por John Moses Braitberg - Tradução José Filardo
A eleição
em 2013 do cardeal jesuíta argentino Berdoglio e posições aparentemente
“progressistas” que ele assumiu como Papa Francisco reavivaram o velho fantasma
de uma conspiração maçônica dentro da igreja. Esquecem-se de que a mesma
acusação de infiltração foi feita no passado pelos maçons contra os jesuítas.
Se for para fazer, hoje, tábula rasa dessas acusações, a história mostra que as
relações entre a Companhia de Jesus e a corrente espiritualista da Maçonaria
estão imbuídas de um fascínio mútuo.
“Não seria uma
surpresa descobrir que Francisco é maçom, pois suas crenças – que se
manifestaram por suas obras e ações – são maçônicas.” Trata-se, entre outras
coisas, de uma das acusações que os fanáticos americanos do Mosteiro da Sagrada
Família (1) fazem contra o primeiro papa jesuíta na história da igreja. Na
França, essas acusações são retransmitidas pelo site conspiracionista
lelibrepenseur.org – infelizmente muito visitado – que apresenta uma foto
legendada “Papa Francisco, Grão-Mestre da Loja do Vaticano”.
Para compreender as
verdadeiras razões para esta suposta “apostasia” do Papa Francisco, é preciso
visitar o site de Michelle d’Astier de la Vigerie, ex-jornalista e empresária.
Transformada em guru evangelista liderando uma cruzada ao mesmo tempo
anti-católica, anti-muçulmana e anti-maçônica, esta antiga colaboradora da
ex-primeiro-ministro socialista Edith Cresson afirma em seu site que o Papa
Francisco é o instrumento de uma grande conspiração. Sob o título “A face
oculta dos jesuítas, o Papa Francisco e a nova ordem mundial”, ela escreve:
“Inácio de Loyola, judeu Marrano (isto é, judeu sefardita que se converteu ao
catolicismo) é o fundador dessa Ordem, que, sob aparências muito religiosas,
lidera uma batalha feroz para se impor, há séculos, uma doutrina e ações mais
ou menos subversivas baseadas na infiltração, subversão da cultura e sobretudo
uma obediência estrita ao Papa Romano “(2).
Porra, mas … é
claro! Jesuítas, judeus, maçons, todos unidos para governar o mundo e lhe
impor… Impor a ele o que, exatamente? Não sabemos, mas isso não é importante. O
que conta é criar o problema, fazer acreditar que os dados apresentados à nossa
razão não passam do reflexo distorcido de uma verdade escondida, oculta, mefistofélica.
Esta paranoia
odiosa, amplamente descrita na obra de Umberto Ecco, tem suas raízes, no que
diz respeito aos jesuítas, desde a fundação da ordem. Inigo “Inácio” de Loyola,
um nobre Basco dedicado à profissão das armas é uma mente brilhante possuída
por uma intensa vida interior. Sua fé ardente, ele a conquista à maneira de um
soldado, forçando uma depois da outra as muralhas que impedem, nele mesmo, o
chamado de Deus. Daí resulta o seu método prático “Exercícios Espirituais” para
seguir o caminho da obediência. Desde o início, uma suspeita paira sobre
Loyola. Na Espanha do século XVI, para os judeus, a conversão ao cristianismo
não é mais suficiente para escapar da vingança da igreja. O transplante cristão
foi tão bem feito que muitos “conversos” ocupam posições importantes na igreja
– Teresa de Ávila é o exemplo mais brilhante – e, por casamento, na maioria das
famílias aristocráticas. Foi então que nasceu a primeira ideia racista na
história moderna, a da limpeza do sangre, a pureza do sangue que se exige, de
até cinco gerações, de qualquer um que reivindique exercer qualquer função na
sociedade espanhola. A suspeita está se espalha e Loyola não é exceção. Um dos
irmãos de Inigo, instalado em Murcia deve proclamar que como todos os nativos
da província basca de Guipúzcoa que ele descende de cristãos-velhos limpos de
raça má, puros de “raça suja” (3). Uma anedota relatada por Pedro Ribadeneira,
contemporâneo e próximo de Loyola, mostra que este últimos não está imune à
“questão judaica”. “Um dia em que almoçávamos em grande número, o padre mestre
declarou que por uma graça especial de Nosso Senhor e da gloriosa Virgem Maria
ele descendia de uma linhagem judia que lhe faria entrar no parentesco de
Cristo e sua mãe “(4). Philo seria diria hoje, Loyola recrutava entre
conversos. De modo que dois de seus companheiros mais próximos, Juan de Polonco
e seu sucessor imediato Diego Lainez seriam de ascendência judaica.
