de René Desagulier e Harold
DORN & Robert MARK
Tradução J. Filardo
Se Isaac Newton é, sem dúvida, o mais famoso
cientista da junção dos séculos XVII e XVIII, há um outro menos conhecido entre
nós, mas que, no entanto, teve a honra de dois artigos na revista Renaissance
tradicional, ele é Sir Christopher Wren.
Quem foi esse homem que o próprio Newton
descrevia como “o maior geômetra do nosso tempo” e que Robert
Hooke [i] colocava no mesmo nível de Arquimedes? Cientista de um lado,
dissemos, pois era professor de astronomia e presidente da Royal Society [ii] e
e geômetra, por outro, pois Arquiteto, e até mesmo: Arquiteto Geral da
Inglaterra nomeado por Charles II. Ele faz parte dessa categoria de cientistas
da segunda metade do século XVII que pensavam que a mecânica influenciava a
arquitetura, e aos quais eram confiados grandes projetos que exigiam importante
estrutura mecânica, uma lista onde encontramos entre outros Guarino Guarini
[iii] na Itália, Claude Perrault [iv] na França e, é claro, Hooke, na
Inglaterra.
Filho do reitor da Universidade de Windsor,
Christopher Wren nasceu em 20 de outubro de 1632 [v] onde foi criado em uma
tradição religiosa, e desde a idade de 17 anos (1649) estudou na Universidade
de Oxford, já com uma atração para os sistemas mecânicos complexos, por um lado
e, por outro lado, as matemáticas que o revelarão aos olhos de Isaac Newton.
Aos 25 anos, foi nomeado professor de astronomia no Gresham College de Londres
e aos 29 mudou-se, sempre na cadeira de astronomia, mas desta vez em Oxford e
isso por 12 anos. É importante notar que depois de uma conferência de Wren no
Gresham College, em 1660, vai surgir a ideia que dará origem à Royal Society,
mais precisamente a Sociedade Real para a Melhoria do Conhecimento
Natural e ele, ao lado de Robert Boyle, John Wilkins, William Visconde
Brouncker (que será o primeiro presidente dela) e também de um certo Robert
Moray. Será Wren quem redigirá os primeiros estatutos do que viria a ser
chamado “o Colégio Invisível” enfatizando a experimentação e a prática,
ele fala de “filosofia natural experimental” ou ainda de “aumento
do comércio através de invenções úteis para o bem-estar, em benefício e à saúde
dos nossos súditos”. Mas é a arquitetura que ocupará 50 anos da vida
de Wren, e isso, a partir de 1662, com os planos do Sheldon Theatre em
Oxford, para terminar em 1710 com a construção da Catedral de St. Paul de
Londres. Harold Dorn [VI] e Robert Mark propõem-se
a analisar o trabalho de Sir Christopher Wren através de sua primeira e sua
última realização. Notemos finalmente, que embora Dorn & Mark sejam
co-autores de um livro com o título deste artigo; é da revista “Pour la Science
“, versão francesa da “Scientific American” chamada “a revista dos Nobels” que
foi extraído esse artigo da Renaissance Traditionnelle.
Deixo para os amantes da arquitetura o prazer
de ler este artigo que, eu diria muito sucintamente vou mostrar os limites da
primeira realização de Wren e a evolução, após o grande incêndio de Londres em
1666 e, finalmente, a conclusão do plano final da Catedral de St. Paul. Este artigo
mostra as dificuldades de um arquiteto precursor, embora fosse um um gênio do
seu tempo, em aliar a teoria e a aplicação. É isso que lhe fará dizer em 1713
em seu relatório sobre a Abadia de Westminster: “Uma arquitetura de
qualidade depende do estudo preliminar dos princípios da estática e do bom
equilíbrio de peso dos pés-direitos.” Na verdade, através dessa
teoria, ao que nos parece interessante, como o fez, sem dúvida antes de nós
René Desaguliers, que a teoria de Christopher Wren determina que para
consolidar uma coluna submetida às forças horizontais da abóbada, esta coluna
deve ser mais alta e mais pesada … assim como Dorn e Mark, citaremos Wren para
concluir esta primeira parte:
“As cinco ordens clássicas de colunas:
Dórica, Jônica, Coríntia, Toscana e Compósita estão sujeitas a leis rígidas e
impositivas que não se pode, aparentemente, transgredir sem cometer uma
barbárie: quando no fundo elas são apenas um reflexo da tendências e modismos
da época em que são usadas “.
