Por Barbosa Nunes (*)
Mais
uma vez junto com os irmãos, cunhadas e sobrinhos, fui à Cidade de Goiás. Reconhecida
pela UNESCO como Patrimônio Histórico e Cultural Mundial por sua tradição e arquitetura
barroca peculiar. Situa-se dentro de um cenário topográfico, singularmente
bonito, dentro de um vale envolvido pelos morros verdes e ao sopé da lendária
Serra Dourada. Local onde ocorre anualmente o Festival Internacional de Cinema
e Vídeo Ambiental – FICA, que tem participação de países da Europa, América, África
e Ásia. Nascida durante o Ciclo do Ouro, Vila Boa de Goiás foi capital do
estado até 1937.
Repleta
detalhes bem retratados pela filha mais ilustre, a poetisa Cora Coralina. A
casa de Cora, é um dos cenários mais visitados. Lá estão seus vestidos, seus
chinelos e seus tachos, do mesmo modo que ela deixou, ao morrer em 1985. Sua
essência também está ali, através de seus livros, cartas, fotos e máquina de
escrever.
Outra
importante manifestação cultural do município é a Procissão do Fogaréu, que acontece na
Semana Santa. As luzes das ruas são apagadas e, munidos de tochas, os
farricocos - encapuzados que representam os soldados romanos - seguem da Igreja
da Boa Morte até as escadarias da Igreja de São Francisco. A cerimônia simboliza
a prisão de Cristo, é acompanhada pelo som de tambores e de um coral em latim.
Neste
cenário ha 182 anos está presente a Ordem Maçônica, através da luta,
perseverança e representatividade da Loja Maçônica “Asilo da Razão”, fundada em
21 de agosto de 1835, atualmente dirigida pelo jovem Venerável, Murillo de
Oliveira Dantas.
Anualmente,
por ocasião do seu aniversário, o Grande Oriente do Brasil – Goiás transfere
sua direção, lá instalando os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
Novamente neste ano com o Grão-Mestre Estadual Luis Carlos de Castro Coelho,
presidente da Assembleia Legislativa Estadual, Gérson Alcântara de Melo,
presidente do Tribunal Eleitoral, Rodrigo Rizzo Vasques e presidente do
Tribunal de Justiça, Luis Gustavo Nicoli. No mesmo evento a presidente da
Fraternidade Feminina Estadual, Janine Gomes de Gouveia Coelho, instalou a Fraternidade
Feminina da Loja, que passou a ser conduzida pela cunhada Edvânia Dantas . Ao
som de belas canções, apresentação teatral e simbolizando a culinária da cidade,
os maçons e familiares, foram também servidos por bolo de arroz e ambrosia.
Registro
aqui, na íntegra, o pronunciamento do maçom Edivar da Costa Muniz, narrando em
síntese a grande e denodada história da Loja “Asilo da Razão”, da Cidade de
Goiás.
“A história registra, que em Cuiabá, no Mato
Grosso, havia uma Loja Maçônica, denominada Razão n° 4, com Carta Constitutiva
de 23 de novembro de 1831, Loja atuante, que teve de abater suas colunas, em
face de "Rusga de Cuiabá", (Vila Bela x Cuiabá), o que gerou fortes
perseguições aos maçons, que se viram obrigados a sair de Cuiabá, para
preservarem suas vidas e de seus familiares. Vários foram os destinos daqueles
valorosos irmãos, mas um grupo forte e coeso migrou para a província de Goiás,
e aqui, reergueu a Loja Razão n° 4, só que desta feita, com o nome de Asilo da
Razão, em 21 de agosto de 1835.
Esses maçons, após se instalarem na capital
goiana, deliberaram pela criação de uma célula maçônica a fim de darem
prosseguimento aos estudos da Arte Real, à qual deram o sugestivo nome de
"Azylo da Razão" conforme já citado. A intenção de seus fundadores
era de regularizar a Loja tão logo a conjuntura política o permitisse.
A
Loja Razão é a n° 4 no Grande Oriente Nacional Brasileiro que depois se fundiu
com o Grande Oriente do Brasil, onde, também recebeu o n° 4. Esta Loja Maçônica
é a quarta loja fundada no Brasil e a primeira no Estado de Goiás e hoje detém
o número 167, pelo simples fato de que seu registro somente se concretizou 30
anos após sua fundação, portanto seu número não deveria ser 167 e sim, número
4.
Em
face do ambiente de instabilidade em que o país ainda se encontrava, aqueles
precursores se valiam de pseudônimos nos documentos maçônicos, normalmente
nomes de personagens da história universal.