“A ordem dos
jesuítas recém-fundada logo atraiu a exclusividade dos ódios e medos […] que se
comparam somente às acusações tradicionalmente dirigidas aos judeus (os
jesuítas, “judeus substitutos”? – uso da linguagem sugere bem, quando nos
detemos no sentido secundário e pejorativos dos termos) “, escreve o
historiador do antisemitismo, Leon Poliakov(5). “Criticou-se muito os jesuítas
por ter introduzido o” espírito fariseu rabínico “, escreve ele sobre a
casuística, esta abordagem jesuítica que consiste em categorizar os diferentes
tipos de pecado, de acordo com os casos e as circunstâncias.
Teorias da
conspiração
Em 1614 são
publicadas em Cracóvia as Monita Secreta, ou “Instruções secretas” em que o
padre polonês Jerome Zohorowski, rejeitado pela Companhia, coloca no papel a
primeira teoria moderna da conspiração. Ao longo de dezessete capítulos, o
livro detalha as supostas instruções dadas aos jesuítas para realizar o seu
grande plano de conquistar e dominar o mundo através da adoção de uma atitude
de humildade fingida, ao mesmo tempo que demonstra uma fé adulterada.
Condenada como
falsa e caluniosa no ano seguinte, o livro teve, no entanto, vinte e duas
edições em sete idiomas e ainda era dado como prova da traição dos jesuítas
pelos maçons no início do século XX. Acrescentam-se às Monitas escritos
antijesuitas tanto católicos quanto protestantes. E Jansenista, no caso de
Pascal, que publica em 1656 suas “Provinciais”, memória em estilo epistolar em
defesa de Antoine Arnaud, jansenista lutando contra uma alegada negligência dos
Jesuítas em matéria de doutrina da graça. Nessa época, os jesuítas da França já
tinham sido objeto de uma perseguição após o atentado fracassado contra
Henrique IV em 1594. O jovem Jean Chatel, que tentou esfaquear o rei era seu
aluno. Ele foi esquartejado. Jean Guignard, um de seus professores, foi
enforcado e queimado em praça pública. A Ordem foi expulsa da França. Mas em
1604, mudando de opinião, o Verde Galante (Henrique IV) autorizou o retorno dos
jesuítas e até mesmo tomou um deles, Padre Coto, como seu confessor.
O poder e a
influência adquiridos pelos jesuítas no século XVIII despertavam inveja e
ressentimentos. Presente em toda a Europa, incluindo Rússia, China, Índia e
colônias americanas da Espanha e Portugal, seu estatuto especial que fazia dela
servos obedientes do Papa não agradava aos governos. Em 1759 ocorreu a expulsão
de Portugal e suas colônias. Na França, onde o espírito gálico era forte e onde
um velho jansenismo assombrava a nobreza de robe, o parlamento de Paris
pretextando um caso obscuro de falência em 1763 baniu a Companhia. Porque,
dizia a sentença , a Companhia de Jesus “prejudica a ordem civil, viola a lei
natural, destrói a religião e a moral e corrompe a juventude”. Os colégios
jesuítas foram fechados, mas os padres da Companhia puderam permanecer na
França desde que se comportassem como “súditos leais” do rei e exercessem o seu
ministério sob a autoridade dos bispos.
Em 1767, foi a
Espanha, irritada com a ação “emancipatória” dos Jesuítas junto aos índios do
Paraguai quem decretou a expulsão. A influência espanhola na Sicília, Nápoles e
Parma também os persegue. O movimento foi crescendo até a proibição universal
imposta pelo Papa Bento XIV em 1773 após a bula – ordem – apostólica Dominus ac
Redemptor.
Estamos então em
plena idade das Luzes, a idade de ouro da Maçonaria Europeia. Uma maçonaria
católica e aristocrática na França, que, mesmo sendo esclarecida, tem muito
pouco a ver com a Maçonaria do século XIX. Em Portugal, é o Marquês de Pombal,
primeiro-ministro maçom do rei D. José I, que promove a expulsão dos jesuítas a
partir de 1759. Suas razões são mais políticas que doutrinárias. Sob o pretexto
de que um jesuíta havia publicado um escrito vendo o terrível terremoto de 1755
como um castigo de Deus contra Portugal, o Marquês esclarecido aproveitou a
oportunidade para se livrar dos concorrentes problemáticos e consolidar seu
poder. O autor do escrito, Padre Gabriel Malgrida, antigo missionário no Brasil
de 71 anos de idade foi preso, torturado e queimado por ordem do Marquês de
Pombal. Na proibição de 1773, é também um maçom, José Moñino y Redondo, Conde
de Floridablanca, embaixador de Espanha junto ao Papa, que pressiona este
último a tomar uma decisão definitiva. Novamente, a medida é política.