“E ainda é surpreendente que uma
grande maioria dos arquitetos de nossa época atribui muita importância ao
decorativo e passem também rapidamente sobre a geometria que é o ponto
essencial da arquitetura…”
E finalmente: ” A verdade será obtida
somente a partir da pesquisa dos centros de projeto de gravidade dos elementos
do projeto”.
Então, aqui estamos na segunda parte deste
resumo, que se refere ao artigo de René Desaguliers. Este
artigo pretende ser uma reparação e justificativa da presença de um artigo
centrado apenas no aspecto arquitetônico, portanto operativo, da atuação de
Wren, artigo no qual René Desaguliers vai estudar os vínculos de Wren com a
Maçonaria. E é principalmente partindo das Constituições de 1723 que
encontraremos os vínculos. 1723 é, paradoxalmente, o ano da morte [vii] de
Christopher Wren, com 91 anos, mais exatamente 5 semanas após a publicação das
Constituições [viii], e que nos diz James Anderson, ele situa Wren como um
“arquiteto engenhoso”, e é tudo! René Desaguliers analisa simplesmente este
elemento recordando que a redação das Constituições tinha sido lançada pelo
Duque de Montagu em 1721 [ix], mas que materialmente entre a data da decisão da
publicação e a morte de Wren, não se teve tempo para adicionar um epíteto mais
glorioso e mais elogioso. A menos que, ainda mais perspicaz, a explicação
política de Desaguliers não seja ainda mais justa. Eu a relato a vocês. Em
1718, Christopher Wren é Superintendente Geral dos Edifícios da Inglaterra, ele
tem 86 anos de idade. Sua idade avançada e sua lealdade aos Stuarts fazem com
que o rei da época o alemão Georges I o substitua por William
Benson, levando à suspeita e questionamento quanto ao critério de Anderson …
Ao contrário, na segunda edição das
Constituições, a de 1738, Wren passou de notícia para a história ou para a
lenda. E lá desta vez, vamos rever o que Desaguliers descreve como um
verdadeiro romance sobre um certo Sir Christopher Wren, o mesmo que segundo as
Lojas de Londres em 1716, as teria negligenciado. Assim, encontramos ali um
Christopher Wren sucessivamente Grande Vigilante em 1663 e 1666, Grão-Mestre
Adjunto e depois Grão-Mestre, em 1685 e novamente em 1698. Na verdade, é o que
diz Anderson, alguns anos após a conclusão da Catedral de St Paul em 1708, Wren
negligencia o cargo de Grão-Mestre pelo menos até 1714. Notemos de nossa parte
de passagem, que ele tem … então 76 a 82 anos.
Assim o que aprendemos neste artigo de 1982
sobre a adesão ou não de Christopher Wren à Maçonaria? René Desaguliers
realmente escreve que se pode responder de forma positiva e isso porque ele
encontrou alguns elementos, e para tal se baseia em Albert Mackey [X], Robert
Freke Gould [xi] e Bryan Little [Xii].
Em primeiro lugar, em “A História
Natural de Wiltshire” [Xiii], de John Aubrey; ele
diz (tradução de René Desaguliers) “Hoje, segunda-feira a 18a. do ano
de 1691, no dia após o domingo das Rogações [xiv], realizou-se na Igreja de
Saint-Paul uma grande assembleia da Irmandade de maçons aceitos, na qual Sir
Christopher Wren deve ser adotado Irmão (tradução voluntariamente literal de:
is to be adopted a Brother), bem com Sir Henry Goodric de la Tour (de Londres)
e alguns outros. Houve reis que pertenceram a essa confraria”. Além da
probidade de Aubrey, Rene Desaguliers nota que no manuscrito, Aubrey riscou a
palavra Maçom Franco e reescreveu em cima Aceito,
permanecendo fiel à companhia dos maçons de Londres que haviam transformado o
nome por volta de 1655-1656.
O segundo elemento quase indiscutível é o
anúncio da morte de Wren por meio da imprensa em o Postboy [XV]
e o British Journal [Xvi] que apresentam, ambos, “esse digno
maçom” (franco maçom) isto é, esse maçom especulativo.
