Por Barbosa Nunes (*)
Mais
uma vez junto com os irmãos, cunhadas e sobrinhos, fui à Cidade de Goiás. Reconhecida
pela UNESCO como Patrimônio Histórico e Cultural Mundial por sua tradição e arquitetura
barroca peculiar. Situa-se dentro de um cenário topográfico, singularmente
bonito, dentro de um vale envolvido pelos morros verdes e ao sopé da lendária
Serra Dourada. Local onde ocorre anualmente o Festival Internacional de Cinema
e Vídeo Ambiental – FICA, que tem participação de países da Europa, América, África
e Ásia. Nascida durante o Ciclo do Ouro, Vila Boa de Goiás foi capital do
estado até 1937.
Outra
importante manifestação cultural do município é a Procissão do Fogaréu, que acontece na
Semana Santa. As luzes das ruas são apagadas e, munidos de tochas, os
farricocos - encapuzados que representam os soldados romanos - seguem da Igreja
da Boa Morte até as escadarias da Igreja de São Francisco. A cerimônia simboliza
a prisão de Cristo, é acompanhada pelo som de tambores e de um coral em latim.
Neste
cenário ha 182 anos está presente a Ordem Maçônica, através da luta,
perseverança e representatividade da Loja Maçônica “Asilo da Razão”, fundada em
21 de agosto de 1835, atualmente dirigida pelo jovem Venerável, Murillo de
Oliveira Dantas.
Anualmente,
por ocasião do seu aniversário, o Grande Oriente do Brasil – Goiás transfere
sua direção, lá instalando os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
Novamente neste ano com o Grão-Mestre Estadual Luis Carlos de Castro Coelho,
presidente da Assembleia Legislativa Estadual, Gérson Alcântara de Melo,
presidente do Tribunal Eleitoral, Rodrigo Rizzo Vasques e presidente do
Tribunal de Justiça, Luis Gustavo Nicoli. No mesmo evento a presidente da
Fraternidade Feminina Estadual, Janine Gomes de Gouveia Coelho, instalou a Fraternidade
Feminina da Loja, que passou a ser conduzida pela cunhada Edvânia Dantas . Ao
som de belas canções, apresentação teatral e simbolizando a culinária da cidade,
os maçons e familiares, foram também servidos por bolo de arroz e ambrosia.
Registro
aqui, na íntegra, o pronunciamento do maçom Edivar da Costa Muniz, narrando em
síntese a grande e denodada história da Loja “Asilo da Razão”, da Cidade de
Goiás.
“A história registra, que em Cuiabá, no Mato
Grosso, havia uma Loja Maçônica, denominada Razão n° 4, com Carta Constitutiva
de 23 de novembro de 1831, Loja atuante, que teve de abater suas colunas, em
face de "Rusga de Cuiabá", (Vila Bela x Cuiabá), o que gerou fortes
perseguições aos maçons, que se viram obrigados a sair de Cuiabá, para
preservarem suas vidas e de seus familiares. Vários foram os destinos daqueles
valorosos irmãos, mas um grupo forte e coeso migrou para a província de Goiás,
e aqui, reergueu a Loja Razão n° 4, só que desta feita, com o nome de Asilo da
Razão, em 21 de agosto de 1835.
Esses maçons, após se instalarem na capital
goiana, deliberaram pela criação de uma célula maçônica a fim de darem
prosseguimento aos estudos da Arte Real, à qual deram o sugestivo nome de
"Azylo da Razão" conforme já citado. A intenção de seus fundadores
era de regularizar a Loja tão logo a conjuntura política o permitisse.
A
Loja Razão é a n° 4 no Grande Oriente Nacional Brasileiro que depois se fundiu
com o Grande Oriente do Brasil, onde, também recebeu o n° 4. Esta Loja Maçônica
é a quarta loja fundada no Brasil e a primeira no Estado de Goiás e hoje detém
o número 167, pelo simples fato de que seu registro somente se concretizou 30
anos após sua fundação, portanto seu número não deveria ser 167 e sim, número
4.