Trata-se, para o rei Carlos III de demonstrar sua independência em relação à
igreja. Seu ministro da Justiça, Manuel de Roda o principal instigador da
expulsão escreve ao duque de Choiseul “Nós matamos o filho. Resta-nos agora
fazer o mesmo com a mãe, a nossa Santa Igreja Romana”.
No verbete
“Jesuíta” do Dicionário Filosófico, Voltaire escreve: “Perdoa-se tudo, exceto o
orgulho. É por isso que todos os parlamentos do reino, cujos membros eram em
sua maioria seus discípulos aproveitaram a primeira oportunidade de
aniquilá-los, e toda a terra ficou satisfeita com a queda deles”. O autor de
Candide no qual ele os ridiculariza sabe, entretanto, reconhecer algumas
qualidades em seus antigos mestres com quem estudou durante sete anos. Voltaire
fala de uma “sociedade singular ”, “em que temos de admitir que vimos e até
mesmo vemos ainda homens de raro mérito”.
Foi em 1814, depois
de quarenta anos de turbulência na Europa, que o Papa Pio VII restaurou os
direitos da Ordem. Mas o mundo tinha mudado. Os jesuítas que eram quase 25.000
em todo o mundo antes da proibição não passam de 2.000. Isso não impede que
alguns vejam neles um perigo, desta vez não para a independência das
monarquias, mas para o Iluminismo.
Ferocidade
recíproca
A ferocidade dos
Jesuítas ao combater as novas ideias motiva a ferocidade maçônica em imaginar
uma conspiração jesuíta contra a sua ordem? Isso é pouco provável, já que a
ideia de uma companhia de Jesus associada a todos os tipos de complôs é muito
mais antiga que o iluminismo maçônico.
Em 1788, o irmão
Nicolas Bonneville publicou em Londres uma obra intitulada “Os jesuítas
expulsos da maçonaria e seus punhais quebrados pelos maçons”. Ele escreve ali,
em parte: “Nós mostramos efetivamente a óbvia semelhança dos quatro graus
maçônicos das milhares de lojas dedicadas a São João, com os quatro graus ou
profissões da Sociedade de Santo Inácio” (ver quadro). A obra, escreve Charles
Porset, (6) “se inscreve no quadro de uma acusação vaga mas recorrente, que a
partir do século XVII, tinha associado os seguidores de Santo Inácio aos
Rosacruzes […] . Bonneville, iniciador durante a Revolução de Círculo Social de
que participa Condorcet acredita em uma forma de nova Maçonaria portadora de um
messianismo político. Isso porque ele quer romper com a velha Maçonaria que ele
acredita estar nas mãos dos jesuítas. […] “Eu sabia […], escreve ele, que o
sistema parlamentar era os restos do jesuitismo; eu sabia então que estes
restos dos jesuítas havia feito todo o possível para substituir seus emblemas
estúpidos de seus quatro votos pelos emblemas antigos dos verdadeiros emblemas
dos filhos da Luz; e eu sabia ainda com que artifício o Templo dedicado à Luz,
à igualdade e às leis eternas da Natureza tinha sido mudado em muitos pontos,
em uma permanência de trevas, de ignorância, de corrupção e de ambição . E qual
ambição? A ambição de obter as fitas e cordões azuis, de ser chamado Cavaleiro,
Príncipe, e milhares de outras bobagens deste tipo”(8). E então o Grande
Oriente não ocupa desde 1774, em Paris, o antigo noviciado dos jesuítas na rua
Pot-de-fer?
Para aumentar a
confusão, em 1782, um dos participantes do convento de Wilhelmsbad que viria a
dar origem ao Rito Escocês Retificado, havia afirmado que Inácio de Loyola
fizera parte da Ordem dos Templários.