Finalmente, de maneira uma vez mais muito
interessante, René Desaguliers nota primeiro a localização geográfica do túmulo
de Wren na cripta de St. Paul, ou seja, no canto sudeste, isto é, o lugar do
Mestre. Em seguida, e finalmente, ele também observa essa lenda que se deve
sucessivamente e de maneira oposta a William Preston e ao Duque
de Sussex, sobre esse presente dado por Wren à Loja Saint Paul (O
Ganso e a Grelha), a saber, três castiçais em mogno representando as três
ordens de arquitetura e um autêntico malhete operativo do século XVII, que
serviria para a colocação da pedra fundamental da Catedral de St. Paul. [xvii]
Concluindo, é bastante claro que o nome de
Wren está ligado à Maçonaria, em todo caso, por suas funções e seu perfil
social, como diz René Desaguliers, e nestes tempos de transição, ele estava bem
em relação com a Maçonaria como Maçom Aceito e não se tem como certo como
operativo.
NOTAS
[I] Robert Hooke Nascido em
18 de julho de 1635, em Freshwater e morto em 03 de março de 1703, é um dos
maiores cientistas experimentais do século XVII e, portanto, uma das
figuras-chave da revolução científica da era moderna.
Em 1653, Hooke foi para Oxford, onde conheceu
Robert Boyle de quem se tornou assistente. Em 1660, ele descobriu a lei da
elasticidade e Hooke, que descreve a variação linear de tensão com a extensão.
Em 1662, Hoole é nomeado demonstrador na Royal Society recém-fundada; ele é
responsável por experimentos realizados durante reuniões. Em setembro de 1664,
ele publica seu livro, Micrografia, que contém muitas observações realizadas
usando microscópios e telescópios. A sua contribuição em biologia é muito
importante. Atribui-se a ele a primeira descrição de uma célula biológica feita
a partir da observação de plantas. Em 1665, ele foi nomeado professor de geometria
na Universidade de Gresham.
Micrografia (Micrographia) torna-se
imediatamente um best-seller. O livro apresenta suas observações realizadas com
o auxílio de diversas lentes. Hooke descreve um olho de mosca e uma célula
vegetal. Suas belas gravuras em cobre são particularmente espetaculares. Suas
pranchas sobre os insetos, bem como o texto contribuem para promover as
observações feitas usando o novo microscópio. As placas sobre insetos são
dobráveis e em um formato maior que o livro, um infólio. Ainda que este livro
seja mais conhecido por suas observações feitas com a ajuda do microscópio, a
Micrografia também descreve corpos planetários distantes, esboça uma teoria
sobre luz e mostra a extensão dos centros de interesse do autor.
Hooke é muitas vezes considerado como o
inventor do microscópio composto, um conjunto de múltiplas lentes, geralmente
em número de três: uma ocular, uma lente de campo e uma objetiva. Ele dá assim
muitos conselhos para a fabricação de microscópios ao fabricante Christophe
Cock. Mas esta atribuição parece inexata, pois Zacharias Janssen já havia
construído microscópios semelhantes em 1590. Nesse meio tempo, os microscópios de
Hooke alcançam uma ampliação de trinta vezes, que era amplamente superior em
relação aos instrumentos anteriores.
Entre suas outras realizações, deve-se
observar a construção do primeiro telescópio refletor Gregoriano e a descoberta
da primeira estrela binária. É interessante notar que ele é o autor de uma das
primeiras teorias ondulatórias da luz.
[ii] 1680-1682
[III] Camillo Guarino
Guarini (1624
– 1683) é um sacerdote, matemático, escritor e arquiteto italiano. Ele nasceu
em Modena. Ele foi ao mesmo tempo um brilhante matemático, professor de
literatura e filosofia em Messina, e a partir de dezessete anos, arquiteto do
duque Philibert de Savóia. Ele escreveu uma série de livros de matemática, em
latim e em italiano, entre os quais Euclides adauctus.
Influenciado principalmente por Francesco
Borromini, Guarini projetou um grande número de edifícios públicos e privados
em Turim, incluindo o palácio do duque de Sabóia, a igreja de San Lorenzo (1666
– 1680), a capela Santissima Sindone (que abrigava o Sudário de Turim), o
Palazzo Carignano (1679 – 1685), os conventos dos Teatinos de Modena, Messina e
Paris, e muitos outros edifícios públicos e eclesiásticos em Verona, Viena,
Praga e Lisboa. Ele morreu em Milão em 1683. A parte de suas obras realizadas
na Sicília, especialmente em Messina, fazem dele um dos fundadores do barroco
siciliano, ainda em sua infância na época. Em arquitetura, ele tem entre seus
sucessores, seu aluno Filippo Juvarra bem como o próprio aluno desse último,
Bernardo Vittone.
