Por Ubyrajara de Souza Filho
A maçonaria não é religião. A crença no
Grande Arquiteto do Universo na maçonaria é uma realidade filosófica, e não
dogmática. Traduz uma ideia de entidade dinâmica, um foco social que evolui
enquanto se mescla a moralidade e as necessidades da época, moldando e guiando
o maçom em seu processo evolutivo de construção de um novo homem. Para a
maçonaria a ideia de Deus resulta da
consciência, e as exteriorizações do seu culto, não passam de um sentimento
íntimo que se pode traduzir nas mais
diversas maneiras. Ao mesmo tempo, a maçonaria não se prende a um determinado
sistema filosófico porque isso seria tirar de seus adeptos a liberdade de
interpretação de seus símbolos, alegorias e mitos, os obrigando a seguir um
determinado caminho, o que seria negar a sua própria pregação de liberdade de
pensamento.
Utilizando o pensamento de Nietzsche, em sua
obra Assim falou Zaratustra, podemos deduzir que objetivando não criar
sectarismo, a maçonaria apresenta como verdade provisória ao seu
recém-iniciado, ainda fortemente influenciado por suas convicções religiosas
pré-concebidas e mistificadas ao longo dos anos, a crença no Grande Arquiteto
do Universo como sinônimo de Deus “das religiões”, crença que ele deverá
corrigir aos poucos, à medida que ele sobe os degraus da escada da sabedoria, e
deverá, gradativamente, “matar esse Deus”, convertendo-o para o Deus “nas
religiões”, até chegar, no último grau, ao descobrimento de seu “deus interior”
- o conhecimento de si mesmo e de sua Essência – transmutando-o em um ‘homem
superior’, perfeitamente identificável com o “Übermensch”, o “super-homem”.
A “morte de Deus”, segundo Nietzsche,
representa a desconstrução do padrão de Deus que a metafísica clássica ocidental
construiu: o de ser absoluto e supremo. Esse conceito de Deus deveria morrer na
consciência do ser humano enquanto mantenedor do sistema tradicional de valores
morais e éticos. Como resultado disso, alguém deveria ocupar o seu lugar – o
próprio homem, pelo seu autoconhecimento. Entretanto, Nietzsche, entendia que a
proclamação da “morte de Deus”, desestabilizaria emocionalmente o homem
arraigado em suas crenças metafísicas, pois ela acentua a natureza do medo e da
dramaticidade existencial, uma vez que pensar na ausência de Deus assinalaria o
declínio da esperança e o estabelecimento da incerteza. O anúncio da “morte de
Deus”, portanto, não se trata de propagar ideias anti-teístas. Não pretende ser
a disseminação do ateísmo. Mas em erigir um novo conceito sobre o homem e sobre
Deus.
Assim, Nietzsche observa que a “morte de
Deus” é um acontecimento cultural e existencial. Significa, em outras palavras,
matar o “dogma”, o “fanatismo”, o “conformismo”, a “superstição” e o “medo” e
desenvolver-se pelo “autoconhecimento” e não aceitar mais a imposição de regras
sedimentadas e impostas, que impossibilitam a superação e a auto-afirmação do
ser humano que luta incansavelmente para libertar-se desses ‘vícios’ e
elevar-se em sua saga existencialista.
Para Nietzsche, o homem deveria ele mesmo
conduzir os seus próprios desígnios. Cabe somente a ele fazer as suas escolhas.
E, acima de tudo, optar por uma delas, certa ou errada. Os valores arcaicos
devem ceder espaço ao surgimento de novos valores. Não mais centrados em
afirmações religiosas ou metafísicas, mas em sentenças redigidas pelo próprio
homem, transmutado em um Übermensch (literalmente “homem superior” ou
“super-homem”). Concretamente existencialista, que não promete a felicidade e
gozos na vida futura, transcendental.
Nietzsche em sua obra apresenta um paradigma
de humanidade que extingue e supera pelo autoconhecimento o modelo da religião
piedosa dos fracos e oprimidos que se encaixa perfeitamente a proposta utópica
da maçonaria de criar uma humanidade mais feliz através de “homens superiores”,
livres de vícios, superstições e preconceitos.
Fonte:
https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/
1 Comentários
Aqui parabenizo o ir.'. Ubyrajara por tão importante matéria , sim um grande pensador Nietzche aquele que nos instrui a compreender os nossos 2 instintos : Dionisíaco e apolíneo ......aquele que nos aponta D'us , aquela que não se fatigou ao devorar e buscar a luz do entendimento e a real compreençao do que seria a quinta-essência .....T.'.F.'.A
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