Na Alemanha, onde
Frederico II tinha acolhido uma parte da diáspora negra após as diversas
expulsões, os maçons, vencidos pelo Novo Templarismo da Estrita Observância
Templária se perguntavam se os jesuítas não tinham assumido a tradição
templária e assim a Maçonaria que a reivindicava. Nessa época, o Barão Von
Nigge, membro de uma Loja da Estrita Observância, interessado em ocultismo e
próximo do fundador da Ordem dos Iluminados da Baviera, Adam Weisshaupt – ele
próprio um antigo aluno dos jesuítas – publicou em francês ” Tentativas de
ex-jesuítas de restaurar na Bavaria a barbárie e a Ordem os jesuítas”.
“Partindo da ideia
de que a Maçonaria tinha sido inventada pelos jesuítas para desestabilizar o
regime hanoveriano implantado na Inglaterra e restabelecer os Stuarts católicos
ao trono, eles (os Illuminati) tinham planejado se infiltrar nas lojas para as
tornar instrumento de Iluminismo radical de que elas se diziam arautos […] é
suficiente notar que a lenda dos Templários cujo uso Maçônico data de Ramsay
(pelo menos) constituía para os Illuminaten a prova do domínio jesuíta sobre a
Ordem, cujo simbolismo não poderia ser inteligível a não ser com essa chave.
(…) “, escreve Charles Porset. (9)
Infiltração
jesuíta
Christopher Bode,
alto dignitário da Estrita Observância que se juntara aos Illuminaten instigado
por Knigge, desenvolverá quanto a ele uma teoria mais original que a da
“infiltração” jesuítica. Para ele, são os jesuítas que inventaram a Maçonaria
na Inglaterra em meados do século XVII para combater o protestantismo; então,
com a queda dos Stuarts, usaram a diáspora Jacobita para introduzir ritos
católicos através de uma maçonaria templária e escocesa para restaurar a
supremacia de Roma. Promovendo o desenvolvimento dos altos graus escoceses e
Templários, os jesuítas teriam, assim, tentado se tornar os verdadeiros mestres
da Europa.
Delírio
conspiracional em uma Maçonaria, ela mesma suspeita de conspiração? “A tese
(NDLA de Bode), como tal, não é implausível, escreve Charles Porset porque não
é improvável que os soldados de Cristo tivessem conduzido sob outras formas,
uma política em que a secessão protestante se tornasse necessária e ainda que
justificasse sua proibição. ” Certamente. Mas as especulações de Bode nos
deixam pensativos. Particularmente no que diz respeito à sua interpretação do
mito de Hiram. O ramo de acácia plantado no túmulo do arquiteto, afirma Bode,
tem a forma de uma cruz tripla, símbolo dos hierarcas da Igreja Romana. E o
autor passa a descriptografar da mesma forma todos os símbolos maçônicos,
especialmente aqueles dos altos graus, com a ajuda da chave jesuítica. “A afirmação,
por menos paradoxal que pareça, escreve ainda Porset, pelo menos tem o mérito
de tornar inteligíveis os símbolos que os próprios maçons não entendem. ”
Se nenhum
historiador sustenta hoje que a Maçonaria poderia ter sido secretamente
iniciada pelos jesuítas, está ao contrário provado que a Companhia de Jesus foi
e continua a ser, dentro da Igreja Católica, a ordem mais interessada na
Maçonaria (ver quadro). Evidenciado pela abundância de livros maçônicos do
Fundo dos Jesuítas, dita Collection des Fontaines, arquivada na Biblioteca
Municipal de Lyon em 1999. Para Michel Chomarat do Instituto de Estudos e
Pesquisas Maçônicas em Rhône-Alpes (IDERM) “[…] não há dúvida, quando se
percorre o conjunto de títulos e algumas notas manuscritas contidas oportunamente
em alguns destes trabalhos, que vários jesuítas tiveram uma abordagem da
Maçonaria, sem dúvida diferente de livresca… “.
A Companhia
de Jesus, sociedade iniciática?
A pessoa somente se
torna um jesuíta depois de uma longa jornada que se parece com uma iniciação.
Aprovada pelo Papa Paulo III em 1540, a Companhia de Jesus é uma ordem
religiosa que tem a particularidade de se reportar diretamente à autoridade do
papa, mas tendo à sua frente um Superior Geral, Praepositus Generalis, também
chamado “Padre Geral”, “Geral “, ou coloquialmente “papa negro” eleito
vitaliciamente. Ele tem autoridade absoluta sobre a Companhia, nomeia os
Provinciais, os “Prepostos em Casas professadas”, os “Reitores de colégios e
seminários.” Sob suas ordens encontram-se os “assistentes”, cujas tarefas são
divididas por região ou ministério – por exemplo, ensino – e que formam o
Conselho Consultivo junto ao Geral. Ao contrário de sacerdotes comuns, os
jesuítas respondem ao seu superior provincial, e não ao bispo.
