Por Nuno Raimundo
O “Tronco da Viúva” é também designado por
“Tronco da Beneficência” ou “Tronco da Solidariedade”.
Ao Tronco da Viúva são lhe atribuídas várias
origens, pelo que uma das mais assumidas pela Maçonaria tem origem bíblica.
Hiram Abiff, mestre
construtor do Templo de Salomão era filho de uma viúva. Mestre esse, que foi
assassinado por três companheiros seus, por não querer divulgar os segredos de
construção a que estava sujeito como mestre-de-obras. Esse assassinato veio
mais tarde a originar uma das mais importantes lendas da Maçonaria; a qual está
na base da maioria dos ritos maçónicos atuais. Advindo dessa lenda, o epíteto
de “Filhos da Viúva”, com que se costumam designar os Maçons.
O facto de se
designar por “tronco”, deve-se ao facto dos trabalhadores afectos à construção
do Templo de Salomão, os Aprendizes e Companheiros, receberem os seus salários
ao final do dia, junto às colunas do Templo. Para além de que etimologicamente,
“caixa de esmolas” na língua francesa também se designar por “tronc”.
Sendo que o termo
“Tronco da Viúva”, simboliza também uma (caixa de) esmola para socorro e
auxílio das esposas (e filhos menores) de Irmãos falecidos.
Em Loja é o Mestre
Hospitaleiro que está encarregado de fazer circular o Tronco da Viúva. Tronco
esse, que em dado momento litúrgico de uma sessão maçônica, circula pelos
Irmãos para que possam efetuar o seu óbolo na medida em que tal lhes seja
possível.
Cabe ao Mestre
Hospitaleiro e ao Mestre Tesoureiro, cuidarem para que ele se encontre numa
situação-equilíbrio para que se possa prestar o auxílio necessário a quem dele
reclamar. E como tal, o Tronco da Viúva não se quer nem muito cheio nem muito
vazio. Se o mesmo se encontrar vazio, é porque as doações não serão
significativas, correndo-se o risco, de se não se auxiliar quem dele necessitar
numa situação imediata. Mas se ele se encontrar cheio, é porque quem necessitar
de auxílio, não o estará a receber na devida forma.
Sendo que um dos
deveres do Mestre Hospitaleiro é o de bem aconselhar o Venerável Mestre sobre
os fins a darem às importâncias obtidas na circulação do Tronco da Viúva em
Loja. A quem ou a quais, sejam Irmãos ou Instituições Sociais de que os
necessitem.
Essa também é uma
das funções sociais da Maçonaria. Ajudar outras instituições carenciadas que
necessitem de auxílio; não procurando o Maçon o reconhecimento de tais atos,
pois a soberba não deve existir nas suas ações. O Maçom assim faz, porque
simplesmente acha de que o deve fazer, não porque procura méritos ou benefícios
com isso.
Sendo que, por não
se procurar reconhecimentos ou assumir falsos méritos, é que a caridade maçônica sob a forma de tronco, é feita de forma reservada, nunca devendo um Maçom mostrar o que deposita no Tronco da Viúva.
Quem procurar
reconhecimento, deve procurar outro sítio para fazer a sua solidariedade, a sua
caridade.
O Tronco em si
mesmo, é uma forma de Solidariedade, ele lembra ao Maçom, que a beneficência e
a solidariedade devem estar presentes ao longo da sua vida, fazendo ambos parte
dos deveres do Maçom. Além de que, na circulação do Tronco da Viúva em Loja se
relembrar ao Maçom que ele deve ser generoso e caritativo. Por isso, quando um Maçom faz o seu óbolo, ele deve dar um pouco de si também. Mas nunca com o
pensamento de que um dia se necessitar, terá algo a que se “agarrar”. O Tronco
da Viúva não serve de ”almofada” para os Maçons. Não devendo eles se
aproveitarem da sua existência, para mais tarde o utilizarem sem razão
aparente.
Quando um Maçom faz
a sua entrega, a sua dádiva para o Tronco da Viúva, a única coisa que deve ter
em mente, é o de partilhar um pouco de si mesmo e do que tem com os demais
Irmãos.
Mas apesar de não
ser uma obrigação principal da Maçonaria, pois a mesma não é uma IPSS, cabe ao Maçom ter um espírito solidário com quem dele necessite. Por isso mesmo, a
missão do Tronco da Viúva, é a de ajudar um Irmão que necessite de auxílio.
Mas para alguém
puder ser ajudado, é também necessário que o Irmão em causa reconheça a sua
necessidade de auxílio. Mas, nem sempre quem precisa de ajuda, o solicita. A
vergonha ou inclusive o orgulho, são em grande parte dos casos, o “travão”
pessoal à procura de auxílio. Quem precisa de ajuda, deve por para “trás das
costas” tais sentimentos, pois agindo assim, corre o sério risco de perder toda
a ajuda que necessitar. E hoje em dia, devido à forma acelerada de como vivemos
as nossas vidas, nem sempre nos é possível perceber quem necessita da nossa ajuda.
Todos nós em certas
alturas da Vida, passamos por momentos em que fraquejamos ou que a nossa força
mental não nos consegue ajudar a suportar o dia-a-dia.
É principalmente nesses casos que o Maçom deve
ajudar os seus Irmãos. Tentando se aperceber com a sua iluminação, quem
necessita mais dele. Mas essa ajuda nem sempre deve ser (ou pode ser…)
financeira mas antes moral ou espiritual, pois nem todas as carências de um
Irmão são pecuniárias ou materiais. Muitas vezes apenas alguém necessita de uma
palavra de inspiração, uma “palmada nas costas” ou um simples gesto de afeto e
carinho. Tais gestos com certeza não podem ser depositados num saco, devem-no
antes ser entregues (pessoalmente) ao Irmão necessitado.
É amparando o seu
Irmão, que o Maçom lhe demonstra a sua solidariedade e vive o espírito de
fraternidade que a Maçonaria lhe oferece.
Tal como afirmei
anteriormente, a Maçonaria não é uma IPSS. Antes é uma Instituição que promove
a Solidariedade, a Beneficência, a Fraternidade. E como tal, a sua principal
missão é ser solidária com os seus membros/Irmãos.
Sendo assim, não
deve uma Loja virar as costas a um Irmão que esteja em apuros, devendo antes,
correr em seu auxílio e o amparar na resolução dos seus problemas. E é para
isso que fundamentalmente existe o Tronco da Viúva.
A única obrigação
que ele tem, é a de ser bem utilizado!".
Fonte: A Partir Pedra
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