Assim,
a relação de fundadores descrita no jornal Polianthéa registra os seguintes
nomes: Sêneca, como Venerável Mestre; Salomão, um aprendiz, como Primeiro
Vigilante; Suly, como Segundo Vigilante; Confúcio, como Orador e Tesoureiro;
Biom como Secretário; e Fenelon como Primeiro e Segundo Experto. De acordo com
a ata de fundação, a Loja foi fundada no 1o dia do 6o mês do ano de
5835 da Verdadeira Luz (21 de agosto de 1835). Em 1861, o Grande Oriente do
Brasil publicou pela primeira vez o Quadro de Lojas e nele a Loja
"Razão".
Não
obstante a sua importância no contexto maçônico, a "Azylo da Razão"
enfrentou enormes dificuldades, permaneceu algum tempo adormecida, mas nunca
abateu colunas, conforme alguns autores citam. Ela apenas se manteve discreta
as injúrias e perseguições da época, podendo até ter deixando de reunir no
templo físico por algum tempo, mas sempre em funcionamento e com seus obreiros
a labutar.
Me
permitam abrir um parênteses, explicar melhor, muitos irmãos podem estar se
perguntando, mas como assim, " não se reuniam no templo físico".
Muito simples, meus irmãos, por templo não devemos entender por uma construção
feita fisicamente, mas sim um edifício erguido de espiritualidade, onde habita
o Grande Arquiteto do Universo. Esse templo é nosso corpo, nossa alma, nosso
coração e nosso espírito. Então se assim nós nos reconhecermos como templo,
essa será a chama da maçonaria que nunca se apaga, e sendo assim, tenho a mais
absoluta certeza que a chama dos irmãos de Asilo da Razão sempre se mantiveram
acesas e flamejantes.
A
Loja Asilo da Razão funcionou em seu primórdios, nas salas e porões das
residências de seus membros, depois em um casarão, tipo sobrado pelo centro da
cidade, depois na sede da antiga Casa Legislativa Estadual, teve por ocasião de
seu centenário (1935) a construção de um novo templo em propriedade particular
de seu membro, próximo a Rua Hermogenes Coelho. Depois a Loja executou seus
serviços em um casa na Rua Coronel Luis Guedes de Amorim próximo ao fórum e da
Igreja Nossa do Rosário, com muita união e dedicação dos valorosos irmãos
conseguiram continuar seus trabalhos e erguer templo onde hoje desenvolve sues
trabalhos.
Comemoramos
oficialmente 182 anos de existência, mas a egrégora emanada nesta Oficina,
irradia energia de 185 anos. O histórico de Asilo da Razão é de luta,
combatemos bons e grandes combates, mas talvez o mais marcante, foi abolir a
escravidão na província de Goiás, antes mesmo da lei Áurea entrar vigor.
A
título de informação, a maçonaria chegou em Goiás cinco anos antes de ser
encontrada a famosa imagem do Divino Pai Eterno, que deu origem à nossa maior
festa religiosa.
Com
trabalho e muita dedicação Asilo da Razão se encarregou de expandir os laços
maçônicos por todo o estado de Goiás. Prestando obediência ao Grande Oriente do
Brasil, conforme já mencionado, contando com mais de um século de existência,
ombreada com várias outras Lojas, nasce o sonho de se criar o nosso Grande
Oriente Estadual. Como deferência e em reconhecimento ao histórico de trabalho
e luta de Asilo da Razão, hoje repousa em lugar de destaque em seu Templo a
primeira cadeira usada pelo primeiro Grão Mestre do Grande Oriente do Estado.
Hoje
somos uma importante célula da Maçonaria Brasileira que já legou vários
ilustres membros para o cenário maçônico nacional, sempre calcada nos ideais da
Liberdade, Igualdade e Fraternidade e sobretudo, no trabalho incansável de seus
obreiros. Agradecemos a todos as Lojas e irmãos que nos visitam nesta data
festiva de comemoração de 182 anos da Maçonaria Goiana. Por fim agradecemos ao
Grande Arquiteto DO Universo por nos proporcionar esse momento de
confraternização e alegria em nossa Oficina. Parabéns Asilo da Razão! Parabéns
a Maçonaria Goiana, Brasileira e Mundial. Sigamos sempre irmanados. Oriente de
Goiás, 19 de agosto de 2017. Edivar Da Costa Muniz.
(*) Barbosa Nunes, advogado, ex--radialista, membro da AGI,
delegado de polícia aposentado, professor e maçom do Grande Oriente do
Brasil - barbosanunes@terra.com.br
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