A divisa da Companhia
é de Ad majorem Dei gloriam “Para maior glória de Deus”. Além do ensino, que se
estende a todos os níveis, os jesuítas praticam a pregação, são missionários,
diretores espirituais, ensinam teologia, realizam investigação científica, etc.
A espiritualidade da Companhia repousa nos Exercícios Espirituais compostos por
Inácio de Loyola e se caracteriza pela absoluta obediência ao Papa segundo o
princípio perinde ac cadaver “como um cadáver”.
A admissão à
companhia acontece ao final de uma longa jornada. O postulante é submetido
primeiro a uma entrevista, e, se aceito, deve escrever uma autobiografia
espiritual, que lembra bastante o testamento filosófico. Ele deve ser
entrevistado por quatro Jesuítas, antes que o padre provincial decida sobre a
admissão do candidato ao noviciado que dura dois anos. O noviço faz o grande
retiro de 30 dias de exercícios espirituais e várias “experiências”:
peregrinações, estágios hospitalares. No segundo ano, uma “longa experiência”
de alguns meses leva o novato a experimentar um aspecto da vida apostólica dos
jesuítas. Ao final desse período, o noviço pronuncia votos perpétuos de
pobreza, castidade e obediência. Segue-se um período de dois anos dedicados ao
estudo da filosofia. Em seguida, vem um período de trabalho de dois anos a que
se dá o nome de regência. Ela consiste de um compromisso apostólico em tempo
integral, frequentemente no ensino. Os futuros sacerdotes fazem, então, quatro
ou cinco anos de estudos teológicos. Após três anos de estudos teológicos, o
jesuíta em formação é ordenado diácono, depois padre no ano seguinte.
José Antonio
Ferrer Benimeli
As relações
entre Igreja e Maçonaria não mudarão com o Papa Francisco
José Antonio Ferrer
Benimeli é um padre jesuíta espanhol e acadêmico, que ensina história moderna
na Universidade de Zaragoza, onde dirige um centro de estudo de Maçonaria.
Autor de diversos livros sobre a maçonaria espanhola, ele também estabeleceu
uma revisão de mais de 5.000 nomes de religiosos de todas as ordens que
pertenceram à Maçonaria Europeia no século XVIII. É um dos arquitetos do
diálogo entre a Igreja e os maçons em seu país. Ele exclui, para o momento, uma
mudança nas posições da Igreja em um sentido mais liberal e explica porquê.
“Se é verdade que
os jesuítas sempre tiveram uma posição mais aberta do que o resto da igreja com
relação à Maçonaria, o fato de que o Papa Francisco seja um jesuíta não vai
mudar nada no futuro imediato. Em primeiro lugar, porque o último documento
contra a Maçonaria emanado de Roma foi desenvolvido por Bento XVI e não o vamos
contradizer enquanto ele estiver vivo. Segundo, eu acho que há um enorme
déficit de compreensão mútua tanto do lado da maçonaria quando da igreja. Os
católicos não sabem praticamente nada sobre a maçonaria e os maçons quase nada
sabem da Igreja. Eu acredito que o papa atual não é exceção. A ideia que ele
pode ter da Maçonaria repousa sobre sua experiência na Argentina e na América
Latina, onde a maioria das potências têm uma atitude de oposição frontal em
relação à Igreja.
O outro grande obstáculo
para promover o diálogo se deve à extrema diversidade da Maçonaria. Deve-se
discutir com os ateus? Os deístas? Os espiritualistas? Os cristãos? Os
agnósticos? É-nos dito que os maçons rejeitam os dogmas, mas a rejeição do
dogma pode ser dogmática. No passado, as coisas eram, de alguma forma mais
simples. Quando o padre Riquet foi recebido em loja no final dos anos 1950,
ficou claro que uma certa maçonaria espiritualista solicitava um diálogo. A
importância do catolicismo também era maior. Mas hoje as coisas são mais
complexas. O que não impede o diálogo. E os encontros a título individual podem
ser enriquecedores. É o que acontece na Espanha, onde durante cinco anos são
organizados em Poblete na Mancha, jornadas de diálogo entre católicos e maçons
das quais eu participo. ”
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