, a iniciação
começou com o “silêncio perfeito”.
“Sou responsável pela Ásia e pela Europa
Oriental, tendo sob o meu comando milhares de funcionários. Quando eu tomo a
palavra no meu mundo profissional onde a hierarquia é muito vertical e muito
“animal”, todos se calam. E se eu digo disparates, muito poucos, para não dizer
ninguém, ousam contradizer-me”. Christian foi obrigado ao silêncio durante
18 meses. Quando recuperou a palavra, tinha aprendido a não a desperdiçar: “Ter
o direito de falar é um recurso escasso. Para protegê-lo adequadamente, temos
de aprender a falar na hora certa e não sobre tudo”. A palavra do gerente Maçom
tem maior peso do que a do gerente comum, porque ele avalia quando deve
tomá-la. “Quando se sabe que não se pode falar várias vezes em Loja, isso
exige que se resuma o pensamento, para distinguir o supérfluo do essencial”,
explica José Gulino, o Grão-Mestre do Grande Oriente (G∴
O∴ d∴ F∴).
“Não se dialoga diretamente, e isso limita os conflitos e as relações de
poder”.
Recrutar e gerir de forma mais humana
Os Maçons cultivam o humanismo; não gostam de
extremos. Mesmo se os negócios continuam a ser negócios, alguns patrões Maçons
acreditam em dar uma oportunidade a pessoas em dificuldade para entrar no mundo
do trabalho. “Eu acabo de recrutar um cientista da computação de 57 anos.
Ele oferece aos jovens uma serenidade e um know-how extraordinários”, diz
Thierry Ehrmann, Presidente da Artprice e do Grupo Serveur. “Eu tento que a
empresa tenha uma visão humanista, o que não é fácil no que diz respeito a
negócios e dada a conjuntura econômica. Nós somos um grupo cotado, sujeito a
regulamentações e com rigidez. Desde 1987, eu já contratei várias dezenas de
funcionários; no entanto, só tive dois processos em tribunal, por questões
laborais!”.
Atento aos idosos na empresa, o patrão e
artista plástico originário de Lyon também dá uma mãozinha às pessoas expulsas
do mercado. Ele sabe como dar uma oportunidade a uma pessoa desempregada há
mais de cinco anos. “Mesmo se for preciso levar mais tempo para a integrar!
Eu tiro o meu chapéu de empregador para ouvir o sofrimento dos outros. É
importante ir para além do contrato de trabalho, para compreender as
dificuldades de um colaborador”. Mesmo quando o colaborador em questão é
rejeitado pelo conjunto da comunidade de trabalho pelas suas palavras ou pelo
seus comportamento lamentável: “A Maçonaria ensinou-me a não impor uma dupla
pena: se ele já é rejeitado no trabalho, não sou eu quem vou para além disto,
rejeitá-lo da empresa!” Eu tento fazê-lo compreender que se deve comportar de
outra forma para não se colocar num risco suplementar”. Vemos aqui que o
método maçônico pode ser valioso para gerir personalidades difíceis.
A triangulação para melhor facilitar
uma reunião
“As reuniões maçônicas chamadas “sessões
de loja”, ensinam o valor da palavra”, diz Philippe Benhamou. Para falar, é
preciso pedir a palavra a um Vigilante da Loja que irá perguntar ao Venerável
Mestre que dirá ao Vigilante se a concede… ou não! Cada vez que pedimos a
palavra, ocorre então uma triangulação. “Imagine reuniões de trabalho onde
se possa fazer uso do palavra apenas uma única vez!” Imagine as
consequências sobre a qualidade da palavra ou a da escolha da sua intervenção”,
refere Philippe Benhamou, sorrindo.
“O método maçônico torna-nos mais capazes
para ouvir as pessoas que dispõem de riqueza. Permite também fazer sair
delas esta riqueza”, revela Denise Oberlin, Grã-Mestra da Grande Loja
Feminina de França (G∴ L∴ F∴
F∴). Numa reunião, as pessoas pouco à vontade
para falar calam-se, embora tenham ideias e a solução para um problema. Um bom
gestor Maçom será capaz de lhes dar a confiança para que ousem expressar os
seus pontos de vista e impedir que oradores natos e os impernitentes tagarelas
monopolizem o diálogo. O método maçônico tem muito da maiêutica,
a arte de dar à luz à consciência, em que Sócrates se destacou e que
encontramos amplamente desenvolvido nos diálogos socráticos de Platão. “Ele
promove um olhar diferente”, diz Patrick B., Diretor de Recursos Humanos de
um importante grupo, também ele membro da Droit Humain.
“É
como acontece com o “dan” em judo. Em Maçonaria, quanto mais velho e
mais alto na escala, mais se deve desenvolver a capacidade para ter um olhar
diferente, para ver as coisas por um ângulo inesperado. Com o método maçônico,
eu encorajo as pessoas inibidas na tomada da palavra a que se exprimam. Tento
colocá-las à vontade, dar-lhes tempo, fazer com que passem a mensagem de que o
que elas dizem é interessante”.
Cultivar a arte de “expor pranchas” em
equipe
“Eu pensava ingenuamente que os
investigadores eram grandes pessoas que sabiam escutar!” No seu trabalho,
Philippe Benhamou lidera redes de investigação no domínio da aeronáutica. Este
investigador da Onera, um centro de pesquisas em aeronáutica em Palaiseau (Essonne),
usa ferramentas maçônicas para fazer funcionar equipes de engenheiros de
diferentes culturas. A sua frequência da Grande Loja de França educou-o para
escutar e reformular.
