Por Nuno Raimundo
O próprio título desta publicação poderá
parecer por si só uma possível contradição.
Uma analogia direta entre política e
Maçonaria Regular nunca poderá ser feita em concreto porque em Maçonaria
Regular não se discute política. E muito simplesmente porque tal não é
permitido pelas suas próprias regras, os seus Landmarks, que no seu
sexto artigo impede que este tipo de discussão possa ter lugar numa loja
maçónica.
Mas no que ao tema deste post concerne, a
proibição existente em relação à abordagem de temas políticos numa sessão
maçónica é apenas em relação à discussão e debate de ideias relativas à
política partidária. Porque abordando a política como conceito em si, conceito
este como sendo algo que é assumidamente necessário para quem vive na
sociedade, a postura da Maçonaria Regular é diferente.
O conceito político, quando abordado no seu
sentido lato, é permitido seja em debates meramente filosóficos ou que tratem
de temas sociológicos ou antropológicos. Nestes casos, as ideologias são
facilmente postas de parte. Pelo que efetivamente nunca se discute se o
pensamento político de “direita” ou de “esquerda”, ou se uma monarquia ou
república serão os melhores sistemas políticos a serem vivenciados pela
sociedade.
Salientando também que, devido ao
cumprimento do referido Landmark, não se discute se uma religião é melhor ou
pior que outra. Política e Religião em Maçonaria Regular encontram-se no mesmo
patamar.
– Alíás atrevo-me a dizer que para a
Maçonaria Regular, ambos estes conceitos estão colocados naquelas prateleiras
muito altas que é usual se ter em casa, em que sabemos que as coisas lá estão,
mas que não as conseguimos alcançar…-
Estas concepções de vida,
políticas ou religiosas, a serem discutidas, apenas o serão em em
sentidos latos e meramente filosóficos. Até porque geralmente estes temas, a
par da clubite desportiva, são os temas que mais dividem o Homem e
fraturam a sociedade, e a Maçonaria quer-se como sendo um centro agregador de
pessoas e nunca como sendo o seu foco de divisão.
Assim, relativamente à política partidária,
cada maçom seguirá as políticas ou sentir-se-á representado pelo partido
político que considerar que será o que melhor o representa ou que aplica e/ou
defende as ideias que para si são consideradas como sendo as que maior valência
deverão ser seguidas pela sociedade civil. E apenas isso.
Não obstante, é do conhecimento público em
geral, que vários maçons são membros ativos de vários partidos políticos,
muitos deles mesmo pertencentes a alas muito distantes politicamente e com um
ideário político muito diferente e bastante divergente até.
E isso é lhes possível porque são
livres para o fazer.
Em nada a Maçonaria os impede de
tal. Nem como instituição, nem os próprios maçons entre si, como membros
desta Augusta Ordem. Cada um fará o que lhe aprouver quanto ao caminho que
preferir percorrer, seja partidário ou não, e respeitará do mesmo modo, o
caminho que o seu irmão decidir prosseguir…
Estes últimos parágrafos serão talvez alguns
dos quais que mais confusão farão aos profanos e que podem suscitar certas
teorias conspiratórias, uma vez que, pode-se sempre supor que, como poderá
alguém que não se revê politicamente noutra pessoa, e que por vezes em debates
mais acalorados, sejam eles no hemiciclo, sejam eles em qualquer
tipo de campanha, em que algumas vezes podem inclusive roçar a falta de
respeito, para depois dentro de portas ou na sua intimidade,
serem amigos e considerarem-se como Irmãos?!
A própria questão encerra a sua própria
resposta.
§ Não temos nós irmãos,
familiares e amigos que têm opiniões contrárias às nossas?
§ Não levam eles, em
alguns casos, vidas muito diferentes da que levamos?
§ Não têm eles
concepções de vida muito distantes daquelas que consideramos como sendo as mais
válidas?
§ Quantas vezes em
debates de ideias mais acesos, não nos chateamos e depois tudo ficou resolvido
como nada se passasse?
§
Sim, todos nós na nossa vida, passamos ou
alguma vez passamos por esta situação.
E fraternidade é isso mesmo, é ter bastante
respeito pelo próximo, consagrar o direito à diferença de opinião, ser
tolerante em relação a diferentes pontos de vista, e ter uma postura coerente
no âmbito do debate.
Por isso é que a Maçonaria sobreviverá per
si, independentemente do posicionamento político dos seus membros.
Tudo devido ao sentimento fraternal que estes
têm entre si e que os fará colocar de parte qualquer antagonismo que possa
ser motivado, neste caso, por questões político-partidárias.
E depois no que toca à questão partidária,
esta não se coloca à Maçonaria mas sim ao Povo, que como integrante fundamental
da sociedade tem o dever de participar nela e contribuir para o seu progresso.
Assim, cabe ao maçom, sendo ele mais um
elemento que faz parte do povo, participar como cidadão e como parte
interessada nesta questão.
O compromisso que o maçom assume com a Ordem
é um compromisso de ordem moral e ética, e que não envolve sequer, qualquer
forma de política neste comprometimento.
Pelo que nada melhor que o seu exemplo e
conduta para servir de paradigma aos outros.
Logo, pelos seus valores, o maçom nunca
poderá agir impulsivamente nem de forma irrefletida, porque para além de não
ser a forma de correta para alguém agir, e depois porque está em permanência
debaixo do jugo da sociedade; assim o maçom que seja ativo politicamente na
sociedade em que está inserido, deve observar sempre o cumprimento dos valores
maçónicos.
Porque estes valores em nada colidem com a
liberdade de ninguém e muito menos com os direitos de todos.
E se hoje em dia vivemos como vivemos, uma
boa parte resultou de um trabalho imenso e intenso por vezes, que alguns
maçons de outrora tiveram e que propiciaram para que hoje em dia possamos
usufruir das condições que temos e que nos permitem ambicionar por mais e
melhor…
Publicado no Blog Pedra de Buril
em 22 de setembro de 2017
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