Em
face do ambiente de instabilidade em que o país ainda se encontrava, aqueles
precursores se valiam de pseudônimos nos documentos maçônicos, normalmente
nomes de personagens da história universal.
Assim,
a relação de fundadores descrita no jornal Polianthéa registra os seguintes
nomes: Sêneca, como Venerável Mestre; Salomão, um aprendiz, como Primeiro
Vigilante; Suly, como Segundo Vigilante; Confúcio, como Orador e Tesoureiro;
Biom como Secretário; e Fenelon como Primeiro e Segundo Experto. De acordo com
a ata de fundação, a Loja foi fundada no 1o dia do 6o mês do ano de
5835 da Verdadeira Luz (21 de agosto de 1835). Em 1861, o Grande Oriente do
Brasil publicou pela primeira vez o Quadro de Lojas e nele a Loja
"Razão".
Não
obstante a sua importância no contexto maçônico, a "Azylo da Razão"
enfrentou enormes dificuldades, permaneceu algum tempo adormecida, mas nunca
abateu colunas, conforme alguns autores citam. Ela apenas se manteve discreta
as injúrias e perseguições da época, podendo até ter deixando de reunir no
templo físico por algum tempo, mas sempre em funcionamento e com seus obreiros
a labutar.
Me
permitam abrir um parênteses, explicar melhor, muitos irmãos podem estar se
perguntando, mas como assim, " não se reuniam no templo físico".
Muito simples, meus irmãos, por templo não devemos entender por uma construção
feita fisicamente, mas sim um edifício erguido de espiritualidade, onde habita
o Grande Arquiteto do Universo. Esse templo é nosso corpo, nossa alma, nosso
coração e nosso espírito. Então se assim nós nos reconhecermos como templo,
essa será a chama da maçonaria que nunca se apaga, e sendo assim, tenho a mais
absoluta certeza que a chama dos irmãos de Asilo da Razão sempre se mantiveram
acesas e flamejantes.

Comemoramos
oficialmente 182 anos de existência, mas a egrégora emanada nesta Oficina,
irradia energia de 185 anos. O histórico de Asilo da Razão é de luta,
combatemos bons e grandes combates, mas talvez o mais marcante, foi abolir a
escravidão na província de Goiás, antes mesmo da lei Áurea entrar vigor.
A
título de informação, a maçonaria chegou em Goiás cinco anos antes de ser
encontrada a famosa imagem do Divino Pai Eterno, que deu origem à nossa maior
festa religiosa.
Com
trabalho e muita dedicação Asilo da Razão se encarregou de expandir os laços
maçônicos por todo o estado de Goiás. Prestando obediência ao Grande Oriente do
Brasil, conforme já mencionado, contando com mais de um século de existência,
ombreada com várias outras Lojas, nasce o sonho de se criar o nosso Grande
Oriente Estadual. Como deferência e em reconhecimento ao histórico de trabalho
e luta de Asilo da Razão, hoje repousa em lugar de destaque em seu Templo a
primeira cadeira usada pelo primeiro Grão Mestre do Grande Oriente do Estado.
Hoje
somos uma importante célula da Maçonaria Brasileira que já legou vários
ilustres membros para o cenário maçônico nacional, sempre calcada nos ideais da
Liberdade, Igualdade e Fraternidade e sobretudo, no trabalho incansável de seus
obreiros. Agradecemos a todos as Lojas e irmãos que nos visitam nesta data
festiva de comemoração de 182 anos da Maçonaria Goiana. Por fim agradecemos ao
Grande Arquiteto DO Universo por nos proporcionar esse momento de
confraternização e alegria em nossa Oficina. Parabéns Asilo da Razão! Parabéns
a Maçonaria Goiana, Brasileira e Mundial. Sigamos sempre irmanados. Oriente de
Goiás, 19 de agosto de 2017. Edivar Da Costa Muniz.
(*) Barbosa Nunes, advogado, ex--radialista, membro da AGI,
delegado de polícia aposentado, professor e maçom do Grande Oriente do
Brasil - barbosanunes@terra.com.br
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