“O método maçônico ajuda-me a facilitar o
diálogo entre engenheiros vindos de mundos diferentes: o especialista em
aerodinâmica não sabe o que é que o seu alter ego está a fazer
nos materiais de propulsão e, no entanto, é preciso fazer estas pessoas
coexistir num grupo de trabalho. Como na loja maçónica, devemos
apresentar as nossas pranchas juntos”. “Apresentar pranchas”?
Mais um verbo do vocabulário maçônico: as pranchas são as apresentações feitas
em Loja por um irmão sobre um determinado assunto…
Na vida profissional, para ganhar eficácia,
deve-se obedecer a certos rituais. Ora, isto é o que não falta na Maçonaria! As
sessões de Loja, por exemplo, obedecem aos rituais de abertura e encerramento,
para criar um espaço-tempo diferente… Assim, trabalha-se em Loja “do meio-dia à
meia-noite”… mesmo que a reunião não dure mais do que três horas no tempo
“secular”! Antes de ir jantar (os famosos “ágapes” de que o Maçom tanto
gosta!). Estes rituais são perfeitamente transponíveis para o mundo do
trabalho, quer para organizar uma reunião, quer para fomentar convívio no
escritório.
Animar as sessões de criatividade
“Se estão todos de acordo numa reunião,
não se vai produzir grande coisa. As ideias devem ter oposição para gerar
ideias maiores e melhores”, diz Philippe Benhamou. Um bom Maçom sabe que
ele se constrói através do conflito com as asperezas dos outros. “Numa
reunião de criatividade, esta é a tensão que eu tento implementar”. Este
membro da G∴ L∴ d∴
F∴ é um Antigo Venerável especialista na
arte de escutar e fazer coexistir as contradições quando conduz reuniões de
criatividade e grupos de prospecção. Exatamente como em loja, o Venerável
conduz a discussão, já que domina a arte de trabalhar em conjunto as “oposições
necessárias e fecundas”. Historicamente, era preciso encontrar um lugar onde
protestantes e católicos pudessem falar sem puxar da espada! A Maçonaria
esforçou-se para criar este “centro de união” onde se pudesse falar sem brigas.
Philippe Benhamou, perante uma ideia, não hesita em “jogar aos ingénuos” e perguntar
se a ideia contrária não seria melhor. “Toda a gente se ri e se diverte à
minha custa: É estúpido este Benhamou, não entendeu nada! Contudo,
ao mesmo tempo, isso gera por reação, novas ideias!”. Patrick B., chefe de
uma subsidiária de um grande grupo, confirma: “Aplicando as técnicas
maçónicas, eu construo um espaço que permite criar novas ideias e inovações
técnicas”.
Saber resolver conflitos
“Quando pedimos a palavra em Loja, ela é
concedida através de um determinado ritual”, lembra Denise Oberlin,
Grã-Mestra da Grande Loja Feminina de França. ”Isto acalma as paixões”.
Christine N., assistente de direção e Maçom há vinte anos usa as ferramentas da
Maçonaria para acalmar as tensões no seu universo de trabalho: “Eu escuto
com empatia, mas tento colocar a razão nas paixões, visando manter o senso de
proporção e recolocar as coisas em equilíbrio. Eu escuto quem se queixa de um
colega, mas tento mostrar-lhe também algo que ele não viu no outro. Quando um
conflito eclode entre duas pessoas, em que uma descarrega negativamente sobre a
outra, eu reconheço que a pessoa em questão certamente cometeu um erro, mas
lembro que ela passa por dificuldades na sua vida pessoal”.
Escola de ponderação, a Maçonaria convida a
ver pelo menos dois aspectos de cada coisa. “É verdade, gostamos de procurar
uma terceira via para evitar o confronto”, sorri Marc Henry, Grão-Mestre da
Grande Loja de França.” Um Maçom não corta a palavra, tem um
comportamento ético, não coloca o seu umbigo à frente o tempo todo. Escuta os
pontos de vista e tenta encontrar outra solução: O Maçom constrói”. Um
“irmão” não gosta de oposições binárias; procurará sempre uma terceira via para
avançar. Não é de admirar que o triângulo seja um dos símbolos maçônicos!
Ganhar em serenidade e em autocontrole
Esta pode ser a ferramenta mais importante! “Desde
que me tornei Maçom, sou mais feliz. Sinto-me infinitamente melhor na minha
pele. Eu afasto-me bastante da minha vida de todos os dias e quando surgem dificuldades
no trabalho, afetam-me menos. E isso reflete-se na necessariamente minha gestão”,
diz Daniel D., membro da Administração da BTP.
“Aprendi a lidar melhor com os meus medos
e tenho muito menos explosões emocionais no meu trabalho”, diz este membro
da Droit Humain, Maçom há cinco anos. “Eu tinha a reputação de “explodir”
facilmente, de ficar irritado – estou muito mais calmo. Antigamente, eu tinha,
uma média de dez conflitos por mês no trabalho; agora não tenho mais do que
cinco! Aprendemos a não nos deixar vencer pelas emoções”, diz igualmente
Christine N.. Manter o autocontrole, a arte de escutar, a capacidade de gerir
os opostos e (se) construir… Todas estas ferramentas maçónicas não são tão
misteriosas. “Mas, não há qualquer segredo na Maçonaria! O único segredo é a
sua experiência”, afirma Marc Henry com um sorriso. Palavra de
Grão-Mestre!!!
Etienne Gless, publicado aqui
Adaptado de tradução feita por José
Filardo
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