[iv] Claude Perrault Nascido em 25 de
setembro de 1613 em Paris, onde morreu em 09 de outubro de 1688, é um médico e
arquiteto francês. Ele é famoso por ter sido o arquiteto da fachada da ala
leste do Louvre. Também é reconhecido por seus trabalhos em anatomia, física e
história natural. Seu irmão é o escritor Charles Perrault (1628-1703). Ele
morreu de uma infecção em 1688, depois de ter dissecado um camelo no Jardin des
Plantes. Ele obteve seu doutorado em medicina em Paris. Tornou-se um dos
primeiros membros da Academia Real de Ciências em 1666. Ele fez muitas
observações sobre a anatomia dos animais. Ele estudou o fluxo de seiva e
descobriu que ela circula em dois sentidos, ascendente e descendente. Mas, como
outros estudiosos de seu tempo, ele tenta descobrir um funcionamento celular
semelhante ao dos animais. Suas ideias são combatidas por Denis Dodart
(1634-1707) e Samuel Cottereau du Clos (v. 1598-1685). Ele traduziu para o
francês os textos do arquiteto romano Vitrúvio sob o título Dez Livros de
Arquitetura de Vitruvio em 1673. Perrault realiza a fachada leste da colunada
do Louvre, implementado por Louis Le Vau, entre 1667 e 1670, bem como partes da
fachada sul. Ele projetou o observatório de Paris, entre 1667 e 1672. Ele
construiu Arco do Triunfo do subúrbio Saint-Antoine em 1670.
[V] A East Knoyle em
Wiltshire
[VI] Harold Dorn é professor
emérito da Faculdade de Artes e Letras de Nova Jersey, pesquisador de história
da ciência e da tecnologia.
[VII] 25 de fevereiro de 1723
[VIII] 17 de janeiro de 1723
[Ix] 29 de setembro de 1721
[X] Mackey A.G., Hughan W.J.
Hawkins E.L. Uma enciclopédia da maçonaria e suas Ciências Afins
compreendendo todo o escopo de artes, ciência e literatura conforme conectada
com a instituição New York-Londres, The Masonic History Company, 2
volumes, 1913.
[Xi] Robert Freke Gould. História
da Maçonaria (1883-1887) 3 volumes.
[Xii] Bryan Little. Sir
Christopher Wren: uma Biografia Histórica (Londres, 1975).
[xiii] http://explorion.net/j.abrey-natural-history-wiltshire/index.html
[XIV] Os Dias de Rogação são
os três dias imediatamente anteriores à Ascensão no calendário litúrgico
cristão. Este termo é usado principalmente pelas igrejas Católica e Anglicana,
mas agora caiu em desuso. A palavra “Rogação” vem do latim rogare que significa
“pedir”. Este termo serve para qualificar esta época do ano porque o Evangelho do
domingo anterior contém a passagem “Peça o que quiser e isso lhe será dado”
(João 16:7). Este próprio domingo era chamado Rogações. Esse dia marcava, antes
do concílio Vaticano II, o início de um período de três semanas durante o qual
a celebração de casamentos era proibida pelas igrejas Católica e Anglicana. Os
fiéis observavam tradicionalmente um jejum durante as Rogações para se preparar
para a celebração da Ascensão e os sacerdotes abençoavam o culturas. Essa festa
introduzida por São Mamert em 470 no Vale do Rhone, estendeu-se por toda a
Gália, por ocasião do Concílio de Orleans (511). Naquela época, as rogações
tomaram o lugar no calendário, da festa romana das robigalia, celebrações de
adoração para a proteção dos cereais contra a ferrugem, que aconteciam no 6º
dia antes das calendas de maio [] . A Igrejas Anglicanas
suprimiram as Rogações em 1976. (fonte Wikipedia)
[xv] n° 5245 2-5 de março de 1723
[xvi] n° 25, 9 de março de 1723
[Xvii] Preservadas depois pela Loja
Antiquité no. 2
Publicado em Renaissance
tradicional N
° 52 – out 1982 p 275 – e N ° 49 – de janeiro de 1982. p XIII 27 Volume
0 Comentários